Os tons da nossa história escrita por Camy


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Fanfic UA ambientada em Soulmate!AU ♥

A música no começo é "How Would You Feel", do Ed Sheeran, meu mozão ♥

~~enjoy



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How would you feel, if I told you I loved you?
It's just something that I want to do
I'll be taking my time, spending my life
Falling deeper in love with you
So tell me that you love me too

 

A parte mais complicada de ver o mundo apenas em tons de cinza e preto é que fica complicado escolher as roupas pela manhã. As outras crianças nunca dizem nada, porque elas tampouco enxergam, porém os adultos tendem a encará-lo dum jeito raivoso, como se fosse um erro terrível misturar aquelas cores que Naruto ainda não consegue ver.

Muitas pessoas diferentes são encarregadas de cuidar das crianças daquele orfanato, mas a preferida de Naruto é Iruka; ele é paciente e nunca briga por Naruto não conseguir ficar parado enquanto espera que sua roupa seja escolhida. Naquela manhã de sexta-feira, porém, não é Iruka quem está ali. Naruto tenta se lembrar de quais foram as roupas que usara na semana anterior, porém um dos outros meninos já havia pegado a camiseta que ele queria. Escolhe uma aleatória e torce para que combine; irão ao shopping hoje à tarde e quer estar apresentável.

Veste-se com cuidado, fechando todos os botões. Seu tênis surrado está com os cadarços comidos e não consegue amarrá-los, então só os coloca para dentro e torce para não tropeçar. Está distraído, pensando no sorvete que uma das cuidadoras havia prometido lhe comprar, quando cai no chão. O mundo havia explodido em tons claros e ele não sabe como lidar com isso.

Pisca, meio desorientado, e se senta. Olha ao redor tentando absorver todas aquelas cores novas, percebendo como o mundo é diferente. As paredes não parecem tão velhas agora que Naruto vê que são verdes, assim como o chão de madeira e o teto branco. Puxa a camiseta para frente e percebe que ela brilha num tom de laranja intenso, apesar de não saber o nome dessa cor ainda. Há muito o que aprender agora; é como se o mundo tivesse se tornado maior. Barulhos altos de conversa lhe chamam a atenção; volta-se rápido para a porta, tentando ver quem havia entrado.

Seu peito dói. Na porta há um grupo de cinco crianças, uma mais estranha que a outra. Ainda é novo demais para entender o que aconteceu, e interpreta seu coração acelerado como consequência do tombo. Um menino de cabelos escuros e olhos inchados o encara de volta e depois desvia o olhar. Naruto vai rápido até a cozinha para conseguir um pão e talvez descobrir quem são as novas crianças.

Quando o dia termina, está tão acostumado a enxergar o mundo colorido que até se esquece de que antes só via em preto e branco.

—-*--*--*--*

Durante os primeiros dias, Naruto não chegou perto de Sasuke. Encaravam-se ao longe, sabendo que havia algo de interessante no outro, porém se mantiveram cada um na sua. Naruto estava maravilhado com as cores, mesmo que elas não fossem muito intensas; tudo tinha um tom opaco e apagado. Ainda assim, para alguém que estava enxergando cores pela primeira vez, os objetos brilhavam.

Numa tarde, Iruka os chama.

— Naruto, o Sasuke vai começar a ir para a mesma escola que você. Seria bom se vocês fossem juntos, pelo menos por enquanto.

Naruto dá de ombros, Sasuke desvia o olhar para o chão. Na manhã seguinte caminham em silêncio por alguns segundos e depois Naruto desanda a falar sobre todos os seus amigos na escola e sobre como pode ser estranho para Sasuke no início, mas que depois fica bem legal. Iruka, que era o responsável por levá-los naquela manhã, sorri ao ouvir a animação dele.

Os próximos anos passam muito rápido. Ninguém sabe exatamente quando Naruto e Sasuke se tornam inseparáveis, e nem mesmo Naruto consegue estipular uma data certa. Sentem como se fosse desde sempre.

Sasuke já tem nove anos quando finalmente consegue conversar a sério com Naruto. Estão no quarto que dividem com outros quatro meninos, sentados na cama, e Sasuke pela primeira vez se abre sobre o assassinato da sua família. Conta que seu irmão o salvou de quem quer que fosse que os matou, mas depois sumiu e Sasuke nunca mais ouviu falar dele. Naruto ouve em silêncio e depois o acolhe em seus braços. Nunca antes haviam trocado esse tipo de carinho e foi num pacto silencioso que combinam nunca falar sobre aquele abraço.

É naquele instante que Sasuke começa a suspeitar de que Naruto possa ser sua alma gêmea, porém ele é novo demais para entender o que isso significa de verdade.

—-*--*--*--*

Toda criança anseia pelo dia em que verá além do cinza. É quase como um marco, na verdade; é o dia mais especial de todos. A partir dos dez anos (às vezes um pouco antes), não se fala de outra coisa. Cada um tem uma história diferente: Sakura estava ajudando Ino a arrumar alguns arranjos para a floricultura quando uma cliente entrou. Viu primeiro seus cabelos vermelhos, depois o olhar assustado por trás dos óculos grandes; ela e Karin se resolveram ainda naquele dia. Temari já tinha treze anos quando encontrou Shikamaru. De acordo com ela, foi como ser derrubada por um furacão; Shikamaru só ficou feliz por finalmente descobrir a cor do céu.

Naruto, por outro lado, sempre vira todas as cores. Elas variavam em intensidade de acordo com o estado de espírito da sua alma gêmea, mas estavam lá desde sempre. Não tinha nem mesmo uma memória de como fora o choque de ver a grama verde ou os muitos tons que colorem a cidade de Konoha. Sente-se excluído ao ouvir seus amigos falando sobre esse dia, porque todos eles se lembram (menos Hinata, que ainda não conheceu sua alma gêmea).

— Ei, Naruto! — Sakura chama.

Ele afasta a raiva ao ouvir a amiga chegar correndo. Abre seu melhor sorriso.

— Oie!

— Por que você tá aqui sozinho? O Kiba acabou de beijar a Hina!

Seus lábios se abrem em choque e ele acompanha Sakura numa corrida desenfreada de volta até onde seus outros amigos conversam. Hinata está vermelha até a última raiz do cabelo e Kiba sorri vitorioso. Naruto sente uma mistura de inveja e excitação. Eles se separam em dois grupos; as meninas com Hinata e os meninos com Kiba.

— É uma questão de prática — Kiba começa. — No começo é meio estranho, mas você meio que aprende na hora.

— Corta essa — Chouji reclama, comendo salgadinho. — Você deu um selinho nela, nem sabe de nada.

— Ah, é, espertalhão? E o que você sabe, hein?

— Eu beijei a minha prima! Sei mais do que você.

Todos o encaram com a boca aberta, e Chouji sorri.

— Ela tem quinze anos.

Essa é a explosão que faltava. Kiba cruza os braços, emburrado por não ser mais o centro das atenções, e Naruto encara Sasuke, que também parece assustado. Eles trocam um olhar engraçado e começam a rir. Segundos depois essa bagunça é esquecida e as crianças correm para jogar futebol. As meninas reclamam que também querem, os meninos respondem que elas não podem, Tenten bate em Kiba por falar besteira e todos começam a brincar juntos.

Lee e Gaara são os goleiros, Sasuke e Naruto os capitães dos times opostos.

— Eu aposto que a gente ganha, teme!

— Se vocês ganharem, eu te deixo andar três vezes seguidas no skate amanhã de tarde!

— Combinado!

Apertam as mãos num movimento rápido e escolhem seus companheiros. A brincadeira dura até o final do intervalo, e a professora reclama na sala de aula que todos estão sujos demais. Naruto e Sasuke nem se incomodam; não têm ninguém que vá brigar com eles por isso mesmo.

Como a partida acabou num empate (Neji e Sakura foram os únicos a fazer gol), Naruto e Sasuke não estão emburrados. Conversaram na aula, sem prestar muita atenção no que era dito, e receberam outra advertência por isso. Naruto debochou da professora apenas para Sasuke ouvir e os dois acabaram tendo que sair da sala.

— Tá a fim de matar aula? — Sasuke pergunta.

O outro concorda num aceno e os dois correm até o ginásio. Enquanto Naruto distrai o professor, Sasuke rouba a bola de futebol que foi cedida a eles durante o intervalo e os dois correm até o portão, que pulam com maestria.

Empurram-se até uma pracinha perto do abrigo para o qual foram mandados quando completaram onze anos (o orfanato acolhe apenas crianças menores) e lá começam uma partida acirrada. Usam a bola de futebol como se fosse de basquete por um tempo, depois voltam a chutá-la contra a goleira improvisada com chinelos de dedo.

No final da tarde, exaustos, sentam-se ao lado um do outro. Naruto se apoia nos cotovelos e Sasuke cai no chão ao lado dele.

— Eu queria uma água agora — Naruto reclama.

— Ah, bem geladinha, né?

— Mas uma cerveja seria melhor.

— E tu lá sabe como é o gosto de uma cerveja?

— Claro que eu sei! O Yahiko levou uma pro abrigo esses dias, lembra? Ele deixou eu tomar uns goles.

— Eu detesto esse teu amigo, ele tá metido com droga.

— Tá nada, Sasuke.

Encaram-se meio de lado por um segundo, e então Naruto percebe que o joelho dele está sangrando. Ri e aponta.

— Olha só, eu também tenho um machucado assim!

Sasuke o encara como se ele fosse retardado.

— É, Naruto, eu sei.

— Que legal!

— …

— Sasuke? Por que tá me olhando assim?

Em vez de responder, Sasuke arregaça a sua manga e depois a de Naruto. No mesmo lugar existe uma marca roxa. Aponta para os calcanhares onde isso se repete e até mesmo a unha do dedão do pé, que Naruto havia arrancado jogando futebol de manhã.

Ficam em silêncio por um tempo. A realidade cai sobre Naruto como um balde de água fria. Nem mesmo ele é tolo para não saber o que isso significa. Almas gêmeas têm exatamente os mesmos machucados.

— Eu ainda quero aquela água, vamos voltar pro abrigo?

Sasuke concorda num aceno.

Mais uma vez, sem dizer nenhuma palavra, eles combinam de manter silêncio em relação a esse assunto.

—-*--*--*--*

Para uma criança que se criou quase sozinha, chegar aos catorze anos é sinônimo de responsabilidade. Sasuke assume a sua melhorando as notas e entrando num programa de aprendiz para acumular dinheiro suficiente a fim de alugar um apartamento em alguns anos e poder sair dali. Naruto começa a vender maconha com Yahiko.

É uma briga enorme quando Sasuke descobre. Gritam de um jeito que nunca haviam feito antes. Naruto diz que nem todos conseguem ser perfeitos e seguir a vida de falsa classe média que Sasuke está tentando, e que cada um se vira como pode. Sasuke invoca os falecidos pais de Naruto e a briga aumenta até ficarem três dias sem se falar.

Sasuke está tentando entender o conteúdo de matemática que o professor não passou direito quando a porta abre. Naruto entra no quarto e se escora na parede, perto da cama de um menino novo. Há três beliches ali agora; Sasuke estava aproveitando um raro momento de paz antes de ele chegar.

Continuam em silêncio por um tempo. Sasuke finge que está prestando atenção aos números, mas não consegue se concentrar. Naruto chega perto e se senta na cama com ele.

— Sasuke…

— Eu sinto o cheiro de maconha em ti daqui. Tá fumando agora também?

Ele sabe que não, mas pergunta por implicância. Quando Naruto experimentou cigarro há algumas semanas, o próprio Sasuke sentiu seu pulmão queimar. E quando ele se envolveu com Suigetsu, Naruto reclamou que seu corpo inteiro doía.

— Não, foi o Yahiko…

— Hm.

— E não faz tanto mal assim, sabe? Sério mesmo, é melhor que cigarro.

— Não quero saber, por mim tu fica longe dos dois.

Silêncio. Naruto também se escora na parede.

— Eu não gosto quando a gente briga…

— Olha, eu não vou ver tu se envolvendo com o merda do Yahiko sem fazer nada. Tu sabe que ele tem uma gangue, né?

Naruto revira os olhos.

— Não é assim também…

— Naruto, o que é, hein? Se veio aqui pra defender aqueles merda, ent-

— Eu disse pra ele que não vou mais fazer nada.

Isso faz Sasuke levantar os olhos. Naruto coça o braço.

— Eu vi ele mexendo com heroína esses dias… Tá ficando meio pesado demais pra mim.

— Eles são perigosos, sabe.

— Eu sei. Mas você nem tem muita moral pra falar de mim, né? Quando tava saindo com o Suigetsu, tu usou um monte de coisa.

— Por isso tenho moral pra falar que é uma merda e que não te quero perto disso. E eu tinha doze quando me envolvi com o Suigetsu, era só uma criança.

— Sim, porque catorze é tãããão mais velho…

Sasuke o empurra com o ombro e Naruto deixa uma risada escapar. Ficam um tempo em silêncio, olhos fechados, sentindo a conexão que faz com que seja impossível brigarem por muito tempo. Naruto larga o foda-se pela primeira vez em muito tempo e se aproxima até estar com a cabeça no ombro de Sasuke.

— Eu quero ir embora daqui…

Devagar, Sasuke apoia a cabeça na dele e escorrega sua mão até estarem com os dedos entrelaçados.

— Eu também quero, Naruto. E a gente vai.

— Com que dinheiro?

— Você podia parar de gastar em miojo e achar um trampo, né.

Concorda com um aceno e desliza o nariz até estar com os lábios encostados no pescoço de Sasuke. Os dois fecham os olhos sentindo o nervosismo que estar tão perto de sua alma gêmea causa. Viram-se quase ao mesmo tempo até seus lábios se encostarem num movimento suave. Ficam com as testas apoiadas uma na outra por vários segundos. Este é outro daqueles momentos que concordam de nunca conversar a respeito.

—-*--*--*--*

Aos dezesseis, Sasuke está encucado com o vestibular. Ele consegue usar os computadores a escola para descobrir o que precisa saber para a prova, porém metade daqueles conteúdos ele nunca viu. Sua educação de base foi muito fraca e agora precisa correr atrás do prejuízo sozinho; nenhum dos professores com os quais conversa parece interessado em ajudá-lo.

Naruto fez como prometido e arranjou um trabalho no supermercado perto da escola. Yahiko ainda tenta puxar assunto algumas vezes, mas ele mantém-se fiel à promessa que fez a Sasuke. Os meses que se seguem a isso são cheios de crises de ansiedade, desgaste mental e um desejo insano de conseguirem alugar um apartamento. O principal problema é que nenhum dos dois têm os documentos necessários para alugar algo no centro (muito menos um fiador para assinar os papéis). Procuram por um lugar pequeno na periferia, algo simples com aluguel baixo que não exija documentação.

Diferente de Sasuke, que está decidido a passar numa universidade federal, Naruto começa a procurar por cursos profissionalizantes; qualquer coisa que lhe garanta mais do que quatrocentos por mês.

Em meio a tudo isso, não sobra tempo para decidirem a que pé anda o relacionamento deles. Nunca mais se beijaram ou abraçaram, porém o fato de serem almas gêmeas pesa sobre os dois. O universo está literalmente dizendo que devem ficar juntos, então por que a demora?

Naruto não faz a menor ideia, mas está frustrado. Tentou se aproximar de Sasuke algumas vezes, sem sucesso. Ele sempre desvia, acha uma desculpa, foge. Está de saco cheio de tudo isso e acaba fazendo besteira. Yahiko vem conversar, Naruto aceita um cigarro de maconha e uma cerveja e, poucos minutos depois, estão aos beijos. Naruto ainda se arrepende um pouco depois, mas é tarde e Yahiko o prende sob seu corpo. Não resiste, resolvendo seguir com a correnteza, sentindo um misto de raiva de Sasuke por evitar o assunto e raiva de si mesmo por estar com outra pessoa.

Eles nunca conversaram sobre a vida sexual um do outro, apesar de sentirem. Naruto acordava com os chupões que Sasuke recebia, Sasuke acordava com o gosto de orgasmo na boca de quando Naruto se empolgava. Sempre ignoraram e fingiram que isso não acontecia, que não sabiam e nem sentiam nada.

À noite, Naruto fica esperando na cama de Sasuke sem saber se a ansiedade que sente é sua ou dele. Passa a noite em claro e sozinho, sem saber se a escuridão do quarto é devido à luz estar apagada ou à tristeza de Sasuke. Está quase saindo para procurá-lo quando o vê na escola. Está distante e nem o encara ao entrar na sala de aula.

— Sasuke!

É completamente ignorado. Senta-se sobre a mesa dele e vê apenas raiva nos olhos negros.

— Sasuke…

— O que é que você quer?

— Onde é que você dormiu ontem?

— E isso te interessa por quê, exatamente?

Faz-se silêncio na sala de aula. Seus amigos mais próximos estão confusos, porque Sasuke e Naruto raramente brigam a valer. Naruto bagunça os cabelos nervoso.

— Não faz assim.

— Não faz como, exatamente?

— Não me trata desse jeito!

— E como é que eu tenho que te tratar, hein, Naruto? Me fala!

Irritado com a plateia, Naruto puxa Sasuke pela mão até estarem atrás do ginásio, meio escondidos por algumas caixas e lonas. Sasuke cruza os braços, irritado.

— Eu tenho que ir pra aula, seu merda, porque eu quero ser alguém na vida.

— E eu não quero?

— Olha, dando pro Yahiko sempre que ele quiser, você não vai muito longe.

Silêncio. Naruto está magoado, Sasuke mais ainda. Mantêm os olhos fixos um no outro com raiva, até Naruto lacrimejar e jogar os braços para cima.

— Eu não sei o que você quer de mim, Sasuke.

— Eu quero não sentir chupões no caralho do meu pescoço porque outra pessoa fez isso em ti!

Para exemplificar o que diz, Sasuke puxa a gola para baixo e Naruto vê com perfeição a marca da mordida que recebeu na noite anterior. Encara o chão, envergonhado, e morde o lábio inferior.

— Não é como se eu não tivesse acordado assim também…

— Mas isso foi antes!

— Antes do quê, hein? Porque eu não sei que porra que tá acontecendo com a gente!

— Como assim?! A gente tava falando em ir morar junto, sair daquela merda de lugar, achar emprego pra pagar as contas!

— Sim, Sasuke, eu sei! Mas quero saber de eu e tu, não dessas caralhadas todas, mas que porra! Sempre que eu tento falar sobre o fato de que a gente é alma gêmea você foge, sempre que eu quero falar sobre a porra do beijo você foge! O que é que quer que eu pense, hein?

Também com os olhos marejados, Sasuke desvia o olhar para o céu. Respira fundo, querendo autocontrole, e puxa Naruto para um abraço. Ele vai meio receoso, mas depois o aperta com força.

As cores ao redor deles variam de intensidade devido à confusão de suas cabeças. É como se o vermelho do ginásio passasse de tons escuros de vermelho a tons claros num segundo.

— Eu não tava fugindo…

Ainda fungando, Naruto sussurra contra o ouvido dele:

— Como não, Sasuke?

— Não tava, eu juro.

— Tava o quê, então?

— Eu não sei também. Por que é que tu ficou com o Yahiko, hein?

— Sei lá. Ele só tava lá e eu queria alguém. E eu tava bem puto contigo também, aí sei lá…

Mais um pouco de silêncio. Sasuke se afasta para limpar as lágrimas dele e deixa um selinho suave nos seus lábios.

— Você é minha alma gêmea, eu sou a sua.

Naruto concorda num movimento de cabeça.

— Eu acho que só queria ter algo mais sólido pra te oferecer antes de falar sobre isso. Eu não tenho nada e sei lá…

— Eu também não tenho nada. A gente tá sem nada junto, pelo menos. A gente tá junto, né?

Sasuke concorda e o puxa para outro abraço.

— Acho que a gente tá junto desde que tem cinco anos e tava só se enganando esse tempo todo.

Naruto deixa uma risada fungada escapar.

— Olha, me identifiquei. Acho que a gente é meio retardado.

— Meio?

Soltam outra risada, dessa vez sem choro, e se beijam de novo. É o primeiro toque íntimo que não vem com a promessa do segredo, e Naruto se aproxima dele o máximo que consegue. Desta vez, não voltam para a sala de aula.

—-*--*--*--*

Nenhum dos dois teve experiências sexuais significativas antes de caírem juntos num colchão pela primeira vez. Estavam acostumados com brutalidade e descuidado. Foi totalmente diferente sentir seu coração bater em sincronia com o do outro.

O mundo pareceu mais colorido para ambos, como se estivessem se vendo pela primeira vez de novo. Os beijos aqueciam suas almas confusas e foi como finalmente pertencer de verdade a um lugar no mundo. Como duas peças de um quebra-cabeças que se encaixam.

Precisaram ser rápidos porque ainda estavam no abrigo, entretanto o perigo os deixou com mais ansiedade ainda. Os hormônios da adolescência fizeram aquilo se repetir diversas vezes nos meses que se seguiram. Encontravam-se no banheiro da escola, no quarto que dividiam, até mesmo entre algumas árvores do parque. Sexo em público se tornou rotina, assim como os olhares de desejo que deixavam claro a qualquer um que os percebesse quais intenções tinham.

Sasuke já tem quase dezessete anos quando sente um machucado na barriga. Sabe que é Naruto quem está com problemas, e sai da sala de aula sem pedir licença ao professor. Corre sabendo para onde ir, mesmo que Naruto não tenha lhe dito onde está, e a dor vai aumentando em diversos outros lugares do corpo enquanto se aproxima.

Encontra-o jogado no chão, apoiado contra a parede do beco. Naruto abre um sorriso constrangido, sangue escorrendo pela boca.

— Desculpa te fazer sentir dor.

— Que caralhos aconteceu aqui?

— Yahiko. Ele não curtiu muito eu ter cortado relações.

Naruto dá de ombros como se não se importasse, Sasuke quer encontrar Yahiko e matá-lo. Controla a raiva e decide que é perigoso demais levar Naruto de volta para o abrigo, então vão para o apartamento que tinham encontrado há alguns dias. É um lugar velho e com cheiro de mofo, porém podem chamá-lo de seu e isso é mais do que tiveram a vida inteira.

As assistentes sociais do abrigo tentaram levá-los de volta, entretanto não podem obrigá-los e nenhum dos dois mostra interesse em retornar. Frequentam a escola regularmente, mesmo que Naruto seja contra. O salário de Sasuke como aprendiz no banco e o de Naruto no supermercado cobrem as contas, mas não sobra para muito além disso, então começam a estocar os pães oferecidos na cantina na hora do lanche para terem o que comer em casa.

Foi um tempo complicado, ainda mais com Naruto machucado (e Sasuke também, por consequência), cheio de brigas e conturbações. Às vezes, Naruto queria largar o foda-se e voltar para o abrigo onde ao menos tinham comida, porém Sasuke se negava a deixá-lo sequer chegar perto de Yahiko mais uma vez.

Mesmo tentando quatro vezes, Naruto não consegue se inscrever para um curso técnico de mecânica. Sasuke continua focado no vestibular, porém a escola termina e ele não consegue passar. A vantagem de fazer dezoito anos, porém, é que o gerente do banco, satisfeito com seu trabalho, resolve efetivá-lo.

Recebendo mais de um salário mínimo pela primeira vez na vida, os dois conseguem se virar. Compram uma cama confortável, massa corrida e tinta para arrumar as paredes.

— Ah, Sasuke, a gente vai levar pra sempre pra arrumar tudo isso!

Sasuke o puxa para um beijo e os dois acabam rindo enquanto encaram o trabalho que têm pela frente.

— Vamos levar mais tempo ainda se não começarmos logo.

— Hm… Tava a fim de fazer outra coisa…

Naruto o derruba no chão e se senta sobre sua barriga. Sasuke ri.

— Naruto…

— A gente tem a vida toda pra pintar a parede.

— A gente tem a vida toda pra transar também…

— Por isso temos que aproveitar, né?

Sasuke fecha os olhos ao sentir seu nariz ser beijado e inverte as posições com um olhar malicioso. Naruto o responde à altura e seus olhos azuis parecem brilhar mais intensos, como se essa fosse a cor predominante no universo.

—-*--*--*--*

Levaram quase quatro anos para deixar o apartamento como queriam, e saíram dele logo depois. Naruto conseguiu fazer seu curso técnico e Sasuke foi promovido, o que tornou possível que se mudassem para o centro da cidade. Pela primeira vez em suas vidas vão ao shopping com dinheiro sobrando na carteira.

Sasuke tem vinte e cinco anos quando presta seu último vestibular. Chega da prova exausto para encontrar o almoço pronto e Naruto o esperando ansioso no sofá da sala. Sasuke sorri ao vê-lo, ainda meio abobado com a cena. Um sofá. No apartamento deles.

— E aí, como foi?

Ele está usando o perfume cheiroso que ganhou de presente de aniversário. O primeiro presente caro que Sasuke pôde lhe dar.

— Ah, nem sei. Tô um caco. A prova tava um nojo.

— Eu senti teu nervosismo.

Sentam-se juntos na sala e almoçam conversando sobre a manhã que cada um teve. Compartilham uma ligação tão forte que quase sabem o que o outro sente antes de ele dizer.

Naruto não pode passar a tarde consigo porque precisa trabalhar, e Sasuke acaba ficando sozinho. Seu chefe foi bacana o suficiente de lhe dar folga nos dias de prova (mesmo que isso vá diminuir seus dias de férias) e poder fechar os olhos sem um despertador para acordá-lo é um daqueles pequenos prazeres da vida que Sasuke não desfruta muito.

Sorri meio bobo ao pensar que acabou. Finalmente acabou. Se passou ou não é outra história; pelo menos não precisa mais fazer nenhuma prova.

Acorda com a porta da frente abrindo, o ambiente já escuro. Dormiu por quase sete horas.

— Boa noite.

Levanta-se para cumprimentar Naruto e sente o nervosismo dele assim que o vê.

— O que foi?

— Não fica irritado comigo, mas é que ele me seguiu e eu não sabia o que fazer.

Seu primeiro pensamento é Yahiko. Encosta no ombro de Naruto procurando por machucados de forma involuntária e o percebe rindo disso.

— Não, não, eu tô bem… Hm…

Um latido do outro lado da porta. Sasuke estreita os olhos.

— Naruto…

— Reclama depois de ver ela!

Sasuke não tem tempo de responder. O namorado (marido?) corre até a porta e volta com um amontoado laranja e amarelo nos braços.

— Ela é uma vira-lata que tava perdida, Sasuke!

— Ela tá cheia de pulgas, consigo ver daqui!

— Exatamente, alguém precisa cuidar dela!

Sasuke está pronto para dizer que não vai aceitar um animal sujo desses no seu apartamento quando Naruto a aproxima do seu rosto e o faz encarar aqueles enormes olhos castanhos.

— Ela é um anjo, Sasuke! Por favor, olha como ela tá magrinha! Ela precisa de comida e de atenção e de carinho e de amor! Eu até comprei um xampu antipulgas pra ela!

— Naruto…

— Por favor, por favor!

Um animal é muita responsabilidade. Sasuke o encara com o coração apertado, mas consegue sentir o quanto Naruto quer ficar com ela. Assim como também sente os arranhões que passaram dos braços dele para os seus. Um cachorro… Parece coisa de adulto.

— Sem cachorro na cama ou no sofá. Ela vai dormir num jornal no chão, tá me ouvindo?

— Ah, eu te amo!

Sasuke ri quando ele se pendura em seu pescoço e o empurra ao perceber que a pulguenta está encostando na sua roupa.

— Qual é o nome?

— Ela não tem ainda. Que tal Linda?

— Isso é um nome muito merda.

— Ei!

— Se a gente vai ficar com ela, então… Hm… Ela parece uma bola de fogo.

Naruto abre um sorriso malicioso e Sasuke entende que deveria ter ficado quieto.

Meteoro da paixão, explosão de sentimentos que eu não pude acreditar! Aaah, com é bom poder te amar!

Solta um resmungo alto.

— Luan Santana não, Naruto!

— O nome dela vai ser Meteoro.

— Tá me tirando, né?

— Vem, Mete, vamos pro banho.

— Naruto, “Mete” não é nome de cachorro, é o que a gente faz quando vai transar.

— NÃO TÔ TE OUVINDO, EU E A METE VAMOS PRO BANHO.

Sasuke cruzou os braços e riu enquanto balançava a cabeça de um lado para o outro. Uma semana depois a cadela estava dormindo na cama com eles.

—-*--*--*--*

Foi uma agonia tremenda esperar pelo resultado do vestibular. Sasuke chorou ao não passar na primeira chamada, e comprou um champanhe caro ao ver seu nome da segunda lista.

Comemoraram dando um pequeno gole da bebida para Meteoro, que passou a subir e descer do sofá de forma desesperada e os fez rir alto. Sasuke fez sua matrícula em Direito poucos dias depois. Está a poucos passos de se tornar policial. Quando chegar lá… Ah, quando chegar lá Yahiko pagará caro.

É tirado dos seus pensamentos por Naruto chegando com uma panela de pipoca e uma cerveja gelada. Meteoro se aninha entre os dois e Sasuke liga a televisão na Netflix. Consegue sentir a tranquilidade de Naruto e deixa um beijo suave nos lábios dele antes de começar o filme.


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Notas finais do capítulo

E é isto!

Espero que tanto a Cherry quanto o quem mais tenha lido tenha gostado. Foi um parto fazer isso aqui, comecei às 13 e terminei 17:30. Nunca escrevi nada tão rápido na minha vida.

QUERO DEIXAR AQUI DECLARADO QUE OS ERROS EM RELAÇÃO AO TEMPO VERBAL NÃO SÃO CULPA DA MINHA BETA, ELA ME ENSINOU A USAR DIREITINHO, obrigada, Anne. Eu que sou retardada e fiz de última hora e não tive tempo de corrigir 100%.

E é isto ♥

Bjs e teh + ^3^//

P.s: Quem quiser comentar, elogia também a capa feita pela Barbara Vitoria ♥



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