Não é como se eu quisesse me redimir de todos os meus erros.

Sei que não posso mudar o passado e tampouco almejo tal coisa; todas as minhas atitudes foram muito conscientes. Minhas decisões foram pensadas, com plena consciência, e cheias de precisão.

Assim como cada disparo.

Um soldado na linha de frente atira para se defender, para atingir e tentar matar. Atira em desespero, com medo; atira mais pela própria vida que pela do alvo. Um franco atirador atira para matar.

Mirar.

Inspirar.

Atirar.

Expirar.

Lento, pensado, calmo, consciente.

Fatal.

Não sou capaz de dizer quantos projéteis disparei naquela guerra, mas posso afirmar que cada um deles encontrou seu alvo com a precisão que o destino encontra alguém no momento em que nasce. Cada gota de sangue derramada no solo de Ishval escorre por  minhas mãos, pintando o caminho que traço adiante sem permitir que eu esqueça de todas as vidas tiradas pela leve pressão desses dedos. As almas injustiçadas perseguem-me em meus sonhos, em leves murmúrios que me recordam que não é o paraíso que me aguarda. E nem quero alcançá-lo. Os “olhos de águia” me trouxeram a tal posto me permitiram enxergar com clareza que minha chance de redenção já passou há muito.

No momento em que puxei o gatilho pela primeira vez, aceitei, de bom grado, que veria aqueles olhos refletidos pela guerra novamente.

No inferno.