O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 4
Quatro


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 4!!! Yay!!!!
Nesse daqui a gente vai conhecer uma personagen muito especial ♡ Espero que gostem!!!



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A nossa ida de volta para a universidade foi praticamente um culto silencioso. Não corremos, ao invés disso, caminhamos lado a lado olhando para nossos pés. Eu estava muito surpresa com o que ele havia dito e sentia-me insegura para dizer sim para um encontro e com medo de me arrepender se dissesse não.

Quando chegamos ao corredor dos dormitórios no terceiro andar, onde o meu quarto ficava, ele se encontrava vazio e silencioso. Caminhamos em silêncio até eu parar em frente à porta.

– Eu... fico aqui. - falei tirando a chave de dentro do bolso do moletom.

– Tudo bem. - ele disse. - Toma, fica com isso. Para o caso de ter de limpar novamente.

Louis me estendeu o saco de papelão e eu o peguei de sua mão. Nos olhamos por um momento e eu disse um obrigada. Enfiei a chave no miolo e destranquei a porta.

– Você dorme neste andar?

– Não, no de cima. - ele apontou para o teto.

– Ah. - assenti.

– Bem, foi um prazer te conhecer, ruiva.

Sorri com o apelido adquirido.

– Digo o mesmo Louis.

Ele começou a se afastar. Eu tinha duas opções no momento: deixá-lo ir sem sua resposta ou dar uma para ele.

– Um ponto.

Ele já estava longe de mim mas se virou para olhar. Revirei os olhos e sorri.

– Isso parece fácil demais. - dei uma risada nervosa.

Ele sorriu deixando seus dentes alinhados e brancos me fascinar por um instante.

– Amanhã ás sete passo aqui para te levar para comer algo. Por minha conta.

Sorri sentindo as maçãs do rosto doerem. Louis deu às costas para mim e eu entrei no quarto trancando a porta. Me encostei nela por um instante e fiquei fitando a cabeceira da minha cama que me encarava de volta.

♡♡♡

Após sair do banho, deitei-me na cama sentindo-me exausta e ao mesmo tempo eufórica. Eu tinha que dormir logo para que pudesse parecer apresentável na manhã seguinte para a família Zarch. Com esse pensamento, adormeci logo.

Na manhã seguinte, o relógio me despertou ás seis da manhã em ponto.  Não me permiti demorar para levantar da cama. Mesmo que ela estivesse incrivelmente confortável, não poderia me atrasar para conhecer a família Zarch.

Saí da cama preguiçosamente, arrastando meus passos contra o chão de carpete de madeira. Eu já havia deixado minha roupa pendurada em um cabide na maçaneta da porta do banheiro. Tomei uma ducha quente e tentei despertar do meu sono.

Me vesti com uma calça preta, um par de tênis preto de couro e uma blusa social de manga comprida, gola em v e botões pretos. Achei melhor vestir algum casaco por cima e escolhi um casaco jeans. Deixei as madeixas ruivas soltas com seu ondulado natural e fiz uma maquiagem leve lembrando do conselho de minha mãe.

– Em uma entrevista de emprego, escolha ir bonita ao invés de ir com sua cara normal.

Por mais que eu tivesse insistido que ela havia chamado a própria filha de feia, ela me jurou que não era bem aquilo.

Com o papel onde eu tinha o endereço e o nome da parada onde eu tinha de descer, peguei minha bolsa preta e saí, trancando a porta do quarto. Enquanto andava pelo corredor mal iluminado, pude ouvir alguns barulhos que indicavam que algumas pessoas já estavam acordadas àquela hora. Louis me veio à mente eu eu olhei para trás para ver se, por alguma razão, veria uma miragem dele.

♡♡♡

No ponto de ônibus do outro lado da rua onde a faculdade ficava, esperei um pouco impaciente pelo transporte chegar. A Dinamarca era muito parecida com a Holanda no sentido de que a bicicleta era um meio de transporte muito utilizado. Mas eu duvidava muito que aguentaria pedalar até onde eu estava destinada estar naquela manhã de sábado.

Olhei no relógio de pulso e vi que se passavam das seis e quarenta. Eu não podia chegar atrasada de jeito nenhum! Pensar naquilo me deixava mais ansiosa ainda. Tinha de pensar como pediria para o motorista me avisar onde eu tinha de descer. Estava  com o papel na mão.

Olhei para cima. O céu ainda estava escuro, com uma coloração azul e repleto de nuvens carregadas. Suspeitava de que, por um infeliz acaso, logo começaria a chover.

Uma senhora ao meu lado, um pouco curvada e segurando-se em sua bengala olhou para mim com um sorriso e, surpreendentemente, falou em inglês com um sotaque carregado:

– Parece que vai chover.

Olhei para ela surpresa.

– Você fala inglês!

Ela sorriu mostrando dentes pequenos.

– Sim! Meu neto esteve me ensinando. Ser um ótimo professor.

Eu sorri com sua simpatia.

– Isso é muito legal.

– E então, você ter um guarda-chuva?

– Não. - balancei a cabeça em negativa.

– Vai para longe?

Olhei para o papel em minha mão e encarei meu garrancho com o endereço. Dei de ombros.

– Não sei, na verdade.

A senhora de cabelos grisalhos e fofos, com cachos presos em grampos, me estendeu a mão para que pudesse ver o endereço. Lhe entreguei. Ela franziu os olhos. Parecia ler com certa dificuldade.

– Ah! - exclamou. - Atravessar a cidade, querida.

Senti meus olhos saltando das órbitas.

– Atravessar a cidade?

Ela assentiu.

– Quando ultrapassar a ponte de pedra, descer.

Uni as sobrancelhas. Bem, era mais do que eu sabia poucos segundos atrás.

– Tudo bem. Obrigada! - sorri.

Ela fez o mesmo com um breve maneio de cabeça. No outro quarteirão pude ver os faróis amarelos do ônibus azul se aproximando.

– O ônibus. - apontei.

– Ônibus. - ela pronunciou a palavra como se fosse nova. - Legal!

Ri no mesmo instante que um relâmpago cortou o céu dinamarquês.  Parecia que eu teria problemas. Senti uma mão frágil e pequena tocar meu braço. Voltei minha atenção para a senhora.

– Pegue.

Ela estava me oferecendo um guarda-chuva azul turquesa. Balancei a cabeça.

– Não, está tudo bem! - falei sorrindo.

– Pegue querida. Não se molhe.

– Não irei me molhar. Pode ficar com seu guarda-chuva.

– Por favor, pegue. Eu tenho outro.

Ela apontou para outro guarda-chuva ao seu lado. Um transparente. Hesitei.

– Por que a senhora tem dois guarda-chuvas?

Ela deu uma gargalhada.

– Porque alguém sempre precisa de um, querida. Devemos estar preparados para ajudar o próximo.

Aquilo me surpreendeu e fiquei pasma, apenas encarando aquele rosto angelical que lembrava o de minha avó. Eu sorri arqueando ambas as sobrancelhas. Peguei o guarda-chuva azul turquesa.

– Muito obrigada por sua ajuda. A senhora é muito gentil.

Ela sorriu e me respondeu com um breve maneio de cabeça. No mesmo instante o ônibus parou em frente ao ponto onde estávamos.

– Quer ajuda para subir? - perguntei.

– Não, eu vou no próximo querida. Obrigada. Vá, vá! - ela apontou para o ônibus.

Hesitei. Aquilo era... estranho.

– Vá! - disse sorrindo.

Eu subi no ônibus. O motorista, um senhor de pele escura olhou para a senhora e acenou, como se já a conhecesse e fechou a porta atrás de mim. Ele me olhou e acho que percebeu o quão pasma eu estava.

– Vejo que conheceu a sra. Irin.

– Este é o nome dela?

– Sim. - seu sotaque também era carregado. Mas era um alívio ter alguém falando o mesmo idioma que eu. - Ela mora do outro lado da rua com o filho e a nora. Ela sai distribuindo guarda-chuvas por aí.

– Por que?

– Dizem que seu marido foi atingido por um raio e, desde então, ela não quer ver ninguém sem guarda-chuva num dia chuvoso.

Eu não sabia muito bem se eu tinha uma expressão triste ou surpresa. Ou ambas! Estava apenas perplexa e com vontade de abraçar a sra. Irin.

O motorista me deu um sorriso breve e eu lhe entreguei o bilhete que pagava a passagem. Passei por uma espécie de catraca e escolhi um lugar vazio para me sentar ao lado de uma janela. Pelo fato do céu ainda estar escuro, as luzes no interior do ônibus ainda estavam acesas. Depois de uns dois minutos, pude perceber gotas grossas de chuva começarem a se chocar contra a janela e relâmpagos se manifestaram no céu que ficava nuances mais claras, indo para um tom acinzentado.


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Notas finais do capítulo

E aí?? Gostaram da sra. Irin?? Espero que sim porque a velhinha me conquistou ❤
Espero vocês no próximo capítulo na quarta-feira. Mais personagens serão apresentados
Espero vocês. Até lá!
Beijos



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