MALANDRA escrita por Bruna Coelho


Capítulo 19
Capítulo 19




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Demorou um tempo até eu terminar de arrumar a minha mudança. Não exagerei, morávamos perto, qualquer coisa que eu precisasse era só voltar em casa, apesar de eu querer evitar isso a todo custo. Depois do almoço, Ariel me ajudou a carregar minhas duas malas até o seu carro. Infelizmente, Mel estava chegando em casa por volta desse horário. Tentei cumprimentá-la de longe, mas a garota desviou o olhar. 

É, aparentemente, ela não queria mesmo mais saber de mim. Nada iria mudar isso. Pelo menos era o que eu achava. Quando ela estava me odiando, era melhor do que todo esse desprezo. O que eu fiz foi tão grave assim? Talvez eu não tenha nascido para ajudar os outros. Meu lugar era mesmo espionando e me infiltrando na vida dos outros, qualquer coisa que eu fizesse além disso, dava ruim. Talvez eu devesse deixar as coisas como estão. 

Algum espírito ou algo assim deve ter se apossado do meu corpo, pois eu fui atrás da humilhação. Enviei uma mensagem para Mel, perguntando como ela estava, e nada… Ignorada com sucesso. 

Passaram-se três dias de vácuo, e assim continuei. Eu estava me adaptando a rotina dos meninos e isso me distraía um pouco, apesar de eu conferir meu celular a cada 10 minutos à procura de novidades. O que essa doida havia feito comigo? Eu ein… 

Todo dia pela manhã, bem cedinho, Noah tinha aula com um personal na academia da casa deles. Geralmente, Ariel acordava mais tarde, ele fazia o tipo preguiçoso. Mas, por mim, ele entrou na onda e começamos fazer aula juntos todas as manhãs.

Depois do nosso treino, eu fui tomar um banho, cada quarto tinha seu próprio banheiro e eu estava ficando no quarto do Ariel com ele. Seus pais pareciam não se importar com isso. Para minha surpresa, nesse dia, ele entrou no chuveiro comigo e tomamos banho juntos. Nada mais do que isso, eu prometo.

— Acho que vou passar em casa hoje - falei despretenciosa.

— Hummmm, hoje vou passar a tarde ensaiando, não vou conseguir te levar, mas pode pegar meu carro se quiser - ele falou secando o cabelo com a toalha e depositando um beijinho no meu rosto.

— Obrigada, vou aceitar o carro sim, prometo que devolvo inteiro - eu brinquei. 

A verdade? Eu não queria que Ariel fosse comigo, por isso escolhi o seu dia treino, eu não sei o que tinha dentro de mim, mas eu estava torcendo para cruzar com Mel. E lá fui eu, com o carro do garoto para a minha casa. Peguei umas coisas aleatórias no meu closet e fui para a piscina. Passei mais de uma hora lá fazendo vários nada, na esperança da cerca viva se mexer, mas nada, só o vento. Então, fui para a sala e fiquei de tocaia. Mais de uma hora se passou quando finalmente eu vi Mel saindo de casa. Corri atrás dela como se não houvesse amanhã.

— Ei, Mel - falei recuperando o fôlego.

— Oi, Clara - ela respondeu apática.

— Tudo bem? - perguntei analisando a garota. Não tinha nada de fofa. Estava mais seca que o deserto do Saara.

— Tudo sim, e você? - ela perguntou por educação. Era só isso que eu tinha agora.

— Tá tudo bem mesmo? Sabe, depois daquele dia - insisti

— Sim, tudo bem… Se não se importa, agora eu tenho que ir - ela disse apontando para a rua.

— Beleza, não quero atrapalhar, vai lá - disse me afastando um pouco e voltando para a casa. 

Juntei as minhas coisas, joguei no carro de Ariel de qualquer jeito, enviei uma mensagem para Noah me esperar na porta de casa e parti. Demorou um pouco até ele aparecer e entrar no carro. 

— A senhora está doida? Para onde a gente vai? - ele perguntou sem entender

— Comprar um carro para mim - falei dando partida no carro - Procura ai no Google a concessionária mais próxima

— Meu Deus, ela endoidou de vez - ele comentou sozinho como se eu não estivesse ouvindo. Assim que chegamos no local, ele me disse antes de entrar: - Só queria deixar aqui documentado que estou aqui porque adoro uma aventura e fazer compras. Espero que seus pais não me matem

— Relaxa, menino, não vai dar nada… eles estão acostumados com a minha loucura - comentei de boa. 

Entramos e ninguém deu confiança para gente. Acho que não acreditaram que dois jovens da nossa idade, sozinhos, comprariam um carro. Fiquei escolhendo com Noah qual eu queria. Nada muito chamativo, mas também não simples demais. Eu não podia passar do limites, caso contrário, minha sentença de morte estaria assinada. Afinal, meu pai ainda não havia me liberado o carro. Eu só precisava de um pouco de emoção. E a real, caguei pra tudo. 

 - Acho que esse combina com você - ele disse apontando para um Audi TT conversível.

— Acredita que eu estava de olho nele? - concordei com ele - Acho que foi feito pra mim… agora só falta alguém atender a gente.

— Relaxa, eu tenho meus métodos - ele falou e começou encarar um dos atendentes da loja descaradamente. Depois de um minuto, com Noah olhando para ele quase sem piscar, ele veio perguntar se a gente precisava de algo.

Tentei comprar o carro com os meus 50 milhões de cartões e deu tudo certo. O banco já estava acostumado com as altas quantias que eu passava. E, adivinhem, para minha sorte… meu pai estava em uma reunião. Entreguei todos os meus documentos para análise, e dentro de alguns dias, eu poderia retirar meu carrinho. Tudo certo.

— Vai, agora desembucha o que aconteceu, você não me trouxe pra essa cilada por nada… ele falou enquanto voltávamos.

— Menino, não tem nada acontecendo, só me empolguei depois que peguei o carro do seu irmão emprestado

— Se ilude mais um pouco, Clara, que tá pouco - ele rebateu incrédulo, mas deixou a história assim. 

Eu só queria me sentir eu mesma por um segundo. Egoísta e impulsiva. Coloquei um band-aid nesse caos que estava dentro de mim.


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