Psicologia Sincera com Impmon escrita por L R Rodrigues


Capítulo 1
1ª Sessão: O que tem de errado comigo?


Notas iniciais do capítulo

Tenha uma boa leitura!



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Alguém batera na porta do consultório de número 666 - em relevo e pintado de vermelho - cujo lado da frente tinha um adesivo de carinha feliz e umas mensagens escritas em caneta como, por exemplo, "Morra, Impmon, Morra!". Além disso, o paciente reparou num desenho nada discreto de um pênis entrando na boca de uma caricatura de Impmon com olhos trocados por dois X. 

Ele se sobressaltou ao ouvir a voz daquele que seria o seu guia para um novo estilo de vida. 

— Pode entrar! Anda logo! 

— Tá, Ok... - disse o rapaz, abrindo a porta rapidamente. Enquanto fechava olhava para o profissional como se o analisasse - Sem querer ofender, mas você parecia maior nos cartazes. 

— Tá me chamando de baixinho é? - indagou Impmon, ligeiramente aborrecido, tirando os pés da sua mesa e quase se levantando. Estava no maior e mais puro sossego recostando-se na sua cadeira giratória. Um monitor de PC à sua esquerda estava ligado. - Eu ser mais alto na divulgação não é culpa minha! - falou com o polegar apontado para si - Foram os caras do Photoshop... que eu autorizei. - virou o rosto diminuindo o tom - Mas chega de delonga! O que você veio fazer aqui? Além de frustrar minhas expectativas pra um dia folgado. - pusera os óculos de grau pequeno. 

— Ahn, eu soube que você lida muito bem com humanos que passam por crises depressivas e outros problemas correlatos. - disse o paciente, sentando-se. 

— Ficou tão a vontade de repente. Não te mandei sentar. - disse Impmon, ranheta. 

— Ah, então não é pra... - o rapaz se levantou depressa. 

— Vai logo, senta aí! - falou Impmon, impaciente. - Odeio quando chegam pessoas como você que ficam querendo intimidade logo no primeiro dia. Que saco hein. - verificou no computador, movendo o mouse com rapidez - Deixa eu ver... Lucas é o seu nome. Trouxe uma ficha completa, meus parabéns. Informações prévias de Lucas Rodrigo: Pai ausente, estudou em duas escolas de quinta categoria e tem um péssimo gosto pra filmes. 

— Ei, dá um tempo. Não tive um pai do meu lado, mas tenho muito orgulho dos colégios que frequentei. - disse Lucas, assumindo uma postura séria - Bem... só do primeiro, pra dizer a verdade. Ah, e meu gosto pessoal pra filmes não devia ser questionado num formulário de cadastro. Além do mais, essa empresa tem uma burocracia medonha. Reverti toda a grana economizada pra cinco meses do meu plano de saúde apenas pra pagar uma taxa de inscrição. Isso é loucura. 

— Loucura é curtir esses filmes aqui. Sério... - virou o monitor para Lucas - Matrix? 

— É um clássico. 

— É uma bosta superestimada! - resmungou Impmon - Mas quem sou eu pra falar? Sou psicólogo, não crítico de cinema. E é pra isso que investi pesado nesse trampo, pra fazer as pessoas sorrirem pra vida. 

— Eu vi uma menina correndo e chorando, com certeza do seu consultório. 

— Acontece que nem todo mundo tem estômago para os meus métodos pouco ortodoxos. - disse Impmon, gabando-se e acedendo uma chama num dedo. - Quero pagar minha dívida com a sociedade. 

— O que você fez? Roubou? Matou? Estuprou? 

— É uma história longa demais pra uma sessão de cinco minutos. 

— O quê?! Cinco minutos? - espantou-se Lucas, segurando-se na cadeira. - Ficou maluco? - olhou no relógio de parede. - Cheguei aqui eram 10 em ponto. Passaram-se três minutos. Sacanagem isso. Por que não avisou logo? 

— Olha, seu nerdzinho exigente, aqui eu trabalho com regras, regras muito rígidas. - disse Impmon, com as mãos apoiadas na mesa e o rosto bem próximo ao do paciente - Então não vou aturar reclamações de um novato. Será que ficou claro? É, com essa cara de nervoso acho que intimidei você, bom sinal. O negócio é o seguinte: O seu pacote é o básico plus. Ou seja, tem direito a um bloco de 12 sessões semanais. Vamos começar antes de acabar o tempo? 

— Faltam só dois minutos. Isso não é justo. 

— Se tá achando ruim, fica à vontade e vaza daqui 

— Não, vou ficar sim, uma chance de ser ouvido por alguém não me aparece todo dia. Olha, eu... Me sinto extremamente diferente das outras pessoas, um completo estranho mesmo sendo apenas um rosto no meio da multidão. 

— Tem na sua ficha. - disse Impmon, olhando novamente para o monitor - Sem amigos, sem namorada e um completo desocupado. Prossiga. Não olha pro relógio.

— Não sei o que diabos tem de errado comigo para as pessoas me ignorarem como se eu fosse um fantasma. É essa a imagem que moldei de mim nesses últimos anos. Sou um fantasma que nasceu por acidente. 

— Você sofreu bullying em algum momento? Eu já pratiquei bastante. Por isso dei vida esse lugar. 

— Já tive minhas nêmeses de adolescência. Será que eu exalo fraqueza? As pessoas detectam coisas tão claras pra elas que são ocultas pra mim? Enfim, é culpa da minha introversão, não me encaixo bem socialmente. 

— No fundo você culpa as pessoas... Mas já parou pra pensar que essa bagaça estar do jeito que está não é causa e efeito dos seus traumas? Você também precisa fazer sua parte, tem que ser recíproco. Tudo bem querer um momento "me deixa", todos precisam disso de vez em quando, mas você tem um compromisso, um papel social dentro dessa caótica natureza humana. Não deve exigir que as pessoas venham até você o tempo todo, precisa se arriscar e ir em frente. Ou prefere continuar um inútil desprezado por todos à sua volta?

— Você tá me dando um conselho ou uma obrigação?

— Se conselho fosse importante não se dava, vendia. - disse Impmon, entrelaçando os dedos com os cotovelos apoiados. Ele deu uma olhada de lado para o relógio e um sorriso de canto incomodou a Lucas que se mantinha calmo ou pelo menos tentava - E por falar em vender... é justamente o que o departamento faz. 

— Deixa eu ver se entendi... - Lucas o fitou de modo incisivo - Tenho que pagar pelas consultas também? 

— É isso ou o pacote é cancelado em caso de rescisão. Foi como eu disse antes: Se tiver afim de ir embora, fique à vontade. 

— Você não dá a mínima né? 

— Eu sou pago para ser honesto com pessoas que tem medo de serem honestas ou não querem ser por falta de caráter. Não pra afagar cabecinha de gente chorona. E nosso tempo acabou. 

— Até semana que vem. Você é um péssimo psicólogo, mas tô curioso sobre essa sua... sinceridade. Talvez valha a pena no fim das contas. - Lucas sorriu fraco.

— Não posso garantir nada. - disse Impmon, sério. Levantou a mão como aceno - Até a próxima sessão. E por favor não repara nos desenhos da porta. 

— Tarde demais. - disse Lucas, saindo da sala - Você tem fãs adoráveis, pelo visto. 

— Dá o fora! - gritou Impmon, lançando uma chama. 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado da proposta heheh xD



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