Gentileza, bullying e batata frita escrita por LiKaHua


Capítulo 1
1. B.S.


Notas iniciais do capítulo

Saudações, terráqueos!
Eu não tenho ideia de para onde esta história vai, sério. Vocês que vão me ajudar com isso. Como ela é antigaça preciso "recapturar" o espírito, ainda assim, o Jake vai falar por si mesmo, eu não parei para pensar em como ele seria, simplesmente deixei que ele me dissesse o que queria.
Sei que na foto o nome tá Josh, mas por alguma razão não quis usar esse nome, espero que não se importem muito. Vai short fic dependendo da minha cabeça lunática. Desculpem desde já qualquer escapadela gramatical, eu revisei, juro! Mas sempre escapa alguma coisa.



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Bullshit. Em inglês não é uma palavra ouvida com agrado, pelo menos quando eu aprendi, aos doze anos, minha mãe me deu um tapa ao me ouvir dizer. Para “amenizar” as coisas, usa-se B.S., mesmo que o sentido seja igual, parece que a abreviação é mais aceita verbalmente que a palavra inteira, o que eu acho a bullshit. A verdade é que, por mais que isso pareça um xingamento — e o seja — bullshit nada mais é que balela, mentira, conversa fiada, baboseira. Ou, traduzindo melhor, é o que as pessoas no universo do Ensino Médio fazem quando dizem que gostam de mim.

            Estava ali, na cadeira número doze da sala de biologia ao lado do Collin Graw que ainda estava tirando meleca do nariz enquanto fingia prestar atenção na aula do senhor Filth. Por que, dentre tantas pessoas neste colégio, ele tinha que ficar ao meu lado? Ou, formulando melhor esta pergunta, por que ele tinha de escolher biologia quando está na cara que ele sequer sabe o que são neurônios? (ou como usá-los!).

            É realmente impressionante como o tempo se arrasta quando você está entediado no meio de uma aula sobre planárias, que por sinal são horríveis. Principalmente quando tem um atleta idiota — e com o mesmo probleminha do Collin em relação aos neurônios — chutando a sua cadeira na mesa de trás. Já estava mais que acostumado com aquilo, sabia que reclamar só tornaria as coisas piores e, a parte ruim da história, é que quando você se cala acaba dando o direito das outras pessoas te zoarem. Não acreditem nessa coisa de bullying, é só uma palavra qualquer pra algo que eu conheço desde criança, não importa o que digam, sempre haverá um idiota para tentar te diminuir.

            Eu olhava para as paredes sem graça pintadas de amarelo vômito, para as estantes com um monte de livros empoeirados e vidros com animais e fetos em formol, o que eu acho um nojo visual. Olhava através dos janelões que davam para o pátio dos fundos onde a turma do basquete matava aula (de novo), e até mesmo para as luzes fluorescentes da sala, desnecessárias àquela hora do dia. Qualquer coisa era mais atraente que o pé do Jason Dawson empurrando a minha cadeira ou a voz esganiçada do senhor Filth tentando explicar a regeneração da planária. Mas, o que fazer? A turma de economia doméstica — por incrível que pareça — já estava cheia.

            A verdade é que uma das coisas que um gordinho faz bem é comida. A coisa que ele faz melhor é comer. Pelo menos eu me encaixo nessa categoria. Alguns gostam de esportes, outros de teatro e ainda há quem curta inglês avançado. Bem, minha aula favorita se chamava almoço. Gosto de batata frita com molho picante, hambúrguer e uma generosa poção de nachos.

            Quando o sinal finalmente nos libertou da tortura daquela aula monótona, eu mal podia esperar para sair até meu esconderijo no terraço da escola e desfrutar de um lugar onde ninguém me julgasse por ser eu mesmo. Eu preferia estar sozinho a ouvir aquelas piadas idiotas do grupo do Jason, os olhares de nojo das líderes de torcida ou de pena do restante que sobrava. Houve uma época que isso me afetava, mas eu havia chegado a uma fase da vida que o que os outros pensam para de machucar um pouco, ainda assim, há vezes em que dói. Me perguntava sempre se a aparência fala tanto assim sobre nós, se uma pessoa tem mesmo a obrigação de ser linda, magra e igual a todo mundo para ser considerada legal. Isso vindo de gente que posta fotos de casais gordo-magro no facebook. Não sei se chamo de ironia ou idiotice.

            Jason me empurrou de volta na cadeira assim que tentei levantar, Collin saiu como se nada estivesse acontecendo e seu grupo que ainda remanescia na sala começou sua dose diária de “hora de zoar o Jake”.

— O que foi, Mattews? — Riu ele. — Está com dificuldade de sair da cadeira?

— Apertado demais pra você? — Riu Thomas Angles. — Talvez seja melhor chamar um guincho.

— A capacidade criativa de vocês ainda me espanta. — Suspirei.

— Ah, deixem ele em paz. — Uma voz vinda do fundo da sala fez com que todos virassem o rosto. — Será que vocês não crescem?

            Louise Marshall. Parada em pé no fundo da sala ela olhava para Jason como se ele fosse a criatura mais estúpida sobre a face da terra e ainda me custava a acreditar que ela estava mesmo me defendendo.

Espera, ela estava?

            Jason deu uma risada baixa e eu ganhei vinte minutos de paz quando ele saiu da sala com os amigos. Talvez aquele fosse meu dia de sorte, ou talvez quando eu fosse embora tivesse uma bomba de tinta no meu armário. Quando olhei para trás mais uma vez, Louise não estava mais lá.

            Há três tipos de pessoa na Saint Paul High School: os que se acham melhores que todo mundo, os que são melhores que todo mundo (pelo menos financeiramente falando) e os que não estão nem aí para nada. O primeiro grupo são aqueles que se encaixam no aclamado padrão de beleza que é o que lhes dá status no segundo grupo, e a grande massa, que pertence ao último grupo, vive para idolatrar os dois primeiros e zoar qualquer um que eles zoem, bem, nesse último caso, eu.

            Difícil dizer pelo que eu ainda não passei. Cabeça na privada (essa já é clássica), foto no chuveiro do vestiário que foi parar por toda escola, bomba de tinta no armário, piadas sem graça no refeitório e, o que eu considero o pior de todos: zoação na aula de educação física. Por que, dentre tantas, essa matéria tem que ser obrigatória? Vá por mim, correr enquanto gritam “olha o passeio do elefante” não é legal. E também posso me considerar um veterano na enfermaria. Desde cortes superficiais até braços quebrados e banho de urina. Sim, urina. Prefiro não comentar sobre esse último evento.

            Coloquei a mochila sobre o ombro e me dirigi ao meu paraíso particular. Quase ninguém usava o terraço da escola, não porque era proibido ou coisa do tipo, mas porque mais da metade da escola sequer sabia da existência daquele lugar (provavelmente eles devem pensar que o teto da escola é uma ilusão). Lá em cima eu curtia minha música, comia meu almoço, estudava e, sim, matava aula de vez em quando. Eu não sou de todo um santo, às vezes até eu preciso de uma fuga do meu inferno diário.

— Bem vindo de volta.

            Disse a mim mesmo quando tomei meu lugar em um dos blocos de concreto que havia lá em cima e contemplei o céu límpido. A imagem de Louise Marshall preencheu a minha mente, aquela garota entrou em meu favor, pela primeira vez em dois anos alguém notou o que acontecia comigo. “Ah, deixem ele em paz!” disse a voz dela dentro da minha mente. Deitei-me no enorme bloco de concreto e contemplei as nuvens com um sorriso tolo no rosto, era só mais um dia amargo na conta da minha vida, mas talvez, em meio a todo aquele fel existisse um cubo de açúcar.

Não. Isso também é bullshit.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Eu sei, é um começo meio... como direi... enfim. Como eu disse lá em cima, não sei bem como vou conduzir isso, estou deixando o Jake falar sozinho e veremos o que ele me conta. Só digo uma coisa, se você leu Dear Diary e é por isso que está aqui, não compare as duas histórias, okay? Eu não vou te dizer que vou repetir o "sucesso" daqueles personagens, eu só vou te dizer que eu vou dar o melhor que posso com esses.
Então, vejo vocês no próximo capítulo!