Eldarya escrita por Ju Assis


Capítulo 2
Capítulo 1 — Pão.




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                                                                                                                  Kalina

Quando eu acordei, não foi como eu esperava. Eu não tinha saído do lugar. Não estava em casa. Continuava ali. Eu queria dizer a mim mesma que era só um pesadelo, mas a dor nas minhas pernas e no meu braço esquerdo – o qual aquele gigante havia praticamente me arrastado – só me lembrava o quanto aquilo era real. Eu perdi a noção do tempo, talvez estivesse presa na cela por  um dia inteiro.

Eu continuei a imaginar o pior, e dessa vez eu não pude conter minhas lágrimas. De repente eu escutei um ''clic'', como se estivessem abrindo o cadeado da minha cela. Rapidamente eu levantei minha cabeça e enxuguei minhas lágrimas antes de me preparar para levantar.

Não vão me ver chorar.

Ao ficar de pé, percebi que não era nada. Não tinha ninguém.

—Mas... — empurrei a porta. Ela se abriu. — Como? — franzi a testa, realmente pensando na possibilidade de eu me dar muito mal desse lugar.

De uma hora para outra, um homem apareceu a alguns centímetros de distância, bloqueando a passagem. Me assustei, mas não me movi. Apenas analisei a figura que me encarava: ele parecia humano. Todavia, usava uma máscara — que escondia seu rosto — e vestimentas estranhas, que se assemelhavam à uma armadura.

Ele permaneceu olhando em minha direção sem dizer nada.

Bom, acho que é a pessoa menos estranha que encontrei até agora.

—Eu... posso ir embora? — perguntei, receosa.

O homem colocou o dedo indicador na boca, pedindo silêncio. E então recuou para que eu passasse. Eu estava louca para ir embora deste lugar o mais rápido possível. Quando saí da minha cela e virei para agradecer o meu salvador, ele havia desaparecido.

Estranho.

Muito estranho.

—Ótimo, estou sozinha de novo... — lastimei. — O único jeito é procurar uma saída...

Comecei a subir novamente todas aqueles lances infinitos de escadas e dessa vez prestei mais atenção no ambiente. Era tudo meio exótico. Meus olhos apreciavam a estranha beleza do local, absorvendo cada detalhe avidamente. Parecia um tipo de ''Planeta Terra'' tri-evoluído. 

Por fim, depois de subir tudo novamente, cheguei num enorme salão de formato circular e com várias entradas. Eu me recordava vagamente de ter passado por ali antes. Se o gigante não tivesse me arrastado com tanta velocidade, eu teria prestado mais atenção, claro. Olhando melhor, era como se fosse um salão principal de uma construção que dava acesso à outros cômodos importantes ou algo assim. 

Eu já havia visto muitos lugares em minha vida, porém, nenhum se comparava com a beleza deste local. As paredes eram pintadas num tom de rosa pérola que variava em nuances de azul bem claro — tudo parecia depender do tanto de luz que estava entrando pelo vitral em formato de abóboda do teto.

De certa forma, as paredes harmonizavam com o chão de mármore da cor azul celeste, decorado por símbolos que eu desconhecia. Alguns eram rosa púrpura, outros eram azul marinho.  Havia dois pilares no centro do salão. Eles eram feitos por um material cintilante o qual eu nunca havia visto antes. Também notei pequenas árvores nos espaços entre as entradas — cuja eu havia contado cinco. Os bancos que haviam ali me pareciam bastante convidativos considerando o tanto de escada que eu havia acabado de subir.

—Ok... — sussurrei, saindo do meu estado observador. Por mais que fosse um lugar esplêndido, não era a minha casa. E eu precisava urgentemente encontrar uma saída. — Por onde vou? — cocei minha cabeça.

Segui pela primeira entrada da esquerda e dei de cara com apenas um corredor cuja a extensão se curvava acentuadamente para a esquerda. O chão era adornado por um tapete vermelho grosso e fofo, de modo que pisar ali fosse extremamente confortável. O tapete vermelho tinha detalhes e cor salmão nas laterais, combinando com o piso da mesma cor e harmonizando com as paredes pintadas em tom de rosa coral. 

Havia várias portas e, julgando o modo como cada uma delas possuía um objeto preso na parte de cima da batente e analisando o fato de que essas portas eram intercaladas por pilastras redondas, deduzi ser um tipo de dormitório. Esse lugar não aparentava ser o que eu estava precisando no momento, então eu dei meia-volta. Mas ai, acabei trombando com alguém.

—Ai!

A pessoa, ou melhor, um cara se aproximou de mim. Pude decifrar um quê de curiosidade em seu olhar acinzentado.

—Hum... você tem um cheiro deliciosamente humano. A hora do almoço foi adiantada? — o garoto de cabelos pretos tinha um sorriso travesso no rosto.

—Não toque em mim! — empurrei-o e fugi, com o coração descompassado.

Antes de voltar ao salão das portas, percebi que havia um outro jovem super musculoso de cabelos platinados no final do salão, perto das escadas. Então me toquei que aquela era a saída! Me escondi atrás de uma das pilastras. Ufa. Pelo jeito, sair daqui vai ser mais difícil do que pensei.

Prendi a respiração, esperando passar despercebida pelo homem musculoso.  Eu me atrevi a espiar e percebi que ele agora estava de costas, conversando distraidamente com outro habitante. Eu precisava de um lugar melhor para me esconder, mas assim que possível eu retornaria para o salão principal para finalmente fugir desse lugar.

Deslizei para a porta mais próxima e acabei entrando numa sala que, mesmo contendo uns troços estranhos, se assemelhava à uma despensa. Havia uma mesa com alimentos... Ei, algo humano aqui?!! Minha barriga roncou. Era verdade que eu estava faminta, e na mesa tinha...

—Pão! — disse entusiasmada. Segui até o banquete que estava ali, e estava quase pegando um pedaço de pão quando alguém me pegou pelo pulso, impedindo-me de concluir a ação.

—Hum, o que temos aqui?

—Eita. — me virei, surpresa.

—Ninguém nunca te ensinou que é feio roubar, garota?

—Eu não pretendia roubar, exatamente... — me defendi e olhei para o rapaz.

Ele era um pouco pálido e vestia uma camiseta formal toda branca com ombreiras azuis, que de certa forma combinavam com seu comprido cabelo azul. Além disso, as suas orelhas eram... pontudas.

Orelhas pontudas? WTF? — arqueei as sobrancelhas, a minha voz mental soou abismada em meus pensamentos. — Qual é a desse lugar?! Céus! Acho que em vez de entrar no circulo de cogumelos, eu comi um!

—O que você está fazendo aqui? — ele me perguntou, sério.

Eu suspirei fundo antes de tentar explicar o que estava acontecendo.

—Eu estava ap...

—Não acredito, você de novo?! — a voz que pertencia a mulher-raposa quase me deixou surda. Dei um pulo, sentindo meu coração acelerar. 

Meu Deus! Essa criatura ainda vai me matar de susto um dia desses. — Me virei depressa e vi que ela estava parada na porta... acompanhada de algumas pessoas, inclusive os dois rapazes que quase me encontraram mais cedo.

—O-o que está acontecendo? — um homem jovem que tinha um chifre na testa indagou.

Esse pessoal é mesmo bem estranho... — mordi meus lábios, sem saber o que dizer.

—Essa humana entrou na sala do Cristal e agora está roubando a comida! — a garota-raposa acusou.

—Não é verdade! — rebati.

—Então explique por que sua mão estava tão próxima do pão. — o rapaz de cabelos azuis desdenhou.

Eu cruzei os braços e expirei pacientemente.

—Para sua informação, eu estava com muita fome, eu vi o pão e algumas fatias frescas do lado. Eu achei que poderia pegar. Desculpa! — descruzei os braços.

—Eu sabia! Foi ela que roubou o pão e o leite! — a garota acendeu uma espécie de fogo no inicio do seu cajado.

—Leite? Ah, pelo amor... — revirei os olhos, percebendo que ela não tinha dado a mínima para minha justificativa. — Eu nunca nem vi.

—Confesse que você pegou o pão. — o cara que me flagrou cruzou os braços.

—Ér... Foi o garoto do refúgio que pegou. — o rapaz de cabelos preto com quem trombei mais cedo no corredor se meteu no meio — Miiko, eu ia justamente te avisar...

Então o nome dela é Miiko?...

—Ah... está bem. — ela disse, e o fogo de seu cajado se apagou.

Suspirei aliviada.

—Eu disse qu...

—Mas roubaram uma lágrima de dragão da sala de alquimia. — o garoto de pele morena e de cabelo platinado me olhou, sem deixar eu terminar de falar.

—Estão vendo?!!! — Miiko fez o fogo se re-acender. Deduzi que aquilo funcionava tipo o humor dela. — Coloquem ela na cela! E dessa vez, vigiem-na muito bem.

—Não! Eu não quero voltar pra quela cela! — supliquei. — Eu nem sei como caralhos vim parar aqui... Como acham que eu poderia roubar alguma coisa?

—Não fale comigo com esse tom! — Miiko ameaçou.

Eu ia revidar, mas o moço com chifre tomou a frente da discussão.

—Miiko... por favor. Nós poderíamos ao menos escutar o que ela tem a dizer, o que acha?

Aleluia! Alguém me entende!

 Olhei para Miiko com expectativa.

—Está bem... — suspirou, virando-se em minha direção. — Jovem, por favor, conte tudo.

Todo mundo olhou para mim com um brilho ansioso no olhar. Por um instante, fiquei sem palavras. Eu queria tanto ser ouvida, mas agora que me davam a chance eu simplesmente não sabia o que dizer.

—É complicado. Eu estou confusa e nem sei por onde começar...

—Diga como chegou aqui. — o garoto de cabelos negros levou a mão até o queixo, me analisando. Corei.

—Eu me lembro que estava caminhando pela Floresta perto de casa... — gesticulei com as mãos — então eu vi um circulo de cogumelos estranhos. Resolvi analisar de perto e depois que entrei nele, vi algumas luzes. Vagalumes, talvez? Enfim, não lembro muito bem. A partir dai, vocês sabem o resto da história. — revirei os olhos.

—Espere, a magia te trouxe diretamente para a sala do Cristal? — Miiko questionou, acabando com qualquer dúvida minha. Magia. Este não é o meu mundo. Não existe magia na Terra! 

—Sim. — saí do meu devaneio.

—Isso é impossível! Essa sala é protegida. — ela me olhou de boca aberta.

—No entanto, eu sinto que ela não está mentindo. — o rapaz de cabelos negros lançou-me um sorrisinho.

—Eu não quero causar problemas, juro. — suspirei. — Só quero ir pra casa.

—Infelizmente, isso é impossível. — o azulado falou. — O círculo de cogumelos só funciona em uma direção.

—Como assim?

—Podem levá-la de volta a prisão. — Miiko declarou, me ignorando. — Nós te buscaremos quando pudermos te enviar de volta ao seu mundo. — ela esboçou um sorriso cínico. Nem se importou em esconder sua felicidade.

—Grr... — Jamon veio pegar meu braço, mas eu recuei.

—Não! Eu já disse que não volto mais pra lá! — falei firmemente.

—Eu estava pensando... — intrometeu-se o platinado, entrando na frente de Jamon. — Você diz não saber nada, mas como você conseguiu sair da cela?

—Alguém abriu a cela pra mim. Hã... — franzi as sobrancelhas, pensativa. — Um homem mascarado, de vestes pretas... com um pouco de detalhes em vermelho. A máscara dele lembrava muito um dragão.

Todos arregalaram os olhos, em alerta.

—Estamos perdendo o nosso tempo com ela. — Miiko disse. — Ele voltou. Venham! Vamos verificar o local, Jamon. E coloquem ela na prisão!

O rapaz de pele morena saiu junto com Miiko e Jamon. Quando o de cabelos negros estava quase cruzando a porta, ele decidiu dar meia volta e vir na minha direção. Jesus! Na correria toda, nem tinha reparado o quão ele era bonito. Congelei.

—Hum... — ele sorriu docilmente. — Kero, você poderia ver o caso do pão pra mim? Não tive tempo de procurar, mas o garoto me disse que tinha escondido-o na aldeia. Ou no QG, não me lembro direito.

...ou melhor, ele estava indo na direção da pessoa que estava atrás de mim.

—É você quem deve cuidar disso, não? — Kero retrucou, parecendo não gostar.

—Obrigado! Eu também te amo, K. — ele saiu da sala e parecia feliz.

—Vou fazer o inventário da sala de alquimia, para ver se mais coisas sumiram. — o rapaz de cabelos azuis anunciou e saiu da sala, deixando eu e Kero sozinhos.

—Não quero voltar para a prisão. — lamentei.

—Bem, eu acho que tenho uma solução... Você pode tentar fazer com que Miiko mude ideia, me ajudando a recuperar o alimento que o garoto roubou, por exemplo. — sugeriu Kero.

—Você acha? Então eu aceito!

—Ótimo, vamos. — ele sorriu, indicando para que eu me mexesse.

Sorri de volta, seguindo-o. Kero parecia ser o mais gentil. Mas mesmo assim, algo me dizia que havia muita coisa pela frente.


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Notas finais do capítulo

Olá, faellianas e faellianos!

Apenas fazendo um adendo: eu não gostei de vários mínimos detalhes do jogo em geral, então fiquem tranquilos porque não teremos a nossa protagonista andando pelos corredores aos berros por causa do quarto dela. (Desnecessário Beemov, desnecessário... custava dar um quarto normal pra ela? )

Acho que é isso.
Beijos da tia Ju e até o próximo capítulo!

20/04/18.



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