Através do Tempo - Entre Vidas escrita por Biax


Capítulo 30
XXX. Tour Pela Cidade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/758452/chapter/30

— Arranjei um barco e saímos de noite, sem ninguém ver. Fomos parar no Brasil e ficamos lá até o final da vida de vocês dois.

— Mas... e você?

— Eu fiquei uns meses ainda por lá, e depois saí por aí, até que te encontrei de novo. — Sorriu de forma nostálgica.

— E como você ficou tanto tempo com a gente tendo essa cara?

— Ah, eu consigo mudar minha aparência. Posso ficar velha, nova... Consigo ficar com a aparência de uma criança de três anos. Menos do que isso acho meio complicado.

— Uau — falou, chocada. — Então era assim que você me acompanhava sem ficar suspeita.

— Exatamente. Mas confesso que prefiro ficar do jeito que eu estou agora. — Riu. — Mas eu fazia um sacrifício para ir te acompanhando.

Rebeca sorriu, achando aquilo fofo. — E antes do convento? A gente se conhecia?

— Sim. Nos conhecemos na sua vida anterior. Te encontrei quando você tinha uns vinte anos.

— Na minha vida anterior? — Tentou lembrar de quando estava andando entre suas vidas. — Na vida que eu era vizinha do Botticelle?

— Sim... Na época você estava triste porque ele tinha se mudado e era difícil mandar notícias.

— Nossa... Mas... por que você estava no convento? Você sabia que eu estava lá?

Isabel fez uma cara meio pensativa, meio estranha. — Não, eu nunca sei onde você está. Eu só te encontro.

Rebeca percebeu que ela evitou a outra pergunta, e guardou a curiosidade. — Então sempre nos encontrávamos?

— Quase sempre. Às vezes te encontrava ainda criança, outras, adulta... Só na sua última vida que eu cheguei quase atrasada.

— Como assim?

— Você estava no Equador...

— Ah! — A interrompeu, lembrando. — Eu morri jovem, né? Ethan disse que eu morri porque meus rins não funcionavam mais.

— Sim. Foi triste. — Olhou para suas mãos no colo. — Eu era conhecida lá como benzedeira, e seus pais me chamaram para tentar te salvar. Eles me ofereceram o pouco que tinham... Você estava tão fraquinha. — A olhou com um semblante triste. — Foi difícil te ver naquele estado. — E passou os dedos nos olhos, antes que alguma lágrima escapasse.

— Mas eu ia morrer de qualquer jeito, não ia? — Segurou a mão da amiga.

— Ia. E eu soube disso quando te vi, mas tentei mesmo assim. Passamos duas semanas juntas. Eu te distraí e tentei fazer você não sentir tanta dor.

Era estranho Rebeca ficar triste por sua própria morte, entretanto, pelo jeito que Isabel falava, parecia que era outra pessoa que ela era próxima. Dava para ver o quanto aquilo a abalou.

— Mas eu estou aqui, não chora — brincou, dando tapinhas no ombro da outra.

Ela sorriu. — É, tem razão. É que foi bem intenso. Não porque você morreu, mas porque era muito nova e morreu aos poucos, sabe? Por isso fiquei tão feliz em te ver lá no celeiro. — Deu um risinho choroso.

— Entendi. Será que... de algum jeito, eu influenciei nossos encontros quando eu fui parar naquele convento?

— Não sei, mas eu gostei de ter te conhecido lá, antes de chegar nessa vida, meio que me deu um gás para continuar vivendo, sabe?

— Sério? Você estava meio desanimada?

— Sim, um pouco. Depois de andar tanto sem rumo, você fica perdido. Não sabe qual é o seu propósito, ou o porquê você está onde está...

— E você encontrou um propósito?

— Encontrei alguns. Ainda busco por mais.

— Ainda não está satisfeita?

— Não. Eu não me contento com pouco. — Rebeca riu e deu um bocejo. Estava ficando sonolenta. — Vai descansar. Está tarde.

— Queria ouvir mais coisas.

— Amanhã eu te conto. Vai.

Meio relutante, Rebeca foi para a sua cama e se cobriu, caindo no sono automaticamente. Isabel continuou ali, olhando para a outra, feliz por finalmente vê-la.

Mesmo sem dormir, ela se cobriu e deitou, olhando para o teto e pensando em tudo o que Rebeca já tinha passado.

...

Rebeca abriu os olhos, vendo seu quarto iluminado, e por um momento, se perguntou se tinha tido um sonho muito louco. Então, viu o colchão vazio no chão, já com as cobertas dobradas, e percebeu que infelizmente não foi um sonho. Sentou, esfregando os olhos e levantou. Foi ao banheiro e desceu.

— Isabel? — chamou alto, mas não teve resposta.

Olhou pela janela da cozinha para o quintal, sem sinal dela.

Onde ela se meteu?

Colocou as coisas do café na mesa e começou a comer. Um barulho da porta dos fundos chamou sua atenção.

— Ah, você acordou! — Isabel disse contente, e Rebeca viu que ela estava de shorts e regata, toda molhada. — Aquele lago está gelado! — Sentou na cadeira da frente.

— Coragem de ir lá tão cedo. A água fica boa depois das onze.

— Eu quis me aventurar... O que vamos fazer hoje?

— Hm... não sei. Acho que eu preciso tomar um pouco de sol.

— É o que mais tem lá fora.

— Você é sempre cheia de energia assim de manhã?

— Quando estou animada, sim.

— Você dormiu bem?

— Não. Eu não durmo.

— Não dorme? — Estranhou.

— Não preciso dormir. Nem comer, na verdade. Mas é hábito.

— Ah... lembro do Ethan falando algo assim.

— Então... que tal você me mostrar sua cidade?

Rebeca quase cuspiu seu leite de soja, já pensando na possibilidade de encontrar Gabriel por lá. — Não, melhor não.

— Por quê? — Fez bico.

— Eu não quero encontrar Gabriel.

— Ele mora onde?

— No centro, com a vó dele, que tem um brechó.

— Hm... Já sei! Podemos ir sem medo de encontrar ele lá. — Levantou e pegou uma xícara que estava na mesa e foi até a pia, a enchendo de água.

— O que vai fazer?

Ela voltou para a mesa. — Simples. Eu tomo a essência de leitura de mentes e fico de olho, para caso ele esteja por perto. A não ser que você queira tomar.

— Não — respondeu logo. — Pode tomar.

Já bastava saber como ele estava. Não quero saber o que ele está pensando de mim.

— Então tá. — Juntou as duas mãos em volta da xícara, e Rebeca viu a água ficando levemente roxa. — Saúde! — Segurou a xícara no alto e depois tomou tudo em um gole. — Estamos prontas!

— Quanto tempo isso dura? — Terminou de comer e levou as coisas até a pia.

— Comigo, o tempo que eu quiser. Eu consigo controlar o tempo que a essência fica no meu organismo. E qualquer um que consiga, pode ficar o tempo que quiser com os poderes. Mas quase ninguém consegue ficar mais do que vinte e quatro horas.

— Por quê? — Guardou o resto das coisas e as duas subiram.

— Porque começa a ficar insuportável. No começo, você consegue focar em uma única pessoa, mas quanto mais tempo você fica com a essência, mais sua consciência abre e você começa a ver as mentes que estiverem por perto.

— E você consegue ficar tanto tempo? — Rebeca começou a se trocar.

— Consigo, mas ainda não consigo me concentrar em uma mente só, depois que eu estou há muito tempo com a essência. — Também começou a se trocar.

— Isso é tão estranho.

— Também acho. — Deu risada. Poucos minutos depois, elas saíram a pé, e Rebeca foi falando o pouco que sabia do caminho até o centro. — Essa é uma das poucas cidades que eu não conhecia. — Isabel comentou olhando ao redor.

— Já foi em muitas?

— Sim. Perdi a conta, então eu comecei a escrever uma lista. Toda vez que ia para um lugar, eu anotava o nome.

— Onde é sua casa?

— Na dimensão Dyo. Onde os seres mais evoluídos vivem. Não que eu seja super evoluída, mas... — Riu, dando de ombros.

— Ethan mora lá também, então?

— Imagino que sim, só que eu nunca o vi pelas bandas mais movimentadas.

— Ele mora no meio do nada. — Lembrou de como a casa dele ficava no penhasco, e como não tinha uma alma viva sequer em volta.

— Bonita a casa dele, hein? — Isabel a olhou sorrindo.

— Ei. — Rebeca riu e deu uma empurrada na outra.

— Eu só estava curiosa. Parei, parei.

O movimento do centro começou a aparecer, e Rebeca foi falando algumas coisas, e conforme chegavam perto do brechó da Cecília, foi ficando mais nervosa.

— Calma, menina, eu estou aqui. — Isabel deu um tapinha nas costas da outra.

— Eu sei, mas é inevitável. — Elas viraram a rua, e Rebeca já viu a fachada da loja. Seu estômago estava parecendo uma máquina de lavar roupas, com o café da manhã dentro.

— Então ele está lá... Está sozinho.

— E a Cecília?

— Não está lá não.

— O que... ele está pensando?

— Ele não consegue parar de repassar tudo o que viu na sua mente.

Ela suspirou. — Ele viu tudo...

— Tudo? Não. Não tudo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Através do Tempo - Entre Vidas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.