Inferno Particular escrita por Neline


Capítulo 6
I won't let you run away


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.
PS: Chorei de novo -q



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Acordei me sentindo mais leve, de alguma forma.  Ainda mais machucada, ainda mais magoada, mas mais leve. Não sentia mais aquele nó na garganta, e nem ódio do que via no espelho.  Apenas não via muito sentido em continuar, em seguir em frente. Mas de alguma forma, a ideia de ver o Chuck me animava hoje. Não apenas por ele ser... ele. Mas por ele saber como eu me senti, por ele saber que atingiu seu objetivo e realmente acabou com a minha vida, embora eu não goste de demonstrar isso. Mesmo assim, eu me sentia mal por saber que ele sofreu com tudo isso. Não mais do que eu, mas que realmente sofreu. Que inferno! Eu não deveria me sentir assim, deveria? Ele que acabou com tudo que eu presava.

 

Entrei na escola atolada em pensamentos e vi um homem na recepção, com uma pasta nas mãos. Não era nem de longe tão bonito. Alto e grisalho, tinha olheiras profundas e um olhar frio. Os olhos eram negros e intensos, de uma maneira realmente amedrontadora. Os rugas e a aparência cansada o deixava ainda mais velho. Ele parecia sério, rígido.

 

- Blair, podemos conversar? – Luna veio, com um tom meigo e aconchegante. Assenti silenciosamente e me dirigi a sua sala.

- Então... quem é o homem da recepção? – Eu perguntei enquanto me sentava.

- Ele é... – Ela me olhou, cuidadosamente, parecendo analisar minha expressão antes de continuar a frase. - ... o novo inspetor. – recebi aquela frase como uma faca no meu peito. Eu não acreditava que ele tinha feito isso de novo. Eu não podia aceitar o fato dele aparecer, dar uma volta de 360° na minha vida e no primeiro obstáculo fugir, como o covarde que sempre foi. – Chuck pediu transferência ontem de tarde e... – Senti meus olhos marejando. – Ele deixou isso para você. – Ela disse, me entregando um envelope branco com as conhecidas letras CB em dourado na parte de baixo. – Pode ler aqui e... tome o tempo que precisar. Eu vou lhe deixar a vontade. – Ela disse, saindo lentamente da sala e encostando a porta.

 

Fitei o envelope por alguns longos minutos. Eu não tinha certeza se eu gostaria de ler o que estava escrito. Eu não tinha certeza se eu conseguiria ler. Ou até mesmo, se eu estava pronta para ler. Poderia ser tanto um ‘eu te amo’ quanto um ‘gostei de bagunçar sua vida de novo’.  E vindo do Chuck, eu realmente não sabia o que esperar. Olhei para o envelope pela ultima vez antes de passar lentamente o dedo pela aba, o abrindo. Senti minhas mãos tremerem ao ver a letra meio rabiscada, mas mesmo assim cheia de classe, do Chuck no papel branco.

 

“Você deve estar me odiando. Mais do que já odiava, eu sei disso. Eu pediria desculpas se realmente achasse que ir embora é uma má opção, mas acho que vir aqui que foi uma atitude que merece desculpas. Eu não queria fazer você reviver nada, mas de alguma forma, saber que você está feliz sem mim me incomodava. Por isso eu não pensei duas vezes quando recebi o convite para vir a Londres. Eu queria que você fosse feliz comigo, mas percebi que isso é impossível. Eu não te culpo por não conseguir me perdoar. Eu me culpo por ter sido idiota o bastante para te perder. Eu não sou uma pessoa perfeita, existem muitas coisas que eu não gostaria de ter feito. Muitas coisas que eu não gostaria de ter feito para você. Mas eu estava assustado! Eu não sabia o que era aquela coisa que eu estava sentindo, mas não era bom. Eu nunca sabia o que fazer, ou como agir. Eu não sou acostumado a não saber o que fazer, eu não sou acostumado a não ter controle sobre meus atos. E o que mais me incomodava era saber que por diversos motivos, eu não podia ficar com você. E eu resolvi que se eu não ficasse com você, Nate também não ficaria. E eu me arrependo em partes. Pois realmente não aguentaria ver você com ele, e provavelmente faria algo pior. Mas sabe que você não estaria nas escadarias do Met, com seu ar de superior olhando todo mundo com desprezo foi a pior coisa que eu já senti. Chegar na escola e não te ver foi terrível. Ligar para você e não ouvir sua voz era uma tortura. E eu passei longos 8 anos sofrendo dessa maneira. Tendo ódio de mim. Mas continuei aprendendo, com meus próprios erros. Eu queria simplesmente partir e te deixar em paz, mas precisava te dizer isso. Eu não posso dizer que mudei. Eu não posso dizer que sou outra pessoa. Mas posso dizer que me arrependi. Eu sei que te machuquei. Muito. E pago por isso todos os dias dessa porra de vida miserável. Eu preciso que você saiba, que o único motivo para eu ir embora é amar você de uma maneira absurda. Uma maneira que deveria ser proibida. Está doendo ir embora e te deixar para qualquer idiota. Não que eu ache que algum deles pode te fazer feliz do jeito que eu estou disposto a fazer. Começou com aquele beijo. Eu consegui sentir o seu veneno entrando nas minhas veias e impregnando cada centímetro do meu corpo. E desde aquele dia eu não consigo respirar direito. Eu queria levar toda a dor que te causei comigo. Eu queria secar suas lágrimas. O que você fez comigo? Por que em cada mulher que deita na minha cama eu insisto em projetar seu rosto? Por que eu fico comparando todos os gostos com o seu, e nenhum consegue me satisfazer? Eu gostaria de ter a resposta pra isso. Mas... apenas não me esqueça. Porque é impossível te esquecer e imaginar que você não pensa em mim é insuportável demais para um narcisista como eu.

 

Chuck Bass.”

 

Tentei controlar os soluços frenéticos ou o mar de lágrimas. Não consegui. Eu via a força colocada em algumas letras. Eu via dor. E isso me machucava de um jeito que não deveria machucar. Eu fiquei ali, lendo e relendo cada linha. Cada entrelinha. Sentindo o perfume dele impregnado na carta. Mas parei. Não apenas por ele não merecer, mesmo depois dessa carta. Mas porque eu já havia chorado a perca dele uma vez e jurado que ele estava morto. E não se chora por mortos duas vezes. Eu acabo de passar pela ressurreição e pretendo viver para o aniversário de morte.

 

Andei pelos corredores até chegar a sala do 8° ano.  Entrei na sala e senti falta dele na última carteira. O abusado do inspetor estava sentado na minha mesa, mas me sentia exausta demais para discutir.

 

- Então, vocês já sabem que peça vão fazer? – Falei forçando um sorriso, mesmo sabendo que meus olhos denunciavam o choro.

- Jessica escreveu algo para nós. – Philip disse.

- É? Um original? Meio ousado, não acham? – Eu falei, sentindo certo orgulho da coragem deles.

- É. Um amigo nosso contou uma história e nós achamos linda! Decidimos usa-la. – Maryen falou animada.

- E posso saber o que devo colocar na sinopse? – Eu pedi puxando um caderno para anotar.

- Embora distintas amor e ódio são dois sentimentos que se confundem com facilidade. E quando se unem, causam dor. Mas qual amor não causa?  A peça que apresentaremos é a história de uma garota que tinha tudo, e experimenta a sensação de se apaixonar pelo cara errado. Ele, por sua vez, não se sente preparado para amar e veste seu escudo contra esse sentimento. Depois de acabar com tudo que sua amada tinha, ele a rejeita, e ela foge, começando outra vida em outro lugar. Vamos retratar o reencontro, anos depois, e podemos garantir que o amor não acabou. – Jessica leu a história e eu me reconheci em cada linha dela. Senti uma lágrima descer singela pelo meu rosto.

- Ele contou tudo para vocês? – Eu pedi, recebendo um sim de coro como resposta.

- E a nossa história só depende de você para ter um final. Seja ele feliz ou doloroso. – Jessica falou delicadamente, colocando o grande roteiro sobre minha a mesa.

 

Sai da sala, e fui para a sala dos professores. Resolvi aproveitar minha aula livre para pensar. Senti no sofá e abri o roteiro do 8° ano.

- O que ainda está fazendo aqui? – Ouvi a voz da Ianka vindo da porta.

- Eu não tenho aula agora. – Ela revirou os olhos.

- Ele vai sair pela noite, você realmente não pretende fazer nada? – Ela perguntou, se sentando relativamente perto de mim. – Olha, eu não sei o que ele escreveu naquela carta, mas eu posso dizer que ele te ama. Garota! Será que dá pra você parar de ser mesquinha? Ele também sofreu. Ele pagou por tudo, e agora você vai deixar ele partir? Você deve ser realmente mais burra do que eu pensava. – Ela vocerifou, fazendo um pequeno sorriso sarcástico surgir no meu rosto.

- Essa é sua maneira simpática de dizer “Ah Blair, não deixe ele fugir de novo. Está liberada das aulas. Boa sorte.”? – Eu olhei para ela, e ela mantinha a mesma expressão que eu.

- É. – Peguei minha bolsa. Talvez ela não fosse tão mal. Pra ela.

 


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Notas finais do capítulo

Gente, e ai? Gostaram?
Quem diria, a Ianka não é tão ruim afinal -q

Deixem reviews e aguardem o desenrolar dessa fic!

COCO. Neli ;*



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