Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 8
VIII.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756291/chapter/8

O helicóptero pousou longe o suficiente para não ser ouvido e uma limusine escura os levou até o local indicado. Dentro do automóvel a dupla repassou rapidamente o plano.

Entrariam juntos e se passariam, de acordo com a papelada, por novos empresários do ramo alimentício. Cumprimentariam, acima de tudo, o alvo e sócio majoritário, afim de extrair informações sobre a planta da casa.

A planta da construção estava incompleta nos documentos e eles precisariam ter cautela, pois segundo o contratante ele mantinha uma segurança densa.

Passado os primeiros passos e tendo ciência da localização, se separariam. Arabella se infiltraria pela parte de fora da mansão no lugar indicado enquanto Samuel distrairia tanto o sócio quanto os outros empresários, exibindo-se como bem conseguia fazer.

O final desse plano seria Arabella sair sem ser percebida, com os documentos, e voltar à festa para sinalizar e irem embora. Mas precavidos como eram, pensaram logo em um plano secundário. Caso Arabella fosse detectada Samuel simularia algo grandioso.

Algo como um ataque de ciúmes, ele sugerira brincando.

Resolvidos eles desceram da limusine e rumaram de braços dados até o jardim da mansão. A construção era colossal e o terreno sumia aos olhos, com grandes árvores e descampados floridos.

De frente ao grande portão, tendo mostrado os convites falsos, eles entraram e logo se puseram dentro da mansão.

A parte interior fazia jus a exterior, com uma decoração exageradamente dourada e de peças em cristais, como o grande lustre acima de suas cabeças e as taças nas mãos dos convidados.

O salão principal não era tão grande quanto aparentava ser, denunciando uma construção ainda maior para o interior, e ao invés de uma grande escada que levava ao andar superior, duas grandes portas jaziam na parte de baixo, sendo vigiadas por grandes homens de farda.

Os malditos homens fardados.

As paredes eram de um tom creme e erguiam-se até o telhado alto. Toda a decoração valia fortunas com tapeçarias, quadros e esculturas. 

Ao redor do espaço em locais adjacentes se viam sofás, todos já ocupados, que serviam de descanso para as senhoras. Os homens, em contrapartida, pareciam também ter um lugar só deles no recinto e uma grande roda próximo a uma mesa de bebidas, com barmen e garçons, parecia agitar a parte masculina.

A dupla seguiu fielmente com o plano. Cumprimentou boa parte dos convidados, com sorrisos de orelha a orelha, se apresentando como senhor e senhora Fletcher, os novos empresários alimentícios. 

De imediato eles foram aceitos e sem qualquer dificuldade encontraram o sócio.

Ele era um homem baixo e negro, com cabelos encaracolados em cachos perfeitos. O sorriso do mesmo era límpido e seus olhos de tom chocolate pareciam a todo instante desafiar os outros. 

Foi com essa sensação que a dupla se aproximou e iniciou uma conversa superficial com ele.

No pouco tempo de diálogo, seu nome, Edward Sullivan, veio a tona. Toda sua personalidade estava moldada em seu jeito de falar: ele era autoritário, mal educado, esnobe e arrogante.

Todos esses adjetivos fizeram Arabella sorrir de lado em meio a conversa. Pessoas assim ela tinha o prazer de destronar.

Samuel, com todo seu jeito cordial, conquistou de imediato o homem, que esquecendo completamente a companheira ao lado do moreno, e se ofereceu instantaneamente para acompanhá-lo num tour pela construção ao ouvi-lo dizer que estava curioso sobre toda a arquitetura da mansão.

A primeira parte do plano já estava quase completa. Eles atravessaram as portas blindadas pelos seguranças e adentraram no lugar. Os corredores possuíam o mesmo tipo de decoração do salão principal e pareciam se tornarem labirintos após a primeira curva.

Sorte que Arabella tinha uma ótima memória.

Eles passaram, como confabularam, pelo escritório e Edward se gabou pelo seu próprio sucesso nos negócios durante todo o passeio, mas não ousou permitir a entrada na sala, ainda que Arabella tenha mostrado bastante interesse.

A conversa prolongou-se pelas posses do homem enquanto eles caminhavam pelos corredores. Vendo a oportunidade a sua frente, Arabella a agarrou.

— Me perdoem, mas gostaria de ir ao toilette.

Edward parou seu caminhar abruptamente e se virou com um sorriso torto no rosto. A presença da jovem parecia incita-lo raiva. Talvez ele estivesse absorto demais em Samuel para se preocupar com ela.

— Claro, um de meus homens a levará até lá.

Arabella não pestanejou e com uma troca rápida de olhares com Samuel indicou que estaria dando início ao verdadeiro plano. 

A dupla se separou e enquanto a jovem seguia junto a um grande e alto segurança até o banheiro, Samuel caminhou despretensioso junto ao sócio que voltou a tagarelar incansavelmente sobre sua riqueza sendo incentivado pelo moreno ao seu lado.

Arabella não prestou muita atenção no cômodo ao entrar, buscando a primeira saída, que logo encontrou: uma janela alta e inclinada para fora. De porta trancada a jovem se despiu do vestido fazendo saltar aos olhos as roupas negras que trazia por de baixo dele.

Antes de sair do sanitário, quando os seus olhos passaram pelo espelho, ela lembrou de Alex. O que ele estaria fazendo naquele momento? O que diria se a visse daquele jeito? Qual a reação dele ao saber que ela era muito mais do uma professorinha?

Arabella sorriu e num movimento rápido saiu do banheiro.

Com a ajuda de seus próprios músculos ela saltou de janela em janela, agarrando-se em suas laterais, até chegar em uma entreaberta. O lugar era um cômodo cheio de estofados e cautelosa ela entrou.

Esquadrilhando o lugar com seus​ olhos atentos ela abriu a porta principal. O corredor lá fora era o mesmo, e único, pelo qual eles haviam passado.

Fazendo uso de sua própria memória ela se localizou na instalação e em passos silenciosos e furtivos correu de volta a janela. Em movimentos quase acrobáticos alcançou o escritório e examinou o cômodo.

Através do vidro o lugar era bastante escuro e o principal, vazio. Cuidadosa Arabella pousou no pequeno espaço entre a janela e o parapeito, puxando de um dos compartimentos internos da roupa um pequeno dispositivo. 

Sem ppressa alguma ela o usou para abrir a janela e depois de longos segundos usando-o como imã para puxar a tranca, conseguiu o que queria.

As janelas abriram-se majestosas e igualando-se a uma pluma ela deu seus primeiros passos dentro do lugar. Nas paredes grandes autorretratos tomavam conta da decoração e a jovem não conseguiu controlar o riso.

— Muito ego o nome disso não é? – pensou alto.

Rapidamente ela adiantou-se na busca pelo cofre e quase sem dificuldade o achou embutido na estante de livros. Outro dispositivo foi retirado de seus bolsos e sendo acoplado a verificação de digital do cofre, acendeu em sua tela a seguinte frase:

Destravamento inicializado – 4%

Arabella suspirou e esperou por longos segundos. Quando o processo já havia passado da metade e chegava na casa dos setenta o barulho da porta destrancado fez o corpo da jovem gelar.

Num movimento rápido ela rolou silenciosa pelo chão até o lado da porta com a mão posicionada em sua arma de bolso.

A porta abriu e um homem alto entrou, fechando-a sem olhar. A garota o avaliou em poucos segundos e só faltou deixar escapar um sorriso de satisfação.

Era um dos seguranças do homem. Um dos malditos homens de farda.

Quando havia começado a odiá-los tanto?

O homem sem demora notou o movimento próximo ao cofre, do dispositivo concluindo seu trabalho e a porta do mesmo abrindo, e Arabella o atacou por trás agarrando-se a ele com as pernas ao redor da sua cintura e com os braços tentando estrangula-lo em um mata leão.

O segurança foi rápido e se chocou contra a parede enquanto a jovem, em suas costas, recebia todo o impacto. Ela o soltou e ele virou-se, pronto para massacrá-la, mas a mesma não estava mais lá.

Foi então que o homem sentiu algo puxá-lo para trás e passando-o por cima de suas costas Arabella o lançou ao chão. Ele caiu, mas rapidamente se levantou. A dupla se encarou ferozmente.

Arabella se desviava dos movimentos do guarda enquanto ele investia raivoso sobre ela. Em um dado momento um dos socos do homem quase atingiu a jovem e aturdido pelo quase acerto ele foi derrubado. Caiu de costas no chão com tudo e Arabella se pôs sobre ele o enforcando-o com as mãos.

Ele se debateu e a bateu com tudo que podia. Mas nem a mais forte tapa afastaria Arabella, ela fora treinada para aquilo. Aos poucos a força dele o foi deixando e a jovem só o largou quando este parou seus movimentos. 

Sabia que não o havia matado, pois podia ver o peito grande subir e descer com esforço enquanto seu dono jazia desacordado.

Quando sua consciência voltou a realidade ela parou de encarar o homem caído a sua frente e correu até o cofre achando facilmente os documentos. A jovem o fechou, cautelosa, e pegou de volta seu dispositivo o deixando escondido como estava.

Em seguida, num pensamento rápido, abriu uma das garrafas de whisky espalhadas pelo local e o lançou sobre o homem, pondo a garrafa quase vazia sobre a mão dele.

Num perfeito cenário de culpa.

— Alguém​ vai perder o emprego – cantarolou caminhando até a janela.

Ela simplesmente odiava homens fardados, e nem precisava de um porquê.

Sua volta ao banheiro foi rápida. Ela fechou a janela do escritório com o mesmo dispositivo que abrira, encerrando suspeitas de que alguém de fora tivesse entrado, e com graça vestiu novamente seu vestido. Com poucos segundos de frente ao espelho retocou seu visual e piscou para si mesma, sentindo os documentos debaixo de sua roupa.

Mais uma missão completa e ela continuava impecável. 

Saiu do banheiro com uma careta e em poucas palavras deixou explicito ao segurança que a “acompanhou” ao sanitário que um dos quitutes da festa não havia lhe caído bem.

O homem nada comentou ou perguntou e com rapidez voltaram a festa. Arabella sorriu para Samuel que lhe recebeu amoroso, como um verdadeiro marido. Sem muita demora despediram-se de Edward que convidou Samuel, e apenas ele, para uma próxima comemoração.

Já fora da mansão e caminhando em direção a limusine eles se entreolharam sorrindo.

— Não foi dessa vez que precisou armar um escândalo por ciúmes, querido.

— Algum dia ainda o farei, não se preocupe, querida.

Ambos riram entrando no carro.

— Talvez devesse dar uma chance para esse tal Edward – comentou Samuel se acomodando ao lado da jovem.

Seus olhos novamente se encontraram e sem conseguir controlar eles riram novamente. 

Eram bons colegas de trabalho num ramo sinuoso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Essa semana o mundo acadêmico está implorando por mim, então, para não deixar vocês na mão, cá está mais um capítulo da saga espiã de Arabella, em primeira mão!

Espero que gostem, e vemo-nos em breve ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Espion Noir" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.