O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 21
Vinte e um


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Tudo bem com vocês?
Eu espero que sim!
Então, esperei por um tempão para postar esse capítulo e espero muitíssimo que gostem!!! Aaaaaaah ❤❤❤❤
Boa leitura!!!



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Ainda que eu estivesse usando chinelos nos pés, eles estavam cobertos de areia. Não me importei nem um pouco. Encontrava-me estarrecida com a beleza daquela praia deserta. A areia era de um branco maravilhoso e o mar estava agitado, fazendo meus cabelos esvoaçarem violentamente, quase que chicoteando meu rosto.

Decidi tirar os chinelos e sentir plenamente a sensação da areia contra meus pés. Fazia um bom tempo que não sabia o que era a areia de uma praia. Aquilo me levou para mais perto de casa por um tempo. O cheiro salino impregnou-se em meu olfato e quase sorri por um instante.

Sentia saudade de casa. Sentia saudade de mamãe sempre andando pela cozinha com seu avental amarelo amarrado no pescoço, de papai sentado em sua poltrona após trabalhar duro o dia todo na fábrica de miúdos da vizinhança e de Fergus berrando com o próprio video-game após perder alguma partida de futebol. Me dei conta de que nem me lembrava mais de como era a sensação dos abraços do papai ou do cheiro de frango assado que a mamãe fazia quase todo domingo no almoço.

Sentei-me em uma parte seca da areia e puxei a barra da calça alguns centímetros para cima para colocar os pés onde a água estava chegando. A água salgada lavou meus pés e tive aquela familiar sensação de eles estarem afundando contra a areia empapada.

Era um tanto horrível estar sentindo tanta saudade de casa no mesmo dia que sentia-me uma completa idiota por Louis. Qual era o meu problema? Como pude ser ingênua com todo aquele papo do cunhado dele? "Se um dia chegar a conhecer...". Ha! Que idiota! Sua grande idiota, Wendy Cooke.

Meus olhos marejados estavam no horizonte cinzento, qual em breve atingiria uma nuance mais escura, pois logo escureceria. As madeixas ruivas voavam violentamente para trás por causa do vento. Deviam estar terrivelmente embaraçados. A água voltou a bater em meus pés, um tanto gelada e eu ouvi uma voz conhecida e masculina dizer:

– Você realmente não está em um dia bom, hein.

Não adiantava tentar esconder minhas lágrimas, mas virei o rosto para o lado esquerdo e limpei elas com as mãos. Olhei para Jullian que estava sentando perto de mim, mas com uma distância considerável. Estava vestindo apenas uma camiseta branca de algodão e a calça jeans preta habitual. O cabelo loiro também voava um pouco para trás. Estava olhando para o mar enquanto eu olhava para seu rosto. Seus olhos azuis voltaram a me fitar. Ele não sorria e nem estava muito sério.

– Você está assustando o pessoal. Geralmente é toda falante e intrometida e hoje está... - suas sobrancelhas uniram-se um pouco - triste.

Permaneci em silêncio e desviei o olhar de seu rosto. Encarei o marulho à nossa frente.

– E então, o que aconteceu para ficar assim?

Franzi o cenho. Jullian estava mesmo me perguntando algo sobre mim? Se importando? Era estranho e eu quase me senti invadida. Mas estava surpresa com aquela atitude. Balancei a cabeça em negativa.

– Você me acusou de ser invasiva e tudo o mais e agora... está perguntando o que se passa comigo?

Virei meu rosto em sua direção para olhá-lo. Seus olhos se estreitaram um pouco e ele desviou o olhar para a areia.

– É, acho que tem razão. Desculpe. Estou sendo tão chato quanto você. - ele fez menção para se levantar.

Quase me arrependi de ter dito aquilo. Meu orgulho não era tão grande assim, afinal. Suspirei audivelmente.

– Eu... estou com saudade da minha família. - falei encarando a água que lavou meus pés novamente.

Pelo canto do olho pude vê-lo se sentando novamente.

– É um dos motivos de eu estar triste hoje. - dei de ombros. - Eles me mandaram esse e-mail dizendo que estavam orgulhosos e me desejando feliz aniversário e...

– Espere, seu aniversário é hoje?

– Não. - respondi balançando a cabeça. Olhei para o rosto de Jullian. - É amanhã. Isso não importa. O que importa é que eles me mandaram esse vídeo meu do meu aniversário de quatro anos e uma foto deles com um bolo exatamente igual com vinte e quatro velas e... - minha voz estava se tornando embargada. Respirei fundo. - Eu sinto falta deles.

Os olhos de Jullian era de um azul incrível, sinceramente. Ele fitava meu rosto de modo sério, como se estivesse realmente ouvindo e prestando atenção em tudo o que eu tinha acabado de dizer. Sua boca se retorceu um pouco para baixo, de modo que ele pareceu impressionado com algo.

– O quê? - perguntei.

Jullian balançou a cabeça em negativa e disse olhando para a areia:

– Não é nada. É só que... parece bom. Ter uma família normal e que se importa.

Franzo o cenho.

– Sua família se importa com você.

Seu sorriso foi de escárnio acompanhado de uma fungada.

– Sim, claro! Olha Wendy, acho que está conosco por pouco tempo demais para achar que nos conhece tão bem. As aparências enganam, sabe?

O modo como Jullian me olhou me deixou paralisada. Era como se ele fosse dizer mais. Algo incomum estava acontecendo ali. Ele estaria... se abrindo?

– Acha mesmo que o meu pai sempre foi tão otimista e "ah eu já não me importo mais de estar morrendo aos poucos?" - ele balança a cabeça negativamente. - Ele se conformou. Não há nada que possamos fazer. Ele vai morrer cedo ou tarde e usa toda essa porcaria do budismo pra um consolo. Não quer mostrar que está sofrendo. Quer bancar o fortão.

Minhas sobrancelhas estavam unidas diante de tudo aquilo. Ele continuou:

– Acha mesmo que ele não sente nem um pouco de raiva da minha mãe? Ela o abandonou assim que ele começou a ficar debilitado. O trocou por um maldito de um pianista vegano uns anos mais novo. - o ódio de Jullian diante daquilo era palpável. Ele fitava a maré quebrando. - Ele não quer demonstrar que acha ela uma tremenda ordinária, isso sim.

– Nem todo mundo é igual, Jullian. Seu pai parece ser muito evoluído...

– Meu pai é um ser humano, Wendy. - Jullian me interrompeu. Olhou para o meu rosto. - Ficar com raiva em uma situação dessas é normal, é do ser humano. Você não sente nem um pouco de raiva da minha mãe por isso? Nem precisa responder para mim. Faça uma análise para você mesma. Sentir raiva e tristeza faz parte do ser humano. Fingir que não se importa não é ser evoluído, é ser uma farsa.

Encarei minhas mãos. Era muito para processar.

– Não acredite em cada sorriso que as pessoas te dão por aí. Eu posso ser o que sou, mas pelo menos sou verdadeiro.

– E quanto a sua namorada? - perguntei. - Por que terminou com ela? Sua mãe disse que...

– Anelise não era minha namorada, era minha noiva.

Senti o ar esvair-se dos meus pulmões. Jullian passou os dedos pelo cabelo, trazendo-os para trás. Analisei seu rosto de perfil.

– Estávamos juntos fazia um pouco mais de três anos e ela era uma pessoa falsa e superficial. Nossas mães se conhecem de uma merda de salão de beleza. Só sabem fazer fofoca enquanto arrumam o cabelo para jantar com seus maridos imbecis. E Anelise era superficial igual a mãe. É acomodada e estava de olho no dinheiro do meu pai. Nem meu é. Tudo o que meu pai tem, pertence à ele e somente ele.

A expressão de Jullian era fechada. Suas mãos estavam fechadas como se fosse socar alguém. Sua vulnerabilidade era uma grande surpresa para mim e saber de tanta coisa nova era surreal - ainda mais vindo dele.

– Enfim, sua família parece muito normal e como uma família. Famílias não devem ser interesseiras, as mães não devem abandonar o marido doente que está morrendo e sendo degenerado, pelo amor de Deus! - ele bufa.

Engoli em seco.

– Eu... sinto muito. Posso ver que é muito para aguentar.

Por algum motivo, ele continua balançando a cabeça em total exasperação. Não sei se é pelo o que falei ou porque está lembrando de mais coisas que o deixam louco da vida.

– Bem, acho que você já invadiu demais minha privacidade por hoje. - ele se levanta.

Me dou conta de que o céu já está completamente escuro. Até poderia reclamar com ele e dizer que fora ele quem viera invadir a minha privacidade. Mas deixei aquilo passar. De certa forma, sentia-me um pouco melhor. Louis pareceu um pouco insignificante diante daquilo tudo.

– Vai ficar aí a noite toda ou vai voltar para a casa dos problemáticos?

Suspirei e me levantei da areia. Tinha uma meia lua no céu acima de nós que iluminava a noite de modo sutil.

– Você realmente não gosta de se expôr, não é? - comecei a andar sem esperá-lo, mas logo ele me alcançou. Estávamos andando lado a lado. - Imagino que não tenha rede social.

– Não, não tenho. Não gosto de me sentir invadido.

Olhei para o seu rosto e abri a boca fingindo surpresa.

– Não me diga! Acho que acabei de perceber isso.

Uma coisa me deixou surpresa: Jullian deu um sorrisinho de canto muito discreto. Mas eu o vi.

– Ora essa! Não é que ela sabe usar sarcasmo?


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Notas finais do capítulo

Então, o que vocês acharam desse capítulo e de todas essas revelações baphônicas???
Me contem aí ❤❤❤
Um enorme beijo pra vcs. Espero que essa crise dos caminhoneiros passem logo nß? Senão daqui a pouco vira um apocalipse hahaha.
Beijos

P.S.: UM ÓTIMO FINAL DE SEMANA ❤❤❤❤



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