Acordei feliz como há muito tempo não acontecia. Ao abrir os olhos, a primeira coisa que vi foi o cachecol de Sasuke e instantaneamente um sorriso bobo surgiu em meus lábios. Céus, como era bom estar apaixonada!

O celular ao lado da cama começou a tocar, e franzindo o cenho o atendi imediatamente sequer verificando quem era.

— Alô? – falei me sentando.

— Hmm, pelo visto te acordei. Sinto muito princesa.

O sorriso bobo voltou aos lábios assim que reconheci aquela voz. Apertei o cachecol em minha mão e me sentei no meio da cama, cruzando as pernas. Eu era uma verdadeira adolescente apaixonada.

— Na verdade eu tinha acabado de acordar, quando o telefone tocou. Acabei atendendo sem nem olhar quem era, mas foi uma bela surpresa.

— Eu causo isso mesmo. – Sasuke disse rindo.

— Exibido. – revirei os olhos rapidamente – Não tem nenhum paciente para cuidar não, Doutor Uchiha?

— Tenho sim, senhorita Haruno. E realmente já tenho que sair de casa, só liguei para dizer que ontem foi... Mais que maravilhoso. – corei com suas palavras e me deitei na cama novamente – E que hoje eu provavelmente não vou conseguir focar totalmente no trabalho, pois vou ficar relembrando nosso beijo, e pensando em quando eu vou poder sentir seu cheiro novamente.

Mordi os lábios olhando para o teto do quarto. Kami! O que eu faço com um homem desses?

— Eu não tenho um conselho para te dar, provavelmente vou passar o dia da mesma maneira. – agradeci que ele não podia ver meu rosto agora, pois deveria num tom vermelho vergonhoso.

— Cuidado princesa, assim você vai aumentar muito o meu ego.

— Argh! – falei rindo e ouvi sua risada do outro lado da linha também – Quem é o irritante agora, ein?

— Hmm, eu aceito ser chamado de irritante, se você adicionar o inteligente e bonito também.

Fechei os olhos balançando a cabeça. Como ele conseguia me deixar boba com esses meros detalhes? Céus, há pouco mais de uma semana eu sequer conhecia ele... Sequer me lembrava dele! E agora estou aqui, deitada na cama quase suspirando a cada palavra dele.

Será que eu era assim no ensino médio? Boba por cada palavra, cada gesto que o Uchiha direcionava para mim?

— Vamos lá, não é tão difícil. – ele disse em tom brincalhão – É só dizer: Sasuke, você é um pouco irritante, muito inteligente e muito muito bonito.

Ele despertava um lado meu que eu sequer sabia que existia. Claro que eu havia ficado com um ou outro ao longo dos anos. Mas nunca foi algo premeditado ou desesperado, só acontecia e passava rápido.

Com Sasuke era... diferente de tudo que eu vivi até hoje... Diferente de tudo que eu me lembrava. A vontade de estar ao lado dele, e de conhecer ele de verdade era imensa.

O medo, a angustia... Todos os sentimentos conflitantes que estavam me atingindo desde que decidira lembrar de tudo... Nenhum deles importava. Eu só queria ele de novo, pois sabia que ele havia sido uma parte boa da minha vida.

E não podia ignorar que ele era realmente lindo! Céus, o Sasuke adolescente de minha lembrança era o típico menino rabugento, mas popular, que todas as meninas queriam agarrar. Mas agora... Ele era um daqueles homens que causam suspiros por onde passa, independentemente da idade.

— Sério, não pode ser assim tããão difícil admitir que eu sou um gato.

— Você é impossível Uchiha. – respondi, reparando que fiquei tempo demais boba com o efeito dele sobre mim.

— Eu me esforço. – eu poderia apostar que ele estava com um sorriso grande no rosto – Mas eu ainda estou esperando.

— Você é irritante, e é isso. – disse e podia imaginar o bico que ele estava fazendo agora – Agora eu preciso ir, e você também. Muitas vidas a salvar, não é mesmo Uchiha?

— Sempre Haruno. Até depois princesa, tenha um ótimo dia.

Sério, é possível resistir a um homem desses te chamando de princesa?

— Até Sasuke.

Ele desligou rindo provavelmente por causa do meu sussurro de voz. Eu não estava sendo tão patética, não é mesmo?

Levando em consideração que eu não lembro de ter estado apaixonada nenhuma vez, não consigo assumir se esse era só um comportamento normal ou se era o “efeito Uchiha”.

Sai dos meus devaneios quando uma loira entrou no meu quarto com um sorriso enorme e pulou na cama comigo.

— Você vai desencalhar! Aaaaaah! – ela pulava na cama como uma adolescente, o que me fez me sentir um pouco melhor na verdade, não era só eu que não agia conforme a idade – Eu não acredito Testaaa! E com um gato daqueles! Sorte sua que vocês já tinham história, porque querida, se eu vejo um pedaço de mau caminho daqueles primeiro... Você não tem nem chance!

Franzi o cenho e olhei feio para ela, pegando um travesseiro e acertando em cheio naquela cara sorridente.

— Olha como fala do meu Uchiha, Porca.

— Ah meu Deus! Já está possessiva assim? – ela sorria maliciosa – O que ele fez com você ontem para estar assim ein?

Revirei os olhos e sai da cama indo em direção ao banheiro.

— Não foi nada do que você está pensando. Agora me deixe acordar e vamos trabalhar.

— Estou esperando ansiosamente! E quero tooooodos os detalhes do beijo.

Ah, seria um longo dia.

~

Se Ino não estivesse me olhando e dando risinhos a cada 5 minutos, teria sido uma sexta-feira normal. A loira me obrigou a dar todos os detalhes sobre meu encontro com Sasuke, e também sobre os beijos, inclusive aqueles que eu tinha lembrado.

— Ino, você pode, pooor favor, focar no que está fazendo, e parar de me olhar com essa cara? – revirei os olhos enquanto ela ria.

— Você não vai tirar isso de mim. Durante todo esse tempo eu achando que você tinha um coração duro, que não se deixava abalar por nada, e agora vem esse Uchiha deus grego e te derruba assim? Esse momento é meu! Não vou deixar passar nem uma história de vocês dois. E ah, serei madrinha no casamento, claro.

— Pois desse jeito você não vai ficar sabendo de mais nenhuma história sobre mim! E nem comece com essa historia de madrinha. Eu mal conheço ele Ino, por Kami!

— Na verdade você mal se lembra dele né? Por que conhecer, eu aposto que você já conheceu muuuuuuitas coisas. – corei levemente e continuei a trabalhar na fórmula a minha frente. – E aposto que está louca para conhecer de novooo. – ela riu – E sério, você precisa se controlar.

Ergui uma sobrancelha para ela, afinal, quem estava falando sem controle não era eu.

— E não me olhe com essa cara, eu digo no sentido de não ficar se derretendo a cada palavra dele. Tudo bem, eu sei que é ele. Eu também babei um pouco no começo, mas não se entregue tão fácil não, não o deixe perceber quão te deixa abalada por apenas um “princesa”. Faça o homem comer na sua mão Saky! Poder feminino já!

Eu ri do seu entusiasmo. Mas até que dessa vez estava fazendo sentido o que a doida estava falando.

Meu corpo entrava em verdadeiro transe quando estava perto dele, ou quando ele falava comigo. Tentaria não deixar isso transparecer tanto.  Acho que não seria tão difícil, não é mesmo?

— Mas enfim, vou te deixar em paz um pouco... – estava suspirando aliviada quando ela completou – sobre esse assunto. Agora vamos ao outro, você tem consulta com o meu pai hoje, certo?

Ino sempre era bem animada, mas o brilho que ela tinha no olhar era um aviso de “perigo, se afaste”.

Apenas assenti com a cabeça e ela bateu palmas animada.

— Depois você vai direto lá para casa, okaaay? – ergui a sobrancelha e ela revirou os olhos – Não seja chata, você vai pra lá, sem perguntar o motivo... Só vai.

Semicerrei os olhos para ela, que apenas me ignorou e levantou indo ao banheiro. Bom, provavelmente não seria algo que eu estaria de acordo, mas era o furação Yamanaka de qualquer jeito, eu não tinha como fugir.

~

Quando cheguei ao consultório do pai de Ino eu estava ficando nervosa novamente. Mas agora era um nervosismo diferente, eu estava nervosa de tão ansiosa que estava. Eu queria tanto lembrar de mais coisas... Lembrar de mais momentos com Sasuke...

Como se estivéssemos em sincronia, meu celular apitou avisando que havia uma nova mensagem dele.

“Conforme esperado, meu
dia não foi nada produtivo.
A única coisa que estava em
minha mente era uma certa
mulher de cabelos rosa e olhos
verdes...
Acho que estou em abstinência já
princesa, preciso de você”

Okay, eu não era louca, era simplesmente impossível resistir a isso. Com um sorriso enorme entrei no consultório digitando a resposta.

“Pelo menos a sua mente
estava super bem então. A minha
estava cheia de um irritante metido.
E a culpa da abstinência é toda sua,
você mora longe demaaaais querido.
Mas, preciso de você também.”

— Sakura? – Inoichi me chamou e segui em direção ao consultório.

Dessa vez ele não me pressionou sobre nenhum assunto, apenas perguntou se eu estava preparada para lembrar de mais coisas, e logo eu estava deitada no divã, com os olhos fechados.

Eu tinha três anos de memoria perdidas, mas eu queria algumas bem específicas. Eu queria qualquer coisa sobre o Sasuke, que me mostrasse como ele era... Que me fizesse lembrar algo sobre ele, qualquer coisa...

Quando a dor de cabeça chegou eu não me incomodei, apenas me entreguei a lembrança.

“Estava deitada sob o sol de primavera e ao meu redor as crianças corriam brincando. Estava no meu lugar favorito do parque, deitada do lado de uma grande arvore de cerejeira e com os olhos fechados, apenas apreciando a brisa e o sol que esquentava o meu corpo. De repente se fez uma sombra sobre minha cabeça, e abri os olhos, a procura na nuvem que tinha interrompido meu momento de paz. E eu não estava errada, era realmente uma nuvem negra que estava ali.

— Não sabia que gostava da natureza, irritante. – Sasuke me olhou de cima com um sorriso de canto no rosto – Pensei que ficava em casa sendo rabugenta.

Me sentei o fitando irritada.

— Você não consegue mesmo ter um pingo de educação, não é mesmo? É tão impossível assim ser um pouco gentil e educado?

Ele deu de ombros e se sentou ao meu lado, dividindo a toalha que eu trouxe para me acomodar. Pegou a mochila nas costas e abriu, retirando de lá um pacote de salgadinhos e o abriu.

— Quer? – ele perguntou com um sorriso e uma sobrancelha arqueada.”

Assim como da outra vez, ao invés de voltar a realidade, fui jogada para outra lembrança, naquele mesmo parque.

“– Impossível! Eu duvido que você teve mesmo coragem de fazer isso.

Eu estava deitada rindo enquanto Sasuke estava sentado com as pernas esticadas ao meu lado.

— Mas é claro que eu fiz! Claro, ganhei 3 dias de suspensão, mas acabou valendo a pena. – disse todo presunçoso.

— Você é inacreditável Uchiha! – falei rindo.

Ele colocou o braço apoiado do lado da minha cabeça e desceu até ficar cara a cara comigo. Parei de rir quando senti nossas respirações se misturando e olhei em seus olhos ônix, reparando que ele encarava meus lábios entreabertos.

— Você não acredita em muitas coisas Haruno. – ele soprou em mim – Se eu disser que estou gostando de você, aposto que não vai acreditar também.

Abri a boca em surpresa e antes que eu pudesse ter alguma reação, ele juntou nossos lábios em um beijo apressado.

Minha cabeça ficou em branco, eu não sabia o que pensar e Sasuke se afastou uma vez que eu não retribui o beijo. Ele se levantou apressado murmurando um “desculpe” baixo, e saiu dali. Antes que ele fosse longe demais eu levantei e corri atrás dele.

— Sasuke! Espera!

Ele parou, mas ainda ficou de costas para mim.

— Não precisa falar nada, eu entendi que você não sente nada.

Puxei seu ombro, fazendo com que ele me encarasse. Ele estava com o olhar bravo e baixo. Segurei seu rosto com as duas mãos e disse:

— Você não sabe nada sobre o que eu sinto.

E colei nossas bocas novamente.

Minha cabeça estava explodindo. Estava recendo flashes de memória do parque. De mim e Sasuke abraçados conversando, de mim e de Hinata deitada rindo. Eu e um grupo de pessoas que não soube identificar.

Todas as lembranças estavam vindo ao mesmo tempo e eu não conseguia associa-las direito. De repente era só um borrão e vultos de pessoas, até que tudo escureceu.

— Sakura? Sakura?

Ouvi a voz de Inoichi e senti que ele me balançava levemente. Abri os olhos agradecendo a luz baixa e tentei me sentar.

— Com cuidado querida, você acabou desmaiando. – ele segurou minhas costas e ofereceu um copo d’água que eu aceitei de bom grado.

— O que aconteceu? – disse passando a mão na cabeça.

— Parecia que estava indo tudo muito bem... Você estava apenas com um sorriso no rosto, mas de repente ficou aflita, começou a se remexer na cadeira e murmurar que não estava conseguindo acompanhar tudo.

Assenti em compreensão e tentei focar em algum flash de memoria que eu havia recebido. Minha cabeça não doeu, mas a memoria estava meio quebrada, incompleta.

— Eu lembrei de dois momentos no parque..., Mas depois disso, só recebi flashes de memorias naquele mesmo lugar, mas todas vieram ao mesmo tempo, ficou tudo sobreposto, estava uma bagunça. Acho que foi aí que eu desmaiei... Parece que as memorias estão quebradas... Não sei definir.

Inoichi ficou um pouco em silêncio e soltou um leve suspiro.

— Imaginei que algo assim poderia acontecer. – olhei para ele um pouco confusa – Veja bem, você perdeu 3 anos de memória, e já fazem 10 anos que isso aconteceu. Mesmo pessoas que não sofrem de amnésia, não conseguem lembrar exatamente tudo que aconteceu em suas vidas... Ou seja, é provável que as suas memorias tenham se perdido mesmo... Ou quebrado, como você disse. Não vamos conseguir resgatar todos os 3 anos, e sim os momentos mais importantes, os momentos que não foram destruídos com o tempo.

Reparando meu olhar perdido ele continuou.

— Mas não desanime, isso não quer dizer que você vai lembrar de poucas coisas, ou que não vai lembrar do gatilho da amnesia. O importante é não desistir... Tenho certeza que temos muitas memórias a desenterrar ainda querida.

Sorri para ele e se ele disse algo mais além disso, não prestei muita atenção. Segui para casa no automático. Novamente tinha muita coisa rondando os meus pensamentos, e eu não tinha Sasuke para me acalmar.

O medo me visitou novamente, e eu não sabia o que fazer com ele. Afinal, quantas memorias boas eu recuperaria? Teriam mais más do que boas nessa lista de memórias “intactas”?

Balancei a cabeça e segui para meu apartamento. Tentaria ao máximo não focar o pensamento nisso.

Observando a sala constatei que a casa precisava de uma bela faxina. É, isso provavelmente ocuparia minha cabeça pelo resto da noite.

Meu celular começou a tocar e fechei os olhos em arrependimento quando vi o nome de Ino.

— Oi. – disse sem ânimo.

— Eu sei que você esqueceu que tinha que vir direto para a minha casa, mas vou até perdoar essa. Venha aqui na casa do Naruto, que ele está de folga do Rasengan e a Hinatinha está aqui contando altos podres dele.

— Ah Ino, me desculpe, mas eu não estou muito com ânimo pra isso okey? Vou dar uma ajeitada na casa, e dormir assistindo algum filme. Só... Me deixa no meu canto, tudo bem?

— Mas Saky...

— Sem “mas”, por favor. Só hoje.

Ela suspirou do outro lado da linha e me sentei no sofá observando a quantidade de pó e pensando que deveria começar por ali.

— Foi algo da consulta? – suspirei e ela deve ter entendido que a resposta era sim – Tem certeza que quer ficar sozinha? A gente pode te ajudar a se distrair... Vamos dar risadas e quem sabe sair para a balada, o que acha?

— Eu agradeço Ino, de verdade, mas a casa realmente precisa ser limpa. – dei uma risada breve – E vou aproveitar pra fazer isso agora. Prometo que se eu precisar de vocês eu ligo, combinado?

— Tudo bem Saky, mas ligue mesmo tá?!

Demorou mais um pouco para ela ficar convencida que eu realmente ficaria bem sozinha, mas ela acabou aceitando.

Comecei a tirar o pó das coisas e quando comecei a espirrar sem parar decidi que contraria uma diarista. Minha renite não aguentaria aquilo por muito mais tempo. Passei pano por toda a casa, e arrumei meu quarto. Quando eu tirei todas as roupas do guarda-roupa e deixei na cadeira?!

Estava indo arrumar a cozinha quando o telefone tocou novamente. Corri para atender, pensando que poderia ser Sasuke, mas era Ino novamente.

— OOOOOOI querida.

Franzi o cenho com sua animação exagerada.

— Você está bêbada? – perguntei direta.

— Olha, estou um pouquinho sim, hahahaha. Mas estou indo ficar ainda mais. Eu, Hinata e Naruto estamos indo para a balada queridaaaaaa.

Revirei os olhos, mas estava com um sorriso no rosto. Era típico da Ino bêbada, arrastar as pessoas para a balada com ela, e depois, se ela não tivesse arrumado alguém, arrastaria eles para comer em qualquer drive thru que estivesse aberto.

— Eu não quero nem imaginar o que você vai fazer hoje. Mas eu realmente não estou no ânimo para sair e ...

— Hahahahaha – ela me cortou rindo alto – E quem disse que eu estou ligando para te chamar querida?

Nesse momento a campainha do apartamento tocou e eu fui me arrastando até a porta.

— Ino, eu já disse que não vou sair de casa hoje. Eu vou...

Minha voz morreu quando eu avistei Sasuke parado a minha frente. Com um sorriso de canto e uma sobrancelha arqueada.

— Ah, mas não vai sair mesmo. – a loira disse do outro lado da linha – Mas sabe como é aquele ditado né? Se a Haruno não vai até o Uchiha, o Uchiha vai até a Haruno.

E desligou a ligação.

Eu estava com a boca aberta e Sasuke começou a rir.

— Eu sei princesa. – ele disse e abriu um sorriso grande para mim – Eu trouxe sorvete e chocolate, a gente não precisa sair mesmo.

Tá. Sasuke. Sorvete. Chocolate. Sobre o que eu estava preocupada antes mesmo?