Um Deus entre os Mortais escrita por Pandora


Capítulo 5
Abandonados pelos Deuses


Notas iniciais do capítulo

Voltei!!!
Desculpa a demora, mas como disse estava um pouco ocupado... kkk
Espero que gostem desse capitulo!
Bom, boa leitura...



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Era possível observar o amanhecer tardio por detrás das copas das árvores. A luz transpassa os vãos entre folhas de modo preguiçoso, chegando ao solo com demasiada fraqueza. Os sons dos pássaros pouco ecoavam pelas antigas árvores. Até mesmo os córregos deslocavam-se sem estímulo algum.

Este era o ambiente que passou a ser observado pelas caçadoras e por Perseu quando descobriram que os deuses viraram as costas para o mundo. Um lugar sem vida, sem ânimo; como se cada segundo fosse mais comprido que o anterior. Onde a própria natureza se entristecia com tamanho egoísmo.

O deus dos heróis ainda não podia acreditar que Zeus havia fechado o Olimpo. Acreditara menos ainda quando essas palavras foram proferidas pela própria deusa da caça.

Sempre que Perseu sonhava em conhecer os outros deuses, via-os como os seres esbeltos e imponentes que as histórias contavam e que as músicas eternizavam. Seres cujas versões mal faladas e tiranas fossem nada mais que simples invenções. Mas, vivenciando pela primeira vez uma das piores decisões deles, essa imagem começava a desmoronar.

Perseu nunca imaginou que os deuses se fechariam para o mundo em um momento de dificuldade, deixando que os filhos resolvessem seus problemas. Um ato extremamente preguiçoso e egoísta na opinião do jovem deus. Percy ainda podia visualizar a recente conversa entre a deusa, suas caçadoras e ele, em meio aquele desprezado bosque...

Ártemis esperava todos se reunirem à sua volta, não podendo disfarçar o olhar abatido. À medida que as caçadoras chegavam, compartilhavam de sua inquietação. Não era normal para um deus demonstrar tamanha perturbação, muito menos um dos doze deuses mais fortes do panteão grego.

Percy havia chegado à entrada da tenda, tentando compreender o que poderia ter acontecido. E sua confusão só aumentou quando a deusa falou que iria revelar o verdadeiro motivo que levou à reunião emergencial no Olimpo… Aquela era a mesma reunião que sua mãe havia sido convocada há algumas horas. E pelo pouco que o menino sabia, essas reuniões eram fechadas e raramente suas informações eram reveladas para alguém que não pertencia ao conselho. Ele perdeu as contas de quantas vezes havia perguntado a sua mãe e tia sobre o que tanto discutiam nas muitas vezes em que o deixavam sozinho.

— Minhas caçadoras... — falou Ártemis, quando percebeu que todas já se encontravam à sua volta.

Zoe Doce-Amarga, a tenente da caçada, se mantinha parada ao lado da deusa, enquanto as demais meninas se aglomeravam em seu entorno, esquecendo propositalmente o único menino no acampamento.

— Chamei vocês aqui, pois os últimos acontecimentos no Olimpo são deveras preocupantes. — Ela recebeu olhares surpresos de todos ali. — Fomos informados que duas das três armas, dos três grandes, foram roubadas e não sabemos por quem, ou onde possam estar...

O choque foi iminente. Ninguém estava preparado para aquelas palavras. Todos conheciam as três armas lendárias, sendo elas o raio mestre de Zeus, o tridente de Poseidon e o elmo de Hades. Sabiam que nunca antes uma delas havia sido roubada, muito menos duas ao mesmo tempo.

Percy, assim como as demais caçadoras, não sabia como reagir. A pergunta que todos se faziam silenciosamente era: quem seria tolo o suficiente para roubar de dois dos três deuses mais poderosos?

De todas, a arma mais temida era de fato o relâmpago de Zeus; símbolo do poder do rei dos deuses, conforme o qual todos os outros raios são moldados. Foi a primeira arma feita pelos ciclopes para a guerra contra os titãs, a que decepou o cume do Monte Etna e arremessou Cronos para fora do seu trono.

— Quais armas seriam? — perguntou, depois de um tempo, uma desacreditada Zoe.

— O relâmpago de Zeus e o tridente de Poseidon.

Como se tivesse virado tradição, um silêncio desagradável voltou a tomou conta do ambiente. Ártemis, quando queria, poderia ser bem direta em suas revelações.

— Mas se esse fosse o caso, os olhos dos deuses se voltariam para... — Percy começou a falar, mas foi rapidamente interrompido por Ártemis.

— Exato! — respondeu rudemente, transformando-se em sua forma habitual de doze anos. — Meu pai e meu tio Poseidon acusam seu irmão Hades de os ter roubado, pelo fato de sua arma ser a única dentre as três que ainda está com o dono.

As caçadoras mais velhas suspiraram; ato que as mais novas acabaram por não entender.

— O que isso significa? — perguntou uma das meninas mais distantes da deusa.

“Kate Diaz“, surgiu na mente de Perseu, ao olhar em direção à caçadora que fizera a pergunta. O deus não pôde deixar de observar também, o olhar assustado emergir no rosto de algumas das caçadoras mais experientes, chegando até mesmo a ver uma pequena contração na face da deusa à sua frente.

Percy que chegara a estudar sobre a política entre os deuses, em um dos muitos livros que Hera o fizera a ler. Nunca havia refletido tudo o que estava escrito. Se o que ele estivesse pensando estava para acontecer, ele desejaria mais do que nunca poder estar errado naquele momento...

— Isso pode levar a uma guerra entre os deuses — respondeu Zoe, para todos. — Diferente de uma guerra mortal, na imortal, os deuses que estão em guerra buscam por aliados para lutarem ao vosso lado. A verdadeira catástrofe não atinge os deuses, mas sim os mortais. Essa guerra pode ter como resultado grandes tempestades, secas, mais guerras, fome, epidemias e consequentemente milhares de mortes. Vai durar até que as desavenças entre os deuses sejam reparadas e vossos laços, refeitos.

Zoe recebeu olhares horrorizados das caçadoras mais novas e um doloroso, porém, ao mesmo tempo, orgulhoso de sua senhora. Ártemis contemplou sua caçadora e amiga mais antiga, vendo como ela agira como uma verdadeira comandante.

O que a caçadora não sabia é que a guerra imortal possui um efeito cascata muito mais tenebroso. Perseu, assim como alguns deuses, caso ocorresse uma guerra de tamanha magnitude, sairiam muito abalados. Na pior das hipóteses, poderiam desvanecer. Todos os imortais, por mais que odiasse admitir, sabiam que sua força e existência se dava pela crença e conhecimento dos humanos.  Imortais cujos domínios são fortemente vinculados aos mortais poderiam deixar de existir caso deixassem de serem cultuados ou seus domínios destruídos.

No caso de Percy, o deus sabia que nestas guerras, não surgiam muitos heróis destemidos e valorosos. No entanto, pessoas que desvirtuam seus valores como deus, se auto intitulando heróis mesmo cometendo desonrosas atrocidades aos seus olhos.

Em guerras imortais, foram inúmeros semideuses que, para agradar seus pais piedosos, cometerem crimes imperdoáveis. Muitos deles, posteriormente, sendo presenteados com a divindade. Percy ainda sentia o desgosto palpável ao ler as realizações de deuses menores durante suas vidas mortais.

— Isso já aconteceu antes, uma guerra? — perguntou novamente Kate.

— Uma guerra envolvendo Afrodite, Deméter e Apolo causou a peste negra que matou mais de um terço da população europeia em 1351 — respondeu Zoe.

Pelo olhar horrorizado da caçadora, a tenente não tinha dúvidas que ela não falaria mais pelo resto da noite. 

— Mas se isso está para acontecer, não há nada que possamos fazer? — perguntou Agatha, ao lado de Kate.

— Não — disse por fim, Ártemis. Quando as garotas já começavam a traçar planos de busca pelas armas.

— Mas, minha senhora?! — questionou a tenente das caçadoras, mas foi interrompida pela deusa.

— Atena e eu, tentamos argumentar com Zeus quanto a isso. Ofereci-me pessoalmente para ir em busca do ladrão, mas meu pai não me permitiu. Ele preferiu que a missão fosse dada aos heróis do acampamento meio-sangue.

A simples menção do acampamento fez todas as caçadoras entortarem o nariz, até mesmo a deusa entonou a palavra em desagrado. Já o deus não sabia por quais motivos tal reação... Percy já ouvira falar dos acampamentos; ele mesmo possuía muita vontade de visitá-los, afinal, era um lugar onde todos os semideuses podiam viver e se desenvolver, sem se preocuparem com os perigos ocasionados pelos monstros. Sem contar que eles eram seu domínio em si, onde a maioria dos heróis surgia e alcançava sua glória...

— Foi dado um prazo aos semideuses para que fossem em busca das armas — continuou Ártemis, sob o olhar enojado das caçadoras. — Eles têm até o solstício de verão para reavê-las e entregarem aos deuses; ou então meu pai e Poseidon declararão abertamente guerra a Hades.

— Minha senhora, vós sabeis que os semideuses do acampamento são despreparados para esse tipo de missão. Deixe-me juntar as melhores caçadoras e...

— Não, Zoe. Zeus me proibiu de interferir. Não posso permitir que vão em uma missão que não é de vocês. Até mesmo porque eles já saíram do acampamento — informou a deusa. — Héstia foi pessoalmente contar a Quíron.

O que a deusa não percebeu, foi a pequena troca de olhares entre as caçadoras. Algumas mais ousadas, voltaram suas faces em direção ao deus entre elas.

— Mas não é somente isso que eu tenho para falar a vocês — interrompendo os protestos das caçadoras em relação aos acampamentos. — Zeus, como devem saber, está irado. Nunca antes algo assim foi roubado de um deus, então ele exigiu que todos os deuses voltassem para o Olimpo, até que seu raio esteja de novo em suas mãos.

Por um instante, ninguém entendeu o poder naquelas simples palavras, até mesmo Perseu. Quando compreendeu, ele não conseguiu se conter:

— Como assim? Vocês irão se isolar de todos?

Tal reação ganhou um pequeno levantar de sobrancelhas da deusa.

— Sugiro que diminua o tom quando for se dirigir a mim, Perseu. Lembre-se que ainda é um convidado em meu acampamento.

— Desculpe-me, mas não posso entender porque vocês vão virar as costas para os seus problemas e deixar que os semideuses os resolvam.

As caçadoras olharam surpresas para Percy, que claramente desafiava Ártemis. Muitas não gostavam do deus pelo fato de ser um homem, principalmente agora que ele contestava sua deusa. Mas elas tinham que admitir que ele foi o primeiro, em séculos, a desafiar um deus por motivos nobres, ainda mais um dos grandes deuses.

— Não temos escolha... — respondeu a deusa, analisando com atenção o simples semideus. — Zeus é deus dos deuses. Não podemos desobedecê-lo.

— Mas, minha senhora, se isso que falas é verdade, terás de ir até ao Olimpo também. — A observação de Zoe foi recebida com olhares temerosos do restante das meninas.

Ártemis encarou a orla da clareira, abatida ao término daquela observação.

— Isto é o que me aflige — sussurrou a deusa, onde apenas as mais próximas caçadoras conseguiram escutar, além de Perseu. — Zeus ordenou a volta de todos os deuses imediatamente. Ele só me deixou ficar um pouco mais por causa do que aconteceu com Hanny. — O nome de sua falecida caçadora saiu trêmulo pelos lábios da deusa da lua. — Já estou atrasada...

Como se o senhor dos céus estivesse escutando, três trovões foram ouvidos, irrompendo a calmaria da noite. Alguns, temerosos, olharam para cima em receio, esperando por algo que nunca veio. Antes que o som extinguisse, ecoando pela clareira e pelo bosque, todos puderam notar a falta de relâmpagos.

— Não poderei ajudá-las a chegar ao acampamento — falou a deusa, não deixando de esconder sua revolta e os olhos que se intensificaram  em um brilho prateado. — Pai me impediu de levá-las em segurança ao acampamento. Vocês estarão por conta própria....

Aos poucos, montanhas com seus picos esguios e brancos davam lugar a regiões planas. Sua vegetação começava a ganhar mais espaço, distanciando-se umas das outras. Percy, junto das caçadoras, por volta das dez da manhã, chegou à orla do bosque. Para as caçadoras, era apenas a saída de uma floresta. Já para Perseu, era deixar o único lugar que chegou a chamar de lar.

Pela primeira vez, o deus deixaria o lugar em que nascera e iria conhecer o mundo. Tudo que sabia, o jovem deus conheceu em livros ou através de sua mãe ou tia. Poder ver tudo que leu sem ser por páginas ressecadas e ásperas eram uma sensação impossível de explicar.

Na dianteira do grupo, Zoe e Febe lideravam as caçadoras. Perseu caminhava ao lado das duas tenentes, não por que queria, mas por não ser muito bem aceito pelo resto das meninas. Quando chegaram à beira de uma estrada, ele parou de andar, o que fez as duas líderes do grupo pararem também. As duas olharam para o deus, que mesmo ainda não gostando da ideia, era a maior autoridade presente.

— Eu gostaria de dizer... — começou o deus, voltando-se para as meninas que se amontoavam conforme chegavam. — Não importa se os deuses viraram as costas para as caçadoras ou para os seus filhos semideuses, pois eu não virarei. Não deixarei que esse ato deles piore ainda mais a imagem que vocês possuem de nós. Eu não sou um olimpiano, por isso não presto contas ao Olimpo. O pouco que pude observar e conviver com vocês me mostrou que os deuses não são muito presentes na vida de seus filhos, e isso me entristece. Sou um deus novo, pode não parecer, mas possuo apenas trezentos anos. Algumas de vocês são mais velhas do que eu, e com certeza muito mais experientes, então não quero que demonstram respeito por eu ser quem sou apenas por ser um deus. Até porque, tudo que sei, aprendi em livros empoeirados. Mesmo agora, só sei onde estamos porque li mapas e decorei os lugares. Até poucas horas, nunca havia estado na presença de garotas, e sei que cada uma possui sua própria história e não posso imaginar o que os homens chegaram a fazer a vocês. Mas gostaria de ganhar a amizade da caçada; não por obrigação, mas por meu próprio mérito, sendo reconhecido por cada caçadora assim como um dia espero ser reconhecido como o deus dos heróis por cada semideus. Vivi em uma cabana isolada em meio a esse bosque a minha vida inteira, não sei o que me espera saindo daqui, mas prometo a todas vocês que tentarei dar o meu melhor. Como deus dos heróis, é meu dever zelar pelo bem de cada herói, sendo ele semideus, caçadora ou até mesmo mortal. Prometo ajudar todos aqueles que precisarem de mim se estiver ao meu alcance. Juro pelo rio Estige. — Com o término das palavras do deus, o trovão irrompeu vindo de todas as direções, selando o juramento.

Todas as caçadoras estavam sem palavras pelo tão impensado e inesperado ato de Perseu. Nunca antes um deus foi tão aberto como ele havia sido perante alguém. Pelo menos isso foi o que a maioria das caçadoras começou a pensar. Nem mesmo sua senhora Ártemis, nunca chegara a falar com elas daquele jeito, muito menos a pedir que a tratassem como uma igual. As caçadoras, que antes pensavam que Percy não passava de mais um deus que cedo ou tarde chegaria a dar em cima delas, tiveram suas crenças abaladas após aquelas palavras. Mas isso não significava que de uma hora para outra elas passariam a tratá-lo diferente dos demais homens. Pois afinal, ele ainda era um homem.

Zoe e Febe, que na hora do discurso do deus estavam um pouco mais adiante, se mostraram surpresas perante as palavras que nunca, em mais de seus dois milênios como caçadoras, chegaram a escutar de um deus. As duas não tinham ideia de como Percy havia se tornado deus, mas a maioria, quando o fazia, passava a ser gananciosa. Traços narcisistas eram frequentes naqueles que ganhavam tal honra. Vendo o deus à sua frente, esta ideia seria totalmente improvável.

Algumas das caçadoras até arriscaram um sorriso. Agatha, mesmo achando o deus um idiota, não conseguiu impedir que um sorriso marcasse seu rosto.

Perseu, sem olhar as muitas reações diferentes, se virou para a estrada, dando um passo para ela. Podia parecer pequeno, mas aquele simples ato significava muito para ele.

Depois da pausa, as caçadoras, assim como o deus, seguiram a estrada até a pequena cidade de Sedro-Woolley, em Washington. Por um caminho alternativo, seguiriam a Seattle, de lá, pegaram um meio de transporte até Chicago.


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Notas finais do capítulo

Bom é isso...
O capitulo em si não teve muitas aventuras ou grandes emoções. Na verdade, ele foi bem calmo, mas seu contexto foi de extrema importância para o andamento do enredo da história. Mas prometo que o próximo terá bastante agitação, porque a partir de agora, Percy começara de fato sua aventura.
Então continuem lendo a fic. Porque aqui para frente ela não ira mais parar!!! kkk
Antes de dar tchau, gostaria de saber o que estão achando da forma como escrevo a fic. Legal? Interessante? Lerdo de mais? Cansativo? (A opinião de vcs me ajuda muito).
Até a proxima!!!



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