O Funcionário do Fast-Food escrita por Ellaria M Lamora


Capítulo 4
IV — Vai ficar tudo bem


Notas iniciais do capítulo

Vooooooooltei!
E gente, vocês são o máximo. De verdade, eu amo cada leitor dessa história, que separa um tempinho de sua vida para ler isso aqui e me presentear com um comentário. Isso é tão motivador e lindo, que até fico emocionada lendo as palavras de vocês. Fica aqui meu agradecimento, com esse capítulo gigante PKDPASKPAKDASD.

Atenção, recomendo ler ouvindo duas musiquinhas. Vou linkar elas aqui:
COLORS, cover da música da Halsey: https://www.youtube.com/watch?v=DAAAUzV0oQw
PHOTOGRAPH - ED SHEERAN (BOYCE AVENUE FEAT. BEA MILLER ACOUSTIC COVER): https://www.youtube.com/watch?v=tIA_vrBDC1g

Como sei que muita gente lê pelo celular e fica difícil abrir os links e ler ao mesmo tempo, deixo a recomendação: coloquem ao menos alguma música que deixem vocês BAD. O importante é captarem a essência do capítulo (e nem sempre as músicas que autores recomendam atingem os leitores na mesma intensidade que as músicas que os próprios leitores escolhem)... O IMPORTANTE É FICAR TRISTE, GENTE -Q.

Sim, pela capa do capítulo e as músicas, dá pra ver que o capítulo vai ser bem triste.
PREPAREM OS LENÇOS!

Boa leitura! ♥
ATENÇÃO: POV NARUTO NA ÁREA!!!!!



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COM O CORPO ESPARRAMADO NA CAMA,  o loiro mexia em seu celular esperando o maldito sono que não queria dar as caras. O cansaço do dia o vencia, oprimindo aquele jovem e sugando até mesmo a energia que gastaria dormindo. Sua sorte era de que não iria trabalhar no dia seguinte, pois caso fosse o contrário, ele estaria chorando de desespero ao invés de preguiçosamente estar visualizando os novos status de seus amigos no WhatsApp, tentando inutilmente aquecer-se no velho edredom com cheiro de mofo.

Seus dedos tocavam a tela do celular preguiçosamente e ele assistia a vida tão divertida de seus amigos rolarem pelas órbitas azuladas, sorrindo feliz pelas fotos que Sakura continuava postando da viagem de Kyoto, a quarta reunião anual dos Narcóticos Anônimos que Gaara visitava — simbolizando 4 anos livre daquele caminho que quase o matara —, a exposição dos quadros de Sai em um festival pequeno e as flores novas que a Senhora Yamanaka havia encomendado.

Naruto ficava genuinamente contente com a alegria de seus amigos. Sabia que eles mereceriam e torcia parece que aproveitassem o que ele não podia fazer parte. Afinal, com tantas responsabilidades, sentia que estava desligado daquela parte da vida. Ele não podia tê-la e, por isso, só podia desejar o melhor para quem não carregava o peso que tinha de suportar.

Deixando os pensamentos de lado, ocupou-se em bisbilhotar os status de Uchiha Sasuke e teve que colocar a mão na boca para não fazer barulho com suas escandalosas risadas. Era inacreditável que o cara do metrô era marrento até mesmo na internet! Ali estava ele, postando páginas de livros da faculdade, tirando fotos do trânsito e metrô, fotografando um café e reclamando de sua doçura desnecessária.

O Uzumaki o admirava. Sasuke tinha uma vida tão corrida quanto a sua, mas sempre encontrava um tempo para sair com a Haruno — ela vivia postando fotos dos dois provando sorvete ou tomando café —, possuía uma inteligência acima da média, parecendo ser realmente dedicado em sua vida acadêmica. Era um gênio.

Naruto não duvidava que ele brilharia em sua carreira.

Aquele desgraçado era tão diferente de si e bom em tantas coisas que Naruto às vezes pegava-se pensando em como o universitário ainda falava consigo. Sasuke estava anos-luz na frente dele, levando uma vida completamente diferente da de Naruto e, no entanto e maioria das vezes, o tratava com igualdade. Claro que havia troca de farpas e algumas ofensas aqui e ali, mas o Uzumaki enxergava — nos olhos negros e mensagens — o respeito que aquele Uchiha tinha por ele. Isso era incompreensível, visto que o funcionário do fast-food estava acostumado com o desprezo por ser alguém mediano e com um trabalho simplório. Mas Sasuke, mesmo vindo de um mundo totalmente diferente do que ele conhecia, tratara-o como igual, mesmo depois de tudo que Naruto o causara.

Sabia que a amizade dos dois não duraria muito e jamais seria tão aprofundada quanto o Uzumaki desejava. Sasuke era da elite e eles jamais aceitariam alguém como Naruto no círculo de amigos. Mesmo assim, o loiro permitia-se sofrer um pouquinho. Infelizmente tinha gostado da companhia tão birrenta de Sasuke, das discussões sobre teorias de mangás, dos ensinamentos sobre flores que Naruto passava adiante quando o outro estava cuidando da floricultura Yamanaka e do drama que aquele desgraçado fazia quando o Uzumaki mandava uma música da Lady Gaga.

Ele queria muito ser um amigo próximo de Uchiha Sasuke, mas sabia que não podia. Não quando via um muro invisível erguendo-se em sua frente, separando as realidades dos dois ou quando a certeza de que o Uchiha seria incrível em sua vida, ao passo de que o loiro ficaria estagnado ali. Era seu dever e devia honrá-lo.

Melancólico, Naruto abafou o barulho da televisão na sala com um travesseiro e tentou não ficar triste. Ele tinha aceitado as coisas como eram havia muito tempo e seguia com sua filosofia de vida satisfeito. Não fazia sentido sentir-se deprimido naquele momento, quando sabia que precisava arranjar um jeito para fazer as compras da próxima semana. Era isso ou morrer de fome.

Curvado sobre si, ele tentou mais uma vez adormecer e estava obtendo um pequeno êxito nessa tarefa, mergulhando em um mundo que podia comer sempre que sentisse vontade e onde remédios não eram um problema, quando uma música da Lady Gaga começou a tocar. Ele agarrou o celular e o atendeu, meio grogue de sono. A voz do outro lado da linha era urgente:

— Naru? Ai, eu te acordei, não é? Desculpa, mas você é a única pessoa que não vai me deixar na mão e... Meu deus, não sei o que fazer!

— Sakura? O que aconteceu? Você ‘tá bem?

O Uzumaki sentou-se na cama, atento à voz feminina e começando a procurar por seus sapatos no chão.

— É o Sasuke, ele não está bem. — Ela desabafou e o rapaz percebeu que segurava o choro — Não sei o que aconteceu, mas o Itachi disse que eles tiveram uma conversa essa tarde e depois disso o Sasuke sumiu. Aí agora o Sasuke me mandou um áudio e, meu deus, Naruto! A voz dele estava tão horrível... preciso ir buscar ele, mas o Itachi não atende e ninguém quer me ajudar. Por favor, não consigo ir sozinha. Por favor, me ajuda.

— Me passa o endereço, cuido disso para você.

Sakura não tinha nem terminado de pronunciar o nome da rua e o Uzumaki já tinha atravessado a sala em silêncio, procurando não fazer nenhum barulho para não despertar o homem que dormia exausto no colchão do chão, abrindo a porta e saindo para o ar gélido da rua, com um casaco nos ombros.

Vinte minutos depois, Uzumaki Naruto chegou em um bairro mais afastado do centro da cidade, correndo pelas ruas pouco iluminadas até um barzinho de caráter duvidoso. Ele engoliu a saliva em seco, cobrindo sua cabeça com o capuz esverdeado, escondendo as mechas douradas para que antigos amigos de Gaara não o reconhecessem. Com um olhar hesitante, procurou o Uchiha, encontrando-o no fundo do bar, virando um copo de um líquido transparente e com uma expressão melancólica na face.

Com a preocupação correndo por suas veias, ele aproximou-se em passos largos do universitário, arrancando a próxima dose das mãos do moreno, que levantou a cabeça para encará-lo, deixando que ela tombasse para o lado e fitando-o com olhos negros vacilantes. Era visível o quão bêbado o Uchiha estava.

— Acho que está bom já, Sasuke. — Sua voz soou gentil.

— Era só o que me faltava — Cuspiu as palavras ásperas, emburrado — Cadê a Sakura?

— Mandei ela ficar em casa. Não acho certo mandar alguém como ela para um lugar desses.

Sasuke fechou os olhos e respirou fundo.

— Vem, eu vou te ajudar. — Naruto passou um dos braços dele pelo próprio pescoço e ajudou o estudante ficar em pé — Já pagou tudo?

— Já. — Respondeu, sem recusar a ajuda do Uzumaki.

Em silêncio, Naruto arrastou o bêbado consigo até o estacionamento vazio. Ele o auxiliou a sentar-se em um banquinho e entregou uma garrafa d’água para Sasuke, que se mantinha tão quieto quanto o dia que se conheceram. Cansado, o loiro deixou que seu corpo caísse ao lado do Uchiha e eles fitaram o céu nublado.

— Aconteceu alguma coisa? — Naruto sussurrou a pergunta, em um tom preocupado e com olhos profundos fitando o colega.

— Não.          

— Esse Itachi te fez alguma coisa?

Uma risada sem humor abandonou a garganta do Uchiha.

— Não, Naruto. Meu irmão não me fez nada.

— Sasuke — O loiro, no ápice de seu cansaço, segurou os ombros do colega e o obrigou a fitá-lo — Você precisa desabafar. Sei que não sou a Sakura, mas é óbvio que algo aconteceu, então converse comigo. Por favor.

Ele pareceu relutar, coçando os olhos, esfregando as mãos no rosto, nas mechas tão escuras e desviando o olhar do Uzumaki, que aguardou pacientemente o outro decidir-se sobre o que faria. Por fim, Sasuke cedeu e as órbitas negras voltaram-se na direção do Uzumaki, que lamentava a situação em que o Uchiha estava, com suas roupas amassadas, olhos cansados e um forte odor de álcool.

— Eu que fiz, dobe. — Desabafou em uma expressão angustiada.

Naruto fez que ele bebesse mais água e esperou que o universitário encontrasse as palavras para o que queria dizer.

— Sou um fracasso e falhei com meu irmão. Consegui a proeza de ser cortado de uma viagem incrível, que faria muita diferença no meu currículo acadêmico e decepcionei o Itachi. — Cabisbaixo, os punhos de Sasuke socaram os próprios joelhos — Foi uma merda contar para ele, sabe? Aquele desgraçado estava todo contente, dizendo que ia me comprar uma mala nova e eu simplesmente tive que falar que não ia ter mais viagem... 

Calando-se, Sasuke respirou fundo e recostou-se melhor no assento, olhando agora o céu e as luzes de uma cidade que nunca dormia. Naruto percebeu como a bebida o deixava mais falante, ao mesmo tempo que uma assombrosa e preocupante sombra deprimente crescia no brilho de seus olhos. Aquilo deixou o loiro em sinal de alerta.

— Que grande merda sou. Itachi é a melhor pessoa que eu conheço e eu decepcionei ele. Aquele desgraçado até tentou disfarçar sua decepção, com discurso motivador, mas eu sei que falhei com ele.

Virando-se para o Uzumaki, ele perguntou:

— Sou um merda, não? — Um triste levantar de lábios o acompanhou.

Naruto quis abraçá-lo, envolvendo todo o corpo do cara do metrô com suas mãos, protegendo o universitário da tristeza e crueldade do mundo. O loiro quis muito dizer que entendia seus sentimentos e o quão duro era enfrentar a sensação de decepcionar os outros. Sentado do lado de Sasuke e enxergando o sofrimento que o envolvia, Naruto só queria poder dar um jeito de desaparecer com aquela sensação que assombrava o outro.

No entanto, não podia.

Não podia quebrar a barreira invisível, caminhando além do limite que não podia atravessar. Sasuke era um estudante classe-média, alguém que levava uma vida que Uzumaki Naruto jamais teria. E mesmo que estivesse ali expondo uma pequena parte de seus demônios, o loiro sabia que não ultrapassariam aquilo. Ele não podia forçar uma intimidade com o Uchiha, pois sabia que este iria se arrepender no dia seguinte, quando todos os efeitos do álcool o abandonassem. Naruto não podia simplesmente tocá-lo, sussurrando que tudo ia ficar bem, que aquilo era uma fase e faria o moreno ser mais forte. Em sua mediocridade, não podia desabafar sobre suas deploráveis experiências de vida, em busca de ajudar a consolá-lo.

E principalmente, tinha de se proteger. Sabia que o laço que criavam apertava-se contra sua alma deixando-o a mercê de Uchiha Sasuke, mas tinha de evitar o possível para que não se sufocasse, pois sabia que uma hora o colega o abandonaria, seguindo sua vida e deixando Naruto para trás, com o destino de merda ao qual estava preso. Então mesmo que quisesse acabar com todo o sofrimento do universitário, não queria sofrer com as partidas. Não mais. Já tinha dado adeuses suficiente.

— Sasuke... — Pegou-se sussurrando e com uma mão próxima do ombro do outro. Naruto recolheu-a na mesma hora que notou isso — Sinto muito por isso.

— Não sinta — Rosnou, agressivo — A vida é uma merda.

— O Itachi disse algo mais?

Ele negou com a cabeça.

— Eu só sou um merda, então está tudo bem.

Naruto até tentou, mas não conseguiu se segurar quando as órbitas dele brilharam tão tristes e chorosas.

Contrariando todo o mantra de não forçar uma intimidade, ele apertou o ombro do colega, atraindo sua atenção. Encarou-o intensamente, deixando transparecer uma seriedade que não era comum em sua face.

— Não diz isso, por favor. — As pontas de seus dedos bagunçaram as mechas negras — Sei que você está chateado por ter perdido essa viagem, mas você é incrível Sasuke. Seu irmão sabe disso, seus amigos sabem disso... então tenha isso em mente.

— Não — A mão do Uchiha fechou-se no pulso do loiro e pareceu que ele ia afastá-lo, no entanto acabou mudando de ideia e seus braços caíram ao lado do próprio corpo, com ombros baixos e tristes — Sou um fodido.

— Sasuke...

— Minhas notas na faculdade estão afundando — desabafou, em um desespero palpável enquanto sua voz começava a falhar —, a cada dia fica mais difícil suportar essa merda. São casos novos, abordagens novas, trabalhos e projetos na porra da universidade. É tudo uma merda. Chega o no final do dia e só quero morrer. Sem contar o infeliz do meu chefe, que acha que não tenho vida e joga toda a papelada em cima de mim. — Sasuke curvou-se sobre si, com as mãos no rosto — Estou exausto. Só quero dormir.

Naruto percebeu que as palavras não o ajudariam naquela situação, por isso deixou que o silêncio acompanhasse o pesar do colega. Em sua concepção, devia deixar o Uchiha falar mais, pois ele parecia ser o tipo de pessoa que raramente permitia se abrir e desabafar, de forma que parecia errado cortar seu momento com futilidades motivadoras.

— Preciso aguentar o dia inteiro as pessoas me cobrando, querendo saber se peguei a porra de um café, se terminei o relatório de uns empresários escrotos, se já preparei o seminário de Economia Política, se decorei e entendi dezenas de livros e leis... O dia todo. O dia inteiro. — Um espasmo percorreu o corpo do Uchiha e sua voz ficou grave, como se ele quisesse chorar — Isso faz a gente começar a questionar se só cometemos erros, se vale a pena aguentar isso tudo...

Aquela foi a deixa do Uzumaki. Ele não podia permitir que o rapaz continuasse naquela linha tão tensa, ou Sasuke acabaria deprimido. Sem pensar, retirou de seu pescoço um discreto colar com um pingente de ferradura. Em seguida, buscou as mãos do outro e depositou o acessório ali, fechando-as.

— Mas que porr...

— É um amuleto de proteção. — Naruto explicou, sorrindo para passar confiança — A ferradura traz sorte e afasta energias negativas. Na pior das hipóteses, você fica girando o colar para machucar quem te causar algum mal.

— Isso é seu, não precisa me dar. — Bufando, completou — O ceticismo mandou abraços.

— Cale a boca, teme. Estou te dando de presente.

Notou que o Uchiha o estudava com desconfiança e riu, agradecendo pela atmosfera ter ficado mais leve. Ao suavizar sua expressão, ele acomodou-se mais perto do Uchiha e o fitou diretamente, afirmando:

— Você é incrível, Sasuke. Sei que é difícil enxergar isso com tanto cansaço, mas não se esqueça do quão bom você é. Está tudo bem perder uma viagem, você vai arrumar uma melhor, quem sabe até para Marte? — Naruto gargalhou e o outro revirou os olhos, mas um pequeno sorriso surgiu no canto de sua boca — Imagino que seja cético, mas por favor, considere andar com a ferradura ao menos para se lembrar do desgraçado foda que é. Como o ferro, você pode suportar muita coisa, está bem?

Ele assentiu.

— Eu te admiro bastante, teme. Não é fácil fazer uma das faculdades mais disputadas do país, então lembre-se da sensação de ter entrado na sua universidade. Lembre-se do que te movia no passado e agarre-se a isso. E claro, não se esqueça que você ainda precisa viver bastante, para que eu possa quitar minhas dividas!

Com satisfação, viu que o sorriso cresceu mais no rosto pálido.

— Ah, eu também preciso pagar as boca-de-leão!

— Não precisa, seu idiota. Foi um presente.

— O dinheiro é meu e eu faço o que eu quiser. — O loiro retrucou, bufando.

— Então compre mais cafés do Ichiraku para mim. — Respondeu, em um tom sonolento e exaustivo.

— Acho que está na hora de ir para casa — Naruto sugeriu, ficando em pé e ajudando ele a levantar-se.

— Vamos chamar um taxi. Nem fodendo que vou a pé para casa.

— Nem que você quisesse, conseguiria ir!

— Cale a boca. — Grunhiu e o Uzumaki riu de como ele cambaleava.

Juntos, os dois saíram do estacionamento e caminharam pelas ruas vazias, iluminadas pelas luzes amareladas dos postes. Naruto ajudava o Uchiha a se arrastar pela noite, enquanto ele bocejava e discutia em uma embriaguez engraçada sobre como o misticismo não fazia sentido e tentava explicar com termos técnicos a importância da ciência na sociedade contemporânea. O loiro tentava prestar atenção, mas seus pensamentos acabavam distraindo-se com a fala engraçada de Sasuke naquela situação, que parava de falar subitamente e depois voltava, com a cabeça chacoalhando e o corpo mole tropeçando no vácuo da cidade. Era engraçado ver ele tão bêbado, incorporando um cientista e filósofo.

No entanto, antes de chegarem à avenida, Sasuke parou de caminhar e fazendo uma careta, encarou o Uzumaki como se lutasse para decidir algo. Naruto perguntou qual era o problema e o Uchiha grunhiu:

— Obrigado, dobe.

Em resposta, somente sorriu.

Seguiram o caminho e com certa dificuldade conseguiram um taxi. Naruto empurrou o colega dentro do veículo e estava explicando a situação para o motorista, pedindo para que deixasse aquele bêbado no endereço que ele passasse, quando o Uchiha o puxou para dentro, surpreendendo o Uzumaki com sua força, fazendo com que ele caísse em cima de si.

— Vem comigo. — Sasuke murmurou, em uma ordem.

Afastando-se e constrangido por ter caído em cima do Uchiha, Naruto sussurrou um pedido de desculpas e tentou explicar que não tinha dinheiro para voltar para casa de ônibus ou taxi, caso fosse com ele. Infelizmente, isso não pareceu funcionar, já que Sasuke somente disse:

— Dorme na minha casa.

— Você está bêbado, Sasuke. Amanhã, quando acordar, vai me chutar ligando para a polícia e afirmando que eu tentei te roubar — Brincou com a situação.

Sasuke o ignorou, ditando o endereço de sua casa para o motorista e fechando a porta do lado do Uzumaki. Naruto tentou conversar com ele, mas o Uchiha o cortou, sério e determinado:

— Você vai dormir na minha casa hoje, dobe. Amanhã peço o carro do Itachi emprestado e te levo até sua casa — Virou a cabeça para a janela e Naruto pôde ver pelo reflexo que ele tentava esconder um tímido sorriso — É o mínimo que posso fazer depois de hoje, seu idiota.

Seguiram a viagem em silêncio. Em dado momento, Sasuke começou a cochilar e, no embalo do carro em movimento, seu corpo acabou pendendo para o lado do Uzumaki, que se assustou quando viu o Uchiha respirando lentamente, com a cabeça repousando em seu ombro, os fios negros fazendo cosquinhas em seu queixo e pescoço. Naruto ficou surpreso em como ele mudava quando dormia: a tensão desaparecia e restava somente um jovem bonito, sereno e em paz, sem nenhuma preocupação aparente.

E por falar em preocupação e tensão, Naruto estava exausto. Seus ombros estavam duros de tensão, sua cabeça doía e ele só queria uma cama quentinha para que pudesse dormir o máximo possível. Infelizmente, ser uma pessoa tão prestativa o consumia bastante, mas o loiro não se importava, pois mesmo que tivesse atravessado um pouco dos seus limites com Sasuke, o universitário estava e ficaria bem. Isso era o que importava.

Chegando em uma área próxima do centro da cidade, o motorista anunciou que a viagem tinha terminado. Com cuidado, Naruto despertou o dorminhoco, que acordou desnorteado. A confusão das órbitas negras era engraçada e isso fez loiro rir. Isso pareceu despertar o Uchiha, que se sentou ereto e coçou os olhos, retirando o dinheiro e pagando o taxi.

Ao saírem do carro, Naruto encontrou-se diante de um apartamento bastante agradável e moderno. Encabulado, seguiu o colega em um silêncio de incredulidade com a beleza do local, tão limpo e bem cuidado. Sasuke, no entanto, parecia tropeçar nos próprios pés e resmungava baixinho. Após pegarem um elevador, caminharam por um corredor cheio de portas, parando em frente ao 357 A. Ali, Sasuke enfiou a chave e girando-a, deu espaço para o Uzumaki entrar primeiro.

Já dentro do apartamento, depararam-se com as luzes acessas e um homem sentado no sofá, digitando freneticamente em seu celular. Sua cabeça levantou-se e seus olhos exprimiram alívio ao fitar Sasuke. Ao aproximar-se, Naruto percebeu que ele era muito semelhante com o amigo e concluiu que aquele devia ser Itachi.

O mais velho avançou na direção do mais novo, o envolvendo em um forte abraço. Se ele se incomodou com o cheiro de bebida ou o irmão reclamando daquela caretice, não demonstrou. Pelo contrário, o alívio que estava sentindo não permitia que um sorriso puro saísse de sua boca e por ela, ele dizia:

— Não faça mais isso, por favor.

Avaliando o irmão, continuou com gentileza:

— Vá dormir um pouco, você precisa descansar. Sei que está triste por causa da viagem, mas isso acontece, está bem? Seu chefe é terrível por cortar alguém tão centrado como você do time e vai perder uma boa chance de ter um menino tão determinado ao seu lado. Mas o problema é dele, você fez o seu máximo e que se foda esse filho da puta.

Sasuke não respondeu, cabisbaixo.

— Você é meu orgulho, irmãozinho tolo. — Garantiu, bagunçando as mechas negras — Só não faça mais isso, pois fui forçado a infernizar a coitada da Sakura, que está até agora sem dormir. — E parecendo notar o cheiro do irmão, ordenou: — Agora vá tomar um banho e se trocar.

Naruto assistiu o colega amigo obedientemente retirar-se da pequena sala e viu-se a sós com a versão mais velha de Sasuke, que sorriu sereno.

— Você deve ser o Naruto. Prazer, Uchiha Itachi.

— Só vim deixar o Sasuke mesmo. Garantir que ele chegaria em casa vivo, sabe? — Foi sua resposta, gaguejada.

— A Sakura me contou. Obrigado por ter cuidado dele, Sasuke sabe ser bem impulsivo quando quer e isso nos traz algumas dores de cabeça. — Desabafou, massageando a própria nuca — Imagino que também esteja exausto, Naruto. Aceita um café?

— Não precisa! Já estou indo.

— Uma porra, dobe! — Sasuke apareceu, a caminho do banheiro — Não deixe ele ir embora, Itachi. O Naruto vai dormir aqui hoje.

— Opa, então vou fazer alguma coisa para comermos. — Itachi declarou, parecendo feliz com aquela ideia — E você trate de ir para o banho! Se acabar dormindo lá dentro, saiba que não vou te tirar e passara frio a noite inteira — Ameaçou e Naruto viu o colega fazer uma careta com o jeito mandão do irmão e, praguejando, arrastar-se para o banheiro — O segredo para lidar com o Sasuke quando ele fica assim, é tratá-lo como uma criança. — Revelou, puxando o Uzumaki para a cozinha.

Era um cômodo estreito, entretanto o Uchiha movia-se com graciosidade, sem esbarrar em nada. Pediu para que o Uzumaki se sentasse em uma cadeira e este assistiu o mais velho começar a preparar ovos mexidos, com certa dificuldade nos cortes das cenouras, tomates e pimentões. Ao presenciar aquilo, Naruto não conseguiu ficar sentado e logo levantou-se, oferecendo ajuda.

— Obrigado. — Itachi disse, oferecendo a faca para o Uzumaki, que começou a cortar tudo rapidamente e com maestria — Você entende bastante de culinária, pelo que posso ver.

— Só um pouquinho — O loiro sorriu —, quando era um pirralho, dizia para todo mundo que seria o maior chefe que o Japão já viu.

— Posso ver que ainda se esforça nisso.

— Ah, não muito. Não tenho muito tempo livre para estudar, mas gosto de tentar coisas novas quando posso. — Revelou, levantando os ombros. Viu que Itachi o analisava e ficou embaraçado, refletindo que aquilo devia ser algum gene Uchiha: estar atento a tudo e sempre estudando os outros — E você?

— Não tenho esse talento. — Indicou a forma como ele manejava rapidamente a faca e temperava as coisas — Preciso admitir que nunca liguei muito para culinária, então quando sai da casa dos meus pais, sofri um pouco. Na verdade, até hoje sofro.

— O Sasuke também é assim?

Itachi negou com a cabeça.

— Ele é muito bom, faz o melhor arroz que já comi. — Abaixando a voz, aproximou-se do Uzumaki e pediu: — Por favor, não conte isso ou terei que suportá-lo se gabando por semanas.

Os dois riram daquela frase e Naruto jogou as especiarias na frigideira, quebrando os ovos e começando a mexer. Itachi assistia ele com curiosidade, parecendo prestar atenção em cada detalhe e o Uzumaki sentiu-se constrangido. Não achava grande coisa seu modo de cozinhar, sabendo que partia bastante para o mediano. No entanto, o Uchiha ao seu lado demonstrava estar fascinado.

A comida ficou pronta e Sasuke apareceu, jogando-se na cadeira.

— Que cheiro bom. Pediu comida em algum aplicativo, Itachi?

— Engraçadinho. Seu amigo que preparou.

Sasuke arqueou as sobrancelhas e Naruto viu-se diante daquele olhar surpreso. Já tinha pegado o mais novo o fitando daquela forma, quando contara a história das flores e significados, ou sobre o alimento de um porquinho-da-índia. Sinceramente, não sabia o que pensar quando o moreno o encarava assim, como se menosprezasse o que o Uzumaki sabia ou não.

— Vamos comer! — Comentou, tentando afastar os pensamentos, quando Itachi lhe entregou os hashis e serviu-se.

— Está ótimo, Naruto! — O mais velho exclamou, fechando os olhos e saboreando a refeição.

Ansioso, o loiro observou o Uchiha servir-se, assistindo ele levar uma pequena porção até os lábios claros e olhando estupefato para si. Seu cérebro parou de processar, quando o bêbado Sasuke sorriu, aprovando a comida e elogiando seu tempero. Naruto não estava acostumado com tanta atenção e abaixou a cabeça, para disfarçar seus sentimentos. Itachi, empolgado, o convidou mais vezes para visitá-los e o loiro prometeu que iria.

Quando terminaram, o Uzumaki ofereceu-se para lavar a louça, mas Sasuke na mesma hora ralhou consigo, dizendo que o imprestável do irmão que faria aquilo. Itachi proibiu ele de tocar nos pratos e chutou os dois mais novos para a sala, cuidando ele mesmo da sujeira.

— Você espera aqui enquanto eu arrumo tudo? — Sasuke pediu, cambaleando para o quarto — Se for embora, saiba que mandarei o exército atrás de você.

Rindo, ele assentiu e ficou um momento ali, mexendo em seu celular. Aproveitou a solidão momentânea e abriu o WhatsApp, clicando na foto de um homem de cabelos castanhos e começando a digitar algumas mensagens:


Uzumaki: aconteceu um imprevisto com um amigo e tive que ajudar, então vou dormir fora essa noite

Uzumaki: não esqueça de tomar seus remédios

Uzumaki: OU VOU TE ARREBENTAR

Uzumaki: eles estão no mesmo lugar de sempre

Uzumaki: amanhã vou comprar os que faltam

Uzumaki: boa noite, tio Iruka!


Clicando para enviar a última mensagem, foi surpreendido com uma respiração ao seu lado. Naruto bloqueou o aparelho e virou-se, deparando-se com um Itachi sério.

— Está tudo bem?

— Sim — Garantiu, gaguejando em nervosismo.

Ficou óbvio que Itachi não acreditou na mentira, mas pareceu relevar e sentou-se ao lado do Uzumaki. Alguns segundos passaram e ele voltou a falar, fitando os próprios pés:

— Obrigado por ter cuidado do Sasuke hoje.

— Não foi nada. Sasuke é uma boa pessoa, só fiz o que qualquer um faria.

— Não — os cabelos negros moveram-se quando ele balançou a cabeça para os lados —, não costuma ser assim com meu irmão. Ele é uma boa pessoa, mas costuma afastar os outros por não saber expressar direito o que sente.

Itachi suspirou e voltou a fitá-lo.

— Escute, Naruto. Você é a segunda pessoa que Sasuke trouxe para casa desde que ele veio morar comigo. Desculpe estar contando essas coisas desnecessárias, mas quero que saiba o quão grato estou, por ser um bom amigo para meu irmão. Sem a Sakura, ele não tem mais ninguém e isso me preocupa.

Amigo.

A palavra sondou cada parte da mente de Naruto e ele se viu surpreso em como havia tempo desde que alguém o considerara um amigo. Claro, havia Gaara, mas o ruivo estava do outro lado do mundo e eles quase não tinham mais contato. Em seu assombro, proferiu a palavra em silêncio, deixando que sua língua se movimentasse e tomasse o sabor do significado daquele simples adjetivo. Seu coração encheu-se de alegria e Naruto, mesmo sabendo que aquilo podia ser temporário, viu-se feliz. Seu sorriso cresceu.

— Pronto, dobe — Sasuke gritou do quarto, impedindo que o loiro respondesse o Uchiha mais velho, que levantou-se, indicando que o Uzumaki fosse para lá.

Caminhando para o quarto, viu-se em um ambiente neutro, sem muita decoração e com uma estante cheia de livros de direito e mangás de esporte. Em uma rápida visualização, percebeu que no extremo do quarto estava uma escrivaninha, com um notebook fechado e dezenas de folhas organizadas em pastas e rascunhadas. Aquela era um quarto de um universitário metódico e exprimia muito bem a personalidade de Sasuke. Ali estava sua intimidade.

Desconcertado por aquele súbito entendimento, Naruto encontrou o amigo jogando um travesseiro em um colchão de ar no chão — ao lado de uma cama de casal — e, sem seguida, jogando-se nele.

— Separei umas roupas para você ali. — Falou, apontando para a cama — Pode deixar a roupa em cima da escrivaninha quando voltar.

Naruto pegou o conjunto e caminhou para o banheiro, trocando-se. Ali vestiu uma bermuda confortável e uma regata azul. O material era de algodão e encaixou-se sem nenhuma dificuldade em seu corpo. O cheiro de amaciante estava presente e era bom.

Após dobrar as peças e guardá-las, ouviu a voz do Uchiha rugindo:

— O que está fazendo aí? — Sasuke perguntou, impaciente — Deita na cama!

— Na cama? — Os olhos azuis piscaram, confusos — Não! A cama é sua.

— Só deita logo — gemeu, puxando os cobertores.

— Mas Sasuke...

— Sasuke está certo — Itachi comentou, usando a parede de apoio para suas costas —, você o ajudou hoje, é nossa visita e está exausto. Enquanto isso, meu irmão está bêbado, deu trabalho e é seu anfitrião. Ele deveria estar dormindo no chão para compensar tudo isso, mas nós não somos tão ruins assim, não é?

— Ninguém te perguntou nada, Itachi — O mais novo grunhiu, escondendo a face embaixo do travesseiro.

— Vai lá, Naruto. Eu apago a luz.

Sem condições para recusar aquela oferta, o Uzumaki deixou que seu corpo escorregasse na cama do mais novo, sentindo o cheiro dele impregnar-se em suas narinas. Era um cheiro tão bom quanto o amaciante, fazendo Naruto pensar que estava em uma cafeteria, bebericando um delicioso café e sem nenhum problema em sua vida. Aproveitando a tarde com um bom livro de culinária.

Uchiha Sasuke tinha o cheiro do melhor ambiente do mundo.

Itachi apagou as luzes e fechou a porta, deixando a escuridão tomar conta.

Ali, os pares azulados fitaram o nada, enquanto ele sentia o conforto daquele colchão, o algodão fofinho das roupas e do edredom envolvendo sua pele com carinho. Naquela cama, longe de cheiro de mofo e o desconforto de um colchão duro, Naruto sentiu-se em paz pela primeira vez no mundo.

Sasuke era muito sortudo por ter um refúgio daqueles e o Uzumaki ficou feliz por isso. Sabia que não podia medir os problemas dos dois, muito menos invalidar as dores do amigo só pelo fato de que sua vida estava mais fodida do que a do Uchiha. Contudo, ao menos o marrento cara do metrô podia relaxar naquele paraíso.

Naruto não.

Isso apertou seu coração e ele sentiu seus olhos encherem-se de água. O cansaço do dia finalmente estava o esbofeteando, sem nenhuma piedade. As tensões acumuladas pela preocupação com Sasuke, Iruka, contas vencidas e a falta de comida o massacraram e o loiro sentiu que as lágrimas começariam a vir.

Não agora. Por favor, agora não, pensou, temendo uma crise de choro.

Algumas vezes elas eram normais, visto que ele não tinha ninguém para poder desabafar. Não possuía muitos amigos e Iruka já tinha problemas suficientes com sua doença para que Naruto o perturbasse com seus sufocos. De forma que esse foi o jeito que seu corpo encontrara para extravasar tudo o que ele ia acumulando, sufocando e escondendo.

Estava tudo bem para o Uzumaki, que aceitara aquela vida sem nenhuma dificuldade. Alguns nasciam para serem grandiosos, outros só para levarem uma vida mediana. Claro, ele também passara boa parte da sua pré-adolescência ambicionando mudar e conquistar o mundo. Mas os anos foram passando e Naruto precisou aceitar que as coisas não mudariam. A chama da determinação de sua juventude morreu e submisso às responsabilidades, o pobre loiro entendeu que era assim que o mundo funcionava.

Estava mesmo tudo bem. Ele só não queria chorar ao lado do cara que continuava a ser seu amigo mesmo quando ele era insignificante e parecia atrapalhar tanto sua vida com infortúnios desastrosos. Não queria colocar mais pesos nos ombros do jovem Uchiha ao seu lado.

Tentou reprimir as lágrimas, focando-se na agradável noite que tivera.

Mas elas continuavam vindo.

— Naruto — A voz sonolenta de Sasuke preencheu o silêncio da madrugada e o loiro grunhiu, indicando que estava ouvindo — Está tudo bem?

O Uzumaki forçou um barulho com a garganta, para confirmar.

— Obrigado por ter me buscado — Sussurrou o moreno, em uma voz falha.

Ele não respondeu.

Pensando que Sasuke enfim adormecera, Naruto deixou que as lágrimas caíssem, buscando esconder os sons que seu choro produzia. Espasmos percorram o corpo magro e soluços quiseram sair, mas o Uzumaki os silenciou com as mãos pressionando a boca e garganta fortemente. Droga, ele era tão fraco!

Continuaria com aquilo, se não fosse uma luz fraca iluminando seu rosto. Seus olhos arregalaram-se e pelo reflexo da luz viu que o Uchiha o fitava surpreso, segurando seu celular para enxergá-lo.

 Naruto?  — Seu tom era urgente e preocupado — O que foi?

O loiro balançou a cabeça para os lados e Sasuke acendeu um abajur, deixando que uma fraca luz azulada os iluminassem. Depois, o Uchiha aplicou um pouco de pressão em seu corpo, empurrando-o para trás e liberando espaço para que sentasse ao seu lado.

Naruto tampou os olhos com as mãos, tentando fugir da face atormentada do outro. Não funcionou, pois Sasuke usou suas poucas forças para puxar os braços, grudando os dedos finos e fortes em seus pulsos e forçando o Uzumaki a encará-lo.

— O que aconteceu? — Exigiu saber e Naruto percebeu que a bebida o deixava mais sensível e carinhoso.

— Estou bem. — Mentiu.

— Eu fiz alguma coisa? — Perguntou e o loiro pôde enxergar medo em seus olhos — Foi porque te chamei de dobe? Falei algo?

— Não — Sussurrou e então o primeiro soluço veio e ele arquejou, triste. A mão do Uchiha encontrou a sua e ele deixou que os dedos do outro se fechassem contra ela, sentindo o calor do moreno e a firmeza de seu toque.

Estava frágil demais, desmoronando na frente de quem não devia.

Como se odiava por isso.

— Naruto? Naruto... Naruto! — Sasuke o chamou e ele fitou as órbitas negras — O que está acontecendo? — Implorou, em uma forte preocupação, fitando-o com intensidade e medo.

— Eu só... estou cansado, Sasuke. Exausto. — Revelou uma parte da verdade — É o trabalho... muitas horas extras, pouco descanso. Estou exausto.

Sasuke reagiu como quem tinha acabado de levar um tiro: a dor e o choque tomaram de sua expressão, ele engasgou-se nas próprias palavras e uma mão foi parar na própria face. Seus olhos desviaram dos Uzumaki e ele curvou-se.

— Desculpe, é minha culpa.

— Não é isso, Sasuke!

— Droga, Naruto. Você deveria estar em casa, dormindo e descansando. — Ditou, tombando para o lado — Por que foi cuidar de mim, dobe? Isso não é justo com você.

O loiro tentou responder, mas a mão do Uchiha apertou-se contra a sua com mais força, deixando evidente seu nervosismo e culpa. As lágrimas desceram por sua face e ele negou com a cabeça, tentando explicar que o universitário não deveria sentir-se daquele jeito. A culpa era toda sua, por estar desmoronando onde não devia, por não ter conseguido guardar sua tristeza até o momento que estivesse sozinho.

— Por quê? — Sasuke voltou a sussurrar e pareceu perdido com uma luta de emoções internas.

— Não sei — respondeu sincero — Não sei, Sasuke. Eu... você é legal, não merece passar por coisas ruins. Eu... Só quis te ajudar. — Cabisbaixo, revelou — Acho que é por que te vejo como um amigo.

Fitando as mãos coladas, Naruto não conseguiu ver a expressão do outro. Entretanto, arrependeu-se de suas palavras, imaginando o quão medíocre soara, passando a imagem de um tolo menino solitário. Esperou ouvir as gargalhadas de Sasuke ou algum tipo de insulto.

Que não vieram.

Pelo contrário, sentiu quando ele largou sua mão e seu peso contra a cama, quando ele se aproximou mais e encostou suas costas na cabeceira de madeira. A mão de Sasuke voltou a se fechar contra a sua e, hesitante, viu que o moreno fitava o teto escuro.

— Vai ficar tudo bem, Naruto. — Sussurrou — Estou aqui.

Naruto voltou a chorar, livrando-se da carga emocional que o consumia. Era doloroso, cansativo, amedrontador e consumia todas as suas energias, devorando todos seus pensamentos e coisas boas que ele geralmente sempre pensava. A exaustão mental e física era terrível, mas os demônios mentais eram piores, pois Naruto não conseguia livrar-se deles com um simples banho ou sono.

Ali, ao lado de Uchiha Sasuke, ele chorou como nunca havia feito em sua vida, agradecendo a companhia do outro, que usava a ponta dos dedos para acariciar a palma de sua mão, passando a força que o Uzumaki precisava. Agradeceu o fato do Uchiha não ter perguntado mais nada, deixando que ele liberasse tudo o que acumulara.

Em silêncio, o novo amigo o acompanhou em sua dor.

E mesmo que Uzumaki Naruto não soubesse, Sasuke continuou ao seu lado, com os olhos bem abertos e encarando o loiro quando este enfim embalou em um sonho profundo, soluçando aqui e ali, com a cara inchada e olhos vermelhos. O Uchiha velou seu sono, assistindo o peito subir e descer em uma respiração falha, segurando a mão dele, com medo de soltá-la, preocupado que se fizesse isso, o Uzumaki perderia seu apoio e quebraria, física e mentalmente. Naquela noite, Sasuke ficou ao lado de Naruto, garantindo que ele dormia em paz.

Sasuke negaria para sempre, mas ali ao lado de Uzumaki Naruto, ele sentiu um elo forte os envolver. Deitando Naruto confortavelmente na cama e o cobrindo, o Uchiha soube que aquele sem-noção não era mais um simples funcionário de fast-food qualquer.

Era seu amigo.


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Notas finais do capítulo

FINALMENTE DRAMA, AMÉM!
Quem me acompanha em outras histórias, sabe que eu adoro drama kkjjj, então estava ansiosa para colocar um pouquinho aqui PKASDPAKD.
Brincadeiras a parte, espero de verdade que vocês cuidem de sua saúde mental. Não faça como nosso bolinho Uzumaki e acumulem as coisas. Conversem, procurem ajuda profissional se a vida estiver muito tensa (sério, psicólogos não servem só para gente "maluca" não, o certo do século XXI era que todo mundo passasse em um). Não enlouqueçam ou morram pelo estresse acumulado. O cansaço mental é o pior e mais desgastante. SE CUIDEM, OU VOU NA CASA DE VOCÊS PUXAR SUAS ORELHINHAS, FLWVLW
Espero que tenham gostado desse capítulo e que o mistério adicional do POV NARUTO tenham deixado vocês com a pulga atrás da orelha padkapdkadadkasd ~corre.
Até o próximo!
Beijinhos ♥