Chocolate escrita por Lola Royal


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

Olá, essa era para ser somente uma one de Páscoa (falando nisso, Feliz Páscoa), mas eu não conseguiria a finalizar hoje, por isso escolhi a dividir em duas partes e postar a primeira hoje. Pretendo postar a segunda parte até domingo que vem, caso não poste até lá sinto muito, vai ser por falta de tempo, mas logo voltarei com a continuação e finalização da história.

Boa leitura :D



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Finalizei a camada de cobertura de chocolate sobre o bolo, sorrindo largamente para meu trabalho. O bolo estava lindo, um dos melhores que eu tinha feito no quesito decoração, ainda que simples.

Eu amava tanto trabalhar com doces, era o melhor trabalho do mundo para mim. Trabalhar sempre era cansativo, claro, mas quando se trabalha com aquilo que se ama o cansaço sempre é recompensado por um sorriso de orgulho quando se acaba de fazer aquilo que gosta.

Desde criança eu gostava de fazer doces, algo que aprendi com minha avó materna. Ela me ensinou tudo que eu sabia fazer na cozinha, já que minha mãe era uma cozinheira bem desastrosa, principalmente os pratos doces que eram sua especialidade e passaram a ser as minhas.

Como acabei engravidando no último ano do colegial, não consegui frequentar uma faculdade, o que me levou a ir trabalhar como secretária de uma advogada, o que odiei. Então, larguei o cargo de secretária e fui trabalhar em uma padaria, o que me fez muito mais feliz.

Por anos trabalhei em várias padarias, até que conheci Rosalie Hale em uma dessas e desenvolvemos juntas o sonho de abrir algo nosso. Por muito tempo juntamos grana, até que dois anos antes tivemos dinheiro suficiente para abrir a Hale-Swan Bakery.

Era um local simples e pequeno, mas nós duas cuidavamos da nossa padaria com muito amor e carinho e mesmo com todos os perrengues estávamos tendo bom retorno com ela. Eu cuidava da parte dos doces, enquanto Rosalie dos salgados. Tínhamos de ajudante na cozinha Leah, enquanto no balcão ficavam Alice e Jéssica.

Um time só de garotas, o que me deixava ainda mais orgulhosa da nossa padaria. Eu também tinha um amor especial pela padaria uma vez que ela foi um recomeço em minha vida, já que a inauguramos dois anos depois da morte do meu marido.

James Smith, que conheci na escola quando tínhamos só 15 anos, o pai dos meus filhos. Ele era um militar, morreu em combate e foi a pior coisa que aconteceu em minha vida.

Quando recebi a notícia da sua morte pensei que não iria conseguir seguir em frente, mas eu tinha nossos filhos e precisava ser forte por eles. Com certeza não foi fácil lidar com a morte de James, mesmo quase 4 anos depois ainda era difícil, só que meus filhos e eu estávamos lutando para superar a barra que era não ter mais James conosco.

Eu também não podia negar a ajuda valiosa que recebia dos meus pais, da família de James que eram maravilhosos para mim e dos amigos. Oliver, Dante e eu tínhamos perdido o homem mais importante de nossas vidas, mas tínhamos uma rede de apoio nos ajudando.

— Esse está com uma cara tão boa! — Leah exclamou ao entrar na cozinha, faltava algum tempo para fecharmos a padaria naquela segunda-feira e encerrar o expediente, eu estava fazendo aquele bolo para meus meninos.

 — É para o Oliver e Dante — falei, colocando o bolo dentro da proteção. — Hoje saem as notas deles, quero levar algo para comemorar as notas boas.

— Eu tirei um A, posso comer um pedacinho do bolo? — Leah brincou.

Eu ri.

— Quem sabe.

Leah era três anos mais nova do que eu, que tinha 28. Ela era descendente de nativos americanos, alta, pele escura, olhos bem escuros e grandes, seus cabelos lisos eram curtos e ela poderia muito bem estar estampando capas de revistas por aí, mas assim como Rosalie e eu amava cozinha.

— Não acredito que hoje ainda é segunda — Rosalie, minha sócia, entrou na cozinha, trazendo as fornadas sujas do balcão.

Rosalie era um mulherão, corpo curvilíneo que ela achava ser gordo, mas eu dizia ser excesso de gostosura. Longos cabelos dourados, olhos azuis que eram quase violetas e uma beleza de causar inveja a qualquer um. Ela era dois anos mais nova do que eu, e estava a alguns meses ostentando um lindo anel de noivado em seu dedo.

Ela namorava a pouco mais de dois anos com Emmett McCarty, o gerente do banco que desde o começo cuidou de nos ajudar com as finanças da padaria. Eles casariam no verão do ano seguinte, todos estávamos ansiosos por aquilo e eu faria o bolo mais lindo de todos para minha melhor amiga em seu dia especial.

— Mal vejo a hora da Páscoa chegar — Rosalie falou.

Eu também mal podia esperar pelo próximo domingo, que viria junto com o dia mais doce do ano. A Páscoa com certeza era meu dia favorito, tanto que todos os anos desde o nascimento de Oliver eu oferecia uma festa na minha casa.

Mesmo quando James estava em missão, ou após sua morte, continuei fazendo aquilo. Era uma tradição e eu sabia que meu marido iria querer que eu continuasse a mantendo viva, além do mais comemorar a Páscoa me deixava mais feliz.

— Aquele seu amigo vai estar na festa, não é, Bella? — Leah me perguntou com interesse, se referindo à Jacob, um amigo de infância, filho dos melhores amigos do meu pai.

— Vai estar sim. — Pisquei para ela, os dois já tinham se visto em algumas festas minhas e sempre pareciam que iam ter algo, mas nunca se falavam fora dessas. — Quem sabe o coelhinho da Páscoa não une vocês dois.

— E você? — Rosalie me perguntou com curiosidade na voz.

— Eu o que? — me fiz de desentendida, ela e Leah se entreolharam sorrindo.

— Sabe muito bem do que estou falando, Isabella — Rosalie afirmou. — Há quanto tempo você não faz sexo mesmo? — Corei ao ouvir sua pergunta, voltando minha atenção ao embrulho do bolo que estava fazendo.

— Tem mais de seis meses — Leah se intrometeu. — Foi aquele pintor, lembra? O que fez a pintura da casa dela.

— Lembro sim, Bella ficou louquinha pelo pincel dele — Rosalie provocou.

— Rose! — exclamei constrangida, ela e Leah apenas riram alto.

— Qual é, Bella? — Minha melhor amiga riu mais. — Você só transou com esse pintor desde que o James se foi, está na hora de conhecer outros pincéis.

— Não quero falar sobre isso. — Meu rosto estava ainda mais quente por pensar naquelas coisas.

É, minha vida amorosa e com certeza a sexual estava bem parada desde a morte do meu marido. Entretanto, ninguém podia me julgar, fora o luto por ter perdido o homem que pensei que estaria ao meu lado para sempre, tinha o fato de que antes de James eu nunca tinha estado com ninguém, então encontros não eram meu terreno.

Depois da morte de James só fui sair com outro cara dois anos depois, e não deu em nada. Os outros encontros armados para mim por Rosalie, ou por Tanya, a irmã de James, sempre foram bem ruins. Os caras praticamente saiam correndo quando eu falava que tinha dois filhos, isso parecia vir com um sinal de alerta de que eu era encrenca.

Até que minha casa precisou de uma reforma meses antes e eu contratei Caius, um cara bonitinho que estava ali quase todos dias trabalhando sem camisa. Foi impossível resistir, nós transamos no último dia dele trabalhando lá em casa, foi uma só vez e nunca mais nos vimos. Apesar do sexo ter sido legal, não queria ter nada com ele, mas estava mal por ter transado com o pintor, pois quando precisamos pintar a padaria um mês antes não o chamei para evitar constrangimento.

— Você precisa de um cara — Leah falou.

— Ou só de sexo — Rosalie acrescentou.

— Tem usado aquele vibrador que nós te demos de aniversário?

Meu Deus, aquelas duas juntas eram terríveis.

— Garanto que estou muito bem. — Terminei de embrulhar o bolo e já poderia ir para casa.

— Não sente falta de um cara na sua cama?

— Leah, a vida não se resume a sexo.

— Não?

Rosalie riu.

— Certo, certo, vamos deixar o sexo de lado por um minuto — Rose concordou. — Sentir falta de um cara você com certeza sente.

— É, eu sinto — confessei, suspirando. — Mas, quando não estou no trabalho estou em casa com os meninos, não tenho como conhecer um cara. Ah, e todos que vocês me apresentaram eram terríveis, dispenso o trabalho de cupido.

— Sabe que um cara não vai surgir do nada em sua vida — Rosalie falou. — Não tão fácil como foi com o James quando você era uma adolescente.

Dei um sorriso triste ao pensar em James.

— Realmente não quero procurar por ninguém.

— O coelhinho da Páscoa não vai te dar um cara no lugar de chocolate, Isabella.

— Quem sabe, Rose, quem sabe.

***

Assim que deixei o trabalho peguei meu carro e dirigi direto para casa, não era um lugar luxuoso nem nada disso, mas James e eu a compramos com o dinheiro que os pais dele deram para ele quando eu engravidei — o que seria o dinheiro dele para a faculdade — e com o que eu tinha herdado da minha avó — que faleceu quando eu tinha catorze anos —. Era uma casa de dois andares, com dois quartos, sendo uma suíte, um banheiro, sala cozinha com sala de jantar integrada e um pequeno quintal.

O suficiente para minha família, um lugar aconchegante e para onde eu amava voltar todas as noites.

— Crianças, cheguei! — gritei quando entrei em casa, eu podia ouvir o barulho do videogame e Dante gritando com o personagem do jogo.

— Oi, querida! — Laura apareceu no hall de entrada da casa.

Ela era a mãe do James, uma mulher doce e que sempre me ajudava em tudo. Desde o começo ficava com Oliver, meu primogênito, quando eu estava no trabalho. Isso se tornou algo mais forte quando perdemos James, Laura ficava com as crianças após a escola sempre até a hora de eu voltar para casa.

— Oi, Laura. — Beijei sua bochecha. — Vocês já jantaram? Eu trouxe bolo.

— Já sim, espero que não se importe.

— Não, que isso. Sei que cheguei tarde. — Pendurei minha bolsa no armário próximo a porta. — Venha comer bolo.

— Oh querida, bem que eu gostaria — ela disse olhando com doçura para mim com os mesmos olhos azuis que James tinha e meus filhos herdaram. — Mas o Gerald me ligou e ele está com dor nas costas, melhor eu ir para casa ver aquele velho.

— Ele nem tem sessenta — eu disse rindo.

— Ele é um velho. — Ela riu também. — Vou me despedir das crianças.

— Certo.

Nós duas seguimos até a sala, onde os meninos estavam vidrados na televisão e mal me notaram ali, apenas soltaram um ‘oi mãe’ quando falei com eles. Oliver, o mais velho com dez anos, era uma cópia do pai, cabelos loiros, olhos azuis e expressões muito parecidas com as de James. Dante, o caçula com sete anos, tinha cabelos castanhos escuros como os meus e ele parecia um pouco mais comigo, mas também tinha seus traços que me fazia pensar no seu pai.

Laura foi embora logo depois de pegar sua bolsa e se despedir dos meninos.

— Olá, vão falar comigo direito? — Me enfiei na frente da TV.

— Mãe, sai dai.

— Mãe, você tá atrapalhando!

— Eu trouxe bolo de chocolate. — Balancei o embrulho a minha frente, atraindo a atenção deles.

— Oba!

— Chocolate!

Comemoraram juntos, pois mesmo eu sendo uma confeiteira não deixava eles comerem doce tão frequentemente.

— Quero o maior pedaço.

— Quero dois pedaços.

— Opa, esperem ai. — Apoiei o bolo na mesinha de centro. — Não estão se esquecendo de nada?

— Do refrigerante? — Dante passou a mão por seus cabelos, que estavam chegando ao seu ombro, eu já tinha tentado cortar um milhão de vezes, mas ele gostava deles longos, dizia que tinha estilo.

— Dos boletins de vocês — falei. — Quero ver suas notas. — Estendi as mãos para a frente. — Só vão comer se eu achar as notas boas.

Vi Oliver empalidecer.

— Tudo bem, meu amor? — perguntei a ele.

— Oliver tomou bomba em matemática — Dante dedurou.

— Dante! — Oliver gritou com ele.

— Ué, tô falando a verdade. — O caçula deu de ombros.

— Você tirou nota baixa? — indaguei Oliver sem acreditar naquilo, ele não era o melhor aluno da turma, mas suas notas ao menos eram na média.

— N-Não — ele mentiu descaradamente.

— Oliver, não minta para mim. Quero ver seu boletim — exigi. — O seu também — completei para Dante, que meteu a mão no bolso da sua calça e tirou um papel dobrado em mil pedaços lá de dentro, me entregando. — Isso é o seu boletim? — Olhei para o papel todo dobrado.

— É.

— Dante. — Suspirei diante sua falta de cuidado, desdobrando o papel e percorrendo meu olhar pelas notas, algumas notas na média, mas ele tinha um A em matemática, um em ciências e um B em inglês. — Parabéns, você se saiu muito bem!

Ele sorriu orgulhoso.

— E você? Me deixe ver seu boletim. — Me voltei para Oliver, que suspirou e saiu da sala, ele foi rapidamente até o segundo andar, voltando de lá com seu boletim.

— Foi mal, mãe — falou ao me entregar o papel.

O F em matemática me atraiu logo de cara.

— Um F? — gritei horrorizada. — Você nunca tirou um F, já tirou notas baixas antes, mas isso é um absurdo, Oliver.

— Foi mal, mãe — repetiu.

— Como isso foi acontecer?

— Ele é burro, mãe — Dante falou, ganhando um olhar revoltado meu.

— Não chame seu irmão de burro, Dante.

— Ué, ele tirou um F, isso quer dizer que ele é burro.

— Ei, não! — Peguei o bolo e enfiei nas suas mãos. — Leve isso para a cozinha e espere lá, nem pense em comer antes de eu liberar, você me ouviu?

— Ouvi. Nem um pedacinho?

— Não, se eu ver que você comeu sem minha liberação vai ficar sem chocolates na Páscoa, entendeu?

— Perfeitamente, senhora! — ele falou quase como James naquele instante, mesmo que dos meus filhos fosse o que não lembrava quase nada do pai, já que era muito novo quando o perdeu.

Dante saiu e voltei minha atenção para Oliver.

— Um F?

— O novo professor é muito ruim, mamãe — acusou.

— Como assim?

— Ele não explica direito, eu fico confuso e a prova dele é muito complicada.

— Você trocou de professor de matemática?

— É, minha antiga professora se mudou para outro estado.

Eu devia saber disso, mas o último mês na padaria estava sendo puxado para mim com a proximidade da Páscoa, uma vez que tinha muitas encomendas para fazer. Voltei minha atenção para seu boletim, vendo que tinha um bilhete anexado, nele dizia.

“Senhora Smith, a espero amanhã após as aulas para uma reunião sobre a nota de Oliver em Matemática.

Atenciosamente, Edward Cullen.”

— Vou falar com seu professor amanhã — falei para Oliver. — Vou pedir que ele seja mais claro em suas aulas para você entender melhor, ok? E vamos ver se ele não pode te passar um teste extra, ai você recupera sua nota sem correr o risco de ir para a escola no verão.

Meu filho assentiu, claramente nervoso.

— Não sou burro, né, mãe?

Eu sorri, afagando sua bochecha.

— Você não é burro, meu amor, só está com dificuldades e nós iremos superá-las.

***

Na manhã do dia seguinte eu não estava muito animada, preocupada com a nota baixa de Oliver, temendo que ele tivesse com algum problema sério. Sempre via os casos de crianças com problemas de aprendizado, se ele tivesse algo assim seria tão complicado de lidar com mais esse desafio.

Toquei na Dog Tag de James em meu pescoço, eu a usava desde que me foi entregue junto com seus outros pertences, era uma forma de tê-lo ali pertinho de mim. Eu tinha parado de usar minha aliança de vez só no ano anterior, mas ela estava definitivamente guardada em uma caixinha de joias junto com a dele, quem sabe um dos garotos não as quisessem quando fossem casar.

— O que foi? — despertei dos meus pensamentos ao ouvir a voz de Rosalie.

— O quê?

— O que aconteceu com você? — ela me perguntou, arqueando uma sobrancelha, Leah estava em seu intervalo, e estávamos sozinhas na cozinha. — Você sempre toca na Dog Tag do James quando está preocupada com algo — esclareceu.

— É, eu estou. — Olhei para o bolo que estava fazendo. — Oliver tirou uma nota ruim em matemática, estou com medo de ser algo sério, ou sei lá, dele acabar preso à escola no verão. E você sabe, eu estou juntando um dinheirinho para levar os meninos à Disney no verão, não queria que nada atrapalhasse, eles nunca foram lá, nem eu, seria divertido.

— Como pretende resolver isso?

— Vou ter uma reunião com o professor dele hoje — contei. — Vamos ver se o homem é gente boa e pega leve com o Oliver.

— Meu professor de matemática era um velho ranzinza — Rosalie contou. — Mas, sabe o que sempre o deixava bem tranquilo?

— O quê?

— Álcool — ela falou, me fazendo rir. — Leva uma garrafa de vinho pro professor do Oliver — sugeriu.

— Não vou levar bebida alcoólica pro professor do meu filho, Rosalie — neguei, pegando uma barra de chocolate para derreter, foi quando a ideia surgiu. — Mas, eu poderia levar chocolates — murmurei. — Todo mundo gosta de chocolates. — Sorri, convencida do que iria fazer. — É isso, vou levar chocolate para o professor.

***

Deixei com que Laura cumprisse a rotina e buscasse os meninos na escola, mas na hora marcada eu já estava lá para ir conversar com o professor de Oliver. Tinha esquecido o nome dele, e perdido seu bilhete dentro da minha bolsa, então não teria como descobrir, apenas fiquei parada na frente da sala dele, esperando as crianças saírem.

Não era a turma do Oliver, então não reconheci as crianças saindo. Assim que todas saíram espiei lá para dentro, vendo o tal professor de costas, enquanto ele apagava o quadro.

Era um homem alto, de ombros largos. Seus cabelos eram ruivos e bagunçados. Ele usava um suéter escuro, com as mangas dobradas até o cotovelo e uma calça marrom com sapatos sociais.

Bati na porta uma vez, atraindo sua atenção. Arfei um pouco quando vi o rosto daquele homem, ele tinha um maxilar bem marcado, lábios que pareciam estar em um biquinho e olhos verdes. Devia ter mais ou menos a minha idade.

Era muito bonito!

— Oi. — Acenei para ele.

 — Olá, o que deseja? — Ele era britânico, isso ficou claro por seu sotaque.

Um carro novo, uma ampliação da padaria, perder os quilinhos a mais, descobrir a cura para o câncer... É, eu desejava muita coisa.

— Eu sou Isabella Smith — me apresentei, entrando na sala, mantendo a caixa com bombons de chocolate que tinha feito dentro da minha bolsa. — Vim falar com o professor do meu filho.

— Oliver. — O homem assentiu, largando o apagador no suporte junto à lousa branca. — Sou eu mesmo, Edward Cullen. — Ele estendeu uma mão para mim quando parei diante dele, com apenas sua mesa nos separando.

— Olá, senhor Cullen. — Apertei sua mão, ele tinha um toque firme.

— Você pode pegar uma cadeira e se sentar.

Concordei, pegando uma das cadeiras dos alunos mais próxima, colocando-a junto da mesa do professor. Era uma cadeira baixinha e pequena, eu me senti como uma gigante sentada nela.

— Acredito que tenha visto a nota de Oliver. — O professor sentou em sua cadeira.

— É, eu vi, fiquei bem surpresa, ele nunca tinha tirado uma nota tão baixa em matemática antes. Não entendo como isso aconteceu.

O professor deu um sorrisinho debochado que não me pareceu um bom presságio.

— Senhora Smith, o seu filho não presta atenção devida à aula e ele não tem resolvido os exercícios que eu mando para casa.

Prendi a respiração, odiando ouvir aquilo, meu filho não era um aluno ruim.

— Ele me disse que você não explica direito — rebati, fazendo o professor arregalar os olhos.

— Ele disse isso?

— Disse.

— Bom, se Oliver prestasse atenção à aula ele entenderia o que eu falo — o homem disse irritado.

— Olha, senhor Cullen, meu filho está indo razoavelmente bem nas outras matérias, acho que sei o que isso quer dizer.

— Está insinuando que o problema sou eu mesmo, senhora Smith? — me confrontou.

Quis dizer que sim, mas não podia complicar mais a situação. Era a hora de apelar, meti a mão na bolsa e tirei de lá a caixa com chocolates, colocando na mesa do professor.

— O que significa isso?

— Apenas um presentinho para comemorar a semana da Páscoa — falei, sorrindo para ele.

— Eu não comemoro a Páscoa, senhora Smith.

— Não precisa comemorar a Páscoa para comer chocolates. — Continuei sorrindo.

— Eu odeio chocolate. — Ele afastou a caixa de si, me fazendo olhar para aquele homem com horror, como assim ele não gostava de chocolate?

— Você não gosta de chocolate?

— Senhora Smith, estamos aqui para falar sobre seu filho.

— Como você pode não gostar de chocolate? É chocolate, todo mundo gosta de chocolate.

— Nunca gostei, senhora Smith.

— Isso não é normal, nem quando era criança?

Ele bufou, soando impaciente.

— Não, nem quando eu era criança, senhora Smith.

— Vamos mudar isso agora. — Peguei a caixa, a abrindo. — Prove um desses chocolates, fui eu mesma quem os fez, sou confeiteira, você irá amá-los. — Estendi um com recheio de morango para ele, mas o homem não moveu um dedo para pegar.

— Senhora Smith, eu já disse que estamos aqui para falar sobre seu filho e o péssimo desempenho dele na minha matéria, não para comermos chocolates. Principalmente esses que claramente são uma tentativa sua de me subornar para melhorar a nota do seu filho.

— Não é um suborno! — Ok, talvez fosse, mas só um pouquinho e não faria mal a ninguém.

— É sim, eu já tive pais tentando me subornar antes, reconheço o padrão.

— Bom, talvez esses pais tentando lhe subornar eram outros que estavam sofrendo com seus filhos o fato de você não ser um bom professor.

— Eu sou um bom professor! — Ele se colocou de pé.

— Meu filho não acha isso e agora nem eu! — Me levantei também.

— O garoto precisa de supervisão para realizar seus deveres de casa e aprender a prestar atenção na aula, talvez você devesse se importar mais com seu filho e menos com chocolates.

— Eu me importo com meu filho — falei entre dentes, sentindo vontade de chorar.

— Se você se importasse saberia que ele não está resolvendo meus exercícios, se você se importasse não estaria aqui tentando me comprar com chocolate.

— Quer saber? Você é um idiota! — gritei com o professor. — O meu marido morreu, tente ser pai e mãe de duas crianças, um provedor e não surtar com tanta responsabilidade sobre sua cabeça. — Senti uma lágrima no meu rosto, vi o professor abaixar seus ombros. — Me desculpe se eu sou uma péssima, mãe, senhor Cullen, mas estou fazendo o melhor que posso — esbravejei, antes de sair pisando firme em direção à saída da sua sala.

Ao passar pela cesta de lixo eu atirei a caixa com bombons lá dentro, me sentindo uma completa idiota.


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Notas finais do capítulo

Beijos!

Lola Royal.

01.04.18