Azul escrita por Maffle


Capítulo 2
Sobre mais uma chance


Notas iniciais do capítulo

Opa, e aí?

Pros meus padrões, ter escrito esse capítulo tão rápido é algum tipo de milagre ou sei lá. Sério mesmo, eu demoro meses pra escrever 3 mil palavras.

Acho que é porque eu estou mais desocupada do que nunca. Espero que todo esse tempo livre dê em alguma coisa HAHAHA Obrigada pelo lindo feedback do último capítulo, fiquei muito feliz.

Boa leitura ♥



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Scorpius passara boa parte da tarde de sábado deitado no sofá da Sala Comunal com a cabeça pendurada para baixo. Em algum momento colocara os pés para cima do encosto das almofadas e deixara o sangue correr até onde a pele encontrava seus cabelos loiros enquanto lia e relia um pergaminho. Um, não. O tal pergaminho que o deixara inquieto o dia todo e o fizera andar por todos os cantos de Hogwarts até resolver se instalar na tortura do sofá.

A coruja de McGonagall pousara na janela do dormitório da Sonserina, mas só depois de muito tempo do bater de asas impaciente da ave, Luke finalmente acordou e jogou a carta da diretora na cabeça adormecida do Malfoy. Ele a lera ainda meio entorpecido, mas sentou-se prontamente desperto quando viu o signatário.

McGonagall estava o chamando para a sala dela. Terça feira. 20h. Sem atrasos.

Ele passou a tarde pensando em todas as coisas possíveis que poderiam ter ocasionado o convite. Talvez ela soubesse sobre a vez em que ele e Albus resolveram azarar Paul Levett por ter espalhado rumores sobre Lily. Ou ela iria manda-lo para as orientações do primeiro ano da Grifinória, aquelas bem desesperadoras em que os pré-adolescentes passavam as duas horas inteiras de orientação fazendo perguntas sobre quão malvado poderia ser um Sonserino.

Quando o relógio de pulso de Scorpius marcou oito horas, ele se levantou tão rápido que viu estrelas por toda sua visão. Nada importava, porém, porque era hora de entender no quê Scorpius errara para ser chamado por McGonagall daquela forma, mesmo que isso significasse cambalear pela Sala Comunal e derrubar sem querer os botões que alguns primeiranistas usavam para praticar Transfiguração. Os meninos olharam-no com raiva, mas Scorpius não estava prestando atenção. A tortura precisava acabar e seria agora, o garoto querendo ou não.

Você é um Malfoy e vai enfrentar tudo, pensou ele enquanto quase passava mal de nervoso.

Entrou na sala de McGonagall querendo ser enterrado e sentou-se na poltrona em frente à escrivaninha da diretora esperando cair morto ali. Naturalmente, nada disso aconteceu, porque ele só estava fazendo um pouquinho de drama.

Um pouquinho, porque Minerva parecia bastante séria.

— Malfoy, que bom que recebeu meu convite. - disse ela enquanto organizava alguns pergaminhos. Demorou mais um pouco para que ela levantasse os olhos e analisasse o garoto a sua frente. - Parece que nós dois teremos um ano agitado.

Scorpius engoliu em seco.

— Nós teremos?

— Bem, sim, é de se esperar que o senhor já tenha conversado com a senhorita Weasley e compreendido os… termos em que ela se encontra.

Ah.

É claro que isso se tratava da Weasley. Ele não fizera nada de errado. Estava limpo. Longe das confusões.

Aliviado demais para se conter, Scorpius deixou escapar um suspiro longo e alto demais, sendo retribuído pelo olhar inquisidor da diretora. Não muito surpreendentemente, ele sentiu o rosto todo ficar quente.

— Certo. Weasley. Sim, diretora, conversei com ela e acho que quanto mais rápido encontrarmos outra Monitora Chefe, melhor. Eu estava pensando na Emilia Tompton, da Corvinal, porque ela semp-

— Scorpius, acho que não estamos na mesma página. - Minerva interrompeu suavemente. - Não pretendo tirar Rose Weasley da chefia.

A boca do Malfoy se fechou prontamente. Não havia realmente algo a dizer, a não ser que talvez McGonagall estivesse ficando velha e caduca. Scorpius duvidava que fosse algo que ela quisesse ouvir, por isso ficou bem quietinho.

— Eu sei que ela anda tendo suas próprias complicações, e deixo claro minha desaprovação em relação a essa… fase pela qual a srta. Weasley está passando. Mas veja bem, Scorpius, eu vejo alunos irem e virem há décadas. Sei quais são especiais. Sei quais merecem, e, muitas vezes, precisam de uma chance. É por isso que você carrega esse distintivo, e é por isso que Rose ganhou o dela. - Ainda sob o olhar confuso e ligeiramente duvidoso do aluno, Minerva se ajeitou em sua poltrona antes de jogar sua última carta. - Rose Weasley é Monitora Chefe porque passou todos seus 6 anos em Hogwarts mantendo notas impecáveis e um comportamento limpo. E nós dois sabemos a excelência da performance dela como monitora desde o 5º ano.

Scorpius daria isso a McGonagall: Rose nascera para ralhar com alunos e dar detenções. O trabalho era perfeito para a garota. Ele às vezes até parava durante as rondas para observá-la estabelecendo controle sobre grupos de alunos matadores de aula. Ela sempre tinha tudo sob controle. Chegava a ser meio atraente.

Mas é claro que ele nunca admitiria isso.

— É por isso que acredito veementemente que não fiz a escolha errada ao escolhê-la. Eu não sei o que aconteceu com Rose Weasley nas férias, e não pareço ter esclarecimento algum, não importa quantas cartas eu mande para a srta. Granger- quero dizer, sra. Weasley. Mas acredito que podemos resgatá-la, sr. Malfoy. Estou certa de que a Rose antiga ainda está entre nós. Ela só precisa de um braço amigo para ajudá-la a levantar. Entende o que estou dizendo?

Ele não entendia.

— Hã… perfeitamente, professora.

Foi a vez de McGonagall olhar duvidosamente para o garoto.

— Então suponho que saiba o que fazer.

Ele não sabia o que fazer.

— Certo. Sei.

Sabe?

Scorpius tamborilou os dedos contra o tampo da mesa da diretora e suspirou antes de admitir:

— Não, honestamente não tenho ideia de onde eu me encaixo nessa história toda.

Foi a primeira vez que ele ouviu a risada de Minerva. Ela ajeitou os óculos e remexeu novamente seus pergaminhos.

— Então é melhor eu me apressar e esclarecer suas dúvidas, sr. Malfoy. Não temos o dia todo, temos?

 

x x x

 

Ele a encontrou perto do lago na manhã seguinte. Não a viu a princípio, principalmente porque procurava cabelos ruivos em vez do azul profundo que passara a tomar conta dos corredores de Hogwarts. Todo mundo gostava. Alguns até diziam que Rose era secretamente inclinada para a Corvinal, mas Scorpius duvidava. Ela sempre fora Grifinória até o último fio de cabelo.

Sempre fora Weasley até o último fio de cabelo.

E Scorpius nem estava fazendo trocadilhos.

De qualquer forma, o cabelo de arara azul não era a única coisa que fazia o garoto ficar distraído, mas também havia o grupinho de garotas em volta de Rose. Elas se amontoavam perto da Weasley como mariposas rondando uma luz. Chegava a ser cômico de assistir à cena, tendo garotas do 5º ano quase subindo em cima umas das outras para admirar o que quer que seja que Rose estava mostrando.

Espera, mostrando?

— Weasley! - exclamou, fazendo as meninas mais perto sobressaltarem-se e olharem feio para ele. A monitora ergueu a cabeça lá do meio da rodinha, meio surpresa e meio satisfeita em vê-lo ali - o que não o deixou menos confuso, diga-se de passagem. - Será que podemos conversar?

Uma quintanista da Lufa Lufa literalmente guinchou ao ouvi-lo falar a última frase. Scorpius levantou as sobrancelhas levemente e sorriu educadamente para a garota, retribuído logo depois por um arregalar de olhos e risadinhas.

Ele teve de apertar os punhos fechados com força para não revirar os olhos.

Lufanos.

Rose foi até ele e, sem cerimônias, enlaçou o braço com o dele, andando para longe das garotas enquanto murmurava:

— Sabe, Malfoy, se você ficar usando essa sua voz grossa o tempo todo, é bem capaz de toda a população feminina - e masculina, vamos dizer assim - do quinto ano se apaixonar por você.

— Única voz que eu tenho. - respondeu simplesmente, encarando furtivamente os braços entrelaçados dos dois enquanto caminhavam. Notou um tecido vermelho demais entre os dedos de Rose. - O que é que você tá fazendo agora?

— Agora? Andando com meu querido colega da Sonserina.

Ele suspirou e parou de andar.

— Weasley…

— Ah, você tá falando dessa coisa velha aqui? - Apontou para a aparente peça de roupa em suas mãos, ainda com a etiqueta. Ele estreitou o olhar para entender o que estava acontecendo. Aquilo era… - Eu só estava mostrando para as meninas algumas coisas que eu comprei nas férias. E dando presentes. Em troca de sicles. Sabe como é…

Malfoy arregalou os olhos e tomou a peça da mão da garota, inspecionando a etiqueta. Estava cobrado em libras. Era de uma maldita loja trouxa. Virando-se de repente, Scorpius procurou pelo grupo de meninas perto do lago, mas elas já tinham sido mais rápidas que ele: todas haviam desaparecido enquanto Rose o empurrava para longe. Enfurecido, voltou a olhar para a suposta Monitora Chefe.

— Rose Weasley, você não está vendendo sutiãs trouxas para as meninas.

— Não. Nem calcinhas. - A maldita piscou enquanto tirava uma calcinha de renda do bolso. Captando a reação do loiro, ela se empertigou toda, querendo mostrar a ele o quão cheia de razão ela estava. - Malfoy, você sabia que qualquer lojinha trouxa é mais capitalista que as maiores lojas do mundo bruxo? Tem, tipo, loja de cerveja pra cachorro. Você tem ideia do que é isso? Cerveja pra cachorro. E, se você for no mercado, existe um corredor inteiro só com várias marcas de cereais. Tem aqueles normais, mas também existem uns coloridos e outros com sabor de manteiga de amendoim.

Ele fechou os olhos e contou até três.

— E o que isso tem a ver com a porra do sutiã e calcinha?

Lingerie — corrigiu ela. - Significa que qualquer lojinha trouxa vai fazer lingeries muito mais gracinhas e diversificadas. E quem não quer ver os peitos lindos com toda essa rendinha? Quer ver? - Rose começou a levantar a blusa e esse foi o momento em que Scorpius precisou retomar o controle da situação.

— Weasley, hoje eu conversei com a professora McGonagall.

Todo o ar irônico fugiu dos olhos azuis da garota em questão de segundos. Ela o olhou sem dizer nada, notando o tom ligeramente superior com que ele falava. Ele quase sentiu pena dela.

Mas Rose Weasley estava o deixando louco, e não ia ficar assim.

— Ela resolveu que quer te dar uma chance como Monitora Chefe.

— Quê? Eu não pedi uma chance

— Acredite, eu fiquei tão chocado quanto você. Mas essa é palavra final dela, e é isso. - Respirou fundo antes de dizer tudo o que Rose não queria ouvir. - Ela me deixou encarregado de ficar de olho em você. Isso significa que se eu considerar que você realmente não está apta para ser monitora, McGonagall tira seu distintivo.

— Ótimo! Isso vai ser fácil. Você já acha que não estou apta, certo? Podemos fingir que você… me avaliou, e depois você dá o veredito à McGonagall e todos ganham.

Ele levantou uma sobrancelha.

— Ah, não, Weasley, veja bem. Eu não acho que posso te deixar ir tão cedo. - Ela franziu a testa. - Tudo o que você fez em menos de três dias foi me deixar estressado. E, olhando agora, eu meio que tenho uma vantagem sobre você no momento. Então acho que é bom você ter uma justificativa muito boa para não querer mais ser Monitora Chefe.

Porque no fundo, os dois sabiam que não existia ninguém melhor para aquilo do que ela.

(E ele tinha ordens de McGonagall para não desistir dela tão fácil.)

Ela o encarou por alguns segundos antes de olhar para o outro lado, e Scorpius não pôde deixar de pensar que ela nunca parecera tão sozinha como agora. O cabelo azul era elétrico, meio desafiador, meio esperando que alguém se atrevesse a chegar perto. Não combinava com o leão graciosamente estampado nas vestes dela. No breve momento em que Rose Weasley olhou para o lago, Malfoy achou que poderia trazê-la de volta.

O momento passou, porém, quando a garota ajeitou a franja colorida e voltou a empinar o nariz e a revirar os olhos, como se Scorpius estivesse perdendo algo muito óbvio.

— Você não sabe como é. Sair todos os dias da cama tendo que performar uma personagem o tempo todo, porque é o que todo mundo espera. Sorrir como meu pai, estudar como minha mãe, mas ser apresentável e tomar cuidado com qualquer fofoca que pode passar para o Profeta Diário, e, ops, certamente não queremos isso, né? Você não sabe como é esperarem um certo comportamento de você só pela porra de um nome. É ridículo, não faz sentido. E eu não quero mais isso. Quero fazer o que eu quiser sem ninguém atrás de mim o tempo todo.

Houve uma pausa de um silêncio descomunal enquanto Scorpius olhava para Rose e Rose olhava para Scorpius. Ela, determinada. Ele, completamente congelado.

E aí ele gargalhou.

Não era para ter saído assim. Talvez ele deveria ter reagido melhor. Com mais cuidado. Mas Scorpius só não conseguia pensar em mais nada além das palavrinhas que saíram da boca da Weasley.

— Que foi? Eu sou palhaça por acaso?

— Weasley - Ele arquejou. -, qual é o meu nome?

— ...Scorpius?

— Scorpius o quê?

Ela engoliu em seco.

— Malfoy.

— É, bom, digamos que eu sei uma ou duas coisas sobre ser julgado pelo nome. Certo? E não é como se todo mundo esperasse que eu fosse carismático ou inteligente, e sim talvez ligeiramente inclinado para as Artes das Trevas? Não sei, Weasley, você me diz. Talvez o Profeta Diário não escreva matérias sobre quem eu estou namorando ou qual é a cor do meu cabelo atualmente, mas com toda certeza já vi uns artigos bastante agressivos sobre meu pai me levando para o Expresso Hogwarts. - Ele estava com raiva agora. - Porque, Weasley, mesmo se eu respondesse a todas as perguntas nas aulas de Estudo dos Trouxas, ainda assim meus pais não receberiam uma carta no fim do ano para me parabenizar. É por isso que eu estudo nas férias, e me mantenho na linha, e torço, torço mesmo, para conseguir ser monitor, e talvez Monitor Chefe, talvez conseguir algumas centenas de pontos para minha casa durante o ano. E mesmo assim não vai ser o suficiente, mas ao menos me poupa dos cochichos por ter nascido com o meu nome.

Rose ouviu tudo encarando a gola da camisa do garoto para não ter que olhá-lo nos olhos. E continuou sem manter contato visual enquanto piscava diversas vezes antes de ajeitar novamente a franja e pela primeira vez parecer verdadeira:

— Eu sei. Eu sei, Malfoy, de verdade. - Suspirou. - Não quero tomar suas dores nem nada. Nunca vou passar por nada pelo que você passou, e eu admiro todo o seu trabalho. Sempre admirei, mesmo quando éramos do quinto ano e tivemos que fazer nossa primeira ronda de monitores juntos. - Sorriu com a lembrança, e Scorpius tentou não imitá-la, pois ainda estava um pouquinho bravo. - Mas eu não quero mais ir de acordo com as expectativas. Que vida é essa, Malfoy, em que nós temos que nos distorcer inteirinhos pra caber numa forma que outras pessoas construíram pra gente?

Se não fosse uma pergunta retórica, Scorpius não saberia o que responder. Por isso, acabou murmurando alguns minutos depois de um silêncio sem expectativa entre os dois.

— Weasley, você não pode ficar vendendo coisas trouxas em Hogwarts.

— Há controvérsias.

— Não. Vender coisas, principalmente trouxas, sem autorização não é permitido em Hogwarts, e nenhum monitor deveria promover esse tipo de comportamento. - E saiu andando para longe da garota. Ela imediatamente começou a segui-lo.

— Monitor? Não. Não. Malfoy, volta aqui. Eu não sou monitora. Tá ouvindo? Não. Malfoy! Não fiz discursinho pra nada! Eu vou te azarar, não tô brincando.

— Mais um comportamento indigno de uma Monitora Chefe.

Ele estava quase dentro do castelo agora. Virou-se novamente para piscar para ela.

Antes de entrar no meio da multidão do Salão Principal, que terminava de tomar o café da manhã, Scorpius ainda teve tempo de ouvi-la resmungar mais um pouco.


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Notas finais do capítulo

Ok, queria dizer que

1- O ódio à Lufa Lufa é integralmente por parte do Scorpius, porque no caso eu sou Lufana e amo minha casa, tá? Tá.
2- Scorpius é muito relatable pra mim porque ele sempre tá confuso e não tem muita certeza do que tá acontecendo (e eu também não).
3- Fiquei meio em conflito se eu deveria considerar o mundo bruxo fora do sistema capitalista??????????? Talvez eu esteja ficando louca porque tô tendo esse tipo de questões na minha vida?????? Quão movimentado é o mercado de lingerie no mundo bruxo? E o mercado dos cereais?

Gente, agora é a hora de começar a porrada e gritaria aqui nessa fanfic. Brinks. Mas o próximo capítulo promete uma Rose bastante brava e um Scorpius vingativo. Continuem comigo.

Se tiver um tempinho, me manda o que achou nos comentários ♥

Beijosssssss