P.O.V. Imogem.

A mulher estava parada lá. Ela saiu da luz, de dentro da estrela.

—Quem é você?

—Eu atendo por muitos nomes, mas nenhum deles você é digna de pronunciar. Imogen Horandale.

—Quem é você?

—Olha o tom! Por séculos, eu assisti a minha criação favorita se destruir. Guerras, irmão contra irmão. Por isso eu pedi á Raziel que criasse a sua raça. Era o seu dever proteger sua própria raça, mas você assim como aqueles que vieram antes fracassou. Consumida pela ganância. Faz ideia de como é difícil me deixar com raiva?

—Quem é você?

—Da última vez que eu fiquei com raiva, eu transformei as águas do Egito em sangue, mandei pragas de gafanhotos para comerem as colheitas e matei todos os primogênitos. Da última vez que eu perdi a minha fé na humanidade, eu mandei um dilúvio para engoli-la.

—Quer que eu acredite que você é Deus?

Eu perguntei sarcasticamente. E o céu ficou negro. Negro, negro mesmo.

Raios rebombando e então começou a chover...

—Sangue? 

—Está chovendo sangue.

—Você matou a minha neta. A minha única neta! A minha criação mais... perfeita! Ela é o que os homens chamam de Messias.

Estava chovendo em nós, mas não nela ou no corpo de Clarissa.

—Eu... sinto muito.

—Não. Não sente não. Ela não gostava de você. Ela te odiava, mas ela não te matou. Ela lhe deixou viver, por ele. Pelo seu neto! Não serei tão misericordiosa. Você adora o seu Poder. Se vangloria dele, o seu bendito sangue de Anjo. Agora vou tirá-lo de você e usá-lo para trazer a minha neta de volta.

A Deusa ou Deus sei lá, me agarrou pelo pulso. Eu senti as minhas runas queimarem, a dor era insuportável.

P.O.V. Jace.

Ela removeu as runas da minha avó e todos os anjos inclusive o pai de Clary vieram voando. Daniel veio carregando a Lucy.

—Ah! O meu bebê!

Os anjos ficaram de joelhos.

—O meu bebê! Minha filha! Minha filhinha!

Lucinda ficou abraçando o corpo de Clary, chorando, gritando.

—Tenha calma criança.

Minha avó começou a sangrar pelos olhos, ouvidos a vomitar o sangue encima do rosto da Clary.

—Isso é nojento.

A Deusa começou a falar numa língua desconhecida e o corpo da Clary foi envolvido naquela luz branca e ofuscante. Então... ela respirou. 

A Deusa a trouxe de volta á vida.

—Me leve até os outros. Eu quero falar com todos os Shadowhunters. De Idris, de Nova York, do mundo! Agora!

—Aquela é a vó do Jace?

—Está tudo bem querida. Você está bem.

—Vovó?

—Sim querida?

—Traz ela de volta. A Imogen pode ser um pé no meu saco, mas ela vó do Jace.

—Vêem? Mesmo depois da mulher ter lhe tirado a vida, ela ainda pensa no seu bem estar.

—Por favor.

—Tudo bem querida. Como quiser, mas isso vai ser parte da punição de Imogen.

As feridas no corpo da minha avó começaram a cicatrizar e ela viveu de novo.

—Vó!

—Meu neto querido.

—Me leve até os outros. Agora!

Sem ter muita escolha eu levei Deus ou Deusa até o Instituto. E alguns dos anjos foram conosco carregando algo.

—Quem é essa ai?

—Deus. Em pessoa.

Ela fez um gesto com a cabeça para que os anjos pendurassem o espelho na parede. Era um espelho azul que parecia a água do Lago Lyn.

—É água do Lago Lyn! O lago é o Espelho Mortal como vocês chamam. Ele é a minha conexão com este planeta. O meu portal.

—Eu vou contactar Idris...

—Não há necessidade. Eles já estão me vendo. Sou onisciente, onipresente e onipotente. Eu sou aquela ou aquele a quem vocês chamam de Deus! Se quiserem uma prova, eu vou adorar fazer chover sangue sob suas cabeças.

—Deus é pura bondade.

—Sou misericordioso sim. Eu não me irrito com facilidade é verdade, mas sim eu fico irritado.

Era estranho ouvir uma mulher referir-se a si mesma no masculino.

—Eu não possuo gênero. Isso que você vê é apenas uma forma mortal qualquer. É a forma da Rainha de Sabá.

—A Rainha de Sabá? Esposa do Rei Salomão?

—Sim. Ouçam bem todos vocês! Se algum pobre e infeliz Shadowhunter encostar em um fio de cabelo da cabeça da minha neta Clarissa, também conhecida como Clary... vai perder as runas e o sangue de anjo. Assim como Imogen, será forçado a viver como um mundano. E imagino que para vocês, este seja um castigo pior que a morte.

Ela andava nervosamente pela sala.

—Não estou nervoso estou furioso!

—Você não pode ser Deus.

Ela fez chover sangue e fez o espelho virar água e da água saíram víboras.

—Víboras? Pensei que esse fosse um truque do Diabo.

—Rapaz, existe um propósito para tudo o que eu crio. Para todas as minhas criações. Até mesmo as víboras. Víboras comem ratos, ratos espalham doenças que ajudam no controle populacional, as árvores produzem oxigênio para que os outros possam respirar e fornecem e servem de alimento para os herbívoros que servem de alimento para os carnívoros que servem de alimento para os vermes que impedem a contaminação das águas subterrâneas.

—E quanto aos submundanos? Com sangue de demônio?

—Vocês e eles estão mais ligados do que pensam. Os Shadowhunters tanto da Clave quanto do Ciclo se colocaram num pedestal, mas eu acho melhor vocês começarem a descer. Sem o feiticeiro Magnus Bane, Jonathan Horandale ainda estaria tomado por Lilith. Sem seu sacrifício, Alexander Lightwood estaria morto e seu parabatai preso num inferno mental. Sem a magia da Rainha Seelie e o vampiro diurno Simon Lewis, Lilith e sua prole ainda estariam vivos e o mundo teria se afogado em sangue.

—Magnus sacrificou sua magia para salvar o Jace.

—Sim. E ele recebeu algum tipo de agradecimento? Não. A Rainha Seelie recebeu algum tipo de agradecimento? Não. Quantas vezes Magnus Bane não salvou as vidas de vocês? Curou ferimentos, impediu que o núcleo deste prédio explodisse e assim vai. Aqueles que os ajudam, são logo esquecidos. Aprendam a ser mais gratos!

O espelho voltou a ser um espelho. E ela entrou dentro do espelho e sumiu. Assim que ela passou o espelho virou água e a água sumiu.

—Estivemos na presença de Deus, literalmente.

—Eu vou ver a Clary.

—Jace...

—Eu não quero falar com você.