Dançando com o demônio escrita por Lyria Danis


Capítulo 3
Seu riso cor-de-sangue


Notas iniciais do capítulo

Demônio-san, pegue leve! Você está me assustando!
Título do capítulo alterado em 21.04.2018.
Título do capítulo alterado em 25.04.2018.



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Nesta manhã, o que veio a mim não foi a morte.

A manhã estava nublada. Eu não tinha forças para sair da cama, mas mesmo assim o fiz, e ao olhar para o espelho vejo feridas no pescoço. Afasto meu cabelo para olhar melhor para as bolhas de algo que pode ser pus.

Ele poderia me matar. Ele só não quer.

 E como se houvesse sido invocado pelos meus pensamentos, eu o vejo pelo espelho.

Ele estava ao meu lado, sua palidez contrastando com a minha própria, que era morena. Assisti sua mão fria descansar em minha cintura; seu toque era pegajoso, semelhante a algum animal peçonhento. Eu sinto nojo, mas ele pareceu gostar da minha reação, pois fez aquilo que eu aprendi tanto a odiar.

Um sorriso completamente sem sentimentos. Ou, talvez, um sorriso abarrotado dos sentimentos mais asquerosos que poderiam existir.

— Espero que você tenha gostado do que te dei. — Com sua outra mão, ele afasta meu cabelo e encosta os lábios sobre uma das feridas. — É delicioso. Você saberia, se provasse.

— Por que você não me deixa ir? — falei, mas de forma quase inexistente. Minha voz falhou, mas não minha determinação. — Eu tenho que ir.

— Por que... eu deveria... — Suas palavras se perderam no ar. Os lábios dele não mexeram, mas eu escutei sua fala em meus pensamentos.

“Deixar algo tão interessante ir embora?”

Meu coração acelera em medo, mas eu não me afasto. Eu sinto a dor, e naquele momento, eu a recebo de braços abertos.

Pois isto poderia me distrair dos olhos daquela pessoa; poderia me distrair de todas as outras dores. Este monstro, real, poderia me distrair dos monstros que assombravam os meus sonhos.

— Se foi você que me chamou?

— Eu nunca te chamei. — eu respondi, mas minha voz oscilava. — Você veio sozinho.

— Você me chamou — Ele sobe sua boca para minha orelha, deixando uma trilha de saliva sobre todas as feridas que existiam.

Quando eu tento puxar mais ar para respirar, eu sinto o aroma que o envolvia. O meu próprio estava em suas roupas e em sua pele, mas não era como antes. Eu cheirava como algo doente e imundo. Mas eu também percebo um toque de acre que não era meu.

Meu cheiro o vestia como uma camada protetora, que escondia algo completamente podre por trás.

— O que você é?

Minha pergunta pareceu diverti-lo.

— Aqui, neste tempo e neste lugar — Sua mão me segurou, e agora eu estava completamente enlaçada em seus braços demoníacos. — Eu sou sua morte.

Minha garganta fechou, mas eu não senti vontade de falar. Respirar ficou difícil, mas, não era uma coisa que eu queria. Mesmo na dor, naquele instante, eu só poderia sentir a satisfação me invadir, junto com seus lábios lascivos e maliciosos sabor de sangue.

Se este era o sangue dele ou o meu, eu não sei dizer, contudo, não poderia me importar. Finalmente ele estava me dando o que eu queria, então, ele poderia tomar o que quisesse. Se eu fosse morrer agora, gostaria de morrer me lembrando de todos os horrores que cometi, e de todas as felicidades que roubei.

Então, sentindo sua língua fria serpenteando a minha, fecho meus olhos e lembro-me daquela pessoa.

Lembro-me de seus lábios, dos quais saíam os sorrisos mais doces e as palavras mais gentis, e que por minha causa haviam sido rasgados. Lembro-me dela, uma mãe tão amorosa, que nunca vai poder criar sua filha porque eu roubei seus direitos de viverem. Lembro-me de como bebíamos e comíamos juntos. Lembro-me também, de como morreram.

Sobre poças de seus próprios sangues, rasgados e violados. Violentados. Esquartejados.

— Mas não neste momento.

Então ouvi risos. Apesar de sentir areia sob meus olhos, eu os abri, apenas para vê-lo olhando para mim em completo escárnio.

Mas, mesmo sendo a cena mais desprezível que eu poderia ter visto, eu não conseguia parar de observá-lo.

Ele gargalhava escandalosamente, e seus sons me penetravam de forma que tudo o que eu poderia perceber era ele. Suas risadas eram tão obscenas, que eu conseguia enxergá-las, como ondas escuras se aproximando de mim e entrando em minha mente.

Seu riso era tão completamente imundo, que me fazia arranhar a pele em agonia.

Ele simplesmente não parava, preenchendo a casa de horrores. E, cada vez que eu tremia, ele conferia na sua risada tons completamente maldosos.

Então, eu fechei os olhos esperei.

— Agora eu sei.

Ele agora estava a minha frente, em completa falta de expressão.

Seus olhos não eram mais escuros. O vermelho vinha deles, que brilhavam e dançavam como mares de sangue, me fitavam como se estivessem em frente a um brinquedo interessante que, logo, ele iria despedaçar.

Nesta manhã, o que veio a mim foi o inferno.


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Notas finais do capítulo

O surto deste capitulo foi mais comedido e por isso, não gostei tanto assim dele. Comentários?