A Luz Que Ilumina a Escuridão Dentro de Mim escrita por teffy-chan


Capítulo 5
Capítulo 5 - Eu Gosto Dela?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/752982/chapter/5

Sempre que amanhecia o grupo parecia acordar em um lugar diferente. No segundo dia a floresta tinha sumido e eles estavam perto de um enorme lago. No terceiro dia, estavam perto de uma área rochosa. O cenário mudava drasticamente todas as manhãs, assumindo uma forma mais absurda a cada dia que se passava. Felizmente, a cabana parecia migrar junto com eles para a mudança de cenário. E, no décimo dia…

— Eu odeio essa ilha! – Kotarô chutou a areia, fazendo-a voar para todo lado, apagando a fogueira que Yue tinha custado tanto para acender. A garota expirou com força e recomeçou o trabalho do zero.

— Como assim? Não era você quem estava ansioso para conhecer Escuridown? – Asakura lembrou.

— Sim, já conheci. E detestei. Quero ir para casa – ele respondeu rabugento.

— Gostaria que fosse tão simples assim – Yue comentou enquanto tentava reacender a fogueira.

— Qual o problema, Kotarô? – Negi perguntou.

— O problema é que esse lugar é horrível. Não tem camas, nem ventilador, nem televisão!

— Ah, é mesmo. Semana passada estreou a nova temporada do anime que você estava acompanhando – Natsumi lembrou.

— E eu não acredito que estou perdendo porque estou preso aqui! – Kotarô reclamou, chutando mais areia.

— Eu também não acredito que você está fazendo todo esse escândalo por causa disso – Haruna comentou.

— Esqueça isso, nós também estamos perdendo o novo semestre – Negi falou preocupado – As aulas começaram há dez dias e não conseguimos voltar.

— Aposto como a Representante de Classe está movendo mundos e fundos para te encontrar – Asuna comentou, imaginando a cena – Ela bem que podia conseguir dessa vez.

— Duvido que alguém nos encontre nesse fim de mundo – Asakura lamentou – Mas pelo menos não estamos tendo aulas!

— Bem lembrado! – Negi exclamou – Não temos nada para fazer aqui mesmo, então eu podia adiantar a matéria…

— Não começa! – Asuna interrompeu – Nós já estamos atolados de problemas aqui, não precisamos de mais coisas para nos preocupar. Ainda mais se forem as suas aulas tediosas de inglês!

— Mas nós não temos nada melhor para fazer…

— Isso não faz a menor diferença para mim, mas você bem que podia dar uma folga para elas, Negi – Kotarô comentou – Já estamos todos ferrados nessa ilha, ninguém precisa de mais dor de cabeça.

— Sim, isso mesmo! Escute o seu amigo ao menos uma vez na vida! – Asuna apontou para o garoto como se ele fosse um bote salva-vidas.

— Está bem – Negi conformou-se.

— Ei, finalmente consegui acender a fogueira. Depois de várias tentativas – Yue olhou feio para Kotarô – Qual é o cardápio de hoje? – ela perguntou, temendo a resposta.

— Esquilos! – Kaede respondeu, trazendo vários dos animaizinhos abatidos. Ninguém queria saber onde ela os tinha encontrado.

— Eu não quero comer esquilos… coitadinhos, não acredito que você os matou – Natsumi lamentou.

— Bem, não dá para comer eles vivos – Kaede brincou, mas ninguém riu – Ora, vamos. É melhor dos que as águas-vivas de ontem.

— E mais gostoso do que carne de crocodilo também – Kotarô acrescentou.

— Como sabe disso? – Negi perguntou surpreso.

— Hã… eu comi uma vez… - Kotarô respondeu vagamente, embora pela sua cara parecesse ter sido bem mais do que uma vez.

— Até esquilos você comeu? – Natsumi ergueu uma sobrancelha – Certo, desde que chegamos nessa ilha, nós já comemos todo tipo de coisa nojenta, e você já tinha provado todas. Existe algum animal que você ainda não tenha comido?

— Cachorros – ele respondeu prontamente – Não sou canibal.

— Mas você não é um cachorro – Haruna falou confusa.

— Olhe para mim! Sou um youkai – ele exclamou. Realmente, as orelhas caninas se destacavam acima dos cabelos negros espetados e a cauda longa balançava nervosamente.

— É, entendo o que quer dizer – Setsuna comentou.

— Bem, mas você não tem problema com esquilos, certo?- Kaede perguntou antes que aquela conversa ficasse ainda mais estranha e o garoto acenou com a cabeça – Ótimo. Então vamos jantar.

Esquilos realmente tinham a carne mais saborosa do que crocodilos. Mas não era nada animador saber que estavam jantando esquilos no espeto. Na verdade, só de pensar naquilo, deixava a maioria com náuseas.

Depois de digerirem bravamente os pobres animaizinhos, o grupo notou que estava novamente na área onde havia um lago, o que significava que poderiam tomar um banho decente dessa vez. As garotas foram primeiro, ameaçando os dois meninos de morte caso ousassem espiar. Depois de jurarem por todos os tipos de Deuses que não as espiariam, os dois se afastaram do lago e foram até uma área onde havia algumas árvores crescendo afastadas uma das outras.

— Acha que foi aqui que a Kaede pegou os esquilos? – Negi perguntou, ouvindo sons de vários animais ao mesmo tempo a alguns metros dali.

— Provavelmente sim. Deve ser onde eles vivem.

— Falando nisso… - Negi começou – Ainda não acredito que você vive no mesmo alojamento que a Natsumi.

— Você ainda está pensando nisso? – Kotarô o encarou pasmo – Estou morando lá desde que cheguei à Academia Mahora. Achei que você soubesse.

— Você não me contou, como eu iria saber? – Negi falou – Ela não se importa? Quero dizer, é um alojamento feminino…

— Eu já disse que não durmo no mesmo quarto que ela, está bem? – ele defendeu-se. Aquilo estava começando a ficar constrangedor.  Onde Negi estava querendo chegar com aquele interrogatório afinal? – É por isso que as coisas andam tão estranhas ultimamente. Todos nós precisamos dividir a mesma cabana, isso tem sido um tormento.

— Nem me fale – Negi suspirou. Pensando bem, Negi devia estar sofrendo muito mais com aquela situação do que ele – Aliás, eu ouvi a Haruna e a Konoka conversando sobre você…

— Ah, céus. O que a Haruna disse dessa vez?

— Sobre você ter sido o herói do dia quando chegamos nessa ilha e da possibilidade das garotas se apaixonarem por você, e…

— Há! Não me diga que está com inveja? Eu sabia que você gostava de ser popular, sabia! – Kotarô começou a rir.

— Me deixe terminar de falar! – Negi exclamou – Ela disse que, se outra pessoa se apaixonasse por você, a Natsumi poderia ficar com ciúmes. O que ela quis dizer com isso?

— Ah. Eu também gostaria de saber – Kotarô parou de rir abruptamente – Ei, Negi, você gosta das garotas que estão viajando com a gente, não é? Da Asuna, a Nodoka, e todas as outras.

— Que pergunta é essa agora? Lógico que sim!

— Mas você gosta em que sentido? – Kotarô perguntou - Como suas alunas? Suas amigas? Suas Ministras Magi? Ou… em algum outro sentido?

— Por que está me perguntando esse tipo de coisa assim do nada? – Negi indagou confuso. Levou alguns segundos para entender aonde o amigo queria chegar e arregalou os olhos quando o fez - Ah, você está falando da Natsumi! Não me diga que você gost…

— Eu não gosto dela! – Kotarô o interrompeu – Quero dizer, eu gosto, mas… não é esse tipo de “gostar”… eu acho. Ah, eu não sei! – ele bagunçou ainda mais os cabelos que estavam sempre despenteados – E você – ele apontou acusadoramente para Negi – Não ouse falar sobre isso com ninguém, ouviu? E pare de fazer críticas sobre com quem eu moro ou deixo de morar, você não tem moral para falar de mim. Eu não tenho para onde ir, mas você recebe salário e ainda assim continua morando perto da Asuna e da Konoka.  Acho que a Setsuna não ficará muito feliz quando se lembrar desse detalhe, aliás.

— Não precisa falar desse jeito! Uma coisa não tem nada a ver com a outra!

— Tem certeza? A Setsuna parece ser do tipo ciumenta – Kotarô provocou – Ela tem feito o possível para que a Konoka não se aproxime de nós dois desde que começaram a namorar, caso não tenha notado – ele observou. E tinha razão, Negi não tinha percebido – Muita coisa aconteceu nos últimos dias, então essa deve ser a última coisa na cabeça dela, mas quando a Setsuna se lembrar…

— Lembrar o que? – Setsuna pareceu brotar do nada ao lado deles, sobressaltando os dois.

— M-Mas o que você está fazendo aqui? – Negi exclamou.

— Nós já terminamos. É a vez de vocês usarem o lago – ela informou – Estavam falando de mim?

— Ah, não é nada. Eu só estava comentando com o Negi que talvez você não gostasse da ideia de ele continuar morando tão perto da Konoka quando voltarmos para a Academia Mahora – Kotarô disse como quem não quer nada – Mas não tem como eu saber. Não entendo muito dessas coisas.

— Terei que concordar com você dessa vez – ela respondeu, os olhos fixos em Negi – Professor, talvez não seja uma boa ideia você continuar vivendo próximo a Lady Konoka e a Asuna.

— O que?! – Negi exclamou pasmo. Não pensou que Setsuna realmente se importaria com isso – Mas por que isso agora?

— É que não me parece certo um garoto morando tão próximo a elas.

— Bem, se é esse o caso, então o Kotarô também não deveria estar morando no mesmo alojamento que a Natsumi, não acha? – Negi rebateu.

— É, não deveria – Setsuna concordou – Mas foi a Natsumi quem decidiu hospedá-lo, se me lembro bem. E a minha maior preocupação é a segurança de Lady Konoka.

— Não acredito que você está dizendo uma coisa dessas! – Negi exasperou-se – Não é como se eu pudesse me mudar agora mesmo, nós nem sequer estamos na Academia agora, sabe, estamos presos nessa ilha…

Kotarô aproveitou a discussão dos dois para escapar de fininho. Depois de certificar-se de que realmente não havia mais ninguém no lago, ele despiu-se e entrou sozinho. Era um lago grande demais para uma pessoa só, e estava um silêncio anormal. Ele tinha se acostumado com o barulho que as meninas da Classe 3-A faziam. Pensando bem, parecia com a vida que ele tinha antes de conhecer seus novos amigos. Quando ele não tinha amigos. Quando era apenas um youkai órfão, tentando sobreviver por conta própria, aceitando qualquer tipo de trabalho que lhe oferecessem em troca de algum dinheiro para sobreviver. E de quebra, ficava mais forte com isso. Ganhava mais experiência durante as lutas. Esperava que um dia ficasse forte o suficiente para não precisar mais fazer aquele tipo de trabalho. E, quando não tinha nenhum serviço, escondia-se em florestas, alimentando-se do primeiro animal que encontrasse.

 

Ele já tinha feito coisas horríveis quando ainda era muito novo e só conseguia perceber isso agora. O sequestro de Konoka não chegava nem perto dos crimes que cometera quando era mais jovem. Pensar nisso só o fazia lembrar-se de como sua alma era escura por dentro. Ainda era jovem, mas já tinha cometido tantos erros… tantos que cada um parecia um pontinho negro que, aos poucos, tingia seu coração de trevas.

 

Até o dia em que finalmente percebeu que estava trilhando um caminho completamente errado. E foi preso por isso, é claro, nada mais justo do que pagar pelos seus crimes. Embora não tivesse ficado tanto tempo preso na verdade. Não demorou a reencontrar as pessoas que o ajudaram a reconhecer seus erros. E então a conheceu.

 

Natsumi o acolheu sem ter a menor ideia de quem ele era ou de onde tinha vindo. Inicialmente, ele ficaria em seu alojamento da escola até que o ferimento que ele tinha quando se conheceram melhorasse, mas já tinham se passado meses desde aquilo, e ele estava morando lá até hoje. Natsumi o acolheu mesmo sem saber quem ele era. A garota lhe deu mais do que uma casa onde viver, ela lhe deu um lar. Kotarô era órfão, não tinha irmãos, nunca teve amigos, então nunca teve noção do que era ter uma “família”. Mas ele se sentia em casa quando estava perto dela, morando com ela. Natsumi era como um ponto de luz, que limpava aos poucos a escuridão que tinha contaminado sua alma e seu coração.

 

Mas, se ela soubesse as coisas que Kotarô já tinha feito… será que continuaria sendo tão amigável com ele? Será que o perdoaria pelos seus erros do passado? Ou ficaria com medo dele e passaria a odiá-lo? Kotarô não conseguiria suportar isso. A garota estava começando a fazer perguntas sobre isso e, por mais que ele tentasse fugir do assunto, sabia que teria que contar mais cedo ou mais tarde. Talvez Natsumi não o perdoasse se descobrisse sobre seu passado sombrio afinal. Ela era muito bondosa, mas também era muito sensível, e Kotarô raramente conseguia entender o que as mulheres estavam pensando ou o interpretar suas ações. O mas provável era que Natsumi ficasse com raiva dele. E em algum momento Kotarô teria que ir embora, não podia morar no alojamento escolar dela para sempre. Mas não tinha para onde ir. Se ele fosse embora… não queria voltar para a vida de crimes que tinha antes de conhecê-la. Mas não sabia fazer outra coisa além daquilo. E, por outro lado, não queria ir embora. Sabia que provavelmente estava sendo um incômodo, mas não queria se afastar de Natsumi. Não queria porque gostava dela.

Kotarô gostava dela? Quando foi que tinha chegado àquela conclusão?

O garoto teve seus pensamentos interrompidos ao ouvir os passos de alguém se aproximando. Ele parou de boiar na água e afundou no lago até a cintura. Nadou até a margem, pensando que era Negi, mas tratava-se da última pessoa que ele esperava ver naquele momento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Heey~ pessoas!
Só pra constar, todos os animais citados até agora são comestíveis, porém se preparados de modo correto em uma cozinha de restaurante ou se você souber fazer a receita em casa, e não assando em uma fogueira de acampamento, eu duvido que o gosto fique bom XP Se em que eu não tenho um paladar tão refinado a ponto de comer esquilo ou carne de crocodilo mesmo se for em um restaurante, nunca comi, não pretendo comer e não recomendo... mas eles não tinham escolha, fazer o que kkkkkkkkkkk
Deixem reviews por favor e façam uma autora feliz! *o*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Luz Que Ilumina a Escuridão Dentro de Mim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.