Espion Noir escrita por carlotakuy


Capítulo 45
XXXXV.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/756291/chapter/45

— Outro agente conosco?

A pergunta de Alex saiu esganiçada e Arabella o observou com um sorriso divertido no rosto. Ambos estavam no quarto do garoto, com ele terminando de se organizar para irem à escola.

— Sim, um ex-colega de trabalho. Ele se apresentou ontem disposto a nos ajudar.

— Ele não me conhece – retrucou

Alex terminando de fechar o cinto – por que se disponibilizaria?

— Ele me conhece – rebateu a garota com uma das sobrancelhas levantadas – está com ciúmes?

Alex corou, mas fingiu não perceber puxando a bolsa e pondo-a sobre a cadeira do computador.

— Ciúmes? – riu – Claro que não.

Arabella sorriu abertamente saltando da cama para o lado do garoto, o abraçando por trás.

— Não precisa se sentir ameaçado – lhe sussurrou ao pé do ouvido – você é o único homem que eu quero – mordiscou a orelha do mesmo ao final.

Alex se arrepiou e sorriu inconscientemente. Fechou a bolsa e virou-se para a jovem, a puxando para si. Pararam próximos o suficiente para conseguir sentir a respiração um do outro em seus rostos e ele a fitou intensamente.

Os olhos amendoados pareciam decifra-la em casa pedaço do seu ser e Arabella se viu entregue completamente, sentindo cada pelo de seu corpo se eriçar de uma forma gostosa. Desde quando as reações de Alex passaram a voltar-se para ela de forma tão sedutora?

— Eu sei – lhe sussurrou de volta.

Arabella riu e ele sorriu, a beijando. 

Em pouco tempo eles estavam prontos e, ao invés de seguirem de carro, foram caminhando por um caminho diferente, afim de despistar possíveis perseguidores.

O percurso passou rápido, com a dupla conversando, despreocupados, sobre assuntos triviais como quais eram as próximas provas e quais os assuntos destas.

Vez ou outra, na rua pouco movimentada, se viam três ou quatro grupos dispersos. Alguns, discretamente, voltavam-se a Arabella e lhe faziam sinais, confirmando a segurança da dupla.

Chegando na escola, pouco antes dos portões, a jovem puxou o garoto para um muro encoberto e esquadrilhou a área com os olhos.

— Viu alguém? – perguntou o garoto, procurando o perigo.

— Não, só estou arranjando um lugar tranquilo para me despedir.

Ela sorriu e o beijou, sendo correspondida de imediato.

— Acho que nunca vou me cansar disso – as palavras de Alex fizeram a mesma rir.

— Está com tudo aí? Os equipamentos de Bill?

Alex assentiu.

— Para onde você vai?

— Ainda não sei – admitiu – mas ficarei por perto.

De um dos bolsos de sua calça a jovem puxou um relógio, o prendendo em seguida no pulso do garoto.

— Se caso estiver em perigo aperte qualquer um desses botões. Ele está ligado com os relógios de todos os agentes nessa escola e vai fornecer sua localização.

Alex assentiu e a puxou para um abraço.

— Vai ficar tudo bem.

Ela o apertou contra si.

— Assim eu espero – sussurrou.

Alex puxou o rosto dela para si, beijando delicadamente seus lábios e sorriu para a mesma.

— Todos vocês estão aqui por mim, vai ficar sim.

A jovem sorriu e concordou com a cabeça. Com um último beijo ela o empurrou para fora do esconderijo e acenou, observando-o adentrar na instituição. Os olhos esverdeados, após não verem mais os cabelos negros do garoto, desceram sobre um carro no outro lado da rua.

Arabella estalou os dedos da mão.

— Hora da ação— disse de si para si.

 

•••

 

Alex seguiu para a sala em passos tranquilos, colocando automaticamente os óculos de Bill ao entrar no corredor principal. Seus pensamentos estavam agitados. A presença de Arabella o salvou quando aquele homem o segurou no corredor. Se não fosse ela, ele não saberia o que podia ter acontecido.

Mas era realmente certo isso?

Deixá-la sempre preocupada em salvá-lo?

Sobrecarregar ela com sua segurança?

Ele suspirou.

Discutiu tanto com ela sobre querer protegê-la, mas até então só havia lhe dado mais preocupação. Conseguiria protegê-la no contexto em que ela nasceu e cresceu? Em que ela era considerada profissional?

Num contexto em sua morte era a principal motivação de tudo?

Alex abriu a porta da sala.

Lá estava ela de novo: sua insegurança. Até quando se sentiria assim, impotente? Até quando faria Arabella estar em perigo para mantê-lo salvo? Até quando esperaria sentado preso no seu próprio mundo?

Quando o garoto sentou-se em sua banca e voltou ao presente todo seu corpo se retesou ao notar os óculos tornarem-se vermelhos. No meio da algazarra da sala, em que os alunos sentavam-se sobre as bancas e conversavam estridentemente, estavam os olhos que o intimidaram no dia anterior.

O homem estava sentado à mesa do professor e folheava alguns papéis sem desviar os olhos da figura do garoto. Ele sorriu e Alex sentiu o coração acelerar.

Os olhos do mesmo correram a sala desesperados. Foram para a janela, da janela para a porta da porta para as bancas vazias de seus amigos. Onde estariam Brad, Henry e Thomas? Será que havia acontecido algo com eles?

Será que ele havia feito algo com eles?

Alex pensou em fugir pela porta, mas o homem estava perto demais para deixá-lo escapar. Ele pensou em pular a janela, mas estava alto o suficiente para ficar incapacitado com a queda.

Respirando fundo ele tentou tomar o controle da situação.

Apertou a bolsa contra si confirmando que os equipamentos de Bill ainda se encontravam dentro dela e encarou desafiadoramente a figura sentada mais a frente. Alex pôde ver um sorriso de divertimento surgir no rosto do homem e prendeu a respiração.

Agora era só ele e aquele homem. Não havia Arabella, não haviam agentes ou qualquer outra coisa. Era ele de frente aos seus medos.

Fechando os olhos o garoto buscou ajuda nos jogos que já jogou. Em estratégias, em táticas, em qualquer coisa que o pudesse ajudar naquele momento. E por incrível que pareça, encontrou.

A melhor tática que poderia usar agora era conseguir sair assim que a prova acabasse. Ele parecia bastante inclinado em esconder suas intenções de todos da sala e Alex, óbvio, tentaria usar isso a seu favor. Ele não faria nada com tantas testemunhas e inocentes.

Quando Alex abriu novamente os olhos a figura estava de pé e ao seu lado jazia o professor de História. O moreno parecia tranquilo e separava, em mãos, as provas que seriam repassadas, contando sua quantidade.

Estava claro que o homem estava se passando por um estagiário.

O sinal da escola soou estridente e pela porta passaram Henry, Brad e Thomas, intactos e atrasados como sempre. Aquela visão relaxou o corpo de Alex. Ao menos seus amigos estavam seguros.

— Certo pessoal, cada um para sua banca – alertou o professor chamando a atenção da turma – vou passar a prova em cinco minutos e não quero ver nada além de lápis e caneta sobre as bancas, entendido?

Houve alguns murmúrios de concordância e logo todos estavam sentados.

Alex remexeu em sua bolsa e tirou de lá duas canetas e um lápis com borracha. Encarou os objetos em mãos com segurança, depositando-os sobre a banca e pondo a caneta que Bill lhe dera em destaque.

O homem logo a frente mal se mexeu enquanto a sala se organizava. Sua primeira ação se deu quando o professor lhe entregou algumas provas. Ele o ajudou a distribuir o material e por pura ironia do destino, a banca de Alex se encontrava no corredor dele.

Alex engoliu o nervosismo e encarou o mesmo se aproximar. O homem abriu um sorriso cheio de dentes, e antes de pousar a prova sobre a banca do garoto, lhe sussurrou:

— Te achei de novo.

Ainda que o coração de Alex estivesse a mil com a ameaça logo a frente ele retribuiu o sorriso, na sua melhor atuação de confiança, e pegou a prova em mãos, pousando o olhar sobre o rosto de divertimento do homem.

— Como se eu estivesse fugindo.

O tom de deboche desconcertou o homem que passou para a próxima banca sem qualquer sorriso no rosto.

A prova iniciou em pouco tempo e entre dividir a atenção a marcos históricos e um assassino logo a frente, Alex preferiu seguir com cautela. A avaliação estava fácil e ao final de cada questão ele inspecionava a figura sombria na frente da sala, debatendo algo em tom de sussurro com o professor.

Quando o sinal soou novamente Alex respirou fundo. O professor começou a recolher as provas e o homem permaneceu parado, próximo a porta, com um sorriso de desafio.

Alex entregou a avaliação e levantou. Pensou em falar com seus amigos, mas talvez fosse perigoso demais seus perseguidores terem conhecimento deles, isso é, se já não o tivessem.

Num caminhar calculado o garoto seguiu da banca para a porta, com a bolsa em suas costas e canetas em mãos. A figura parecia ficar cada vez maior quanto mais Alex se aproximava e ele se perguntou se se fingir de confiante adiantaria de alguma coisa contra aquele homem-armário.

Alex passou dele em direção a porta e suspirou de alívio ao ver que faltavam dois passos para estar fora da sala. Mas a mão pesada e áspera do dia anterior pousou em seu ombro o segurando com força.

O jovem quis gritar, mas controlou-se e num movimento minimamente calculado espetou a mão do homem com a caneta, destravando a corrente elétrica sobre o mesmo.

O homem não tombou, como o garoto achou que iria, mas a mão que o prendia ficou estática e sem força, o soltando e dando tempo suficiente. Sem nada a perder Alex apressou o passo, saindo da sala, e ao chegar no corredor, correu.

Lá estava lotado de adolescentes e esbarrando neles Alex conseguiu se afastar da sala de História. Mas, para seu azar, entre os jovens surgiram outros dois homens que não se preocuparam com as aparências como o outro, e sem demora engataram uma perseguição.

Alex correu com tudo que tinha, o coração acelerado ricocheteando em seus ouvidos as batidas agitadas de seu coração. O que faria? Esquerda ou direita? Entrava em alguma sala ou continuava no corredor? Saia da escola ou permanecia lá dentro?

O garoto lembrou do relógio em seu pulso e das palavras de Arabella, mas antes que pudesse acionar qualquer botão foi lançado para dentro de uma das salas por seus perseguidores. Os dois embolaram no chão de cerâmica, derrubando bancas e cadeiras, e se separaram no meio do caminho.

O óculos do garoto foi destroçado na queda, mas ele não se intimidou levantando em um só movimento. O homem no chão também o fez e eles se encararam por longos segundos, prontos para revidarem o primeiro ataque. Mas foi o som da porta sendo trancada que os fez se mexer, voltando-se a mesma.

O segundo homem que os perseguia sorriu em resposta aos olhares deixando um mesmo sorriso surgir no rosto do companheiro. Com o olhar afiado Alex avaliou a situação e para seu total desgosto, com a prática de seus jogos, percebeu que estava encurralado.

— Já chega de joguinhos – disse o homem próximo a porta.

Ele era mais baixo que o primeiro e tinha um porte mais musculoso. Os cabelos estavam penteados para trás, impossibilitando de diferenciar se eram castanhos ou pretos. Ele carregava um par de óculos apoiados em sua camisa, que diferente do que o rapaz imaginou que seria, não possuía nenhum ar de ser social.

Alex respirou fundo e pensou rápido. Eles não portavam arma de fogo aparente e tirando a possibilidade de se entregar sem resistência, ele podia confrontá-los com o que aprendeu com Arabella.

Ou atacá-los com o cinto afiado de Bill.

O homem ao fundo da sala correu em sua direção e em um só movimento o garoto lançou a bolsa sobre ele, dificultando-lhe a visão e os movimentos. O seu companheiro também atacou e no curto espaço de tempo em que ele se aproximava Alex puxou seu cinto.

A lâmina do mesmo interceptou o agente que se aproximava. O homem recuou ao notar o perigo que ela representava, fitando odioso o garoto. O segundo não se intimidou e ao se livrar da mochila de Alex foi certeiro em sua direção.

No pouco tempo que teve Alex conseguiu recuar, indo cada vez mais para o fundo da sala, e arranhou o rosto do homem que grunhiu em resposta, acertando o corte com sua própria mão.

Alex os encarou corajoso.

— Saiam daqui!

Os homens riram, uma risada que ribombou por toda a sala, e após limpar o ferimento do rosto o primeiro se pôs a frente. Ele não era tão musculoso quanto o companheiro, mas seu olhar, preenchido de um negro vívido lhe dava um ar de perigo, que Alex sentiu assim que encontrou com eles.

O garoto imitou seus personagens e ficou em posição de ataque, com o cinto afiado imitando uma espada, e ergueu a sobrancelha para a dupla, sentindo todo o corpo amolecer depois das palavras que disse:

— Por acaso falei alguma brincadeira?

A dupla a sua frente fechou as expressões e avançou mais uma vez, cada um de um lado, impedindo o garoto de escapar. Mas, esperto, Alex se agachou e deslizou por entre ambos, acertando num golpe de sorte a perna de um dos agentes.

O outro voltou-se para ele irado e travou-se uma pequena batalha entre ele o garoto, com ambos correndo pela sala, enquanto o agente atingido caiu ao chão com a perna sangrando.

Alex conseguiu se esquivar uma, duas, três vezes. Acertou o seu perseguidor duas vezes com o cinto, mas os cortes, apenas de raspão, não fizeram nada além de aumentar a raiva do homem.

Houve batidas na porta.

— Quem está aí? Que baderna é essa na minha sala? Abram já a porta seus delinquentes!

A voz de William soou alta e aguda, reverberando porta a dentro sua agitação.

Os dois homens se entreolharam e por um momento Alex pensou que fosse seu fim. O cinto em sua mão começava a ceder e os braços, cansados, já não aguentariam mais permanecer naquela posição.

Nos jogos tudo era realmente mais fácil.

— Ela nos pediu que o levassemos vivo – rosnou o agente de pé – mas como parece que você não quer colaborar...

Os olhos de Alex desceram para o homem apoiado no chão, enquanto este puxava de dentro de sua roupa uma pistola. 

O sangue do garoto congelou.

— Tenho certeza de que ela não se importa – disse o do chão, mirando a arma para Alex.

Num último impulso Alex se lançou sobre o homem de pé que cambaleou sendo acertado pelo garoto no rosto com um soco. O tiro, que era para ser certeiro, saiu atrasado e atingiu em cheio uma das prateleiras da sala, que tombou com tudo para frente.

O som alto e ensurdecedor alertou o professor do lado de fora.

— Um tiro! – gritou ele – Um tiro!

Alex se agarrou ao homem a sua frente, afim de fazê-lo cobrir-lhe da arma, e lutando contra a força do agente que insistia em querer derruba-lo ele conseguiu, finalmente, acionar seu relógio. Houve um apito sinalizador e no segundo seguinte estavam ambos no chão.

Alex soltou o homem e caiu com tudo, sentindo o corpo doer pelo impacto. Tudo que viu, ao abrir os olhos novamente, foi o sorriso do agente apoiado no chão.

— Te peguei.

Houve um tiro e Alex olhou admirado o corpo inerte do agente, que em instantes estava apontando uma arma para ele, revirar os olhos e cair com tudo no chão, morto. Ele não havia atirado? Então quem...

O seu​ companheiro cambaleou aturdido, encarou Alex com fúria e se lançou sobre ele.

O garoto rolou pelo chão fugindo da figura até ser interceptado pelas mãos do mesmo que o ergueram pela gola da farda.

— Desgraçado – ralhou o agente.

Alex esperou o pior, mas quando ouviu o vidro da sala sendo estilhaçado, sentiu a força que o suspendia vacilar. Os olhos do garoto caíram sobre o rosto do seu perseguidor e ele arquejou, assustado, vendo o mesmo cair no chão com os olhos revirados.

Houve um assobio.

— Nossa, essa passou perto.

Alex caiu no chão numa baque ruidoso e voltou-se a figura que invadia a sala pela janela. Ele era alto e vestia um blazer impecável, com coturnos tão negros quanto o tom de suas roupas. O homem fez uma careta de nojo ao passar pelo primeiro agente morto no chão e caminhou lentamente até Alex que prendeu a respiração ao encarar os olhos negros do mesmo.

— Pensei que fosse demorar menos para acionar o botão – o homem passou por cima do segundo corpo – até que você tem fibra garoto.

Ao levantar o braço o homem permitiu a Alex visualizar um exemplar idêntico ao relógio que Arabella lhe deu e com um suspiro o coração do garoto aquietou-se. Não era mais um inimigo, era um aliado.

— Quem é você?

Os olhos negros desceram para a figura do garoto caído no chão e o homem sorriu, ressaltando as sadias bochechas.

— Sou Samuel – ele se agachou de frente a Alex – o seu mais novo anjo da guarda.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Espion Noir" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.