Sobrevivendo escrita por Kori Hime


Capítulo 1
A ilha escura


Notas iniciais do capítulo

Eu escolhi a Ilha Escuridown, quem quiser saber mais sobre as ilhas, vejam a publicação: https://goo.gl/uBpaKR

Escrevi esse conto hoje na correria para dar tempo de pelo menos entregar 1 história dentro do prazo.

Boa leitura, se achar um erro, me avisa nos comentários, não foi revisada e um dia quando eu puder eu reviso KKKK ♥



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Foi preciso uma longa conversa para convencer Will Graham deixar a cidade. Na verdade, foi necessário ameaçar sua carreira como agente especial do FBI. Mesmo relutante, ele embarcou num jato disponibilizado pelo seu chefe. Não tinha conhecimento do destino final, Will não estava interessado se iria passar as próximas semanas numa praia, numa montanha ou preso dentro de um quarto de hotel na América Latina.

Havia sido levado pela polícia como testemunha de um crime, e quando os corpos de outras testemunhas foram encontrados em pedaços pela cidade, a primeira atitude da promotoria, foi preservar sua última chance de vencer o caso.

Will alegou que poderia se cuidar muito bem sozinho, mas foi lembrado pelo chefe sobre o que aconteceu alguns anos atrás, quando Hannibal Lecter estava a solto nas ruas. O silêncio foi mais do que uma resposta para o capitão, enviou Will para o aeroporto de madrugada, onde ele estaria seguro ao lado de uma equipe de elite.

Graham não havia comido a bordo, bebeu apenas um copo de água, estava totalmente desanimado ou desencorajado a aproveitar aquela viagem, ocupado demais com seu trabalho que ficaria suspenso até segunda ordem. Vinha estudando um caso de desaparecimento de crianças, e foi aí que o levou a cena do crime, onde invadiu um hotel aparentemente abandonado, onde as crianças eram mantidas presas e molestadas por pessoas de todos os tipos de classe e origem. Quando presenciou o assassinato de uma menina de doze anos, sendo asfixiadas por um homem de aproximadamente setenta anos. Will ainda tentou reanima-la, assoprando o ar para dentro de sua boca e apertando o tórax da criança, mas não foi o bastante, ela havia sido drogada anteriormente e sofreu uma parada cardíaca, morrendo assim que a ambulância chegou.

Os olhos esbugalhados e sem vida atormentavam suas noites mal dormidas.

Will se levantou e foi ao banheiro do avião. Era um jato luxuoso, mas nada que o surpreendesse a ponto de achar agradável aquele passeio. Quando lavava as mãos, sentiu a aeronave perder altitude com velocidade, ele se segurou na cabine, tentando abrir a porta. Ouviu alguns gritos de socorro e ordens perdidas no ar, mas aos poucos os homens de elite caíam no chão da aeronave, assim como o próprio jato despencava do céu.

A última coisa que Will sentiu, foi a presença de alguém atrás dele, prendendo algo em suas costas.

Com dores no corpo, Will tentou se levantar do chão, mas sentiu dificuldades. As pernas não recebiam o comando de seu cérebro, sequer os braços ou o tronco se erguiam. Moveu lentamente as mãos, sentindo a terra por entre seus dedos. Havia um agradável cheiro de terra molhada e grama no ar. Com os olhos abertos, tentou acostumar-se com a escuridão ao seu redor. Foi preciso esforço para que ele conseguisse reconhecer que as imagens embaralhadas no céu, eram galhos de árvores e as luzes brilhantes, eram estrelas no céu.

Ignorando o tempo que estivera deitado, ou o que havia acontecido entre a queda do avião e aquele momento em que se encontrava deitado no chão, Will trabalhou para que seu corpo se movesse lentamente até que se acostumasse com a dor latente de cada músculo.

Em um determinado momento, ele conseguiu ficar sentado, mas ainda era difícil distinguir a proximidade das coisas, era como se tudo estivesse distante do alcance de suas mãos, mas quando ele as esticava, sentia o toque da relva que crescia ao seu redor.

O gosto de água escorria pelo seu rosto, chovia onde quer que ele estivesse. Arrastou o corpo para trás, até sentir as costas tocarem um tronco de árvore. Foi preciso muita paciência para conseguir alcançar a frondosa folha gigante ao seu lado, até que conseguiu criar uma espécie de abrigo temporário.

Rasgou um pedaço da manga da camisa, para poder amarrar sua coxa que sangrava. Sem noção de quanto tempo estava ali, e a quantidade de sangue que perdeu, sentiu seus reflexos diminuírem até que desmaiou novamente.

Quando acordou, Will sentiu o corpo aquecido. Seus olhos ardiam diante da lareira acessa. Estava aconchegado em uma poltrona, coberto por uma manta macia. Ele se levantou assim que identificou o lugar. Estava de volta ao consultório de Hannibal Lecter.

Assustado, ele deu alguns passos para longe da lareira, olhando ao redor com cautela, certificando-se de que estava sozinho. Will procurou por algum objeto que poderia usar como arma, encontrando sobre uma mesa, junto aos desenhos do psiquiatra, um estilete que ele usava para apontar os lápis.

— Onde você está? — Perguntou, sentindo a voz trêmula. Will olhou para a perna, estava manchada de sangue, e um pedaço da sua camisa amarrada na coxa. — Então não é um sonho. — Ele murmurou.

— Já acordado. — A voz de Hannibal se destacou na sala e Will olhou para cima, encontrando-o no mezanino, segurando um livro.

Ele não estava ali um minuto atrás, pensou Will.

— Como, como você derrubou aquele avião? O que você fez? Onde eu estou?

As perguntas vinham desconexas em sua boca, não havia nenhum sentido em tudo aquilo, mas ao longo dos anos aprendeu que talvez não existisse limites para aquele homem.

Quando piscou os olhos, Hannibal não se encontrava mais no mezanino, assim como ele não estava mais na sala aquecida do consultório psiquiátrico.

Chovia com intensidade e Will estava de pé, segurando um galho de árvore no meio da floresta. Ele fechou os olhos novamente, como se aquela atitude fosse leva-lo para o antigo consultório, o que não deu certo.

Ele começou a caminhar por entre as árvores, seus galhos caídos e a terra amassada, como se algo pesado tivesse passado por ali. Mais para frente encontrou o que restou do jato que caiu. Também havia poças de água misturada com combustível e óleo. Will passou a mão na água, havia também algo viscoso e vermelho.

Virou-se quando ouviu um barulho, estava novamente no escritório psiquiátrico de Hannibal, e olhava diretamente para o médico.

— Está frio, venha para perto da lareira. — Disse Hannibal, segurando uma taça de vinho.

— Como você fez isso? — Will perguntou irritado, batendo a mão na cabeça. — Saia da minha cabeça. — Ele ordenou, apertando as pálpebras dos olhos. — Saia da minha cabeça seu desgraçado.

Ao abrir os olhos, estava de volta aos destroços do avião.

Assim que a chuva sessou, Will pensou em se proteger embaixo de uma das asas do avião, assim pela manhã ele poderia começar a procurar coisas que o ajudariam a sobreviver ali, até que um resgate o encontrasse.

Mas a manhã nunca chegou. Faminto, ele se levantou e começou a revirar os destroços do avião, não encontrando nada útil que pudesse comer, passou a colher qualquer coisa que via pendurado nas árvores. Em um momento, ele viu a mesa requintada da sala de jantar de Hannibal no meio da floresta. Diversos pratos estavam sobre a mesa, e os convidados brindavam a beleza do jantar. Na ponta da mesa, Hannibal estava bem vestido, em um terno cinza e os cabelos bem penteados para trás.

Will arrancou com os dentes um pedaço de raiz, que logo em seguida cuspiu, tossindo. Juntou as mãos embaixo de uma goteira das folhas de uma árvore e tentou beber o líquido, sentindo gosto de sangue.

Ele caminhou por horas, e não conseguia chegar a outro lugar, sempre retornava aos destroços do avião.

— Não gostaria de comer? — A voz sedutora de Hannibal o atormentava, assim como o cheio apetitoso das refeições que ele oferecia.

— Afaste-se de mim, seu maldito. — Will gritava.

Perdido e faminto, Will encontrava-se desesperado. Sua perna estava dolorida e bolhas se formavam em seus pés. Caminhou, correu, pulou e tentou escalar as árvores, em nada tinha sucesso.

 Ele se deixou cair no chão, desistindo.

— Vamos, eu te ajudo a se levantar. — A mão de Hannibal estava diante de seus olhos. A princípio, Will xingou-o e recusou ajuda, mas vendo que não teria condições de se levantar, ele aceitou a ajuda.

Seu corpo ainda doía, mas era aquecido por uma fogueira recém acesa no meio da floresta. Sobre o fogo, uma armação de madeira que pendia um pedaço de carne recém cortada.

— Dizem que o segredo para a carne não endurecer, é um abatimento perfeito. — Hannibal falava, girando o graveto que segurava o pedaço de carne. — É claro que a temperatura do fogo é essencial, você não pode deixar muito alto para não assar todo o lado de fora e dentro ficará cru... — Ele divagava, enquanto Will possuía os olhos presos na comida. — O corte deve ser perfeito, não aconselho as partes ossudas, gosto principalmente da coxa interna, tem um pouco de gordura que, nesse caso, ajuda no cozimento.

Os olhos de Will então se acostumaram com a escuridão daquela floresta. A voz de Hannibal em sua cabeça, lhe orientava. Então ele viu as suas próprias mão girarem o graveto e a carne. Viu suas mãos arrastarem os corpos dos mortos, viu suas mãos rasgarem com pedra pedaços de carne, viu-se então comendo, sobrevivendo aquele lugar sombrio e frio.

— Muito bem. — Hannibal lançou um sorriso de aprovação.

Will fechou os olhos, aquecido com o calor da fogueira.


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Notas finais do capítulo

Olá :D que delicia de comidinha nhamy nhamy 31 dias de fartura :v

Eu queria ter feito um terror, mas só ficou terrível na minha mente mesmo HEHEUHAHA

Beijos e obrigada a quem se dispôs a ler.