Então, Bella Swan percebeu que Riley Biers poderia ser uma opção.

Não só porquê Riley era inteligente e divertida, ou porquê era paciente com relação às suas cicatrizes emocionais — sobre como ela ainda estava machucada, sobre como tinha medo de ser abandonada novamente —, mas também pela forma como Riley sempre parecia perceber que ela não estava bem. Em alguns momentos aleatórios, Bella se lembrava da ruiva, da forma como a deixou sozinha em um restaurante que ela não conhecia, obrigando-a a pedir ajuda ao garçom que prontamente chamou um táxi para a garota.

Era em momentos como esse em que Bella Swan olhava para Riley Biers e tentava se imaginar com ela — as duas juntas juntas, como Riley sempre pareceu desejar.

Em momentos como esse, onde Bella estava tão próxima que um pequeno passo para frente faria com que seus lábios se colassem — ambos quentes, vivos, pulsantes —, Riley se repreendia por se entregar a tais delírios. Ela sabia que Bella estava fragilizada, mais que isso: estava machucada, quebrada. E Riley estava lá por ela, sempre, com uma caneca de chocolate quente, um ombro amigo e uma piada ruim que faria a garota de olhos azuis sorrir.

E Riley era uma boa garota, apesar de tudo. Ela sempre animava a Swan, de forma que até o chefe Swan teve que admitir — a amizade estava realmente fazendo bem para a filha. Ele quase podia dizer que não realmente detestava a garota Biers.

Talvez só um pouco.

Mas, enfim, tudo começou a realmente acontecer quando Riley convidou Bella para dormir em sua casa. O chefe Swan apenas torceu a boca em desaprovação, mas não proibiu — o que deveria ser uma evolução, certo?

De qualquer forma, Riley passara os últimos dois dias limpando cada centímetro de seu quarto e andando em círculos, roendo as unhas e arrancando os cabelos — mas não, ela não estava nervosa como sua irmãzinha aborrecente Allyson insistia em afirmar.

Quando Bella finalmente chegou, Riley disparou para a porta, mas sua irmã foi mais rápida e acabou apresentado-se a Swan por conta própria — além, é claro, de sussurrar o quanto Riley estava "de quatro" por ela. Porquê, sério, de jeito nenhum a loirinha perderia a oportunidade de ver sua irmã agindo como uma bobona apaixonada.

Então, depois de Riley ficar toda vermelha e Bella beijar sua bochecha achando-a a adorável, elas subiram para o quarto da Biers — que, na verdade, era o sótão.

Ei, mas o lugar tinha personalidade.

As paredes possuíam uma pintura escura e estavam cobertas com pôsteres de bandas de rock dos anos 80. A cama ficava posicionada estrategicamente abaixo da única janela do lugar, que possuía uma escrivaninha antiga e um guarda-roupas meio surrado.

Tudo perfeitamente limpo, ela reparou; Riley havia até mesmo dobrado a roupa suja do cesto.

E uma faísca brilhou em seu peito quando ela percebeu isso, porque, caramba, Riley era tão absurdamente adorável fazendo todas aquelas coisas pra ela. Pedindo a sua pizza favorita, deixando-a escolher que filme iriam assistir — e ela nem mesmo dormiu vendo Romeu e Julieta. Riley abraçou a garota enquanto ela chorava, completamente emotiva e envolvida com a história trágica, mas, diferente de Edythe Cullen, Riley Biers não riu dela.

Riley não riu, não chorou junto, não disse uma palavra. Ela apenas abraçou Bella, enxugou suas lágrimas e deixou uma suave carícia em seu cabelo cor de mogno. E Bella entendeu o que ela quis dizer. Ela estava apenas reafirmando aquilo que Bella já sabia — ela era um porto seguro, um lugar onde a garota poderia baixar suas defesas, alguém que ela sempre teria para recorrer.

Então, Bella Swan percebeu que Riley Biers poderia ser uma opção.

Enfim, em algum momento da noite os filmes acabaram. E as duas garotas deitaram-se sob a cama e Riley abriu a janela para que pudessem observar as estrelas — não que você consiga ver muitas em Forks.

E entre confidências e sussurros, protegidas pela escuridão da lua nova, Riley entendeu que ela poderia ser uma opção para Bella Swan. Que poderia ajudá-la a superar a ruiva sem coração. Que cicatrizaria todas as feridas na garota; a abraçaria apertado e ajudaria a colar novamente todos os pedaços de sua alma.

Droga, poderia até mesmo se vestir com um dos vestidos de sua irmã e falar com o chefe Swan se isso fizesse Bella feliz. Passaria um dia inteiro vendo filmes antigos que a deixavam com sono, jogando futebol e fazendo os malditos deveres de cálculo se, ao fim do dia, houvesse um sorriso nos lábios da garota.

Ela seria uma boa garota — pararia de beber e focaria nos estudos. Faria planos para a faculdade, dobraria suas horas de trabalho, faria aulas no verão.  Voltaria a falar com sua mãe, tentaria manter uma boa relação com ela. Qualquer coisa que a deixasse um passo mais perto de ser merecedora de Bella Swan.

Ela se sentia incrível nesse pequeno milésimo de segundo. Poderia segurar o céu sob suas costas, se Bella pedisse. Melhor ainda: poderia roubar as estrelas para ela.

Porquê Riley a amava tanto que chegava a doer. Porquê Riley adoraria ter seu coração partido por Isabella Swan.

Porquê Bella segurava Riley em seu olhar — porquê ela era apenas uma garota de subúrbio, com uma família problemática, mas Bella a fazia se sentir a própria rainha da Inglaterra.

Ela não tinha muito a oferecer.

Não tinha almoços em família, festas ou jantares. Apenas ela e a irmã, comendo alguma coisa congelada em frente à TV em um sábado a noite. Só um quarto em uma casa de tamanho razoável, uma garagem cheia de peças de carro e um cachorro que parecia o Garfield.

Mas ela tinha exatamente aquilo que a Swan queria — Riley mostrava sempre o lado bom da vida nas pequenas coisas. E ela amava a Swan. E esse amor ultrapassaria qualquer barreira, o tempo e o espaço.

Então, Bella Swan percebeu que Riley Biers poderia ser uma opção.