O Sangue do Mestiço escrita por Júlio Oliveira


Capítulo 29
Amanhecer vermelho


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :D



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Se a escuridão que recaía sobre Roanoke era recente, o coração de Margaret Olsen já estava apossado por trevas há muito tempo. A pobre mãe não havia ainda superado a perda de seu filho, Richard Olsen. O fato de o movimento de sua estalagem estar próximo de zero também contribuía para todo o vazio que ela sentia. O silêncio por si só não era um problema. Enquanto vivo e em paz, seu filho nunca fora de falar muito. Passava horas de seu dia desenhando e pintando. Vez ou outra ia ao bar atrás de mais inspiração.

— Cuide-se — Margaret sempre dizia com todo carinho e amor do mundo.

Não havia, na prática, risco algum naquele trajeto do garoto. O bar ficava a poucos metros da estalagem e era frequentado por pessoas comuns que apenas desejavam afogar suas mágoas e desejos reprimidos. Ela entendia que poderia ser um bom lugar para buscar novas ideias e matar curiosidades, mas mesmo assim repetia: “cuide-se”. Mal sabia que em uma noite como qualquer outra, essa seria a última despedida antes da tempestade que atingiria a ilha.

— Cuide-se — dissera como sempre, ao mesmo tempo em que Richard olhou para trás e deu o singelo sorriso de sempre.

Ela agora podia se lembrar dos passos do garoto. “E se ele não tivesse ido?”, pensou. Sim, todo um fluxo de acontecimentos poderia ter sido mudado. Richard provavelmente não iria acompanhar aquele bando de bêbados fúnebres rumo ao corpo sem vida de Jessica Muller. Isso certamente impediria que ele pintasse aqueles quadros e, com certeza, que ele visitasse o necrotério daquela maneira absurda. “Ele estaria vivo”, concluiu tristemente enquanto permitia que lágrimas encharcassem seu travesseiro.

Sentindo-se afetada pela mais severa insônia, esticou o braço para alcançar um fósforo ao lado da cama. Pegando uma vela com a outra mão, logo rompeu aquela escuridão tenebrosa. O ambiente estava frio e a morte pairava pelo ar. As luzes tremulantes da vela revelaram o quarto bagunçado daquela triste mãe: livros empoeirados tomavam conta da estante, enquanto o armário revelava todas as suas amassadas vestimentas graças a uma das portas quebradas. Não só isso: teias de aranha se acumulavam pelos cantos da casa, ainda que uma simples vassoura pudesse resolver o problema.

Erguendo-se da cama e sentindo suas costas estalarem, Margaret pôde provar do rápido envelhecimento que tivera nos últimos dias. Estava cansada, sem fome e sem forças para fazer o que sempre fizera. Caminhando vagarosamente pelo seu lar, foi até o banheiro e lavou o rosto. Encarou-se no espelho e, sob a luz da vela, assustou-se com o que viu. Cheia de rugas, ela havia perdido a beleza que sempre trazia. Não era uma jovem, mas tinha seu charme. “Tinha”, ela pensou com pesar. E seguiu pela estalagem.

Após atravessar a porta do banheiro e sair de sua suíte, pôde vislumbrar a tristeza que estava o salão principal: abandonado, esquecido e às traças. A madeira estalava e o odor que o lugar exalava não era nada agradável. Mas ela não se importava: é difícil se incomodar quando há uma identificação tão grande com o lugar. Seguindo a passos lentos, foi até o quarto de seu falecido filho. Encarando aquela porta de madeira, ela pôde se lembrar de cada momento de tensão antes da fuga dele rumo a tribo. Lembrou-se também de seu retorno e do pouco tempo que tivera para aproveitar a sua presença. Foi tão intenso, mas tão rápido, fugaz. “Por que teve que ser assim, meu Deus?”, questionou os céus.

E então abriu a porta. O lugar estava da mesma maneira que Richard havia deixado: quadros, tinta e uma desarrumação puramente artística enfeitava o ambiente.

— O meu artista — ela disse em voz alta enquanto admirava cada centímetro daquele lugar.

Sim, ele estava desarrumado e largado como o resto da casa. No entanto, Margaret conseguia sentir que seu filho estava ali, ou que pelo menos uma parte dele estava. E que parte melhor do que suas obras? Encarando os quadros de grande precisão técnica do garoto, a mãe não poupou olhares detalhados. Examinou desde as pinturas de natureza morta, até as obras que geraram mais problemas ao filho. Sim, havia sangue, era violenta e talvez sem sentido, mas era uma obra dele. Richard estava ali. E, em meio aquele cenário digno de histórias de terror, tudo que Margaret conseguiu fazer foi sorrir. Ao menos aquele pedacinho de seu filho eles não podiam tirar, e de uma coisa ela tinha total certeza: o menino era muito talentoso.

— Eu te amo, Richard — disse com mais lágrimas escorrendo pelo seu rosto, ainda que um sorriso delineasse um novo caminho através de sua face. Com a mão direita erguida, tocava em alguns dos quadros como se pudesse sentir a pele e o calor de seu filho.

E então seus olhos se voltaram mais uma vez para o famoso quadro de Jessica Muller. Sim, aquela obra que fora tão falada e que gerara todos os murmurinhos, piadas e punições para seu filho. E, vendo aquilo, como não lembrar de Edward Muller? O verdadeiro algoz da ilha, um demônio em forma de gente. Diante daquilo, o salto de emoções dentro de Margaret Olsen foi tremendo: de amor e nostalgia para ódio e vingança. Ela também se lembrava bem do pedido que fizera a Patwin, além do som de tiro que ouvira no outro dia. Teria sido obra do mestiço? Então porque ele não teria retornado para dar notícias? Mais do que uma triste notícia, as incertezas inquietavam a mulher.

E aquele som se fez presente novamente. Rompendo o silêncio sombrio, o grave estouro de um revólver foi escutado no meio da madrugada. O susto quase fizera com que Margaret deixasse a vela cair, mas ela fora mais ágil. Encarando o vazio, ficou imaginando mais uma vez o que poderia ser aquilo. “Dois tiros em dois dias?”, a pergunta viajava por sua mente. Afinal de contas, nada daquilo parecia fazer sentido. Indo até a janela, tentou espiar qualquer coisa que fosse pelas frestas. Viu o esperado: o absoluto nada.

Caminhou então até a porta de entrada, com a estranha ideia de sair da segurança da estalagem para o lado de fora. Talvez assim pudesse entender o que estava acontecendo. Na sua cabeça, o que importava é que aquele momento poderia ser o da morte de Edward. Seria a madrugada perfeita. No entanto, algo a assustou. Enquanto girava a chave para destrancar a porta, ouviu tensos passos e um ofegar indiscreto. Voltando para a janela, pôde se surpreender com a figura que se fazia ali presente: Melinda Green. Voltando para a porta e abrindo-a rapidamente, Margaret foi pega de surpresa quando a garota, assustada, apontou-lhe uma arma.

— Sou eu! — A mais velha disse cheia de medo e sem compreender o que se passava.

Respirando com dificuldade, Melinda apresentava olhos tensos e cansados. Sua respiração sofria com um ritmo desregulado e até mesmo suas roupas não lembravam em nada a doce garota do bar, filha de Ronald Green. Mais do que isso: ela estava com uma espingarda, uma arma que poderia ser bem difícil de se manusear para os menos experientes. Retomando a calma e abaixando a arma, a adolescente finalmente soltou suas primeiras palavras:

— Desculpa — quase que sussurrou enquanto tentava retomar o ar que lhe parecia tão escasso. — Você ouviu isso? Esse barulho? Esses barulhos.

Fazendo um esforço para não ser contagiada pela tensão da menina, Margaret respondeu:

— Sim, ouvi — tentava manter uma voz serena, de maneira que pudesse transmitir um pouco de calma para a garota. — Mas o que você faz aqui, afinal? E o que pensa em fazer com essa arma?

— Eu só... — Melinda buscava com todas as forças, mas as palavras fugiam de si. Pendurando a alça da arma em seu ombro, relaxou um pouco e, com um olhar de decepção, prosseguiu. — Eu pensei que estivesse acontecendo algo. Senti medo e quis ajudar.

— Mas você sabe usar isso? — De alguma maneira, a mãe sentiu seu instinto materno falar mais alto. Ver aquela jovem naquela situação a fazia desejar com todas as forças protegê-la daquele mundo tão cruel.

— Eu sei — Green tentou demonstrar mais força do que realmente tinha. — Meu pai me ensinou. Eu sei limpar, carregar, destravar, atirar e outras coisa mais. Ainda não sou tão acostumada com o recuo, mas posso dar conta.

Vendo a insegurança que tomava conta da face da garota, Margaret não resistiu e ofereceu-lhe ajuda.

— Você quer dormir aqui esta madrugada? Posso arrumar um quarto para você — falou com a mais sincera compaixão. Ela sentia que toda aquela raiva que nutria por Edward havia dado espaço a um sentimento verdadeiramente bom e que a completava de uma maneira muito mais saudável para o corpo e para o espírito. — Sei o que aconteceu com o seu pai. Todos nós perdemos alguém nesses últimos tempos.

E, ouvindo palavras de alguém que compreendia perfeitamente sua dor, Melinda desarmou-se e deu um tenro abraço naquela mãe.

— Só esta noite — disse a garota com uma certa timidez. — O bar do papai não pode parar.

E, em meio a severa escuridão e ao terror, Margaret deu um belo sorriso e conduziu a menina rumo ao seu lar.

Não muito longe dali, Patwin permanecia no mundo dos sonhos. A tarde havia sido cheia de álcool e distrações a fim de apagar qualquer dúvida que pairasse a sua mente. O mestiço sentia que não podia mais aguentar tudo aquilo que estava vivendo na ilha. As coisas tinham que parar de uma vez, e ele até já tinha um plano para isso: levaria David de volta a Nova York, afastando-se ao máximo de Roanoke. Talvez assim ele pudesse se esquecer de tudo que havia passado ou feito. Mas ele sabia: não era tão fácil assim. As memórias e marcas o perseguiriam para sempre, e não havia como escapar de si mesmo. Dessa maneira, o álcool e o sono intenso que se seguiu foram suas válvulas de escape, pelo menos temporariamente.

— Patwin! — A voz de David se ergueu de maneira quase grosseira. — Acorda, homem!

“O quê?”, o jornalista pensou em dizer, mas sentiu sua língua se enrolar durante o caminho. Além disso, sua cabeça latejava de dor e sua visão estava um tanto quanto embaçada. Tateando ao seu redor, pôde perceber que estava deitado sobre uma cama simples, mas confortável. Com a luz adentrando seus olhos, descobriu também que a manhã já havia chegado. Mais do que isso: notou que estava num lugar um tanto quanto previsível: o alojamento da igreja.

— Você parece um morto-vivo, meu amigo — David disse com jocosidade e impaciência. — Vamos, levante-se!

Sentindo todos os seus músculos se contorcerem de dor, o mestiço fez bastante esforço para finalmente se sentar. Levantou o olhar e viu que o seu impaciente amigo estava com os olhos arregalados e quase ofegante. Algo havia acontecido. “Prefiro nem pensar”, uma voz na cabeça do jornalista falou.

— Quer ajuda? — Sem paciência alguma, o pequeno jornalista estendeu o braço para oferecer apoio ao seu colega. — Você não deveria ter bebido.

Rejeitando aquele auxílio, Patwin encarou os próprios pés e, após respirar fundo, começou a pressioná-los contra o chão. Sentia algum desequilíbrio, mas a cada respirada tinha a impressão de estar retomando o controle. Lentamente levantou-se e finalmente se viu de pé ao lado do garoto.

— Finalmente — disse o mais jovem. — Pena que o gato comeu sua língua, mas ao menos consegue se manter de pé. Vamos, temos muito o que resolver.

“Resolver?”, o mestiço pensou em falar mais uma vez, mas as palavras não chegaram a sua boca. Tomando uma consciência cada vez maior daquele momento e de suas ações, passou a andar com cuidado. Apesar da dificuldade, em nenhum momento sentiu que tombaria. “Estou indo bem”, refletia a cada passo, ao mesmo tempo em que sua mente ganhava mais e mais clareza.

— Eu precisava disso — finalmente disse qualquer coisa que fosse. — Agora qual é o problema?

— Bem, você provavelmente teria ouvido se não estivesse apagado aí. Mas ao menos reaprendeu a falar. Isso é que é evolução — David brincou mais uma vez e deu largos passos rumo a saída do alojamento. — Vem, o xerife está aqui.

— Xerife? — Pat questionou, mas não obteve resposta: seu amigo já havia o deixado sozinho.

Averiguando suas roupas, o jornalista viu que estava, afinal, bem vestido. No entanto, não cheirava tão bem. “Certamente esse xerife não irá se importar”, pensou jocosamente antes de finalmente ir para a nave central da igreja.

Lá, teve a visão de quase sempre: Padre Marcus com sua batina negra e longa barba grisalha, a simpática Selvagem e o pequeno e bom jornalista David. A adição era chamativa: o gordo e pouco confiável – ao menos para o mestiço – Arnold, o xerife. Estavam reunidos próximos do altar, onde a passagem secreta se fazia trancada e oculta.

— Pelo amor de Deus! — Arnold disse com uma estranha euforia assim que viu o sobrevivente do massacre da tribo. — Milagres acontecem, hein? Já havia me cansado de ouvir aquele Muralha falar do tiro que deu em você. Todos pensavam que estava morto. Ainda bem que não me coloquei contra você e o garoto, não totalmente, pelo menos. Imagino que todo tipo de azar se viraria contra mim, assim como aconteceu com os outros.

— Azar? Outros? — Pat aproximou-se lentamente enquanto seu cérebro voltava ao funcionamento normal. — Do que você está falando?

— Você ainda não sabe? Não ouviu? — O mestiço olhou para o padre e para o garoto, como se eles fossem lhe entregar alguma explicação. A dupla apenas virou o olhar de maneira reprovadora. O homem ensaiou uma resposta, mas preferiu continuar em silêncio para ouvir toda aquela história. — Bem, a mansão de Edward Muller foi invadida.

— “Invadida?” — David simulou a previsível reação que Patwin teria. O jornalista o olhou de maneira impaciente.

— Já adiantando: sim — Arnold prosseguiu. — Foi durante a madrugada. Algumas pessoas disseram que ouviram ruídos estranhos. Grunhidos, sabe? Como se fosse um bicho. E fica pior: esse “animal” teria destruído a porta de entrada do Muller. Depois, tudo que ouviram foi um tiro disparado. E então o mais puro silêncio. O padre e o garoto escutaram o momento do tiro. Como você deixou isso passar?

— Ele estava bêbado — o pequeno jornalista entregou tudo.

— Rapaz, eu não acho que essa seja a melhor coisa para a sua vida — o xerife disse com uma estranha sinceridade. Colocando a mão sobre o ombro do mestiço, fez com que o forasteiro notasse algo até então despercebido: não havia odor de álcool sendo exalado pelo homem da lei. — Eu realmente posso testemunhar sobre isso.

Enquanto toda aquela conversa fluía, tudo que Padre Marcus fazia era acariciar Selvagem. Aquilo, de alguma maneira, trazia paz para seu espírito. Na verdade, caso não estivesse com aquela bela distração, ficaria tão tenso ao ponto de se tornar inapto para realizar qualquer ação necessária ao grupo e a ilha. Patwin, por outro lado, estava um tanto quanto impaciente com o direcionamento daquela conversa e as tantas cutucadas de seu amigo.

— Já entendi — quis logo encerrar aquela pauta. — Mas agora me diga: o que houve com o Edward? Esse “bicho” fez algo com ele?

— Bem, isso é meio complicado — Arnold começou a apresentar uma estranha timidez. — Como posso dizer? Eu não adentrei a mansão.

— Como?!

— Eu não sou louco! Eu vi a entrada e a porta estava feita em pedaços. Deus sabe o que pode estar lá!

— Pensei que você fosse o xerife daqui — a irritação tomava conta da voz e do espírito de Patwin.

— Xerife? Eu sou. Suicida? Jamais!

Então, com um misto de desprezo e incredulidade, o jornalista voltou para o quarto, pegou o revólver que Margaret Olsen lhe dera anteriormente e preparou-se para deixar a igreja.

— O que pensa em fazer? — Marcus finalmente ergueu sua voz. O mestiço estava a um passo da saída da igreja. — Armado?

Voltando-se mais uma vez para o trio que se concentrava junto ao altar, o jornalista disse:

— Alguém tem que ter coragem aqui — falou com grande convicção. A raiva estava de alguma forma o ajudando naquele ponto. — Vou investigar o que aconteceu dentro da mansão daquele demônio. Essa arma é só para caso de emergência.

— Emergência? — David falou em um tom irônico. — Tipo um demônio peludo aparecer querendo devorá-lo? Patwin, será que não está claro que esse bicho é o tal do deus protetor?

— Deus protetor? — Arnold havia perdido o fio da meada.

— Longa história — Pat disse irritado. — Olha, talvez seja, certo? Mas eu irei averiguar.

E, finalmente abrindo a porta da casa de Deus, o mestiço ouviu os apressados passos de seu amigo.

— Eu vou junto — ele disse com plena certeza.

— De forma alguma — o mais velho vetou imediatamente aquela ideia. — Já falamos sobre isso: você é responsabilidade minha. Fique aqui e ajude o padre no que precisar. Eu cuido disso e já volto.

David ensaiou dar alguma resposta mais agressiva, mas sabia que não havia jeito: Patwin já havia tomado a sua decisão. Voltou para o lado do padre e do xerife, que observavam tudo aquilo com certa incredulidade.

— Ele está perdendo o rumo. Não está pensando direito — Marcus sussurrou.

E então o mestiço deixou a igreja. Dessa vez, não permitiu que pensamentos impedissem o progredir de seus passos. Apenas caminhou com um único objetivo em mente: descobrir sobre o destino de Edward Muller. Em pouco tempo se viu diante da mansão invadida do demônio de Roanoke. O lugar estava cercado de olhares curiosos, mas não havia uma pessoa sequer que ousasse adentrar o local atrás de respostas. “A curiosidade mórbida de sempre”, o jornalista pensou ao lembrar de ter visto olhares como aqueles no dia em que o corpo de Jessica Muller fora encontrado.

— Com licença — disse secamente enquanto se desvencilhava de duas ou três pessoas.

Enfim se deparou com o portal de entrada da mansão. Ali, onde deveria existir uma porta, só havia alguns pedaços de madeira partida. Um homem não teria força para fazer aquilo, nem mesmo se ele fosse uma muralha. Adentrando o local, Pat sentiu todos os olhos o seguirem, mas nenhum pé se mexer para penetrar o lugar mal-assombrado com ele.

A luz da manhã iluminava o interior e trazia uma espécie de contradição ao ambiente: se o local ainda estava bagunçado e sujo, ele ainda contava com certa beleza. Os quadros ainda estavam lá e o mestiço chegou a sentir um calafrio quando voltou a encarar a obra que contava com os três membros da família Muller. Voltando os olhos para as escadas, viu que elas estavam danificadas: a madeira parecia ter sido pressionada com muita força ou peso. Lembrando-se de destravar a arma, ele seguiu aquela odiosa pista.

Não tardou para chegar no quarto de Edward Muller. O lugar estava uma verdadeira bagunça, mas algo se destacava mais que qualquer outra característica: pequenos pedaços avermelhados jaziam espalhados pelo chão. Já estavam secos e, a princípio, Patwin não entendia bem o que eram. Até que se aproximou e pôde sentir um péssimo cheiro. E então sua mente clareou: era o que havia restado do demônio de Roanoke. Aquela imagem e aquele odor reviraram o estômago do jornalista, que fez um tremendo esforço para não vomitar.

Recuperando a compostura, voltou a examinar o lugar em busca de pistas do tal “bicho” que algumas pessoas disseram ter ouvido. Não encontrou nada de útil, a não ser a porta dos fundos da mansão despedaçada assim como a da entrada. Largando toda sua incredulidade, Patwin Winslow encheu-se de pavor.

— O deus protetor é real — disse em voz alta, pois precisava externar todo seu medo.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigado por ter lido até aqui :D

O que está achando da história? Estamos na reta final ;)



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