Hyuuga Neji era metódico e disciplinado. Com uma rotina bem organizada, na medida do possível, pois não poderia prever quando receberia uma nova missão. Mas estava sempre preparado para um plano B, caso necessário. Quando não estava em missão ou treinando, as distrações de Neji se resumiam a ler antigos pergaminhos do Clã Hyuuga, ou sentar-se no engawa de sua residência, observando as carpas.

Ele sabia que não possuía aptidão quando o assunto era externar seus sentimentos. Mas ele os possuía. E eram tantos, que tinha a sensação de seu peito doer. Curiosamente, conseguia perfeitamente exteriorizar as feições de desagrado e hostilidade.

Tão diferente dela...

Tenten era como o colorido de uma pintura alegre. Ela possuía uma concentração incrível, mas também sabia relaxar, ter seus momentos de crise, e no minuto seguinte criar uma estratégia para a missão. Ela era um membro valioso na equipe, embora, muitas vezes, se questionasse disso. Neji lia suas expressões, mas não externava o que pensava. Nem sempre.

Ele a via como um oposto necessário para bagunçar o seu sistema.

Na noite anterior, ao presenciar a visita de cortesia de Naruto na mansão Hyuuga, a fim de pedir a mão de Hinata em casamento, Neji sentiu-se especialmente motivado a ir fala com Tenten sobre seus sentimentos. Afinal de contas, se até mesmo o Uzumaki conseguiu enxergar os sentimentos de Hinata e os retribuiu, então havia alguma esperança.

Contudo, a visão de Tenten e Ino dançando em um bar na companhia de outras pessoas, homens em sua maioria, desmotivou-o, fazendo com que seus sentimentos se retraíssem. Na manhã seguinte, ao encontrar Tenten vestida da mesma maneira que a vira na noite anterior, uma sensação incômoda tomou conta dele. Sentia ciúmes de seu sorriso donaire e provocativo. O vestido gracioso que adornava seu corpo, as sandálias que lhe dava uma postura sensual e os cabelos cor de chocolate presos com mechas embelezando seu rosto.

Neji não conseguia controlar aquele sentimento que alastrava pelo seu ser. Mas logo que Tenten partiu, ele entendeu que não havia vitória em guardar seus pensamentos para si mesmo.

Deixou um singelo bilhete na janela dela, marcando um encontro. A ideia, na verdade, foi de Lee. E Neji já não via como poderia baixar mais o nível recebendo conselhos amorosos do companheiro de equipe. É claro que ele ignorou completamente a ideia de fazer uma música e cantar embaixo da janela de Tenten. Preferia manter a dignidade até certo ponto.

Próximo ao pôr do sol, Neji aguardava Tenten no local marcado, um campo de flores conhecido pelo time, onde se estendiam os treinamentos. Ela não o deixou esperando por muito tempo. Apareceu entre as flores como uma bela miragem, Neji estudou o caminhar lento e o semblante plácido, perdendo a fala quando ela chegou muito perto.

— Não me diga que me chamou aqui para a gente treinar. — A fisionomia adquiriu um ar travesso e ela sorriu. — O que você quer falar comigo que não poderia ser dito na vila?

— Você sabe que eu gosto de lugares mais tranquilos.

— Eu sei. — O sorriso dela ainda era divertido. — Mas vai me falar o que é? Você estava tão estressado hoje de manhã que eu pensei duas vezes antes de vir. — Ela levou a mão à mecha de cabelo solta na altura da testa.

— Sobre isso... — Neji apertou os lábios, puxando dentro de si a coragem para desabafar os sentimentos. — Peço perdão pelo meu comportamento.

— Está perdoado. — Tenten olhou ao redor, tocando as flores mais próximas. — Também gosto desse lugar, as vezes venho aqui sozinha apenas para apreciar.

Conforme ela falava, Neji apreciava os traços de seu rosto. Tenten desabrochou como uma daquelas flores do campo. Aprendeu a confiar nela, a ponto de deixar a própria vida em suas mãos. E a kunoichi se mostrou capaz de protegê-lo diversas vezes. Tenten era vibrante e possuía uma alma corajosa. Agora, olhando-a na luz do sol poente, queria poder fazer parte daquele colorido que a envolvia.

De forma ousada, ele estendeu a mão e tocou na dela, segurando-a com carinho. Tenten parou de falar e encarou-o surpresa, olhando em seguida para suas mãos entrelaçadas.

— Não sou bom com palavras. — Disse, buscando inspiração no sorriso dela. — Talvez algumas das minhas ações também sejam confusas...

— Neji. — Tenten o interrompeu, levando o dedo da outra mão até sua boca. — Seja o que for, apenas diga o que há em seu coração.

As palavras pareciam ser tão simples para ela, que Neji invejava-a. Contudo, fazia todo o sentido aquilo que dizia. E em seu coração havia apenas uma coisa.

— Eu te amo. — Ele confessou e no momento seguinte sentiu o peito livre de dor. Um silêncio se instaurou entre os dois, ouvia-se a brisa resvalar pelo campo, movendo as flores, os insetos e a água do rio próximo.

Os olhos castanhos de Tenten o encarava confusa, um brilho estridente adornando a surpresa daquela declaração. E depois ela esboçou um riso de deleite, pulando em sua direção, levando as mãos envolta de seus ombros e os lábios encontrando-se com os seus.

Foi um beijo calmo inicialmente, as bocas se conhecendo, num movimento inibido. As mãos de Neji cingiram a cintura dela, fazendo os corpos se juntarem. O calor de Tenten era apaziguador, mas também despertava desejo. Ele saboreava o beijo, conforme a intensidade aumentava, assim como o movimentar das mãos dela, que desciam por seus braços e o abraçava com força. Tenten se mostrou mais exigente, a língua penetrando sua boca, ágil e desejosa, deixando escapar um gemido irresistível para o Hyuuga.

O beijo rompeu-se naturalmente e eles se encararam, ambos enrubescido e ansiosos.

— O festival vai começar logo. — Neji informou, com um pigarrear.

— Claro, eu sei, podemos ir juntos? — Tenten segurou as mãos dele.

— Eu já ia convidá-la. — Ele respondeu, recordando-se de algo. — Prometi para Lee que eu faria companhia para ele, até Gai-sensei retornar para a Vila.

— Não faz mal, vai ser natural tê-lo por perto.

Neji acariciou o rosto dela, os sentimentos ganharam vida. Afinal, era de todo fácil amá-la.