O Pecado de Cassiel escrita por Catherine


Capítulo 1
Capítulo Único




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            Olhei-a do alto enquanto se despedia dele, nunca fora capaz de me aproximar com receio. Eu não era bom o suficiente para ela, nunca fora, e talvez nunca chegasse a ser, não que isso agora fosse realmente importante. Senti o meu peito arder de inveja, sabia que não era o correcto sentimento para sentir, mas não me consegui impedir. Eu odiava-o por ter ficado com o coração de Angeline. Arcanjos, deu-me uma súbita vontade de rir, era obvio que ela o preferia a ele, Gabriel, do que a mim, um simples anjo. E de forma alguma, Michael me teria deixado chegar perto de sua querida irmã Angeline, pelo menos até ao dia que ela caiu e abandonou o Céu. Observei tudo de longe, sem praticamente acreditar que era real, querendo vivamente achar que não era a ela que arrancavam suas asas daquela maneira bruta e desumana, que não era ela estendida no chão, sangrando de suas costas e urrando de dor enquanto Gabriel apenas a observava de forma piedosa sem sequer lhe tocar. Mas eu fazia o mesmo, eu apenas observava a sua dor, eu era tão desumano quanto eles.

            Fechei os olhos sentindo o meu corpo explodir de ira e inveja quando trocaram um beijo apaixonado, era demais para ver, mesmo sendo um anjo caído, ela continuava a preferi-lo dentre todos os outros, e ele sempre a quereria a ela. A doce, bela e proibida Angeline, de pele porcelana suave como seda, cabelos dourados com os raios do sol e olhos cor de prata. Senti Michael perto deles e abri os olhos sorrindo, estava na hora de se separarem para sempre, não seriam mais permitidos de se encontrarem, aquela fora a primeira e ultima vez que se veriam depois de sua queda dos céus. Um gosto amargo preencheu a minha boca quando ela se inclinou para lhe dar um último beijo, mas alegrei-me ao vê-lo partir.

            Angeline chorava na praia, mas não me fez completamente triste, na verdade, eu estava eufórico de alegria, nunca mais Gabriel tocaria em seus lábios com que eu sonhava todas as noites e todos os dias, nunca mais encostaria uma mão em sua pele. Vi Lúcifer aproximar-se e semicerrei os olhos descontente quando a abraçou, claro, era de esperar. Dei uma gargalhada metálica enquanto imagens se formavam em minha mente. Se Angeline não tinha mais Gabriel, o sábio era dedicar-se a Lúcifer, o traidor dos céus, o mais forte anjo caído.

            Balancei a cabeça rindo ainda mais, como eu era um idiota. Senti uma mão pesada sobre o meu ombro e estremeci. Uma sensação estranha percorreu todo o meu corpo, fechei os meus olhos, e ouvi o criador falar dentro de minha cabeça.

 

            “ Cassiel, não estás mais a serviço divino, pois todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração ” engoli em seco, eu sabia do que ele falava. Havia desejado imensas vezes Angeline enquanto ela pertencia a Gabriel.

 

            Voltei-me e encarei os olhos azuis-acizentados de Rafael, baixei o olhar sentindo-me enojado comigo mesmo, e segui-o até Uriel, que já me aguardava juntamente com Remiel e Amitial. Mordi a língua preenchendo-a de sangue, sabia o que me fariam, passaria pela mesmo dor que Angeline. Arrancariam minhas asas sem qualquer rasto de piedade. Isso era o que eu esperava, mas foi completamente diferente.

            Durante três longos dias passei por torturas horrendas, não me arrancavam as asas, mas quebravam-nas aos poucos enquanto pareciam se divertir ao ver-me gritar de dor até ficar sem ar nos pulmões. No inicio do quarto dia, Rafael andou até mim e olhou-me com pena. De todos os arcanjos, era talvez o único que eu admirava, e apenas de o ver fez-me esquecer as minhas dores por uns segundos. Ajoelhou-se na minha frente e encarou os meus olhos verdes.

 

            - que idiota foste tu, Cassiel – murmurou balançando ligeiramente a cabeça em desaprovo, senti a súbita vontade de soltar uma gargalhada, mas ela não saiu, ficando presa sobre as dores de meus pulmões – sabias que isto te aconteceria se continuasses a desejar Angeline – suspirou balançando a sua mão no ar – de certo que ela é bela, sempre o foi não o nego, mas seu amor pertence a Gabriel e acredito que nem mesmo agora deixará de o amar – esbocei um doloroso sorriso. Eu sabia que ela não deixaria de o amar, mas apenas desejava que me amasse um pouco, mesmo que fosse um amor tão pequeno quanto de amigo. 

 

            Rafael levantou-se e deixou-me sozinho no chão. Eles entraram. Fechei os meus olhos preparando-me para a dor. Gritei até mesmo sem voz quando as minhas asas foram arrancadas de mim brutalmente e sentia o sangue quente escorrer-me pelas costas, antes de fechar os olhos, vi Gabriel em um canto, e podia até jurar que o vira sorrir, apreciando a minha dor. O meu corpo todo ardeu em uma agonia infernal durante dois dias. E a sensação de cair foi inexplicável, como se o chão faltasse debaixo de mim e a cada segundo me perdesse mais na escuridão.

Todo o meu corpo me doía. Fui capaz de abrir os olhos, senti a suave brisa do mar bater no meu corpo lentamente, humedeci os lábios enquanto encarava o céu, talvez neste mesmo momento Gabriel risse de mim. Mas eu não me importava, agora eu poderia encontrar Angeline. Sorri e voltei a cerrar os olhos. Movi as mãos ao meu lado sentindo a areia em meus dedos e inspirei a brisa marinha com prazer.

 

- Cassiel ? – abri os olhos rapidamente ao ouvir a sua voz, e deparei-me com um par de olhos prata de um belo rosto. Sorri incoscientemente e ergui o braço com alguma dor tocando a sua face. Ela olhava-me surpresa e horrorizada – que te aconteceu? Porque caíste? Meu deus o que te fizeram – os seus olhos encheram-se de lágrimas á medida que analisava as minhas cicatrizes e eu gemia de dor quando ela tocava em alguma. Senti-me feliz ao ver a sua preocupação. Senti-me revigorado.

 

- caí por amor – murmurei enquanto dava um sorriso amargo – ainda ouço as palavras de Deus em minha mente acreditas? Parece que faz eco – soltei uma gargalhada amarga, mas Angeline não riu comigo, apenas me observou como se tentasse decifrar alguma coisa – acredito que caí devido á inveja – ela tocou o meu rosto com as mãos e balançou a cabeça fechando os olhos.

 

- invejo-a – disse-me sorrindo com amargura – acho que desejava que Gabriel fosse capaz de o fazer por mim, cair sabes? Para ficar-mos juntos – notei um brilho de tristeza em seus olhos e quis contar-lhe que fora por ela que caíra, mas algo me impediu – acho que isso é impossivel – riu mas sem prazer. Coloquei a minha mão sobre uma das dela e suspirei.

 

- caí por ti Angeline – fui capaz de dizer ao fim de um tempo – caí porque sentia inveja de Gabriel – ela olhou-me surpresa, podia ver-se que não o esperava, deu uma gargalhada contida e acariciou-me a face.

 

- que idiota Cassiel, mesmo sabendo que nunca deixaria de amar Gabriel, caíste por mim – sorriu, um sorriso que aqueceu o meu coração – vou dar-te um presente, aproveita-o, pois será a única vez que o farei – olhei-a sem perceber do que falava, vi o seu rosto aproximar-se do meu e a minha respiração falhou, o meu coração parecia querer saltar do peito. Angeline tocou os seus lábios nos meus com suavidade, e eu fechei os olhos, aproveitando o máximo que podia daquele momento, separou-se de mim e deu-me um beijo sobre a testa – vem, iremos ao encontro de Lúcifer, ele aguarda-nos – ajudou-me a erguer e partimos os dois pela praia. Senti o arrependimento de cair dos céus, mas estar junto de Angeline, sentir ainda o gosto de seus lábios nos meus, era já o suficiente. Estava no meu próprio céu.


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