O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 31
Trinta e um


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal! Como vocês estão nessa segunda-feira?
Eu estou bem e cansada kkkkk Deus, esse cansaço não é normal. Eu preciso de férias do meu trabalho, mas isso não vai acontecer tão cedo.
Enfim, eu espero que todos vcs estejam bem. Esse capítulo, ele é muito importante para a história e quis postá-lo por muito tempo. Espero que gostem!



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Nós voltamos para Copenhague naquele domingo de tarde. Nigel, Betty Berry e Jullian tinham ido na frente, no carro em que tínhamos ido para Skagen. O carro da funerária os seguiu. Por um infeliz azar do destino, a sra. Zarch, ou Valerie, disse que ficaria muito mais tranquila e satisfeita se eu lhe fizesse companhia. Na verdade, ela queria uma companhia, mas nenhum dos três tinha se habilitado para aquilo. Então, eu tive de sentar no banco do seu carro - uma luxuosa Range Hover prateada - e deixar que ela dirigisse pelas próximas cinco horas e meia.

Minha mala quebrada estava no porta-malas do veículo, o tempo tinha se fechado novamente e combinava muito com toda a situação. A chuva salpicando as janelas, o barulho preenchendo o silêncio entre mim e aquela mulher praticamente desconhecida... tudo parecia estar saindo de um sonho ominoso do qual eu não via a hora de escapar.

Valerie não tinha se dado o luxo de ligar o rádio em qualquer estação que fosse. Eu estava com frio e ainda com o mesma roupa da noite anterior. Por mais que eu quisesse e precisasse muito de um banho, não quis tomá-lo na pequena casa do vilarejo que deixamos para trás. Eu tinha a sensação de que, quando entrasse debaixo de um chuveiro, precisaria que a água levasse partes muito pesadas da minha alma ralo abaixo

Eu sentia frio. Não sabia se era devido ao mau tempo ou por todo o nervoso daquela situação. Estávamos voltando para Copenhague e teríamos um funeral para arrumar. Aquilo definitivamente não estava nos meus planos. Eu me lembraria daquela data para sempre.

– Ele era um homem bom. - a voz de Valerie cortou o silêncio me assustando. Eu olhei para seu rosto de perfil. Ela tinha traços muito parecidos com os de Jullian. E os olhos... eram iguaizinhos! Seu cabelo loiro pastel continuava preso em um coque arrumado e seu rosto tinha muita maquiagem para a ocasião. Os lábios estavam pintados de um vermelho vivo.

Presumi que eu tinha de quebrar o silêncio. Mas naquele momento, eu não sabia o que dizer. Na verdade, não queria dizer nada. Estava infeliz com tudo aquilo e, sinceramente, não simpatizava muito com a sra. Zarch. Fiz um ruído afirmativo e continuei a olhar para a estrada nebulosa à nossa frente. O carro era novo então nem parecia que estávamos dirigindo. Era tudo silencioso e leve. Totalmente o oposto do carro do papai que nos levava aos drive thru depois das missas aos domingos.

– Um ruído é muito pouco para que uma conversa se continue, não acha?

Olhei para seu rosto. Eu tinha quase certeza de que estava a fitando com as sobrancelhas unidas e com uma expressão indignada. Do mesmo modo como costumava olhar para Jullian. O fato era que, naquele momento, diante daquela fala, vi como seu filho se parecia com ela.

–Ah... me desculpe Valerie. Eu estou... sem palavras.

E era verdade.

Ela assentiu olhando pelo retrovisor.

– Acredito que sim. Acredito também que não simpatiza muito comigo. Deve ter ouvido muitas coisas sobre mim.

Arqueei uma das sobrancelhas.

–Na verdade, não. Não ouvi muito sobre a senhora. Eu só... realmente estou muito chocada. Me desculpe. Acho que não sou uma boa companhia.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos e depois falou:

– Pelo menos você não está me xingando ou amaldiçoando como Jullian estaria.

A ouvi deixar um longo e cansado suspiro sair de sua boca. Me senti um pouco mal por ela. Talvez ela não fosse tão ruim assim.

– Eu estou impressionada com Jullian. - acrescenta. - Você e ele parecem ter... uma conexão.

Suas sobrancelhas se uniram ao falar conexão. Presumi que ela não sabia se era bem essa a palavra a ser escolhida. Eu também não sabia se era a palavra correta.

– Nós... estamos nos entendendo um pouco melhor esses dias.

Ela assentiu.

– Eu fico contente com isso, srta. Cooke. Afinal, como pode ter notado, Jullian é uma pessoa muito difícil. Seu temperamento é dos piores, ainda mais somado com seu problema alcoólico.

– Ele se comportou muito bem ontem. Não ficou bêbado nem nada. - cruzei os braços em frente ao meu corpo.

– Isso é ótimo, mas não quer dizer muita coisa para mim. Jullian precisa de ajuda. Agora mais do que nunca. A morte de Frederick só será mais um gatilho para sua ruína.

Reprimi a vontade de revirar os olhos. O que aquela mulher queria, afimal? Que eu concordasse com tudo o que ela estava dizendo? Que eu discordasse? Eu não entendia o ponto daquilo tudo. Sua voz estava me irritando e sua crítica ao filho me parecia um tanto... imatura. Afinal, ela era sua mãe e deveria ajudá-lo em tal momento.

– É muito triste perder alguém. Estou me recordando do momento de quando aFrederick e eu éramos casados e Jullian ainda tinha seus quatro ou cinco anos. Ele era a nossa maior alegria. Era mesmo um menino muito alegre.

Olhei para seu rosto de soslaio. Senti meus olhos arderem. Ela continuou:

– É muito triste ver que a felicidade na vida de uma pessoa que você ama, se esvaiu. Jullian nunca mais foi o mesmo. Me dói dizer isso, mas acho que ele nunca será feliz novamente. Não tanto quanto ele era quando criança. Isso é terrível.

Surpresa vi que uma lágrima escorria de seus olhos por suas bochechas. Eram lágrimas silenciosas, mas eu podia entender a sua dor. Apesar de tudo, ela era uma humana e uma mãe. Apesar de todos os seus erros (quais Jullian sempre apontava), ela ainda era sua mãe e o amava.

– Sei que ele deve ter dito muitas coisas sobre mim por eu ter deixado o pai dele. Mas ele também não sabe de tudo. Frederick era um homem bom, mas ele nem sempre foi assim. Quando nos casamos, ele era ciumento, bebia demais e arrumava brigas dentro de casa. Até mesmo quando Jullian tinha seus três anos, vivíamos em um verdadeiro pé de guerra.

Engoli em seco e continuei a ouvir todas aquelas revelações.

– Quando uma pessoa está em um relacionamento desgastado, fica impossível você amar a pessoa incondicionalmente. Se você não entende isso ainda, pode ser que virá a entender um dia, querida. Essa era a verdade. Eu não troquei Frederick porque ele começou a ficar debilitado. Eu simplesmente não amava-o mais. Sentir carinho e não querer que nada de ruim aconteça não é a mesma coisa de amar. Estou triste, sim. Ele fez parte da minha vida e me deu meu filho, mas eu também sei o que passei com ele. Coisas que Jullian nunca saberá.

Ouvir tudo aquilo me fez ter certeza do que Jullian tinha dito. O sr. Zarch fora mesmo um ator. Pelo menos em algumas partes de sua vida. E eu tinha certeza de que ele era um ser humano comum, com muitas falhas e que estava apenas aprendendo e tentando se redimir da melhor maneira possível ao ficar cara a cara com a morte.


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Notas finais do capítulo

*suspiros* *limpando lágrimas*
O que vocês acharam desse capítulo? E de todas essas revelações?
Espero muuuito que tenham gostado.
Sei que disse que o livro estava na metade, mas estamos muito perto do fim.
Espero que aproveitem os capítulos que vêm por aí. Eles serão os capítulos finais ♡ Ainda estou trabalhando em alguns.
Espero muito que estejam gostando da história até aqui. Como sempre, obrigada pelo apoio. Vocês com certeza fazem meus dias melhores. Sério mesmo ♡
Beijos,
Lê.
Até o próximo!



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