O Caçador da Tempestade escrita por Karina A de Souza


Capítulo 7
Minha irmã fica amiga da mulher que nos sequestrou


Notas iniciais do capítulo

Olá ♥
Temos uma participação muito especial nesse capítulo, além de referências às outras fanfics da série Universo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/755971/chapter/7

Praticamente explodindo depois de tomar uns vinte sabores diferentes de sorvete, Alana, o Doutor e eu voltamos para a TARDIS, cansados e alegres, comentando sobre a sorveteria e coisas aleatórias.

—Não sei vocês, mas eu adoraria deitar e dormir. -Comentei. -Foi um dia e tanto.

—Só posso concordar. -O Doutor disse. -Vou levá-las para casa e acho que nós três merecemos um descanso.

—Tem quartos na TARDIS?

—Tem de tudo na TARDIS. Acredito que nem eu a conheça por completo. Esses dias mesmo estava sem sono e acabei encontrando uma sala de jogos.

—Você devia ter um mapa. Eu só sei onde fica o banheiro e o guarda roupa. O que eu faço se me perder?

—Torcer para a TARDIS gostar de você e não te pregar uma peça.

—Tá falando sério?

—Sim. -Cruzei os braços.

—Mas ela é uma nave.

—Sim. E está viva. -Olhei em volta.

—Viva?

—Você não consegue sentir?

—Eu sinto. -Alana murmurou, quase dormindo onde estava sentada. -E esse som que ela faz... Parece estar respirando.

—Isso mesmo.

—Então ela pode gostar ou não de alguém?-Perguntei.

—Exatamente. Ela passou a detestar o Jack, aquele que você conheceu, e tentou se livrar dele uma vez. Na verdade... Mais de uma vez.

—Que ótimo. E ela gosta de mim?

—Eu acredito que goste. Não demostrou o contrário.

—Sorte a minha.

Então a nave se moveu, nos fazendo perder o equilíbrio. O Doutor conseguiu se segurar, mas eu fui para o chão, assim como Alana, que caiu da cadeira.

—Isso tudo é por que estamos falado dela?-Gritei, tentando me agarrar à alguma coisa.

—Não é a TARDIS!-O Doutor avisando, mexendo nos controles. -Estamos sendo movidos por uma força exterior.

—O que?

—Acredito que estão roubando a nave. -Suspirou. -Por que isso sempre acontece? Ela nem parece lixo espacial!-Então a TARDIS parou de se mover.

—E agora? Onde estamos?

—Eu não sei... -Correu pela mesa de controle, apertando botões, mexendo em alavancas e digitando coisas. -Parece... Uma nave... E... -Batidas na porta. Nós três travamos onde estávamos, surpresos, olhando para as portas da cabine, então uns para os outros. -Só pra confirmar, vocês também ouviram isso?-Alana assentiu.

—A gente devia... Abrir?

—Não sem saber quem está batendo. Alguém contou quantas batidas foram?

—Oi? Que diferença faz quantas batidas foram?

—Depende. Se forem quatro, faz muita diferença pra mim. -Franzi a testa, mas decidi não insistir nesse assunto.

De repente, uma mulher entrou e fechou a porta. Sorridente, abriu os braços, olhando para o Doutor. Era loira, de cabelos cacheados, vestido preto e batom vermelho. Parecia bem animada.

—Olá, docinho!

—Você. -Suspirou. -Você de novo não. Nós já nos encontramos na biblioteca?

—Que biblioteca?

—Spoilers!-Ela apenas fez uma cara travessa e deu de ombros.

—Que seja. Então... Você já me conhece. Isso é um bom sinal. Quantas vezes me viu?

—Uma.

—Certo. Ainda não aconteceu pra mim. -Me encarou. -Eu sei, é confuso. Mas é assim com viajantes do tempo. Ele não sabe quem eu sou, mas eu o conheço. Sou River Song.

—Kaliane. -O Doutor apontou. -E Alana.

—Olá, garotas. Acredito que ouvi sobre vocês... Oh, é mesmo, as irmãs brasileiras que...

—River, spoilers!

—Desculpe. Às vezes eu não consigo me conter. -O Doutor cruzou os braços.

—Foi você que nos sequestrou?

—Eu precisava de uma carona. -Gritos vieram do lado de fora. -Agora, se não quisermos ser presos, eu sugiro que a gente fuja.

***

—Como ela sabe pilotar a TARDIS?-Perguntei, enquanto River e Alana sumiam no corredor. O Doutor parecia um pouco irritado, mexendo nos controles da nave.

—Eu não sei. Se ela me conhece, talvez eu tenha ensinado.

—Então ela é sua acompanhante do futuro.

—Talvez.

—Você não parece feliz.

—Nem você. -Dei de ombros.

—Não sei se gosto da minha irmã ficando amiga da River. Essa mulher é estranha. O que sabe sobre ela?

—Nada. Quase nada. Sei que ela é uma arqueóloga. E que me conhece. E me conhece muito bem. -Ergui uma sobrancelha.

—Bem quanto?-Ele pareceu um pouco envergonhado.

—Não tenho certeza.

—Certo. Tudo bem. Acha que ela é confiável?

—Acredito que sim. Mas posso estar errado. Às vezes isso acontece.

—Estou espantada.

Pouco depois River retornou, com outro vestido preto, cheio de franjas e curto. Alana também tinha trocado de roupa, e agora usava um vestido preto e branco.

Sem dizer nada, as duas saíram da TARDIS parecendo melhores amigas. O Doutor apenas deu de ombros, vestiu o sobretudo e segurou minha mão, indo atrás de River e Alana.

A TARDIS estava na frente de um bar, onde um grupo enorme de pessoas cantava e dançava. O ritmo era familiar: samba.

—Rio de Janeiro, 1960. -River anunciou. -Não é uma maravilha?

—Primeiro ela rouba a TARDIS. -Comecei. -Depois traz a gente pra uma roda de samba? Qual é a dela?

—Eu não sei. -O Doutor respondeu. -Vamos apenas ver onde isso vai dar.

Bem, seja qual fosse o plano de River, eu não conseguia adivinhar. Ela e Alana se juntaram ao grupo de mulheres que dançavam, enquanto o Doutor e eu ficamos sentados numa mesa num canto. O Senhor do Tempo parecia bem desconfiado, mal tirava os olhos de River, mas disfarçava quando me via encarando.

Será que ele estava escondendo algo sobre a estranha River Song? Mais um item para a lista de mistérios sobre ele.

Outra coisa que não saia da minha cabeça era a tal Joanne Watson, a garota do Instituto de Marte 002. Alguma coisa tinha acontecido com ela. Talvez tenha decidido deixar o Doutor?

Ah, e eu não podia esquecer do que o líder dos Escarlates disse. “Então algum infeliz escapou da Guerra do Tempo. Como é ser o último da sua espécie?”. Alguma guerra terrível tinha destruído todos os Senhores do Tempo, deixando vivo apenas o Doutor. Eu não sabia como iniciar uma conversa sobre isso. Era um assunto extremamente delicado.

Olhei para o homem ao meu lado. Não conseguia imaginar a dor de ser a última da minha espécie. A última humana. Sem minha família, sem meus amigos, sem um único ser que fosse como eu. O último da espécie. Uma frase de peso.

—O que foi?-Perguntou, franzindo a testa. -Por que está me olhando desse jeito?

—Por que você é bonito. -Brinquei. -Só estou pensando.

—Em que?

—Coisas. Coisas aleatórias. -Olhei para River e Alana. -De repente elas viraram melhores amigas.

—Está com ciúmes?

—Claro que não. Só não quero minha irmã andando com alguém não confiável.

—Acredito que Alana tenha pensado o mesmo sobre você e eu.

—É. Acho que sim.

—Ah, isso é divertido!-River exclamou, se aproximando e se apoiando na minha cadeira. Alana sentou ao meu lado. -Vocês vão ficar aqui? Não se sentem nem um pouco atraídos por esse ritmo animado?

—Nunca gostei de samba.

—Não sei dançar. -O Doutor afirmou. River olhou pra ele como de o tivesse pego aprontando.

—Você não me engana, docinho. -Avisou. -Você, Kali, tem porte de dançarina. Por que não vem um pouco até a roda comigo?

—Estou cansada. -Disse. -Foi um dia exaustivo. Só quero ir pra casa descansar. E acho que Alana quer isso também.

—Oh, certo. É claro. Bem, então creio que...

De repente, todo mundo no bar estava gritando e correndo. A primeira reação do Doutor foi levantar e me puxar pra perto dele. A minha, foi grudar em Alana. River puxou uma arma de algum lugar (juro que eu não sei onde aquilo estava), pronta para qualquer coisa.

Algo começou a atravessar o caos, sem perder o foco. E, infelizmente, o foco dela era o nosso grupo. Parecia um Cyberman. Uma forma alta, humana, mas com parte do corpo feita de metal. O rosto era feminino, e estava travado numa expressão determinada.

O Doutor se moveu rapidamente, ficando na frente de Alana e eu.

—Alvo encontrado. -A ciborg disse. -River Song. Seus crimes serão pagos com a morte.

—Eu sei o que é você. -O Doutor avisou. O tom de voz dele me deixou assustada, e ele nem estava falando comigo. -Anos atrás, quando eu ainda estava na minha nona regeneração, você tinha um alvo. Aurora. Uma Senhora do Tempo. A única coisa que ela fez, foi salvar humanos em perigo. E você foi atrás dela, e a matou.

—Fui programada para matar Aurora. Cumpri minha missão. Agora, minha missão é River Song. -Esticou o braço, um buraco se abriu na mão metálica dela, revelando um brilho azulado.

—Eu estava tão assustado naquele dia que não reagi. Foi muito rápido. Só pude segurar Aurora nos braços enquanto ela morria... E eu estava sozinho de novo. -Apontou a chave de fenda sônica na direção da ciborg. -Não vou deixar que aconteça novamente.

—Minha missão é destruir River Song. E eu vou destruí...

Então o Doutor apertou a chave de fenda sônica a ciborg explodiu. Recuei, protegendo Alana da explosão.

Não havia mais ninguém no bar, mas alguns curiosos haviam ficado na rua, esses gritaram e fugiram, finalmente.

Soltei Alana e me virei. O Doutor continuava no mesmo lugar. River guardou a arma e se aproximou dele.

—Está tudo bem, querido. -Colocou a mão em seu ombro. -Eu sinto muito... -Ele se afastou. -Bem... Preciso... Ir. -Se virou. -Alana, espero nos vermos de novo. Kali... Foi bom revê-la. -Franzi a testa. -Ops. Spoilers! Até mais. -Mexeu em um aparelho no pulso e desapareceu.

***

Alana murmurou algo que podia ser uma despedida e se arrastou para dentro de casa, exausta. Eu teria feito o mesmo, mas não podia ir, pelo menos não ainda. Fechei a porta da TARDIS e me sentei ao lado do Doutor.

—Quer falar sobre Aurora?-Perguntei, o mais gentilmente possível. Não queria que ele se sentisse pressionado.

—Depois da Guerra do Tempo, e de todo o meu povo... -Engoliu seco. -Achei que eu era o último. Então descobri que tinha uma passageira clandestina na TARDIS. Aurora não sabia que era uma Senhora do Tempo. Ela tirou as próprias memórias e escondeu sua origem, por que precisava se esconder da ciborg que viu hoje. No momento em que soube quem era, a ciborg sentiu e veio atrás dela. -Fez uma pausa. -Eu não pude fazer nada.

—Sinto muito. -Segurei a mão dele, entrelaçando nossos dedos. -E Joanne? Ela... Ela também era uma Senhora do Tempo?

—Não. Joanne era humana. Ela esbarrou na TARDIS, e se tornou minha amiga. Vimos estrelas nascendo, migrando, vimos planetas de diamantes e um continente pacífico... Tantas coisas... E havia tanto mais para ver.

—O que aconteceu com ela?

—Está morta. Mais uma vez alguém confiou sua vida em mim e eu falhei. Prometi aos pais dela levá-la em segurança para casa... Mas tudo o que fiz foi levar o corpo dela para que o enterrassem.

—Eu lamento, lamento muito.

—Ela era boa, gentil... E corajosa. E havia algo mais, algo grande... Mas eu não vi. O Povo do Céu a chamava de Estrela Azul. Eles podem ver possibilidades. Viram infinitas coisas que Joanne poderia fazer, mas tudo se foi quando ela morreu. Todas aquelas possibilidades virando cinzas. Eles dizem que ela seria especial. Eu sempre soube que ela foi especial. -Suspirou. -Minha Garota de Vestido Azul.

—Tenho certeza que foi. E tenho certeza de que ela não culpa você por nada, onde quer que esteja hoje, assim como Aurora. A culpa não foi sua.

—Mas todo mundo sempre se machuca por minha causa. Depois que Joanne morreu, deixei Jack em Cardiff e fiquei sozinho. Até achar você e esquecer o perigo que eu represento.

—Doutor...

—Mas é verdade. Rose Tyler... Por minha causa ela está presa num universo paralelo e eu nunca mais vou vê-la. Martha Jones... Espero que ainda não esteja ressentida comigo por que parti o coração dela... Pelo menos ficou viva. Donna Noble... Hoje ela nem sabe quem sou eu. E se fossem só elas...

—Doutor, o mundo em que vivemos é perigoso. Atravessar a rua é perigoso. Sair de casa é perigoso. Viver é perigoso. As coisas são assim. E tenho certeza absoluta que suas antigas companheiras sabiam dos riscos assim como eu sei. Estar com você é uma honra, independente do perigo.

—Isso só prova que você é maluca. -Olhou pra mim. -Devia estar correndo desde que a peguei naquela armadilha. -Sorri.

—E que graça isso teria? A gente se divertiu bastante juntos. E espero que isso continue. Mas só você pode decidir se quer me manter por perto. Não posso obrigá-lo a me aguentar. Bom... Estou exausta, é melhor ir dormir. Você devia descansar um pouco também. -Dei um beijo na testa dele. -E não pense em problemas. Pense em coisas boas. Pense em como suas amigas foram felizes com você.

—Kali... -Fiquei de pé.

—Amanhã... Se você não estiver no meu quintal... Vou entender que decidiu me deixar. Sem ressentimentos. Não posso culpá-lo. Então... Até mais, Doutor.

Saí da TARDIS lentamente. Um trovão soou no céu e começou a garoar. Atrás de mim, a cabine azul começou a se desmaterializar, mas não me virei, apenas me perguntei se veria o Doutor de novo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então... Começamos bem e terminamos na bad. E agora, será que o Doutor vai voltar para Kali ou se afastará para sempre, achando que é uma ameaça?
Não posso dar spoilers sobre o próximo capítulo, mas ele se chama "Dia das Coincidências"... Por que será?
Bom... Até mais.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Caçador da Tempestade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.