Bolinhos

Chapter 12 - Açucarado

Era segunda-feira, dois dias depois da festa de Naruto e um dia depois de seu término com Masami. Definitivamente, dois dias cheios, mas que foram essenciais para que ele entendesse o que devia fazer se queria realmente ser feliz.

Sasuke estava cansado, andando devagar pelo pátio da universidade e bocejando. Ele desejava dormir um pouco mais, porém não podia faltar de aula, medicina não era um curso fácil, Sasuke precisava dedicar-se.

Sem muita animação, o que não era nada anormal para Sasuke Uchiha, o jovem aproximou-se do grupo de amigos reunidos no pátio da universidade, ao redor de uma mesa redonda. Os olhos ônix, imediatamente, foram atraídos pelo cabelo rosa de Sakura, desviando-se até a garota, que se mantinha quieta no canto, mas, logo em seguida, ele desviou os olhos dela e olhou para todo o grupo ali.

Acenando de leve, cumprimentou o pessoal.

— E aí, Sasuke? — Naruto bateu no ombro do amigo, e os outros limitaram-se a acenarem ou sorrirem.

— Cadê a Masami? — Tenten perguntou, vendo que o Uchiha estava sozinho.

E ele nunca aparecia sozinho.

Sasuke suspirou, dando de ombros.

— Não faço a mínima ideia, não estamos mais namorando. — ele respondeu, e todos o olharam surpresos.

Naruto e Neji trocaram um leve sorriso, o plano havia dado certo. Sakura olhou para o Uchiha, surpresa, mas logo tratou de livrar-se dessa expressão, Sasuke não precisava ver que ela tinha sido afetada de alguma forma.

Porém, ela não podia negar que havia gostado da notícia, Sakura poderia até mesmo sorrir ali se não estivesse de frente para Sasuke. Talvez, agora, tudo poderia ser diferente, não é?

Mas logo a vontade de sorrir passou, quando lembrou-se de quem estava falando. Era Sasuke, o garoto arrogante, narcisista e pegador. Que nunca parava em um namoro sério. Por que ele iria querer algo com ela? — Sakura pensava. Melhor, por que ela deveria querer algo com ele?

Não por ela achar-se pouco para ele, de forma alguma, ela só sabia como Sasuke era e o quanto não levava a sério relacionamentos.

Ela já deveria ter se livrado desse sentimento. Mas toda vez que ela achava que estava se esquecendo dele, algo acontecia, e aquela chama de esperança — aquela que sempre a traía quando ele terminava algum relacionamento —, queimava mais forte e mais intensa do que a vez anterior.

— Não me diga que vomitou nela, Sasuke? — Ino disse, provocativa, piscando o olho para Sakura, que segurou a risada.

Sasuke revirou os olhos, impaciente e respondeu:

— Essa piada já está velha, Ino.

— Fala aí, Teme! Levou um pé na bunda, não foi? — Naruto perguntou, caçoando do amigo — Aposto que sim, você é insuportável! — finalizou.

— Hm, não foi nada disso, apenas decidimos nos separar, simples, queríamos coisas diferentes — Sasuke justificou, dando de ombros, e Sakura o observou, analítica.

— Ela queria uma aliança, e você fugiu? — Perguntou, erguendo uma das sobrancelhas.

Sasuke riu antes de responder:

— Se eu realmente a amasse, não hesitaria em pôr uma aliança no dedo dela, Sakura. Não fugiria, como diz, que tipo de cara você acha que eu sou? — Perguntou.

— Não sei e nem quero saber — Sakura respondeu, se esquivando da pergunta.

Se arrependimento matasse, ela já estaria morta. Na verdade, ela queria.

Não deveria ter se metido na conversa, mas não, impulsiva como ela era, tinha que opinar.

Sasuke olhou para ela e sorriu minimamente.

— Se você tirasse um tempo para me conhecer, saberia quem eu sou realmente — Disse, com o semblante tranquilo — Bom, tenho que ir, a aula está pra começar, até mais. — disse, se despedindo dos amigos, que acompanhavam a pequena discussão dos dois, com os semblantes atônitos.

— Eu também tenho que ir — Sakura se despediu às pressas e saiu na direção contrária a que Sasuke foi, já que suas aulas eram em prédios diferentes.

— Nossa, que tenso — Hinata comentou.

— Sim, tensão sexual! — Ino exclamou, piscou para Naruto e, despedindo-se, saiu atrás da amiga.

Logo, quase todos saíram e foram para suas respectivas aulas.

— Eles têm que se resolver dessa vez — Naruto comentou para Hinata, que acenou concordando.

Sakura merecia ser feliz e cuidada por alguém. Ela cuidava de todos a sua volta e quase não cuidava de si mesma. Ela merecia isso. E Sasuke também.

Eles mereciam ser felizes e, de preferência, juntos.

. . .

Quarta-feira chegou e, com ela, o cansaço, porém Sakura não podia deixar-se desanimar, precisava vender os bolinhos para ajudar o orfanato. Então, naquele dia, ela acordou cedo e assou seus deliciosos bolinhos.

E eles ficaram muito bons, mas, consequentemente, Sakura estava muito sonolenta. E, se aqueles doces não ficassem bons, ela ficaria muito brava, afinal, não acordou cedo demais para dar tudo errado!

Bocejando e caminhando lentamente, ela seguiu com a cesta de bolinhos para a universidade, oferecendo, vez ou outra, um dos doces para os alunos que passavam.

Imediatamente, avistou Naruto de pé ao lado de Sasuke e cogitou a possibilidade de seguir para o outro lado, não estava muito afim de falar com o Uchiha, mas Naruto já havia lhe visto, não dava para simplesmente ignorar.

Sem muito ânimo, ela aproximou-se dos dois, mostrando a cesta com os doces.

— Oi. — cumprimentou Naruto com um aceno, praticamente ignorando a presença de Sasuke.

— Ei, Sakura-chan! — o loiro sorriu em resposta.

— Quer comprar um bolinho, Naruto? — perguntou, aproximando a cesta do loiro e retirando o pano de prato que tampava os doces.

— Hum… — o loiro sorriu, alegre — Claro, eu quero um!

O Uzumaki pegou o dinheiro e entregou a amiga. Imediatamente, ele escolheu o maior bolinho que viu e mordeu.

— Hum… muito bom — comentou. — Perfeito como sempre!

A rosada sorriu verdadeiramente, e Sasuke não pôde evitar admirá-la. Ela era linda, ele não podia negar, mas não o queria, nem mesmo havia notado a presença dele ali. Será que ele estava fazendo o certo ao tentar lutar por ela?

Imediatamente, ele tratou de tirar essas dúvidas da cabeça. Sasuke lutaria e conseguiria.

— Ei, Teme! Por que você não compra um dessa vez? — Naruto perguntou, limpando o canto da boca sujo de glacê.

— Ele não precisa, Naruto, ele não gosta — Sakura disse, sorrindo sem graça.

— Ele nunca experimentou para saber — Naruto comentou.

— Eu não gosto muito de doce — Sasuke comentou, dando de ombros.

— Ah, qual é, Sasuke?! — Naruto reclamou — Sakura capricha nesses bolinhos, compra ao menos um, vai! — Suplicou.

Sakura queria bater em Naruto por insistir nisso.

Sasuke revirou os olhos e olhou para ela. Suspirando, ele concordou:

— Certo, me dê dois então.

Sakura o fitou, surpresa, mas logo tratou de pegar os bolos, colocar em um saco de papel e entregar pra ele.

— Obrigado — Sasuke agradeceu ao pegar a embalagem, entregando o dinheiro enquanto Naruto observava tudo com o semblante satisfeito.

— Você não vai comer? — Sakura perguntou, vendo Sasuke guardar o saco dentro da mochila preta.

— Mais tarde, bem, tenho que ir, até mais e boa sorte nas vendas, Sakura — disse saindo.

Sakura acenou, mesmo que ele já houvesse dado as costas e, equilibrando a cesta na mão direita, usou a mão esquerda para dar um pequeno soco no ombro do amigo loiro.

— Por que você fez isso? Idiota! — Reclamou.

— Ai, Sakura-chan! Desculpa, só queria ajudar! — Naruto respondeu, fazendo um bico.

— Ajudar? Você forçou Sasuke a comprar! Isso não se faz, Naruto! Ele deve estar com raiva agora! — Sakura brigou.

— Até parece! Sakura-chan, o Sasuke só faz o que ele quer e ele queria comprar esses bolinhos, eu não forcei nada — Naruto disse, dando de ombros.

Sakura o olhou, confusa.

— Ele não gosta de doce, por que ele iria comprar? — Sakura questionou.

— Pra ajudar ué, não é para uma boa causa? — Naruto explicou e, diante do olhar incrédulo da amiga, ele decidiu dar uma ajudinha para o amigo — Sasuke não é um monstro insensível, Sakura, ele é bem generoso e justo, na verdade. Só que ele não gosta que ninguém perceba o quão coração mole ele é, e, por favor, não diz pra ele que eu disse isso!

— Certo… — Sakura respondeu, sem acreditar muito nas palavras de Naruto.

O loiro conhecia Sasuke há muito tempo, desde criança, que ela soube, então, se Naruto estava dizendo, tinha algum fundo de verdade.

O que poderia dizer que, de certa forma, Sasuke poderia ter a ajudado, ele poderia ser uma pessoa boa e justa como Naruto mencionara.

Mas, mesmo assim, parecia impossível para ela.

Eles nem tinham intimidade.

Vendo o semblante confuso da amiga, Naruto resolveu que mais uma ajuda não faria mal.

— Sasuke é do tipo que zela pelas amizades e, se ele se importa com ela, ele vai ajudar da melhor maneira que ele puder — Disse — Agora, tenho que ir, boas vendas, Sakura-Chan. — Finalizou, deixando a amiga presa em seus pensamentos.

Seria verdade tudo aquilo que Naruto falou? Sakura se perguntava enquanto caminhava. Talvez, apenas talvez, ela pudesse ter julgado Sasuke mal. Mas, ainda assim, parecia impossível pensar em Sasuke ser dessa forma.

Com a mente ainda cheia de pensamentos, ela seguiu pelos corredores e pátio para tentar vender os bolinhos e se distrair.

Ela não sabia se a sorte veio dos desejos de Naruto ou de Sasuke, só sabia que, antes do início das aulas, ela já havia vendido todos os bolos da cesta, e teve pessoas reclamando que queriam mais e a fizeram prometer trazer muito mais no dia seguinte.

Ela achou engraçado todos estarem com tanta fome.

. . .

Ele chegou em seu apartamento, morto de cansaço e muito faminto.

Quase chorou ao lembrar que não tinha nada na despensa, nem na geladeira, nem em canto nenhum e se bateu mentalmente por ter descuidado tanto dessa vez.

E o pior é que ele estava tão cansado que só queria deitar, mas também estava com muita fome.

Sasuke ficou neste dilema por um tempo, apenas jogado no sofá exausto enquanto escutava o estômago roncar. Enfrentar o cansaço ou a fome? Estava indeciso, porém esqueceu-se disso assim que pousou os olhos na mochila jogada no chão.

Imediatamente, o Uchiha levantou-se e seguiu até ela, pois os bolinhos de Sakura ainda se encontravam lá dentro. Certamente que ele não era fã de doces, mas a fome não o deixava raciocinar direito e não havia mais nada para comer além dos doces.

Ele pegou o bolinho e observou o glacê branco por um tempo, perguntando-se se iria mesmo comer, porém logo decidiu experimentar, afinal, todo mundo elogiava os bolinhos de Sakura, então, não deveria ser ruim.

Mordeu um pequeno pedaço e mastigou lentamente. Não era doce demais, o que o agradou e, de fato, não era ruim. Mordeu mais um pedaço do bolinho, e mais um, e mais um, já que estava morrendo de fome, até não restar mais nada do doce em suas mãos.

Não era seu lanche favorito, de fato, já que era um doce, só que aquele bolinho não era ruim, pelo contrário, era algo diferente e tinha um sabor agradável, e, bem, foi Sakura quem fez.

Sorrindo ao imaginá-la fazendo aquele doce com cuidado e carinho, Sasuke pegou o outro bolinho, começando a comê-lo.

Não havia, de forma alguma, sido uma má ideia comprar aqueles doces.

Ao acabar de comer, Sasuke limpou a boca com um guardanapo que havia sobre o balcão da cozinha, a fim de tirar o glacê que grudara nos cantos dos lábios e sorriu de novo.

Definitivamente, Sakura tinha talento para doces, e uma pessoa que iria gostar muito daqueles bolinhos era a dona Mikoto, que adorava coisas doces.

E, ao lembrar-se da mãe, Sasuke curvou os lábios em um sorriso de canto, pois teve uma ideia.

Uma ideia para aproximar-se mais de Sakura a fim de provar que ele podia ser o cara para ela.

. . .

Sakura estava jogada no sofá, exausta. O dia havia sido bem exaustivo, e ela só queria descansar. Com o controle da televisão na mão, ela mudou de canal, procurando algo que prestasse, mas nada que passava lhe agradou, então, desligou o aparelho.

Suspirando, a garota fechou os olhos, esticada no móvel em tom marrom e bem macio, confortável como sua cama. Estava quase dormindo agarrada às almofadas macias, por mais que fosse bem cedo ainda, quando a campainha tocou.

Estranhou alguém lhe visitar aquela hora, mas logo ignorou esses pensamentos e seguiu até a porta lentamente, pois ela não se abriria sozinha. Ajeitou os cabelos no rabo de cavalo antes de abrir e deu uma olhada em suas roupas, notando que estava apresentável, já que usava um short jeans claro e uma camiseta branca.

Porém, ao abrir a porta, teve uma surpresa. Sasuke estava parado em frente a ela.

Ela nunca imaginou que fosse ele a tocar sua campainha e, se não tivesse controle sobre suas ações naquele momento, certamente que abriria a boca em um perfeito “o” de tanta surpresa.

Mas, por sorte, ela não o fez.

Forçando um sorriso normal, Sakura olhou para o jovem, que permanecia parado e com o semblante indiferente de sempre em sua porta.

— Oi. — Sasuke disse normalmente, como se fosse algo comum aparecer na porta do apartamento dela.

Mas, ele só sabia disfarçar muito bem mesmo, pois, por dentro, estava meio nervoso e perguntando-se se devia realmente estar ali.

— Oi. — ela disse ao recuperar-se da surpresa momentânea, porém ainda confusa quanto à presença dele ali. — Aconteceu alguma coisa? — perguntou, afinal, Sasuke nunca apareceu em sua casa, ainda mais, sozinho, e, em seguida, deu passagem para que o jovem adentrasse seu apartamento.

— Não, eu só vim para falar dos bolinhos que me vendeu hoje cedo — disse, caminhando pela sala da garota e observando cada canto.

Mais organizado que seu apartamento. Essa foi a primeira observação de Sasuke ao observar a sala organizada e espaçosa, com as paredes em tons claros e os móveis, escuros.

— O que foi? Tinha algo errado com eles? — Sakura perguntou, temerosa pela resposta dele. — Estavam ruins?

Ela fez os bolinhos com todo cuidado e carinho de sempre, será que teria errado alguma coisa? Sasuke observou sua expressão curiosa e ansiosa por um instante, e tratou de negar imediatamente.

— Não, não estavam ruins. — disse, e Sakura sentiu um alívio nesse instante. — Você tem talento para doces. — ela sorriu levemente, sem graça.

Sakura o olhou surpresa, afinal, Sasuke não apreciava coisas doces, mas, apesar do susto, ela lhe agradeceu pelo elogio.

— Obrigada. — falou, ainda meio desconcertada pelas palavras de Sasuke.

E algo em seu peito, depois daquilo, se aqueceu, e ela sentiu uma leve vontade de sorrir de novo devido ao elogio.

Droga! Aquela chama de esperança de novo, que só aparecia para ferrar mais com sua mente e coração, pois sabia que os dois não dariam certo de forma alguma, mas, cada vez que ela se apagava, algo acontecia e lhe acendia outra vez.

Por que ela não se apagava permanentemente? Por que se apaixonar era tão complicado? Sakura se perguntava, e Sasuke ali não ajudava nada. Na verdade, a presença de Sasuke, em momento nenhum, a ajudava, pelo contrário, só fazia tudo ficar mais intenso.

Por que ela não podia simplesmente esquecê-lo? Ou por que ela não podia acreditar nas palavras de Naruto? Ela só ficava sempre no meio do caminho. Entre esquecer e deixar acontecer, e isso só a machucava. Talvez, devesse colocar logo um basta nessa história.

— Sakura? — Sasuke chamou, vendo que ela parecia distante. Imediatamente, a garota piscou os olhos e voltou a olhar para ele.

— Sim?

Ela estava sem graça e caminhou até o meio da sala, as mãos estavam juntas atrás do corpo, esperando que ele lhe dissesse o que queria.

— Bom, pode parecer estranho, mas eu gostei dos seus bolos. — ele disse, sorrindo de canto. — E, quando estava comendo, lembrei que minha mãe é uma apreciadora de doces, por isso, queria encomendar alguns para ela com você, tenho certeza que dona Mikoto vai adorar. Você aceita o pedido?