Operação Jardim Secreto escrita por Lura


Capítulo 13
Festival Cultural


Notas iniciais do capítulo

Olha que capítulo "gigantão"!

Então pessoas, seguinte: Esse capítulo ficou grandão, espero que não tenha ficado confuso. Eu quase, quaaaaaaase dividi ele em dois.

Seguindo as informações sobre o capítulo, já aviso que ele vai ter um clichezão, porque eu goxxxxto de clichês, espero que curtam também.

O que mais...? Ah sim. Eu tentei descrever as fantasias dos personagens por cima durante o capítulo, mas vou deixar os links para as imagens de inspiração nas notas finais, caso alguém se interesse (tem coisa pra caramba).

Por fim, agradeço aos leitores que comentaram o último capítulo!

É isso. Espero que gostem.

P.S.: Lembrando que a fic está adiantada no Spirit.



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O atleta moreno, cujo ostentava um topete loiro peculiar - alguns diriam estranho, mas tudo é questão de gosto - circulava de um lado para o outro, entre os colegas que se ocupavam de ajeitar os próprios figurinos.

Sentia, a cada segundo, que poderia morrer dentro daquela pesada e incômoda fantasia de Leão, a qual acabara de colocar e já não via a hora de se livrar. Talvez, aquela fosse a vingança pessoal de Marinette sobre si, pensava, apenas para se contradizer logo em seguida. Afinal, a mestiça não estimava todo o ridículo que iria enfrentar por causa dele, quando os papéis da peça foram determinados.

Por causa dele.

A repetição dessa constatação, em sua cabeça, fazia com que aquela pequena pontinha de remorso em seu interior, incomodasse feito um espinho no pé: Mínimo, sim, mas não imperceptível ao ponto de ser ignorado com facilidade.

Todavia, tentava arrastar o julgamento de sua consciência com o argumento de que não tinha a intenção de causar um estrago tão grande na vida da asiática. Pois não tinha mesmo.

No início de toda aquela história, havia ficado apenas curioso, e posteriormente, um tanto irritado com Adrien e todo seu moralismo, que fazia com que todos ficassem ao lado dele. Era bem verdade que queria, sim, ver o modelo se constranger, ao menos um pouco, contudo, naquela história toda, o loiro fora o menos prejudicado. Quem acabou pagando o pato, foi justamente a colega que sempre se esforçava para que tudo corresse bem para seus companheiros de classe.

Para quê, afinal? Os integrantes originais da “Operação Jardim Secreto”, assim como a operação em si, continuavam sendo o mistério. E embora todos tivessem assumido, com o incidente dos cartazes, que Marinette era a verdadeira identidade de “Lótus”, a mestiça recusou-se a comentar qualquer coisa sobre o assunto, o que fazia com que tudo, na verdade, não passasse de uma fofoca de proporções desastrosas.

Frustrado, precipitou-se em decidir desvendar o mistério por si mesmo e sanar a curiosidade que ainda lhe atazanava. Claro que, para tanto, não tinha o plano mais brilhante do mundo, mas também não se incomodava com esse pequeno detalhe.

Assim, caminhou resoluto, entre os colegas, até parar em frente de uma pessoa em particular.

— Você! - Exclamou, chamando a atenção de Rose.

A loira, a qual estava caracterizada com uma elegante fantasia de elfa, composta de uma longa bata verde musgo, calça e botas pretas, o encarou, curioso.

— Você é a “Rosa”. - Não era uma pergunta.

E ele podia estar ficando louco, mas jurava ter visto um brilho de compreensão tomar os olhos azuis. Todavia, no instante seguinte, a face da loirinha exibiu um semblante confuso.

— Como assim, Kim? - Perguntou, com ar risonho. - Meu nome e RO-SE. - Falou, pausadamente. Rose, com “E”, não Rosa, com “A”. - Concluiu.

O atleta estreitou os olhos, de forma irritada.

— Você sabe muito bem do que estou falando. - Afirmou. - É claro que a “Rosa” só pode ser você! - Deduziu. - Parece com seu nome e você também não usa nada que não seja dessa cor. - Explanou.

A adolescente bufou.

— Eu não sei do que você está falando, mas, de qualquer forma seus argumentos não são convincentes. - Revelou, dando dois tapinhas de conforto no ombro do garoto a sua frente. - Devia aperfeiçoá-los, sem tem a intenção de seguir carreira investigativa. - Aconselhou, antes de dar as costas e se afastar.

— Então quem é você? - Kim gritou, ameaçando segui-la. - “Girassol”? “Violeta”? - Tentou , mas não obteve resposta.

Contrariado com a falta de colaboração da colega, pôs a cabeça para funcionar, tentando imaginar que outra aluna de sua classe se encaixaria com o codinome “Rosa”. Afinal, melhor seria que ele desvendasse as flores do jardim uma a uma. Foi quando sua mente deu um estalo, fazendo com que seus olhos, automaticamente, procurassem a garota que, assim como ele, não estava nada feliz com a própria fantasia. Não demorou muito para que a localizasse e cruzasse o espaço entre eles.

— Você é a Rosa! - Exclamou para Alix, sem rodeios, da mesma maneira que fizera com Rose, na esperança de confirmar sua suspeita ao flagrar uma reação de surpresa.

Para sua frustração, a patinadora apenas arqueou a sobrancelha direita, em sinal de dúvida.

— Não. Eu sou a fada. - Negou, em tom ironicamente didático. - Ou ao menos serei, se conseguir ajeitar essa maldita fantasia! - Acrescentou, empenhando-se em ajeitar suas asas de papel celofane, as quais estavam tortas em um ângulo engraçado.

— Não se faça de desentendida. - Exigiu o atleta, irritado. - Você sabe que estou falando sobre a “Operação Jardim Secreto”. - Afirmou.

— Sim, e eu sou a fada do “Jardim Secreto”. - Repetiu, não se preocupando em desviar os olhos da tarefa que vinha desenvolvendo para encará-lo. - As flores são Chloé, Kagami e Alya, vai conversar com elas, vai! - Dispensou-o com um gesto de mão.

O rosto de Kim assumiu uma coloração avermelhada, mas tal fato passou despercebido pela esportista de cabelos rosados.

— Eu não estou falando do teatro! - Exasperou-se, sabendo que a garota o estava enrolando. - Estou falando do plano que a “Lótus” fez para conquistar o “Botão de Ouro”. - Emendou. - O qual eu tenho certeza que você fez parte. - Revelou.

A menina rolou os olhos para cima.

— E você tem certeza por…? - Incentivou.

— Você tem cabelo rosa. Então, só pode ser a rosa. - Externou sua conclusão distorcida, a qual era brilhante, na sua visão. Tanto que, estranhou quando uma risada sarcástica abandonou a garganta da patinadora.

— Você é idiota assim naturalmente ou treinou para chegar a esse nível? - Alix questionou, posicionando as mãos na cintura, sem se importar em ver os olhos castanhos do outro se estreitarem em irritação.

— O quê? Por quê? - Perguntou Kim, em tom indignado.

— Para começar, sua linha de raciocínio é completamente infantil. Seus dons investigativos são péssimos, espero que não pretenda viver disso, ou vai morrer de fome. - Debochou. - Em segundo lugar - Continuou, antecipando-se a resposta malcriada que certamente viria. - Se eu estivesse envolvida em um plano tão secreto a ponto impor o uso de codinomes, por que eu contaria a você? - Inquiriu. - Para vê-lo abrir essa maldita boca e expor tudo em um teatro? - Seguiu perguntando, assumindo uma feição verdadeiramente irritada. - Ou para ver você correr e contar tudo a Chloé, para submeter a coitada da Marinette a maior humilhação da vida dela? - Completou, ficando nas pontas dos pés a fim de ficar na mesma altura do outro.

O atleta chegou a recuar um pouco, assustado com a reação da colega, sem ignorar que, novamente, aquela pontinha de culpa alfinetou seu interior.

— Sabe o que você fez, Kim? - Alix Continuou, percebendo que ainda não estava satisfeita. - Você acabou com a Mari. Porque agora, não importa se outra pessoa for a “Lótus”, pois todos acreditam que é ela e a ridicularizam por isso. - Concluiu.

Surpreendendo a si próprio, o moreno abaixou a cabeça, sentindo o desabafo da menina de cabelos rosas pesar em suas costas. E um minuto mudo, preenchido apenas pelos irritantes ruídos ambientes, seguiu-se entre os dois, até que o atleta tornasse a se manifestar:

— Eu não queria prejudicar a Marinette. - Defendeu-se, baixinho. - Eu só contei para Chloé porque estava curioso. Verdade que eu pretendia zoar o Adrien - Admitiu, erguendo a fronte -, mas não imaginava que a Marinette ia passar por tudo isso. - Emendou.

— E o que você estava pensando? - Indagou a garota, em tom irônico. - Que iria fazer um pacto com o diabo ele caridosamente selecionaria as suas vítimas? - Debochou.

— Não fale assim da Chloé… - Foi a única coisa que o atleta conseguiu responder, embora seu timbre estivesse desprovido de confiança.

Outra risada sem humor emanou da patinadora.

— Claro. - Comentou. - No fim das contas, você ainda a defende. - Acrescentou, desacreditada.

Por longos segundos, os dois adolescentes apenas se encararam, a tensão que emanava de ambos sendo quase palpável para qualquer um que estivesse perto o bastante.

— Você me dá nojo. - Alix, por fim, rompeu o silêncio, afastando-se a passos largos em direção às colegas que estavam conversando do outro lado.

Kim, por sua vez, ficou estacado no mesmo lugar, perdido nos próprios pensamentos e rechaçando a tal culpa, que definitivamente, já não se limitava apenas a uma pontinha.

 

• • •

 

Adrien encarava seu reflexo, no espelho embaçado do banheiro da escola, enquanto amarrava os cordões de sua blusa branca.

Ao concluir, analisou a imagem refletida. Em razão de poder visualizar apenas metade de seu corpo, não saberia dizer se a combinação da camisa estilo bata, com as calças e as botas de montaria, passavam a impressão de um vestuário antigo.  Entretanto, não podia negar que o trabalho de Marinette havia ficado primoroso, de qualquer forma. A menina havia conseguido costurar blusa um casaco estilo sobretudo, que remetiam épocas passadas sem que, de forma caíssem no ridículo. Na verdade, perto de alguns de seus colegas de classe, os quais estavam fantasiados de animais e criaturas míticas, o loiro podia dizer que estava muito bem, obrigado.

Terminando de ajeitar a gola, tateou a pia, de forma automática, em busca do casaco que completaria a produção. Contudo, só encontrou suas roupas casuais, devidamente dobradas.

Com um muxoxo desanimado, concluiu que havia o esquecido na sala. Mylène certamente reclamaria por ele ter que voltar ao andar de cima, quando todos já deveriam estar posicionados, esperando no jardim dos fundos. Para sua sorte, toda a programação estava atrasada, de modo que, se conseguisse passar despercebido em meio às centenas de pessoas que já circulavam pelo colégio, poderia ir e voltar sem se indispor com a colega.

Concentrado em tal propósito, apanhou seus pertences, virando-se para ir ao mesmo tempo em que a porta verde do box individual exatamente a sua frente se abriu, revelando por usuário Nino, seu melhor amigo.

Ao perceberem que estavam cara a cara, os dois garotos se fitaram, de forma séria. Ainda estavam um tanto chateados em razão da discussão ocorrida no dia anterior, era bem verdade, mas não chegavam a estar irritados.

Na verdade, O DJ percebeu até certo receio, da parte do modelo, não demorando muito para compreender a razão: Adrien, durante muito tempo, teve por relacionamento apenas o pai - que mal lhe dava atenção -, a assistente dele, o próprio motorista e Chloé Bourgeois. Logo, era mais que compreensível que não soubesse como agir ao discutir com um amigo, uma vez que aquilo provavelmente era novidade para ele.

O moreno já estava se preparando para passar por cima do próprio orgulho para dizer que estava tudo bem, quando percebeu o rosto do amigo tensionar. Tensionar de forma anormal.

Intrigado, chegou a pensar que tinha interpretado errado e o loiro ainda encontrava-se irritado, pensamento apenas corroborado com o fato da face dele enrubescer gradualmente, e seu semblante se contorcer em uma careta de grande esforço.

Até que, surpreendendo-o, Adrien explodiu em gargalhadas.

Nino piscou, aturdido. O que diabos estava acontecendo com aquela criatura?

Era visível que, a todo momento, o modelo tentava se conter, ora tragando uma generosa quantidade de ar, ora comprimindo os próprios lábios. Todavia, involuntariamente, sentia as risadas rasgando-lhe a garganta e pulando para fora, escandalosamente, sem ignorar que a pessoa a sua frente aguardava uma explicação.

— O-or… - Gaguejou, em meio ao riso, tentando fornecer um esclarecimento. - O-relhas… - Tentou novamente, aos tropeços, formulando uma palavra compreensível, apenas para continuar gargalhando em seguida.

Percebendo que um brilho de compreensão tomou o olhar do DJ, o loiro preparou-se mentalmente para mais uma briga ou, no mínimo, alguns palavrões e xingamentos.

Mas ele não esperava, realmente, que Nino fosse rir junto com ele. Tanto que parou por um segundo, estupefato, apenas para, no seguinte, cair em risos novamente.

No fim das contas, quando deram por si, os dois jovens estavam rindo um do outro.

— Cara… - Completamente sem fôlego, Adrien apoiou-se na pia para se recompor. - Essas orelhas estão ridículas. - Opinou, sem dó.

O moreno brincou com os vértices pontudos de borracha que deformavam suas orelhas para que elas parecessem as de um elfo. Não tinha o que reclamar da fantasia, achava que o conjunto azul acompanhado da capa marrom estava até razoável. Mas as orelhas, tinha que admitir, não tinham como agradar. Todavia, não chegavam a incomodar a ponto de motivar uma reclamação.

— Pelo menos eu não vou ser chamado um dia inteiro pelo nome mais zoado de todos. - Provocou, dando de ombros. - “Botão de Ouro”. - Acrescentou, Armando aspas com os dedos para enfatizar a palavra em um tom infantil.

— Cara! - O modelo decidiu revidar. - Você é um elfo de óculos! Não tem como ser pior que isso. - O loiro devolveu.

Os dois riram novamente, até que, alguns minutos depois, sentiram a euforia do momento se esvaecer, dando lugar ao constrangimento.

— Então… - Agreste começou, disposto a dissipar o clima desagradável. - Estamos de boa? - Indagou.

— Estamos de boa, cara. - Nino confirmou, vendo o amigo suspirar, aliviado. - Você vai mesmo conversar com ela hoje? - Mudando para um assunto correlato, indagou sem rodeios.

Adrien sabia que por “ela”, Nino queria dizer “Marinette” e que, “conversar”, traduzia-se em “rejeitar”.

Afinal, aquele havia sido o motivo da discussão do dia anterior. Nino estava determinado a não permitir que o amigo rejeitasse a mestiça antes do festival cultural, sob o argumento de que ela não merecia mais um problema para lidar até que tudo aquilo acabasse, motivo que não foi recebido de muito bom grado pelo modelo, que recém havia saído de sua frustração de sempre ter as próprias vontades preteridas.

Logo, quando percebera, Agreste já tinha saído batendo os pés, afirmando que faria o que bem entendesse, e ninguém poderia lhe impedir.

Claro que, mais tarde, ele acabou refletindo nas palavras do amigo, e vendo que ele tinha sua parcela de razão, embora ainda acreditasse que deveria ser sincero com a asiática. Entretanto, não haveria prejuízo em adiar um pouco esse momento, certo?

Até porque, Marinette sequer havia se confessado para ele devidamente. Havia, sim, admitido seus sentimentos por ele perante sua identidade heróica, porém, não fazia a mínima ideia da pessoa que a escutava por trás da máscara.

— Hoje não. - Emergindo dos próprios pensamentos, respondeu.

— Certo. - Foi a única coisa que Nino disse. Não queria correr o risco de provocar mais uma discussão.

Conversa encerrada, os dois amigos saíram lado a lado do banheiro, para se espremerem entre a multidão até que pudessem alcançar o fundo do pátio, que dava acesso ao jardim, onde seus colegas de turma se concentravam. E foi apenas ao chegar no local e ver-se sob o olhar inquisidor de Mylène - o qual não era em nada amenizado pela fantasia de coelho que ela usava - que Adrien percebeu seu erro: Havia esquecido de buscar seu casaco.

— Ainda não está pronto? - Questionou, notando a fantasia incompleta. - Poxa vida, você é a Marinette, heim?! Sempre atrasados, não podiam se esforçar ao menos dessa vez? - Reclamou.

— Será coincidência justamente os dois estarem atrasados? - Kim, que por motivo desconhecido para a maioria, nunca estivera com o humor tão ruim, alfinetou, recebendo, imediatamente, o olhar furioso de seus colegas de sala. - Quê? - Perguntou, de forma dissimulada. - Vocês sabem o que todos estão dizendo. - Deu de ombros.

— O que todos estão dizendo não importa. - Alix ralhou.

— Ah, a fadinha não podia deixar de se meter. - O atleta debochou, vendo a patinadora corar irritada.

— A Marinette estava surtando com os figurinos, falando que não tinham ficado bons e tal, então a Alya a arrastou ela pro banheiro para se arrumar. - Ignorando o rapaz, a menina de cabelos Rosa explicou para a loira de dreads. - Se não ela ia acabar entrando do jeito que estava. - Concluiu.

— Uma bela desculpa para fugir da fantasia de bruxa. - Chloé provocou, ajeitando, com os dedos, os longos cabelos louros que caiam em cachos de um penteado elaborado. Ninguém queria admitir, mas a filha do prefeito tinha ficado realmente bela em seu traje formado por uma camisa branca de mangas compridas adornadas com babados, acompanhada de um corpete negro e saia longa armada na cor amarela. - Imaginem só, ela ficando ainda mais ridícula que já é. - Emendou.

Alguns dos alunos ao redor não puderam evitar de rolar os olhos para cima, sabendo que viria confusão. Ou talvez não. Afinal, Alya não estava por perto.

— Não é verdade! - sem saber exatamente o que dizer, Rose defendeu. - A Mari não é ridícula e eu duvido que vá ficar. Afinal, ela é muito competente. - Afirmou, torcendo a barra da bata verde de sua fantasia de Elfa. Por sorte, ao contrário de Nino, em vez de orelhas de borracha, ela estava usando uma espécie de brinco que dava o efeito pontudo as suas orelhas.

— Vocês falam como se ela tivesse costurado tudo isso. - A loira desdenhou,  meneando a cabeça. - Por favor, ela só adaptou nossas roupas. A única coisa que ela costurou da minha fantasia foi a saia, o resto eu mesmo dei a ela. - Menosprezou.

— É fácil fazer pouco do talento dos outros quando não se tem nenhum. - Alix avançou alguns passos, tornando a entrar na discussão, sentindo seu ombro direito ser amparado pelas tímidas mãos de Juleka, que não sabia se continha a colega ou se ajeitava o arco com as orelhas e chifre de unicórnio, que insistia em cair.

— Chega, todos vocês! - Mylène, tomando a liderança, gritou. - Quero que se lembrem que a nota de todos nós depende dessa porcaria de teatro! - Esbravejou, perdendo a compostura. - Sem ofensas, Nathaniel. - Acrescentou para o ruivo fantasiado de raposa, autor da peça, o qual apenas deu de ombros. - Então, ao menos uma vez, parem de agir como crianças e se comportem. - Coordenou, vendo os colegas reagirem de diferentes maneiras a repreensão. - E você - Continuou, apontando o dedo indicador para Adrien, que recuou dois passos, assustado. -, vá terminar de se vestir.  Depressa! - Concluiu com um berro, vendo o loiro correr o quanto podia na direção oposta.

 

• • •

 

Mais uma vez, Adrien se espremia entre as pessoas, a fim de alcançar a escada que dava acesso ao piso superior, sem conseguir evitar de ser assediado por uma fã ou outra. Por sorte, o andar de cima estava fechado para os visitantes, de modo que poderia mover-se com mais facilidade.

Quando encontrava-se a menos de dois metros do local, apertou o passo, na esperança de que sua correria fosse o bastante para evitar ter de parar a cada dois passos para cumprimentar alguém. Afinal, Mylène havia sido taxativa quanto a rapidez com que deveria ir e voltar.

Em sua afobação, só percebeu que uma pessoa vinha exatamente em sua direção no momento em que já não poderia mais evitar o doloroso choque.

— Hei, Kagami! - Cumprimentou, reconhecendo a colega esgrimista. - Tudo bem? Você se machucou? - Indagou, preocupado.

Ignorando a preocupação do amigo, a japonesa levou ambas as mãos ao cabelo, a fim de conferir se os grampos de flores que o mantinham preso em um meio coque não haviam se soltado, encarando o modelo apenas ao constatar que seu penteado continuava intacto.

— Podia olhar por onde anda heim, Adrien! - Reclamou. - Faz ideia de como é difícil andar com esses tamancos? - Reclamou, erguendo a barra do yukata rosa claro que vestia para mostrar o calçado de madeira.

Apesar da irritação da colega, Adrien não pôde deixar de reparar o quanto a roupa tradicional japonesa lhe caía bem. Tanto que, sem pensar direito, acabou dispensando-lhe um elogio sincero.

— Nossa! Você fica realmente bem de yukata! - Comentou.

E nem toda a rispidez da esgrimista, fora capaz de impedi-la de corar naquele momento, fato que a irritou profundamente.

— O que esperava? - Indagou, tentando disfarçar seu nervosismo com malcriação. - Eu sou japonesa! Não é normal que fique bem em trajes típicos do meu país? - Indagou.

Adrien, treinado para ser sempre educado em qualquer tipo de situação, apenas abriu um sorriso complacente.

— Melhor se apressar. - Aconselhou. - Quase todos estão reunidos no pátio dos fundos e a Mylène está surtando com o atraso do pessoal. - Avisou.

— E dá para me apressar com esses sapatos idiotas? - Perguntou a menina, rolando os olhos para cima. - De qualquer forma, não acho que ela vá surtar comigo. - Ponderou. - É com você que ela está brava. - Acrescentou.

Ante as palavras da colega, o loiro crispou o semblante em confusão.

— Comigo? Por quê? - Indagou, embora tivesse noção da resposta.

E Kagami nem precisou pensar muito para lhe dar:

— Porque você é um idiota. - Respondeu, casualmente, entregando uma resposta diversa da que ele esperava, afinal. - Agora, se me dá licença… - Pediu, virando-se para sair e ensaiando alguns passos em meio ao amontoado de pessoas.

O modelo apenas observou-a, sem nada dizer.

— Ah! - Surpreendendo-o, a japonesa exclamou, voltando-se para trás. - Obrigada pelo elogio. - Agradeceu, corando intensamente, para em seguida sumir em meio às pessoas.

Adrien piscou, um tanto atordoado, sabendo que aquela breve e desajeitada conversa tinha um significado maior do que aparentava. Refletindo nas palavras da esgrimista, seguiu em direção a escada.

— “Você fica bem de yukata”. - Enquanto transpunha os degraus , ouviu a voz enjoada de Plagg, abafada pelo tecido do bolso de sua calça, remedando-o. - É impressão minha ou você tem uma queda por asiáticas? - Provocou o felino.

— Cala a boca. - Irritado, repreendeu, dando um tapinha por cima do bolso a fim de demonstrar ao kwami que não estava com humor para brincadeiras.

Uma vez no andar de cima, seguiu pelo corredor até a sua sala de aula, mal registrando, antes de abrir a porta,  que, a alguns metros dali, Alya conversava com a Srta. Bustier, da mesma forma que estas duas não notaram a sua presença. E foi somente por deparar-se com uma cena fora de qualquer expectativa, vislumbrada tão logo encostou a porta atrás de si, que a reflexão que vinha fazendo foi completamente apagada.

Parada, bem no meio da sala, estava Marinette, usando apenas um minúsculo short de lycra preto e um sutiã rosa estampado com corações brancos, cujo fecho dianteiro, estava prestes a soltar no momento em que a porta se abriu, pegando-a de surpresa.

Os dois jovens se encararam por segundos, completamente mudos e estarrecidos. Àquela altura, era difícil dizer qual deles estava mais corado.

Apenas no momento que os olhos verde-vivos do loiro desceram, de forma automática, fazendo uma triagem involuntária do corpo da mestiça, que ela, despertando de seu transe, proferiu o grito mais estridente que o modelo ouvira na vida.

— O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO??? - Aos berros perguntou, apanhando um pé de suas sapatilhas habituais e atirando contra o recém chegado.

Adrien grunhiu ao ter a testa atingida em cheio, mas nem mesmo a dor o impediu de registrar mentalmente que a garota a sua frente tinha uma mira fantástica.

— Por que você fez isso? - Inquiriu, irritado, esfregando a testa vermelha.

— Sério que eu preciso responder? - Entre à histeria e o choro, a asiática ironizou, apanhando o casaco negro que encontrava-se estendido na mesa ao seu lado para se cobrir de maneira desajeitada.

O modelo não deixou passar, desanimado, que aquele era exatamente o objeto que tinha vindo pegar, mas não podia simplesmente dizer “Hei Marinette, sabe esse casaco que está usando para tampar seu sutiã? Então, preciso que me devolva, ou vou ser dolorosamente assassinado por uma garota vestida de coelho”. Não, não havia muito o que fazer no momento, por isso seguiu plantado no mesmo lugar, pensando em suas alternativas.

— Sai daqui! - A garota ordenou, indignada pela letargia do outro.

O modelo, pronto para atender a exigência, virou-se de forma atrapalhada e puxou a maçaneta, sendo, entretanto, impedido de seu propósito de sair com a abertura brusca da porta, que o acertou e o empurrou para o canto da parede.

— Marinette! - A voz preocupada de Srta. Bustier fez-se presente. - Por que estava gritando? Aconteceu alguma coisa? - Indagou, entrando na sala feito um furacão, com Alya em seu encalço.

Ao ouvir o timbre alarmado da professora, o loiro se encolheu contra o concreto, na esperança de que a porta fosse o suficiente para ocultar a sua presença ali. Por sorte, a janela de vidro que cortava a entrada, assim como todas as outras do cômodo, que davam para o corredor, estavam cobertas com papel pardo, a fim de dar privacidade aos alunos que se trocariam ali.

Os segundos de silêncio que se seguiram, foram extremamente tensos para Adrien. Ele sabia que, se Marinette o entregasse, dificilmente sairia ileso da situação. Afinal, quem acreditaria que ele havia entrado inocentemente na sala e flagrado uma colega se trocando, bem quando a escola ainda estava um caos devido ao incidente com os cartazes ocorrido no dia anterior, cuja vítima era essa mesma garota?

Temeroso, chegou a cerrar os olhos enquanto aguardava a resposta da jovem sino-franca.

— Um gato. - A voz vacilante da menina declarou. - Um gato pulou e acertou o vidro da janela. Desculpa, eu me assustei. - Afirmou.

O modelo seguia imóvel, em seu canto, a pressão a que estava submetido tão intensa que mal teve estômago para apreciar a ironia do animal escolhido.

— Um gato? - O tom da educadora era de incredulidade.

— Uhum. - A asiática confirmou.

Mais alguns segundos se passaram, até que a professora tornasse a se pronunciar.

— Tudo bem então. - Comentou, desconfiada. - Eu vou descer para conferir a programação. Por favor, se apresse e nos encontre no pátio dos fundos. - Orientou.

— Certo Srta. Bustier. - A mestiça concordou.

Aliviado, Adrien soltou de uma vez todo o ar que vinha segurando em seus pulmões, mal percebendo se fora ruidoso ou não.

— Eu vou ajudar a Mari a terminar de se arrumar, professora. - Alya anunciou, fazendo com que o garoto tornasse a tensionar.

— Certo. Não demorem! - Pediu a mulher, deixando o ambiente e cerrando a porta atrás de si, uma vez que Marinette mal se cobria com o casaco.

E Adrien não se surpreendeu, realmente, ao ver que a blogueira não estava espantada com a sua presença ali. Do contrário, ela o encarava séria, com os braços cruzados, como se estivesse apenas aguardando a professora sair para dizer que sabia que ele estava ali desde o começo.

— Acho que encontrei o “gato” que você falou, Marinette. - Ironizou, praticamente fuzilando-o com o olhar.

Naquele momento, Marinette pareceu despertar de seu desespero pessoal, ocasionado por toda a vergonha vivida e voltou-se para a amiga, com um olhar furioso, sem descuidar da peça de roupa preta que cobria seu busto.

— Droga Alya! Você disse que ia ficar vigiando a porta! - Reclamou, à beira do choro, ignorando totalmente o comentário irônico anterior.

A blogueira arregalou um pouco os olhos, percebendo a besteira que havia feito, até mesmo se esquecendo que o loiro estava ali.

— Eu estava vigiando amiga! - Defendeu-se, levantando a barra do sári laranja que usava para correr em direção a aspirante a estilista, fazendo com que seus cabelos avermelhados, presos em uma longa trança embutida, balançassem com o movimento. - Só me virei um segundo para responder a Srta. Bustier e, quando me dei conta, você já estava gritando. - Explicou.

— E eu não tinha a menor ideia que vocês estavam se trocando aqui. Alix disse que estavam no banheiro. - O loiro podia ter permanecido quieto e saído de fininho, mas como um exímio representante do sexo masculino, não era perito em saber as melhores oportunidades para ficar calado. Ademais, ainda estava um tanto travado com toda aquela situação, de modo que sua pasmaceira o segurara no lugar até então.

— Você ainda está aqui? - Alya perguntou, irritada. - Vai embora! Xô! - Ordenou, gesticulando com as mãos para que ele se retirasse.

— Mas eu preciso pegar meu  casaco! - Contestou o modelo, apontando para a peça negra em que a asiática se envolvia.

Alya, tomando cuidado para não tropeçar na barra de sua longa saia alaranjada, não tardou em apanhar um dos cortes de tecido que sobraram da confecção do cenário e jogar por cima dos ombros da amiga, apanhando o casaco quando teve certeza que não corria o risco de a expor. Em seguida, pegou o casaco e o atirou violentamente contra o loiro, que o pegou por reflexo.

— Ai! - Exclamou, ao ter a bochecha atingida por um dos botões de metal dourado que adornavam o sobretudo. - Vocês têm que parar de ficar atirando as coisas em mim! - Reclamou.

Uma vez que havia chegado ali depois que tudo acontecera, perdendo o fantástico e certeiro arremesso do sapato de Marinette contra a testa do loiro, a blogueira não compreendeu o motivo da irresignação. Contudo, decidiu que isso também não importava, antes de rebater, de forma infantil:

— E você tem que parar de dar idiota!

A irritação tomou a face do rapaz, na forma de um imenso rubor.

— Por que todos estão me chamando de idiota? - Questionou, também de forma infantil.

— Quer os motivos por ordem alfabética ou cronológica? - Devolveu Césaire.

A esse ponto, Marinette perdeu o restante da paciência que ainda tinha, uma vez que ambos os colegas  estavam discutindo feito duas crianças birrentas, ignorando o fato dela ainda estar plantada, seminua, no meio da sala de aula.

— Saiam daqui! - Praticamente guinchou, cortando a discussão, sentindo os olhos arderem em razão das lágrimas que não tardariam a chegar.

— Não amiga, não chora! - Alya pediu, correndo de volta para a mestiça. - Vai borrar a maquiagem e ficar toda manchada. - Avisou.

— Não importa. - Choramingou.

— Importa sim! - Retrucou a blogueira, abanando os olhos da amiga com ambas as mãos, tentando evitar que escorressem. - Já basta ser a bruxa desse teatro, eu não vou deixar a Chloé ter o gostinho de te ver atuando toda borrada. Não tive tanto trabalho te maquiando para nada. - Ralhou. - E você! - Exclamou, voltando-se para Adrien. - Cai fora para a Mari terminar de se vestir, antes que eu o tire daqui no tapa! - Ameaçou.

Sabendo que a aspirante a jornalista não estava blefando, sendo realmente capaz de partir para a agressão física, o modelo não tardou a abrir a porta e retirar-se do ambiente, apenas para voltar logo em seguida, de ofegante e de olhos esbugalhados, fazendo que Marinette, qual mal tinha se descoberto, soltar um gritinho antes de tornar a se envolver com o tecido.

— Você está pedindo! - Disse Alya, perdendo as estribeiras, preparando-se para avançar contra o loiro. De fato, a garota de óculos apenas não cortou o espaço que havia entre eles para dar-lhe uns bons pontapés pois sentiu o pulso ser segurado de maneira surpreendente firme por Marinette.

Surpresa com o gesto, a blogueira direcionou um olhar inquisitivo para o braço que ainda estava sendo contido, no que a mestiça o largou de pronto. Tinha agarrado a amiga por puro instinto ao sentir que o loiro estaria em maus lençóis.

— Calma Alya! - O modelo tentava manter sua voz livre do desespero que sentia. - Não deu para sair! A Srta. Bustier está no corredor, conversando com o Sr. Damocles. - Explicou.

— E o que a gente tem com isso? - Questionou, cruzando os braços.

— Se ela me vir saindo daqui, vai saber que vi a Marinette se trocando. - Argumentou, perdendo a calma.

— Assim talvez você tenha o que merece por expor a Marinette a tanta humilhação! - Estourou Cesarie.

— Não Alya! - Marinette interviu, a voz ainda chorosa pelas lágrimas contidas. Apesar de tudo, ainda era a única que parecia pensar com clareza. - Se ele sair, também estaremos com problemas, pois o acobertamos, de certa forma. - Explicou. - E eu não preciso de outro motivo para prejudicar a minha reputação ainda mais. - Continuou, olhando de forma hostil para o loiro, que engoliu em seco. - Imagina o que diriam se nos flagrassem nessa situação, menos de vinte quatro horas depois da confusão com os cartazes. - Concluiu.

“Menos de vinte e quatro horas”, Adrien repetiu mentalmente. Menos de vinte e quatro horas antes ele estava aos berros com a mestiça em um beco não muito longe dali. E hoje havia sido presenteado com a visão dela seminua. Afinal, tinha de ser realista, Marinette era sua amiga mas ele não era de ferro. Jamais passou pela sua cabeça desrespeitar uma garota ao ponto de espiá-la se trocando, mas como supostamente deveria agir se o acaso lhe deu essa oportunidade? O que fazia com que ele pensasse até que ponto o relacionamento entre duas pessoas que até cerca de dois meses antes mal conversavam, poderia evoluir em dois dias. Se é que isso podia se chamar evolução.

— Ok. - A anuência da blogueira trouxe o modelo de volta a realidade. - Você! - Viu a morena lhe apontar o dedo indicador. - De costas para a parede. Já! - Exigiu.

O rapaz nem pensou em contestar. Apenas obedeceu.

— E você amiga, se vista logo! - Alya pediu. - Ou virão nos procurar para saber o que está acontecendo.

Embora não tenha havido qualquer resposta, Adrien escutou a movimentação apressada, indicando que a asiática atendeu o conselho da amiga. Nervoso, encarou o papel pardo que revestia a janela de vidro a sua frente. Afinal, Marinette estava se trocando bem atrás de si.

— Anda, solta esse cabelo! - O timbre da aspirante a jornalista era exigente. - Cadê a tiara? - Indagou.

— Aqui. - A resposta de Marinette veio desanimada, porém, perfeitamente audível.

— Deixa eu ajeitar. - Pediu a blogueira. - Falta só a capa agora. - Comentou, cerca de meio minuto depois. - E pronto! - Finalmente anunciou.

Sem esperar qualquer comando, o loiro virou-se num impulso, tendo que enrijecer a mandíbula para impedir que seu queixo despencasse.

Desde o princípio, quando Marinette assumiu o papel, ele não esperava realmente que ela fosse se caracterizar como as típicas e feias bruxas de contos infantis. Mas também não imaginou que ela ficaria tão bem em sua fantasia.

O vestido longo, inteiramente negro, marcava-lhe bem à cintura com uma fila de botões dianteiros e descia graciosamente rodado até os pés. A capa, em renda preta, translúcida e esvoaçante, cobria-lhe os ombros e a parte de traz dos cabelos em um capuz. A pesada sombra - que até então, ele sequer havia notado, por ter se concentrado mais em outras partes do corpo -, marcava um grosso contorno, destacando de forma extrema o azul intenso de seus olhos. Por fim, os cabelos azulados, visíveis sob a touca, caiam soltos até os ombros, tendo por adorno uma tiara dourada entalhada em flores e estrelas, com uma grande lua crescente no meio da testa.

Fosse bruxa, ou qualquer outra coisa, tinha que admitir: Marinette estava linda. Um pouco assustadora, verdade, mas linda também.

E ele não conseguia tirar os olhos dela.

— Quer um babador, Agreste? - A pergunta zombeteira de Alya tirou o loiro de seu transe.

— Alya! - A mestiça censurou, constrangida.

— Quê? Ele está praticamente te comendo com os olhos. - Justificou.

— ALYA!!! - A asiática repetiu, praticamente berrando, desejando ter um buraco onde pudesse enfiar a sua cara.

— Tá, tá. - A blogueira fez pouco caso. - Agora vamos, antes que venham nos buscar. - Chamou, caminhando em direção a porta, sendo seguida de perto pelos outros dois.

De forma cautelosa, a garota de óculos puxou a maçaneta e colocou a cabeça para fora, olhando para ambos os lados e certificando-se que o caminho estava livre, antes de chamar os amigos.

Adrien ocupava-se de abotoar o sobretudo negro, enquanto acompanhava as garotas pelo corredor deserto. Ele não tinha certeza se era intencional, mas em determinado ponto, percebeu que Alya seguia um pouco mais a frente, deixando-o para trás, com Marinette. Contudo, a mestiça apressava o passo, andando o mais depressa que a longa saia de seu vestido permitia. E embora ele tenha se esforçado, para acompanhá-la, não conseguiu, realmente, pensar em um tema para puxar assunto.

Logo, os três alcançaram o patamar inferior e, após passarem com certa dificuldade pelas pessoas que circulavam, finalmente chegaram no pátio dos fundos, sendo recebidos pelos olhares severos de Mylène e Srta. Bustier.

— Esqueceu o caminho da sala, Adrien? - A loira de dreads perguntou, no ápice de seu estresse pré-apresentação. - Qual a parte de “ir e voltar depressa” você não entendeu? - Perguntou.

Vendo o olhar da professora crescer sobre si, o loiro tratou de responder.

— As meninas estavam se arrumando na sala. Tive que esperar para poder entrar. - Mentiu, nervoso.

Felizmente, sua justificativa não foi questionada, talvez porque todos estivessem preocupados demais com a iminente abertura dos trabalhos no festival.

Assim, antes que percebessem, já tinham tomado seus lugares no jardim de origami que haviam montado no dia anterior, enquanto aguardavam a autorização para que iniciassem as apresentações.

Sabiam que tinham um longo dia pela frente, onde teriam que repetir a peça ensaiada diversas vezes, para grupos de pessoas que entrariam, explorariam o jardim, conheceriam a história e os personagens e, ao final, escolheriam com qual princesa o príncipe deveria se casar, antes de assistirem a derrota da bruxa.

Aliás, na entrada do labirinto que consistia o cenário, um número considerável de pessoas aguardava para poder entrar, em sua maioria, garotas ansiosas para ver Adrien atuando, sendo que, muitas delas, matavam o tempo lendo os exemplares impressos da HQ introdutória escrita e desenhada por Nathaniel para contextualizar os leitores na história, as quais estavam dispostas em um pequeno estande.

Mas apenas quando a Srta. Bustier contou animada, o tamanho da fila de expectadores, anunciando que o primeiro grupo estava para entrar, que eles perceberam que, talvez, o dia fosse ainda mais cansativo do que tinham calculado.

E de fato, seria.

Não somente pelos motivos que haviam imaginado, entretanto.

 

• • •

 

Era realmente uma bela tarde.

O sol brando vespertino, combinado com a temperatura amena daquele dia, contribuíam para que fosse a oportunidade perfeita para dedicar-se à jardinagem.

E era com esse propósito que Armand Chevalier caminhava pelo “Jardin D’eau”,  carregando uma bolsa com suas ferramentas em uma das mãos e transpondo com facilidade os buracos do concreto rachado. Afinal, fizera esse mesmo percurso praticamente todos os dias nos últimos… Vinte anos, talvez? Dez, com certeza.

Especificamente naquele dia, estava disposto a arrancar as pragas que ousaram crescer em meio aos seus belos canteiros. Depois, regaria parte das plantas, como sempre. Isso porque, o jardim era tão extenso que, não conseguia molhá-lo inteiro em apenas um dia. Na verdade, ele levava cerca de quatro dias para cumprir a tarefa, o que não era ideal, mas sim, o máximo que conseguia fazer um pobre velho que não dispunha de um sistema de irrigação.

Assim, antes que percebesse, estava debruçado ao lado de um dos frondosos canteiros de hortênsias, empenhando-se em arrancar as plantas malignas com a sua foice de jardinagem. E, provavelmente, teria passado horas concentrado em sua tarefa, se o som de vozes debatendo animadas, não tivessem chamado a sua atenção.

Intrigado, franziu o cenho com a possibilidade do jardim estar recebendo visitantes, dado a raridade de tal acontecimento. As últimas pessoas que haviam perambulando por ali, além dele próprio, foram a garota chinesa desastrada e o garoto loiro que lhe era familiar, quase um mês antes.

Sem conseguir conter a curiosidade, levantou-se, ainda segurando a foice, apenas para deparar-se com ninguém menos que André Bourgeois, prefeito de Paris, caminhando ao lado de um sujeito desconhecido, que aparentava ter a mesma idade que ele.

Não pode evitar de contorcer o semblante em descontentamento. Aquela, definitivamente, era uma surpresa desagradável. Tanto que, o prefeito, não parecia muito mais satisfeito.

— Senhor Chevalier. - Ainda assim, Bourgeois cumprimentou.

— Bourgeois. - O velho respondeu, com pouco caso. Há muito que usava se sua idade como desculpa para não ter que agir de forma simpática com quem não queria. - Imagino que a sua ilustre presença no jardim não seja um acaso. - Ironizou, com curiosidade e temor.

O prefeito não pode deixar de soltar uma risadinha e menear a cabeça em desaprovação a audácia do velho. Apesar disso, resolveu fornecer a informação que ele buscava. Talvez, assim, conseguisse resolver o problema de uma vez por todas.

— Não mesmo, meu caro. Viemos a negócios. - Revelou. - Este é Ives Volkov, como deve imaginar, um dos representantes da Construtora e Imobiliária Volkov. As negociações estão em fase de conclusão  e ele quis conhecer a área antes de prosseguirmos com o processo de privatização. - Explicou.

— É um prazer. - O homem estranho, o qual possuía cabelos castanhos espessos e um bigode engraçado, saudou, com um sotaque carregado.

Contudo, Armand Chevalier sequer conseguiu respondê-lo de forma apropriada. Isso porque, naquele instante, via se concretizar, diante dos seus olhos, seu maior temor.

— É um lugar fantástico, este aqui. - O estranho continuou falando, atraindo de volta a atenção do velho. - O senhor é o responsável? - Indagou, com curiosidade.

— Não oficialmente. - Bourgeois respondeu, percebendo que Chevalier ainda estava um tanto atordoado. - Esse senhor cuida do local voluntariamente. Contrariando todas as orientações da prefeitura. - Ressaltou, com desdém.

— Oh! - Volkov exclamou, percebendo a tensão entre os dois homens. -  Fez um trabalho fantástico, não posso negar. - Tentou amenizar a situação. - Uma pena que a área atende perfeitamente os interesses da empresa. Especialmente por causa do lago. - Contou.

Apenas tal afirmação, fez com que o velho conseguisse reunir suas forças para finalmente se pronunciar:

— O senhor está dizendo que vão fechar negócio? - Indagou, a seriedade e a rabugice presente em seu fiapo de voz.

— Está praticamente fechado. - Foi o prefeito que respondeu. - O senhor deveria aposentar suas ferramentas e cuidar do próprio descanso, pois em menos de um mês, esse jardim deixará de existir. - Garantiu.

— Senhor prefeito! - Volkov censurou o modo hostil com que o político se direcionou a uma pessoa de idade.

— Ele tem que saber, Sr. Volkov! - Exclamou, o tom mais brando, porém, ainda firme. - Há tempos eu venho repetindo esse mesmo discurso, mas este senhor insiste em gastar os últimos anos da vida dele em um lugar que não tem futuro! - Desabafou, fazendo com que os olhos do estranho se arregalassem.

— Sr. Bourgeois! - Tornou a censurar, dessa vez utilizando o sobrenome do outro. - Essa abordagem foi desnecessária. - expressou seu desagrado.

O prefeito respirou fundo, antes de responder. Não podia se dar ao luxo de colocar as negociações a perder por picuinha.

— O Sr. está certo. - Concordou, por fim. - Peço perdão, por ter que presenciar algo do tipo, e também ao senhor Chevalier, pela minha exaltação. - Desculpou-se, sem despir-se de seu tom superior. - Gostaria de continuar as negociações no meu gabinete? - Propôs.

— Por favor. - Ives Volkov pediu. - Eu sinto muito pela perda do lugar. - Lamentou, direcionando-se ao velho jardineiro, que apenas assentiu em concordância.

Os dois homens se despediram sem cerimônias, deixando Armand Chevalier praticamente travado, em pé, no mesmo lugar que estivera desde o início da conversa. E ali ele permaneceu ainda, por muitos minutos. Tempo suficiente para que uma borboleta negra, desapercebida no meio de tantas outras coloridas que voavam pelo local, pousasse na foice de mão, que ainda segurava.

— Um trabalho árduo e primoroso de anos é desvalorizado e descartado feito lixo. - A voz imponente, em falso tom de consolo, ecoou pela mente catatônica do pobre velho. - Uma geração que não sabe valorizar a importância e as memórias que esse lugar traz. - Continuou. - Ceifeiro, eu sou Hawk Moth, e dou a você o poder e a liberdade de cultivar tudo que quiser, onde quiser.

O velho nada dizia. Apenas seguia paralisado, com a marca reluzente da borboleta contornando seus olhos.

— Mais que isso: Lhe dou o poder de usar as suas habilidades para colher aquilo de mais importante da vida das pessoas que lhe menosprezaram. - Garantiu. - Você passou anos a fio plantando, pois chegou a hora de desfrutar de seu trabalho e colher a vitória. - Continuou seu discurso. - Isto é, desde que colha também os frutos do meu trabalho, pegando os Miraculous da Ladybug e do Chat Noir. - Condicionou. - Temos um acordo? - Perguntou, triunfante.

Foi quando o velho abriu um sorriso. Um sorriso sombrio.

— Nenhum inseto, animal ou humano mal intencionado terá chance de sobreviver em meu novo jardim. - Declarou, com convicção, antes de sumir em meio ao breu.


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Notas finais do capítulo

Vou os links, como prometido. Tem coisa pra caramba.

Lembrando que as imagens são inspirações para as fantasias. Pensem que o nível de tudo, logicamente, é menor, pois trata-se de uma peça escolar (se bem que a Mari é super competente).

Marinette:

Roupa:
https://i.pinimg.com/564x/d7/a0/19/d7a01975320cb612327ad6f6901e6a46.jpg

Tiara:
http://www.heartsongs-crystal-wands-crowns.com/nature_floral_crowns_tiaras.htm

Adrien:

https://i.pinimg.com/564x/93/f3/28/93f328defc5d49d3fe54dff44cdee248.jpg
(claro que tinha que ser o liiiiiiiiindo do Francis!)

Chloé (onde é azul na saia, imaginem amarelo):
http://www.victorianchoice.com/vc/p/p/K001BluTartan

Alya:
https://i.pinimg.com/564x/91/7a/1d/917a1d29f3f9a8087ddb55882bf1b61a.jpg

Kagami:
https://i.pinimg.com/564x/22/46/b4/2246b47dd7c55ce38fb922fdbeab94d7.jpg

Rose:
https://br.pinterest.com/pin/54254370490527794/

Alix:
https://i.pinimg.com/564x/96/aa/1f/96aa1fa73c261a657554bedf5c0152ba.jpg

Juleka:
https://i.pinimg.com/564x/b3/1a/25/b31a2558f159b92d9cb03da233b6a243.jpg

Mylène (não achei uma fantasia de coelho decente que não fosse relacionada a playboy):
https://i.pinimg.com/564x/5a/ac/f3/5aacf3849a7b7ed0c62c0858c15c354b.jpg

Sabrina (não apareceu, mas enfim):

Saia:
https://i.pinimg.com/564x/53/00/56/530056593540f059522b901ae784fc84.jpg

Bustier:
https://i.pinimg.com/564x/26/e4/5b/26e45b67364c081638a63b92c5d91583.jpg

Coroa:
https://i.pinimg.com/564x/6c/4d/24/6c4d246f0991f882899c5efc8fde4891.jpg

Até que enfim.

Bom, é isso. Espero que tenham gostado.

Beijinhos!



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