Hadie estava deitado em sua cama, impaciente com Heather, que andava de um lado a outro. Ele segurava o bilhete que a irmã entregara, completamente confuso.

      - Heather. Senta um minuto e me explica por que diabos isso importa! – Ele pediu indignado.

      - Hadie! Meus olhos entregam tudo. Por isso estão modificados. E se ele sabe... O que eu faço? - Ela passou a mão pelos cabelos e voltou a transitar de um lado a outro do dormitório.

      - E qual o problema em ele descobrir a verdade? Ele vai atrapalhar os nossos planos? – Ele indagou inocentemente.

      - Bom... Na verdade... – Heather começou a ficar corada.

      - Não acredito! Você está apai... – Hade afirmou, compreendendo, antes de ser interrompido.

      - É, é, eu sei. Não precisa anunciar em voz alta. Não é um grande evento afinal. Acho que vou só conversar com ele e ver o que vai resultar. – Ela concluiu, sorrindo. - Obrigada Hadie.

      - Mas eu não fiz na... Ah esquece. – Resmungou Hadie, voltando a sua partida de videogame.

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      Heather caminhava pelo jardim quando encontrara Herkie sentado embaixo de “sua árvore”. Não que eu tivesse comprado ela, mas depois que eu passei a sentar ali, as pessoas começaram a evitar aquela parte. Menos aquele louco. Ela fez algo completamente inesperado: Caminhou em direção a ele, o que o surpreendeu.

      - Veja o que o vento olimpiano trouxe. – Comentou Herkie, implicando.

      - Ha ha. Engraçadinho você. – Ela riu sarcasticamente. - Quero que me fale uma coisa.

      - O que você quiser. – Ele assentiu.

      Heather se limitou a revirar os olhos antes de questionar.

      - O que está debaixo dos meus óculos?

      - Como ass... Ah sim. Então, os olhos revelam muitas coisas. E os óculos conseguem ocultar essas revelações muito bem. Aquele momento no Lago, eu consegui ver detalhes sobre você que creio que nem Hadie saiba. Apesar dessa imposição que você transmite, você sente medo. – Ele sorriu ao ver a expressão no rosto dela. – Sim, os olhos conseguem mostrar esse tipo de coisa. Inclusive, o seu medo é de não ser amada... A sua família não ama você? – Ele indagou, inocentemente.

      Heather suspirou com essa pergunta. Após relaxar um pouco, respondeu.

      - Hadie me ama, assim como eu amo ele. – Ela constatou, fitando o chão. - E, antes que pergunte a nossa família sou eu e ele.  Pronto.

      - Pensei que você fosse criada com a mãe de Hadie. – Herk ressaltou.

      - E fui. Por alguns meses. Ela fugiu, ou faleceu, agora não lembro direito. – Ela relatou, levemente incomodada. - Mas depois disso, fomos eu e ele. Sorte que as crianças aprendem coisas básicas cedo.

      - Uau. Confesso que... – Ele hesitou, surpreso. - Não esperava por essa.

      - Esperava uma história de amor familiar? – Questionou ela, arqueando a sobrancelha.

      - Para ser honesto? Sim. Mas devia ter esperado por aquilo também. – Ele confessou, um pouco desconcertado.

      - Certo. Algo mais que tenha sido revelado por este par de olhos? – Ela interpelou, olhando nos olhos dele.

      - Huum... Não. – Ele atestou. - Mas quem sabe, se eu seguir essa teoria dos olhos, eu consiga encontrar a minha alma-gêmea.

      - Você não encontrou ainda? – Heath questionou, abismada. - Ela deve estar bem longe hein?

      - Na verdade... Não está tão longe quanto eu achei. – Respondeu ele, sorrindo. – Ela tem um detalhe único que a distingue de toda e qualquer outra deste Reino. Creio que eu ainda não a tenha encontrado, mas sei que um dia eu vou. – Ele parou de falar quando viu Heather escrevendo em um pedaço de papel. – O que está fazendo?

      - Escrevendo os detalhes da minha alma-gêmea. Para você ler. – Ela respondeu.

      - Por que não falar? – Ele ponderou, arqueando a sobrancelha.

      - E arriscar que quem não deve ouvir acabe sabendo? Não, muito obrigada. – Ela esclareceu.

      - Pensando bem... Foi uma boa ideia. Espera um pouco. – Ele começou a escrever no final do seu caderno. Ambos dobraram as suas folhas e entregaram. Quando Heather foi abrir a sua folha, Herkie a impediu. – Não. Vamos deixar as reações uma surpresa. Que tal?

      - Então, você gosta de um suspense? – Ela provocou, sorrindo de canto. - Ok, eu abro depois. Na verdade, vou abrir amanhã.

      - Achei que estivesse curiosa. – Ele observou.

      - E estou. Mas também tenho alguns trabalhos a fazer. E vou procurar um emprego. Não posso extorquir os alunos para sempre. Pode ser que a diretora fique braba. E sabemos que ela está de olho em mim desde o incidente da cozinha. – Ela relembrou o evento, rindo.

      - Menina ocupada, pelo que vejo. – Brincou Herkie.

      - Herkie! Treino! Agora! – Exclamou Jay, do outro lado do pátio.

      - Vai lá, superatleta. – Brincou Heather de volta.

      - Está certo. Hey, venha assistir! – Sugeriu ele.

      - Herkie, eu tenho que fazer aqueles trabalhos. – Ela retrucou.

      - Eles podem esperar uma horinha, não podem? Por favor, se não por mim, por Jay, Carlos e Ben. – Ele suplicou, estendendo a mão.

      - Certo, mas por Carlos e Ben, que é simpático comigo. – Ela reforçou, rindo da expressão dele.

      - Hey! E eu? – Ele a fitou, com olhar de filhotinho.

      - Você me persegue pela escola desde que trombou comigo no corredor. – Disse ela, rindo.

      - Mas você gosta. – Ele devolveu, gargalhando quando viu ela corar.

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      Heather estava correndo contra o tempo. Eram 2:33h da manhã e ela estava terminando seus trabalhos escolares. Porque os professores não podem passar um em cada semana, eles precisam passar TODOS ao mesmo tempo. Também, ela não imaginara que o treino fosse durar mais de duas horas, e que todos saíam para comer uma pizza depois. E, cá entre nós, Heather não sabe dizer não para os olhos de filhote de Herkie.

      - Estúpida... Devia ter voltado... Ah, eu nunca vou... Espera, mais três palavras e... Ah, finalmente! Tudo pronto, eu estou falando sozinha de novo. Por que eu insisto nisso? – Ela indagou.

      - Porque você está habituada a ter uma voz falando de volta.— Respondeu uma voz masculina completamente familiar a Heather.

      - Ah, claro. Oi pai. O que você precisa? – Suspirou Heather.

      - Ah, vejamos. Um frasco de perfume de jasmim, uma cesta de bolinhos e FICAR LIVRE DESSE INFERNO! Aliás, foi para isso que você foi para Auradon. Ou já se esqueceu?

      - Não, pai, eu me lembro. Detalhes começaram a interferir nos meus planos, no entanto, já os estou resolvendo. – Ela respondeu entredentes.

      - Excelente. Tem alguma previsão de quando poderá me libertar?

      - Em três meses... – Ela respondeu, esperando a explosão de seu pai.

      - Um prazo pequeno até. Para meus planos, esperei ANOS. Está certo, três meses então. Até logo, minha querida. – Ele enfatizou a última frase com um tom sombrio, que causara arrepios em Heather.

      - Ufa, acho que agora eu pos... – Ela não finalizou a frase, pois tudo escurecia a sua volta.

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      Hadie batia freneticamente à porta de Heather, que se recusava a abrir. Ele já estava perdendo a paciência, quando Mal vinha pelo corredor e o viu.

      - Hey Hadie, ela ainda está dormindo? – A garota indagou.

      - Bom dia Mal, na verdade, ela costuma levantar, em um extremo mau-humor, para dizer que se eu não parar de bater, ela vai enfiar a maçaneta em... – Ele explicou, antes de ser interrompido.

      - Ok, não termina isso. Vamos arrombar a fechadura. – Disse ela, simplesmente, pegando dois grampos dos bolsos.

      - Hã... Você sempre anda com... – Ele gesticulou para os grampos.

      - Sim. Para “eventuais emergências” como esta. – Ela respondeu, enquanto destrancava a porta. – E voilá.

      Hadie empurrou a porta, olhando para a cama de Heather, para vê-la vazia. Ele começou a olhar ao redor do quarto, e a encontrou deitada no chão, a cadeira virada na mesma direção. Ele correu e começou a agitá-la para que ela acordasse. Não precisou muito.

      - Hadie, Hadie. Pare. O que aconteceu? É o Apocalipse? – Heath olhava ao redor, grogue.

      - Não. Você dormiu no chão? – Ele inquiriu, preocupado.

      - Não consegui chegar a cama. – Ela respondeu, se espreguiçando. - Que horas são?

      - São... 7:55h. – Ele disse, olhando para o relógio. - Por quê?

      - Que por... – Hadie cobriu a boca dela. Ela o fuzilou com os olhos e puxou a mão dele. – Enfim, não vou chegar a tempo na primeira aula. E preciso entregar um trabalho.

      - Hey, respira... Desde quando você liga para escola? – Agora ele estava genuinamente preocupado.

      - Esse lugar está me afetando. Merda. – Ela xingou. - Ok, você leva o meu trabalho, por favor. Eu vou me arrumar para a próxima aula.

      - Está bem. Tente não ficar muito mole. – Respondeu Hadie, pegando o trabalho e saindo correndo, antes que ela pudesse processar o que ele dissera.

      - O que... Ah, demônio. Eu me entendo com ele depois.  – Ela bufou, levantando do chão.

      Heather olhou para a sua mesa, separou os trabalhos e colocou os papéis sobressalentes na gaveta, incluindo o bilhete de Herkie.