Faded escrita por Megitsune


Capítulo 1
A calmaria antes da ideia


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Este é um projeto experimental em que andei trabalhando no mês passado. A ideia pode parecer um pouco louca no início, mas tenho certeza de que irão entender e quem sabe gostar. Rs

Como é um projeto experimental, eu vou decidir se continuo ou não seguindo a opinião de vocês. Tanto que não marquei a opção de terminada por isso. No nyah é mais complicado de reabrir um projeto.

Vocês perceberão um monte de pontos abertos ao longo da leitura, coisas que poderão ser exploradas, caso a história continue, claro.

Bom, é isso. Uma boa leitura a todos!

(Fanfic também postada no Spirit)



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O que nos força a mentir é o sentimento da impossibilidade de os outros compreenderem inteiramente a nossa ação. Mesmo a mentira mais complicada é mais simples que a verdade. 

(Paul Valéry) 

 

1. A calmaria antes da ideia

 

Existiam algumas coisas na vida de Naruto que não davam para serem aceitas. A primeira delas era trabalhar na mesma franquia há uma década. Sim, década! Para ser mais exato, quinze anos. Quase sem pausa para descanso. 

A segunda delas era não saber mais diferenciar ele mesmo do próprio personagem, afinal era fácil se perder fazendo a mesma coisa durante tanto tempo. O que começou quando ele tinha 12 anos caminhava para o fim agora que ele tinha 26. Se bem que estava claro como água que Naruto Shippuden estava longe de ser um tíquete para a liberdade. O público queria mais, logo os produtores também. Falando assim, fica parecendo que Naruto não gostava do que fazia; ele gostava, mas nunca se imaginou um dia terminando frases com -tebayo fora do set de filmagens.  

Naruto muitas vezes se perdia entre ele e sua versão ninja. Antes ele apenas flutuava de um para o outro mantendo uma linha de segurança, uma distância por assim dizer. Com o passar dos anos, a linha encurtou e alguns hábitos se enraizaram nele, sendo o menos irritante o de correr atrás de Sasuke.  

Quer dizer, no início era estranho, meio irritante. Sasuke atuava bem como... An... Sasuke, porque era fechado e cabeça dura naturalmente. E bonito, mesmo sendo um rapaz, Naruto precisava admitir, o rapaz era um sonho. As garotas tinham razão para amá-lo, ele era alto, tinha a pele alva como o mármore e cabelos negros como o carvão. A franja caía pelas laterais do rosto, afinando-o ainda mais, enquanto a parte de trás, rebelde, nunca ficava no devido lugar, permanecendo espetada. Se bem que, ultimamente, o cabelo do rapaz estivesse ganhando peso e ele precisasse manter o penteado com o uso de spray. 

Bom, voltando ao assunto de interesse, era preciso deixar claro que Naruto não nutria nada além de uma linda e saudável amizade com o seu colega de trabalho. “Correr atrás” do amigo não chegava nem perto da maluquice que seu personagem arrumava. O galã principal, loiro, de belos olhos azuis e pele morena podia até formar um belo par com o Uchiha (na visão de algumas -muitas- fãs), mas rapazes eram rapazes, não namoravam um com o outro. 

Não abertamente, no Japão.  

— Corta! Bom trabalho por hoje, pessoal! Podem descansar — anunciou o diretor ao fim da gravação de mais um episódio, dessa vez o Tsukuyomi de Kaguya. A última cena foi a do sonho de Ino, sabe-se lá por que motivo, se aquele não seria o final do episódio.  

  Em um estúdio, nenhuma gravação era linear, Naruto sabia bem disso, mas a cena de Ino demorou demais para ser gravada. E ela nem era a última, era para ter sido feita de manhã, porém o diretor não permitiu. 

Assim, Naruto ficou a observar sua amiga a tentar gravar pela centésima vez uma cena em que ela parecesse feliz o suficiente por ter dois homens brigando por ela. Foi deprimente, porque dava para sentir o cansaço dela, a pressa de Sai e o estresse de Sasuke.  

O Uchiha já não gostava de filmar nada engraçado e se esforçava para tudo sair pronto de primeira. Quando isso não dava certo, ele ficava frustrado e jogava a culpa nos outros. Naruto sabia disso, porque já ouviu Itachi a dar um sermão no irmão por causa da prática desagradável.  

 A sorte era que Sasuke não fazia muito caso quando necessário. Tanto que ele não surtou nas gravações do filme “Road to ninja”, mas também não gostou. Estava para surgir o dia em que haveria no mundo um Uchiha mulherengo.  

— Bom trabalho, gente! — exclamou Sakura, animada como sempre — Você foi ótima, Ino! 

A moça de curtos cabelos rosados nunca usou peruca nas gravações e a cor real de seus fios era um mistério que ninguém conseguiu resolver. Naruto apostava na cor castanho, enquanto Shikamaru, mais ousado, apostou no loiro. Tudo porque a família da garota, por parte do pai, era estrangeira; canadense, ela disse uma vez.  

Todos os atores começavam a se dispersar, a maior parte exausta. Eram duas horas da madrugada e eles mereciam um bom descanso, principalmente Ino.  

Ninguém podia negar que Yamanaka Ino era uma das atrizes mais belas da série. Longos cabelos loiros, olhos azuis como o céu mais claro e um corpo curvilíneo de tirar o fôlego. Desde criança ele sabia que ela seria linda, o diretor também, por isso as retaliações. 

A beleza podia ser uma maldição no mundo artístico. O pior era que quanto mais você tentasse lutar contra ela mais afundava em um buraco sem volta. CEOs, diretores, outros atores, o público, todos queriam um pedaço seu. Ino atuou bem, porém o diretor achou que não e refez a cena à exaustão. Naruto, Sakura, Hinata, Kakashi, Chouji, Shikamaru, dentre outros podiam ter ido embora há tempos, mas preferiram ficar. 

Eles nunca deixariam uma amiga chorar sozinha. Entre palavras de incentivo, alguns tapinhas nas costas e elogios, Ino caminhou de volta para o camarim com um sorriso de agradecimento mudo. O diretor podia dizer o que quisesse, mas eles deixariam claro que ele estava enganado, mesmo que acabassem sendo retaliados depois. 

— Ino-chan, você estava ótima. Os telespectadores irão adorar — Naruto exclamou. 

— Obrigada, Naruto-kun — ela parecia a mesma de sempre, não fosse pelo nervosismo aparente em seu torcer de mãos.  

— Eu preparo o seu prato favorito quando chegarmos, o que acha? — Naruto ouviu o pai dela, Inoichi, oferecer, mas não prestou atenção na resposta já que o diretor resolveu dar um aviso. 

— Devido ao horário, retomaremos o nosso trabalho às 13h — disse o diretor. 

Era um alívio. Se seguissem o horário normal, mal teriam quatro horas de sono.  Agora, ele teria tempo de sobra para dormir, comer uma deliciosa tigela de lámen e assistir o último episódio de sua série favorita. Já ia fazer cinco meses que recomendaram e ele não conseguiu terminar de ver.  

Aguardou que alguém da equipe de som viesse tirar a lapela de sua roupa (se ele tentasse tirar aquele microfone sozinho e estragasse o equipamento, estaria em maus lençóis) e logo se encaminhou para o camarim, onde poderia se trocar e pegar suas coisas para sair. Naruto já se imaginava sozinho em casa, deitado na cama com o seu laptop, descobrindo mais uma das terríveis tecnologias de Black Mint. Bom, a série era complexa demais para o intelecto do loiro, mas ele sempre se esforçava em assistir três vezes o episódio, assim entendia tudo. Em último caso, perguntava a Sakura ou Gaara (Sasuke não assistia séries). 

Entrou no camarim e trancou a porta. O local era até espaçoso, um cômodo quadrangular que suportava até cinco pessoas, isso quando vazio. A arara de roupas, mais algumas caixas com acessórios no lado direito e a grande maquiadora do lado esquerdo reduziam e muito espaço, mesmo assim, para Naruto aquilo era um luxo.  

O rapaz trocou rápido de roupa, voltando para sua tão confortável blusa de gola alta preta, jaqueta de inverno com capuz verde-musgo, calças jeans claras e tênis de marca brancos. Naruto não era um exemplo no quesito moda. Vestia o que achasse mais confortável, sem se importar muito com o fato de combinar ou não, mas havia algo no seu estilo que ele não abria mão, as jaquetas.  

Além de práticas e agradáveis, as jaquetas podiam guardar segredos em seus bolsos. Não para todos, claro. Só para o loiro, escritos a lápis em papeis de guardanapo pegos na lanchonete do estúdio. Naruto tinha vontade de colecionar todos eles, mas sabia que informações sigilosas podiam ser descobertas facilmente e era com grande pesar que a cada mensagem ele tivesse que rasgar o papel e jogar pela descarga do banheiro.  

Ele sabia que haveria um bilhete no bolso da jaqueta, foi com ânsia que as mãos adentraram o tecido da roupa em busca do papel que alegraria o restante de sua madrugada. Os dedos afoitos vasculharam cada centímetro até que a trama firme do papel roçassem a ponta do dedo médio, segurando com o indicador, Naruto puxou um pequeno pedaço rasgado de guardanapo. Não havia necessidade de desdobrar, bastava olhar e ler.  

Bela noite para terminar de assistir aquela série. Estarei no seu apartamento.  

Um sorriso quase tão radiante quanto seu dono transpareceu solitário no rosto de Naruto. Releu o recado mais duas vezes antes de rasgar tudo em pedaços pequenos, se encaminhou ao banheiro e jogou todos os pedaços dentro da privada. Dar descarga nas palavras dava uma pequena sensação de vazio, como se parte de um sentimento estivesse sendo desprezado. Soava exagerado, demais até, porém ele era dramático às vezes. Ao contrário do Naruto ninja da TV, sempre forte, prático e destemido.  Ah, a vida seria melhor caso ele soubesse copiar o seu personagem nas qualidades.  

Serviço feito, restou voltar para casa. No caminho para a garagem, se despediu de colegas como Shikamaru, Hinata e Tenten, bebeu água no bebedouro mais próximo, a cada metro arrumando uma desculpa para se demorar um pouco mais. Com os olhos vagando em busca de alguém que ele sabia ainda estar no estúdio, que ia contra a sua vontade sufocante de voltar logo para casa. Era divertida a sua procura, como brincar de pique-esconde nos estreitos corredores, sem saber o que encontrar atrás de uma porta ou na virada de uma curva. Bastava fantasiar um pouco e Naruto já se via como um ninja em missão de busca, fechando os olhos para encontrar um rastro de chakra compatível com o de seu alvo.  

Desceu as escadas do estúdio como quem acaba de entrar em um esconderijo secreto, tendo a discrição como grande aliada, Naruto teve o prazer de encontrar quem procurava a quatro carros de distância, guardando uma mochila na porta traseira de um Jaguar preto. Chegar de fininho quase nunca funcionava, sempre aparecia alguém para se despedir dele e estragar a surpresa, para todos os efeitos, Naruto optou por ajeitar a jaqueta e se aproximar como quem não quer nada.  

— Yo, Sasuke — cumprimentou, com ambas as mãos escondidas nos bolsos da jaqueta.  

Sasuke olhou na direção de Naruto, seus olhos negros como a imensidão da noite, geralmente inexpressivos, pareceram mais vívidos. O loiro sempre tinha a impressão de que Sasuke não era tão frio quanto diziam, claro que ler as atitudes do Uchiha não era uma tarefa simples, muito menos fácil, mas Naruto conseguia. Ele era melhor em entender a personalidade complexa de seu companheiro de filmagem do que séries e livros.  

Aliás, o roteirista da série era um gênio. Fazer atores interpretarem personagens que teriam os seus nomes reais tinha um poder de influência gigantesco sobre eles. Naruto não se identificaria tanto com o próprio personagem caso ele se chamasse Akira, ou qualquer outra coisa. O único lado negativo nisso tudo era que os créditos ficavam ridículos. 

Uzumaki Naruto .................... Uzumaki Naruto 

"Uau, quanta originalidade", pensariam as pessoas, sem perceberem a quebra da quarta parede.  

E da privacidade... Era melhor Naruto não pensar nesse detalhe. 

— Yo. — Foi tudo o que Sasuke respondeu. 

— Tente não sentir muito a minha falta essa madrugada. — Naruto sorriu e deu uma piscadela. A piada era velha, mas ele nunca se cansava dela. 

— Mas é um idiota — respondeu. Sasuke estreitou o olhar, visivelmente irritado. O loiro sabia, o outro estava apenas processando a piada; melhor dizendo, evitando não sorrir com algo ridículo. 

— Boa noite, Teme. 

— Até mais, Dobe — Sasuke abriu a porta do carro e entrou, Naruto queria ter visualizado, nem que fosse a sombra de uma sorriso no belo rosto do Uchiha. Não conseguiu, se Sasuke sorrira, o vidro escurecido do carro escondeu. 

De todo jeito, a tarefa estava concluída e ele poderia voltar para casa em paz. Até porque havia alguém esperando pelo loiro.   

Naruto não era muito levado a luxos, mas um sedan Acura tinha seu espaço especial nos mimos do ator. Na cor laranja, o veículo chamava a atenção no meio de tantos outros de cores escuras. Há quem se pergunte, por quê logo laranja? Digamos que era melhor que amarelo e o loiro tinha gostos parecidos com o do seu personagem. E ele não se importava com o quanto aquilo era assustador para quem visse de fora.  

O trajeto de volta para casa foi tranquilo devido ao horário. A rádio tocava antigos sucessos dos anos 80 como Akogareno Sundown, Space Crush e Do What You Do, dentre tantas outras músicas que Naruto mal lembrava. Quem gostava daquele estilo de música era o pai, Minato e o ator que interpretou um dos vilões da Akatsuki, Kakuzu. Era engraçado como, mesmo nem se conhecendo, eles costumassem falar nessas horas que os jovens perderam a época de ouro da música, pois não se produzia mais nada como antigamente. Naruto discordava, pois adorava pop e músicas de anime, sendo esse último um gosto compartilhado pela mãe dele, Kushina. 

Naruto parou em um sinal vermelho, com os dedos a tamborilarem no volante sob o ritmo calmo da música. No movimento quase inexistente das ruas, às vezes ele se pegava imaginando como seria a sua vida, caso ela fosse normal. Neste momento, ele provavelmente estaria no sétimo sono, tranquilo quanto o amanhã, pois sabia, seguiria a mesma rotina. Enquanto como ator, tudo o que ele sabia era que, se agisse mal, sua cara estaria estampada na capa de dezenas de revistas de fofocas. 

A vida se tratava muito mais do que as pessoas esperavam dele, do que a realidade em si.  

Quando ele chegou no apartamento, o relógio marcava quinze para as três. Naruto suspirou em desânimo, não daria tempo de assistir nada. Destrancou a porta e entrou, acendendo a luz em seguida. 

A sala de estar tinha um formato quadrangular, mas segundo os padrões japoneses era espaçosa, dava para quatro pessoas andarem sem esbarrar. A bagunça deixada por ele no dia anterior – comida encomendada, pratinho de sobremesa e um jornal – na mesinha de centro havia sumido. Naruto retirou os sapatos no genkan, notando um par extra no canto esquerdo. Não bastasse a pessoa ter aguardado por ele, ainda fez o favor de arrumar toda a bagunça. 

Retirou a jaqueta e jogou no ombro. Deu uma espiada na cozinha, tudo limpo. Abriu a geladeira e tirou de dentro uma garrafinha de leite de morango, antes de comer ele não havia percebido o tamanho da própria fome. A bebida doce foi bem aceita pelo estômago que pediu mais, logo Naruto ingeriu a segunda garrafinha, deixando os recipientes vazios em cima da pia. 

Seguiu em direção ao quarto, bocejando baixo, enquanto uma leve onda de cansaço tomava conta de seu corpo. O dia havia sido de fato exaustivo, mas nada tiraria dele o prazer de relaxar ao lado de quem estava dormindo debaixo do grosso cobertor azul-escuro. 

Naruto acendeu a luz e deixou a jaqueta deslizar para o chão, o som metálico dos botões contra o chão foi baixo, mas ao mesmo tempo alto o suficiente para terminar de acordar quem estivesse dormindo. 

— Naruto...? — perguntou, no que parecia um chamado.  

— Desculpa a demora, Gaara. — Sorriu o loiro, vendo o rapaz se sentar na cama, ainda meio sonolento.  

— Está tudo bem. Eu sabia que você poderia chegar tarde — respondeu, afastando as cobertas para o lado, a fim de se levantar. Ele voltou o olhar na direção de Naruto que se viu perdido na frieza daqueles olhos cor de menta. Talvez, frio não fosse o melhor meio de descrever o jeito de seu amante, Gaara era como um daqueles vulcões dormentes, cujo exterior raramente expressava o que se passava lá dentro.  

— Pior que hoje foi uma mancada atrás da outra. Tivemos que refazer uma cena inteirinha, porque o cinegrafista esqueceu de gravar — explicou naquele jeito de quem procura uma desculpa qualquer para não ter de responder mais nada.  

Estar em casa era um prazer limitado a poucas horas, Naruto queria aproveitar todas elas, apesar do cansaço que começava a querer consumi-lo. Tomado por uma preguiça estranhamente movida pela sua hiperatividade, ele deitou com o corpo atravessado na cama, a cabeça apoiada no colo de Gaara, impedindo-o de se levantar.  

A surpresa inicial de Gaara durou poucos segundos, sendo vencida por um sorriso que iluminou o rosto alvo de um jeito único para Naruto. Talvez essa impressão ocorresse por estarem juntos, ou talvez porque, por mais belo que fosse, a ternura daqueles lábios formassem uma estranha contradição com a frieza de seus olhos.  

Naruto se via tomado por uma venda quando se via em meio a esse paradoxo sentimental. O gelo de Gaara lhe congelava a alma e formava um bolo de espinhos no estômago, mas ao primeiro toque, tudo derretia e aquecia nele uma sensação morna de paz e serenidade propícia a tornar o lago de inseguranças em pequenas poças de água. 

Os dedos de Gaara percorreram as marquinhas em suas bochechas devagar, até escorregarem pelas mechas loiras em uma massagem de fazer os olhos pesarem. 

— Eu só passei no estúdio de manhã para convencer o diretor a adiantar a gravação de algumas cenas minhas. Tudo parecia em ordem na hora — Gaara comentou, pensativo.  

— Adiantar? Não me diga que quer sair de férias antes de mim! — exclamou igual uma criança birrenta, o que em nada lembrava o ator bem-sucedido.  

Naruto sabia que suas cenas eram grandes demais para serem adiantadas, sabia também o quanto as obrigações como personagem principal o prendiam ao trabalho. Ele não podia culpar Gaara por querer passar um tempo com a família. 

— O aniversário do meu pai é este mês e minha mãe planejou uma festa surpresa. Coisa pequena. 

— Ah, é? — Naruto fez o favor de esquecer a data. — Que dia? 

— Dia 29. Vai cair na terça-feira. Se você puder ir, será muito bem-vindo. — Sorriu.  

— Está brincando?! Claro que eu vou! — Naruto declarou, animado. Ergueu-se rápido, o que fez Gaara recuar o tronco por reflexo. — Vai ter bastante comida, né? 

— Certamente.  

— Japonesa ou holandesa? — Naruto não resistiu à pergunta.  

— Um pouco dos dois. Quando souber da sua presença, minha mãe fará questão de preparar torta de maçã como sobremesa.  

O avô de Gaara era holandês, casou-se com uma residente de Hiroshima e viveu no Japão durante décadas. Ele só voltou para a Holanda quando seu filho Rasa completou 15 anos e por lá ficou.  

Era provável que Rasa tivesse morado em Roterdã até morrer. A sorte foi que ele conheceu Karura quando ela se perdeu do grupo turístico e se apaixonou por ela. Entre viver sozinho com os pais e se mudar para Tóquio com a mulher que amava, ele escolheu a segunda opção. 

Bom para Naruto que ao ficar amigo de Gaara pôde conhecer as maravilhas da culinária holandesa. Sendo a melhor delas a torta de maçã.  

— Agora que eu não falto mesmo, dattebayo! — Naruto sorriu, mas logo ficou sério ao perceber o que havia acabado de dizer. Tampou a boca inconsciente e praguejou baixinho. Aquela maldita mania! 

O bom era que Gaara não ria, só quando muito alterado (bêbado), algo raro de acontecer. 

— Por que isso agora? Sempre falou dattebayo —Gaara ponderou, divertido. 

— Estou tentando parar — confessou. Tirou a mão da boca, em uma promessa muda de não voltar a falar tal palavra fora do estúdio. Aquilo era tão Naruto, o ninja, e ele não estava ali para atuar. 

Lembrando-se de uma das poucas coisas que seu fantasma ninja não fazia, se aproximou de Gaara e beijou-lhe a bochecha com carinho.  

— Vou tomar um banho. Me acompanha?  

— ... Com prazer. — Gaara demorou um pouco mais que o normal para responder. Naruto se perguntou se era por não querer ou receio, porém a resposta em si foi firme, sem espaço para dúvida, dissipando a breve onde de insegurança. 

Naruto levantou-se e foi retirando as peças de roupa em seu percurso para o banheiro. Ele tinha pressa, porque o tempo corria contra ele e queria descansar. Deixar de pensar para ser mais exato.  

Seu parceiro observou cada movimento como se fossem voltados para ele. De certa forma, eram. Nessas poucas horas de privacidade Naruto sabia não estar mais agindo parecido com um personagem. Era ele, apenas ele o dono de seus pensamentos e ações, mesmo porque seu personagem não era bi. Seu personagem não gostava de Gaara como ele, mas em contrapartida, o ninja não seria um cretino que namora alguém há 10 anos sem nunca ter dito um “eu te amo”. 

Era que as palavras não saiam. Ele achava que as ações diriam tudo no lugar das palavras. Só que ações não criavam a liga necessária, só no início. Depois elas, aos poucos, iam se enferrujando pela falta de algo que as validasse.  

Ou, talvez, suas ações não fossem sinceras o suficiente para convencer. Talvez, correr atrás do Sasuke não fosse um meio sensato de provar amor. 

Mas a verdade, era que ele não queria pensar nisso. Ele não queria pensar em nada. 

Em algumas horas o ciclo se repetiria até uma força maior o quebrasse. Afinal, o Naruto ninja precisava dele para sobreviver. Ele não. 


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Notas finais do capítulo

Para quem leu até aqui e gostou, o meu muito obrigada. Lembrando que se quiserem que a história continue, basta um comentário dizendo "continua". Mais nada. Simples assim e eu vou saber que desejam ler mais.

Algumas curiosidades:

Roterdã sofreu um bombardeio nazista, o que faz os avós do Gaara nascidos de cidades que foram massacradas pela guerra. Tanto Hiroshima quanto Roterdã ainda sofrem com as feridas da guerra, apesar das cicatrizes de Hiroshima serem muito mais profundas para serem curadas.

Black Mint é Black Mirror, ok? Eu resolvi fazer uma pequena paródia com os nomes das séries.

A ideia dos personagens possuírem o mesmo nome, família e quase que personalidade veio do esboço da primeira versão. Isso serviria para dar um ar cômico ao enredo, mas aí eu percebi que a ideia em si é mais dramática do que engraçada. Já se imaginaram atuando como heróis de mesmo nome e características que vocês e ao mesmo tempo serem vocês? Eu imaginei isso enquanto escrevia e achei bizarro.

Um grande beijo para todos! Estarei esperando por vocês nos comentários.



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