O sol brilhava intensamente, o céu era azul e sem nuvens. Em algum lugar pássaros cantavam. Tudo aquilo parecia errado. Fora de lugar. Ou talvez fosse apenas ele que já não conseguia encaixar-se ou sentir-se parte de qualquer coisa. Havia acabado. A guerra, o medo, a ameaça constante. O Lorde das Trevas estava morto. Tudo estava bem. Mas, então, por que não parecia bem? E por que não parecia o fim? Harry Potter se pegou fazendo a mesma maldita pergunta pela milésima vez. Estava tão exausto daquilo!

Havia pouco mais de um mês que a guerra chegara ao fim e, desde então, o rapaz estava refugiado n’A Toca. Não sabia o que mais fazer ou para onde ir. Além disso, a senhora Weasley – assim como Ron e Ginny – insistira para que ficasse em sua casa e, bom, naquele ponto, Harry se julgava incapaz de negar qualquer coisa para aquela mulher que tanto perdera. Pensar em perdas ainda doía, porque era pensar em Fred, em Remus, em Tonks e em todos que partiram antes por culpa daquele conflito estúpido. Por culpa dele.

Após tudo o que acontecera era estranho estar de volta à Toca. A casa permanecia cheia como sempre, mas ao mesmo tempo vazia de um modo sufocante. As pessoas pareciam vagar sem rumo, como se estivessem orbitando em galáxias diferentes, e ninguém sabia muito bem o que fazer ou como seguir com suas vidas. Era deprimente de tantas formas que chegava a doer fisicamente.

Ainda assim, seria difícil encontrar alguém mais perdido do que Harry. Durante os últimos anos, sua existência inteira se resumira a derrotar o Lorde das Trevas, no entanto, o garoto nunca parara, nem por um único segundo, para pensar o que faria se obtivesse sucesso. Para ser sincero, havia um lado dele que nunca acreditou realmente que aquilo seria possível. Então, quando tudo acabou o rapaz perdera completamente o rumo. Já não havia nada que o impulsionasse, nada que precisasse dele. As pessoas diziam que havia salvado o mundo, mas Harry nunca se sentira tão inútil.

Ao menos, até o dia em que Ginny ficou farta de toda aquela situação. O mundo da garota também havia desmoronado, um de seus irmãos estava morto, sua família se consumia em dor e luto e ela sentia que se passasse mais um único segundo dentro daquela casa iria enlouquecer. Então, pegou sua vassoura e obrigou Harry a pegar a dele e o jovem casal saiu para o quintal d’A Toca, porque Quadribol era algo que sempre os animava e os dois precisavam de algo minimamente bom em suas vidas.

Em um primeiro momento fora estranho estar ali, voando e brincando de agarrar pomos de ouro e, por algum tempo, pareceu até mesmo errado. Como se já não tivessem permissão para sentir o sol, a adrenalina, ou sangue correndo por suas veias. Até que, de repente, pareceu a coisa mais simples e natural do mundo. Tão certo como respirar.  E quando olhou para Ginny, com os cabelos ruivos bagunçados pelo vento, o rosto suado e um princípio de sorriso nos lábios, Harry sentiu, pela primeira vez em muito tempo, que tudo ficaria bem. Que eles ficariam bem.