“Ela estava de novo naquele campo de flores, bem ao longe um casal andava, uma ruiva e um moreno, estavam de costas pra ela, mas Hermione a via gesticulando enquanto falava e o jovem sorria, Hermione soube que eram Harry e Gina. Ela tomou outro lado, ouvia som de água, queria achar a cachoeira, ela tinha certeza que o som vinha de uma cachoeira, quando encontrou o pequeno riacho se sentou na beira, não era uma cachoeira, colocando os pés na água, sentiu a presença de alguém e quando olhou pro lado viu Bethany a encarando, o susto a fez pular no lugar, mas o olhar da moça era triste, quase melancólico, quando olhou para o outro lado viu Ron a encarando, uma expressão que ela não soube decifrar, quando voltou a olhar para o riacho havia um menininho moreno de olhos verdes de pé em cima de uma pedra dentro do riacho, ele se aproximou dela sorrindo e entregou uma rosa vermelha, Hermione ficou hipnotizada na flor, nunca tinha visto rosa tão linda, ela pegou a flor sorrindo, sem entender o porquê de estar tão emocionada, mas antes que pudesse agradecer, alguém a chamou...”

— Mione, mione acorda! – Marry a chacoalhava levemente, quando a morena conseguiu focar o olhar na prima ela tinha um ar preocupado.

— Oi, bom dia, que horas são – Mione fez menção de levantar, mas a sua cabeça latejou e ela apenas deitou novamente – nossa, eu acho que bebi muito – agora a ruiva gargalhava abertamente.

— Bebeu muito? Você desmaiou de bêbada! – Ela riu mais ainda da cara espantada que a morena fez.

— Sério? Eu não me lembro de muita coisa, só até...- ela parou de falar, um certo beijo veio a sua mente, ela ficou muda, sem saber o que pensar ou o que fazer, estava em choque, sentiu os olhos arderem mas engoliu o choro, Marry percebeu.

— Sim, vocês se beijaram – a prima a olhou assustada e Marry sorriu sem jeito -  E olha, foi um baita beijo de cinema viu! Você lembra?

— Eu lembro de tudo até uma parte, depois tenho flash de memória, só que infelizmente eu lembro disso – ela estava confusa, e totalmente envergonhada, como iria encarar Ron agora?

— Olha, antes que eu faça o que eu vim fazer aqui, vou te falar uma coisa Mi – de repente Marry estava séria – Não se culpe, primeiro que não é você que esta noiva, segundo que foi ele que te deixou, terceiro que você não pode mandar nos próprios sentimentos, você ainda o ama! – Não era uma pergunta e Hermione sucumbiu as lágrimas, ela queria que aquele beijo não tivesse acontecido, Marry a abraçou.

— Meu Deus como vou olhá-lo agora Ma? Não tenho coragem – ela chorava no colo da prima, completamente vulnerável aos seus próprios sentimentos.

— Vai sim! Você é uma grifinória! E outra – ela riu sapeca piscando para a prima – você pode fingir que nada aconteceu, você desmaiou logo em seguida, ele nunca vai desconfiar que você lembra – aquela seria a desculpa mais esfarrapada para se livrar de um momento de desconforto, mas era essa mesmo que Hermione iria usar, estava bêbada demais, não se lembrava de nada e ponto final!

— Ai Deus, que porcaria de desculpa, mas é isso mesmo que eu vou fazer, fingir que esqueci tudo e nada aconteceu – ela limpou as lágrimas sorrindo pra prima – e por acaso, o que você veio fazer aqui?

— Te acordar e avisar que é uma hora da tarde, se você não correr, irão perder o noivado! – Tudo que aconteceu a seguir foi do jeitinho que Marry imaginou, Hermione se desesperou, levantou num pulo da cama, só pra depois ter que se escorar na parede pela tontura que a acometeu pela ressaca, Marry riu mais um pouco, se levantou e pegou o copo de agua e o remédio que havia trazido já imaginando a ressaca que a prima estaria.

— Tome um banho e vá se arrumar, você ainda tem tinta por toda a parte, vou avisar o Ron que você já está se arrumando – e dizendo isso saiu, deixando a prima só.

Rony se encontrava deitado no quarto de hospedes, havia descido tomar café, mas não desceu para o almoço, deu a desculpa que a viagem com a chave de portal o enjoava, o que não era mentira, mas a sua falta de apetite tinha nome, sobrenome e cabelos cacheados. Ele fechou os olhos lembrando do beijo, o mesmo gosto, a mesma intensidade, o fogo queimando seu peito só aparecia com ela, só quando era ela que estava em seus braços. Ele imaginou que se ela não tivesse desmaiado talvez estivesse acordado na cama dela, balançou a cabeça se amaldiçoando, Bethany não merecia isso, ele tinha que lembrar do porque estava ali! Alguém bateu a porta o tirando de seus devaneios.

— Entre – pediu e pigarreou, sua voz completamente rouca. Viu Marry abrir a porta e lhe sorrir tímida.

— Consegui acordá-la, ela está com uma ressaca daquelas, mas já já estará pronta, sugiro que se arrume também, já é tarde na Inglaterra.

— Sim, obrigado Ma – ele sorriu – Ma, é... – ele hesitou, precisava saber, mas ao mesmo tempo tinha vergonha de perguntar para Marry, suspirou reunindo coragem – ela se lembra?

Marry quase riu da pergunta, mas ao mesmo tempo sentiu frustração, queria dizer a ele que Hermione havia se lembrado sim, que ainda o amava e que ele era um idiota se não terminasse aquele noivado mais sem pé e nem cabeça, estava escrito na testa dele que ainda amava sua prima. Contudo, Marry não devia e nem podia interferir assim, com um suspiro profundo ela simplesmente respondeu – Não, ela não lembra de nada. – Ron apenas assentiu e Marry fechou a porta o deixando sozinho, no fundo ele sabia que era melhor assim, mas estava decepcionado, foi um beijo tão bom, merecia ser lembrado, pelos dois.

Assim que pode Hermione estava no quintal da casa de seus pais, abraçando todos os seus familiares emocionada e tagarelando precauções.

— Me mandem mensagens todos os dias, digam onde estão, não saiam do país e tentem não andar sozinhos até que eu diga que está tudo bem, ok? – eles assentiam e sorriam, ela sempre foi exageradamente preocupada.

— Filha vá, vocês perderam o noivado ao se atrasarem – a mãe de Hermione sorriu e a abraçou, logo depois Ron a chamou

— Hermione temos que ir!! Um minuto!! – ele olhava para a bota velha alarmado. Hermione deu mais um beijo nos avós e correu.

— Até mais! – eles gritaram assim que deram as mãos e tocaram na bota, sumindo da vista da família de Hermione.

Quando apareceram na Toca, Hermione sentou na grama sentindo o estômago revirar e uma tontura sem igual, sequelas de uma ressaca bem forte, Ron se abaixou para ajudá-la a se levantar, por um momento ele segurou a mão de Hermione e abraçou as costas, dizendo que ia ficar tudo bem e que sua mãe teria um remédio pra ela, mas quando olharam pra Toca, viram uma loira parada em frente a porta, aquilo pareceu despertar Hermione e ela rapidamente se desvencilhou de Ron.

— Ron, eu vou pro meu flat, obrigado pela companhia, me desculpe o vexame de ontem – ela sorriu sem encara-lo.

— Tudo bem Mione, acontece, na verdade foi muito divertido – ele lançou aquele sorriso torto e tímido pra ela que ela tanto amava -  mas vamos entrar, você precisa de um remédio, não está acostumada a beber, minha mãe deve ter alguma coisa... – ele começou e ela o cortou

— Não! Eu preciso ir mesmo, me arrumar para a festa e eu chamo o Nathan, ele é ótimo nesses remédios para ressaca – ela viu Ron ficar sério e assentir.

— Tudo bem então. – ele não tinha mais argumentos, não podia dizer que não havia gostado nada, nada, da ideia de Nathan cuidando dela quando sua noiva estava em frente a porta da Toca o esperando, ele não tinha direito algum.

Mione sorriu sem graça o agradeceu mais uma vez e aparatou. Quando se viu sozinha dentro de seu apartamento suspirou sentindo as primeiras lagrimas caindo, mandou um patrono a Nathan pedindo que se aprontasse em seu apartamento pois precisava dele, ele também havia sido convidado para o noivado e ela precisava de um bom remédio pra ressaca e um colo amigo.

[...]

Bethany viu quando ele a ajudou, viu quando ela a viu parada os esperando e foi embora, viu ele se aproximar e dar seu melhor sorriso torto apaixonante, quase a fazendo esquecer o ciúmes que queimava dentro de si, mas o beijo, mais para selinho que ele deu nela, quase a fez chorar de tão frio. Nada nas atitudes dele nos últimos dias lhe lembrava seu Ronald, seu noivo, alegre e divertido. Ele estava estranhamente quieto, muitas vezes calado e principalmente não se importava mais tanto assim com a presença dela, se ela falasse as coisas que estava sentindo e o que estava pensando para qualquer pessoa a chamariam de louca. Quase sucumbiu a agressividade com o futuro cunhado quando ele contou que Ron havia acompanhado Hermione na “missão” de proteger a família dela. Bathany ficou tão transtornada com a noticia que simplesmente aparatou sem dize nada, ali, na frente de alguns membros da família Weasley, bem no meio da sala da Toca. Quando voltou naquela tarde pediu desculpas a sogra que aceitou de bom grado, Molly entendia a atitude da menina e tinha pena, pelos olhos do filho ela já não sabia mais dizer que o amor dele por Hermione havia acabado. Bethany sabia que os dois haviam sido namorados, era estagiária do profeta diário quando a guerra terminou e foi ela mesma que escreveu o texto que anunciava o romance para todo o mundo bruxo.

“Amor que nasce em meio a guerra”, ela deu um risinho triste, se lembrando da manchete enquanto terminava de se maquiar sentada na cama do noivo esperando ele terminar o  banho, assim que conheceu Ronald pessoalmente se lembrou de tudo que havia escrito nos quase três anos de relacionamento deles e como tinha narrado aquele amor dos amigos que cresceram juntos e descobriram juntos a paixão. Ela se lembrava como o romance deles a inspirou a escrever, foi a primeira manchete escrita somente por ela, ela se sentiu extremamente animada naquela época, amou aquele casal enquanto imaginava como havia sido a descoberta para eles, na época,  imaginava que eles nutriam um amor extremamente forte, hoje, apesar do seu coração dar cambalhotas dizendo que não, que ela estava errada, sua mente lhe gritava, falando que os acontecimentos da última semana foram o suficiente para lhe provar que ela estava certa naquela época. E que, principalmente, aqueles sentimentos não haviam acabado.

Uma semana, foi o suficiente para o seu relacionamento mudar da água para o vinho. Contudo ela não sentia raiva da morena, ela apenas aceitava, aquele lugar era mais de Hermione do que dela, a outra era uma bruxa boa demais, competente, inteligente e poderosa demais para o ministro não a querer de volta, ela aceitava a volta da ex de seu noivo, o que ela não aceitava era a mudança dele. Quando já estavam na tenda esperando os convidados chegarem, ela se perguntava como faria para abordar aquele assunto com o noivo, tudo que ela não queria é que alguém ficasse com ela por compaixão ou pena.

— Ron? Podemos conversar – chamou o ruivo que assentiu rapidamente e se despediu brevemente de Luna e Rolf, o casal sorriu para ela que retribuiu.

— Oi amor, aconteceu alguma coisa? – Ron perguntou a abraçando.

— Aconteceu – ela suspirou e Ron aguardou preocupado – Hermione aconteceu Ron, a volta dela – a loira falou sentindo os olhos arderem, Ron suspirou cansado e colou a testa na dela a abraçando.

— O que tem ela ter voltado? – ele perguntou fechando os olhos, não queria ter essa conversa.

— Tem que você mudou – o ruivo encarou os olhos tão azuis e tão bonitos da noiva.

— Porque acha isso? – ela queria gritar com ele que aquilo não era pergunta a ser feita, que ela não era cega, mas tudo que conseguiu foi sorrir fracamente e olhar para o chão, não querendo encarar os olhos azuis do noivo, estava a beira das lagrimas.

— Tem certeza que não sabe? – Ron engoliu em seco, se ela imaginasse, se ela sequer sonhasse que havia beijado Hermione, ela terminaria tudo e ele sabia que não queria aquilo. Bethany suspirou mais uma vez para continuar – Você está me evitando! Inconscientemente, mas está! Foi com ela para o Brasil, tudo bem, foram em um dia e voltaram em outro, mas mesmo assim! Você muda quando está com ela! Não para de olhar pra ela! E principalmente, se interessa por tudo que diz respeito a ela! – ela disparou de uma só vez, descolando a testa da dele o encarando abertamente e deixando as lágrimas correrem livremente pelo rosto.

Ron sentiu um aperto no peito ao ver o estado da moça, Bethany havia sido tão boa pra ele durante aqueles 2 anos de relacionamento, ela havia preenchido um vazio gigantesco dentro dele e de sua vida, tudo o que ele sabia é que a amava, não sabia se esse amor seria forte o bastante para passar por tudo isso, mas a amava e principalmente, ela não merecia isso.

Ele respirou profundamente cerca de duas vezes mais antes de falar, sobre mentir ou esconder ele escolheu a sinceridade – Be, eu sinto tanto que você tenha se sentido assim – ele voltou a abraça-la e colar a testa na dela antes de continuar – a volta dela me chocou um pouco, eu sinto muito em te dizer isso, mas eram mais de 5 anos sem vê-la e me desculpe, mas não controlei minhas ações. Fui com ela para o Brasil por ordem do ministério e principalmente pela minha irmã, Gina simplesmente surtaria em ter que adiar o noivado mais uma vez por causa do trabalho de Harry, era eu ou ele, devia ter te consultado, me desculpe. – ele sorriu pra ela e lhe deu um beijo leve e doce, ela o abraçou encostando a cabeça em seu peito.

— Eu prometo ter paciência Ron e lutar para fazer nosso relacionamento dar certo, mas temos que marcar a data do casamento – ela disse ainda abraçada a ele.

— Marcaremos amor... – o ruivo até chegou a abrir a boa para dizer mais alguma coisa, mas sua atenção se voltou toda para a frente da tenda, onde uma morena de cabelos cacheados e soltos, vestido azul marinho e sapatos de salto bege recebia um abraço apertado de Luna. Ele se odiou por deseja-la, a maquiagem leve só realçava sua beleza, os lábios pintados de rosa só o faziam querer beijá-los de novo e antes que Bethany pudesse perceber sua total confusão de sentimentos, ele se soltou dela, dando a desculpa que precisava ir ao banheiro, apesar de estranhar a loira preferiu não pensar sobre o assuntou, ou ficaria paranoica.

[...]

Hermione já havia cumprimentado todos da festa, inclusive seu ruivo preferido e a noiva dele, agora ela se encontrava em um canto mais calmo, bebia um suco e observava Nathan e sua ainda namorada na pista de dança, os dois haviam sidos convidados para o noivado também e Hermione não parava de pegar no pé do amigo por que não havia pedido Julie, uma garota linda e doce que ela tinha certeza que não merecia esperar tanto. Estava tão distraída que não viu alguém se aproximando.

— Herrmioni? – O susto que ela levou ao ser chamada foi tão grande que quase derramou todo o seu suco.

— Viktor! Meu Deus você me assustou! Quanto tempo! – Ela sorriu sem jeito o abraçando.

— Quase 10 anos já, mas você está ótima! Soube do cargo no ministério, parabéns! – ela sorriu o agradecendo e eles iniciaram uma conversa animada, ela contou sobre os anos fora e soube que ele foi convidado por Gina pelo quadribol, e que depois de tantos anos ele estava com planos de se aposentar. Hermione se perdeu no tempo conversando com ele, ela não soube explicar mais estava envolvida naquela conversa, talvez pelo tempo sem se ver ou pelo fato de que ele não parecia em quase nada aquele garoto do torneio, estava mais falante, parecia até mais alegre. Em um momento ela o convidou para dançarem, o surpreendendo, eles estavam tão envolvidos que quando a terceira música já estava começando eles se surpreenderam ao serem interrompidos.

— Com licença, podia me conceder essa dança Hermione? – Hermione estava chocada e Ron vermelho e bravo, dava pra notar, impossível, ela o encarou o olhando nos olhos sem reação alguma.

— Claarro Weasley, me desculpi, não sabia que estavam juntos – Krum admitiu chateado e começou a se afastar quando ouviu a morena falar.

— Nós não estamos juntos – Hermione ainda o encarava e Ron ainda tinha a mão estendida para ela, esperando. Ela segurou a mão do ruivo, mas voltou-se para Krum – Viktor não vá embora está bem? – Ela sorriu pra ele que retribuiu e se afastou. Quando Ron a olhou nos olhos viu o tamanho do absurdo que havia feito, ela estava furiosa.

— Está maluco? O que pensa que está fazendo? – ela perguntou assim que eles começaram os primeiros passos.

— Estou dançando com a minha amiga, porque é proibido? – ele ironizou, a lembrança de Krum com as mãos em cima dela não lhe saia da cabeça.

— Sim Rony! – Ela parou abruptamente e se desvencilhou dos braços dele – É indevido, quando nós temos um passado e você uma noiva! – Um brilho de choque passou pelos olhos do ruivo, mas ela não o esperou falar e se afastou ao mesmo tempo que o Srº Weasley parou a música para fazer o anuncio que a noiva ganharia o anel.

A troca de alianças, assim como o discurso totalmente sem jeito foram extremamente emocionantes para a morena, ela conhecia o casal que se beijava para a foto tão bem, todo o sofrimento de Gina, ainda menina, com uma paixão platônica por Harry, o sofrimento de Harry quando se deu conta que gostava dela e o medo de não sobreviverem a guerra para viver esse amor. Estar ali enchia seu peito de esperança e amor, os amava, muito. Eram sua família.

Quando a música retornou mais animada para dançarem, Viktor se juntou a ela. De longe ela viu Ron e Bethany dançando, o ruivo lutava para não olhar na direção do casal, mas não era forte o suficiente e quando viu os dois se afastando para fora da tenda, ele se afastou com Bethany para a mesa destinada a eles com a desculpa que ainda estava com fome. O ruivo comeu por pura ansiedade e Bethany, totalmente alheia a situação conversava com Luna sobre o casamento dela e Ron, mas o ruivo parecia estar em outra dimensão enquanto observava o casal de morenos se sentar em um dos muitos bancos dispostos no jardim da Toca e conversar animadamente enquanto bebiam algo que ele não pode identificar, por mais que não quisesse, o Leão havia acordado em seu peito e rugia.