Além Do Horizonte escrita por Amber Brownie


Capítulo 5
Capítulo 4 - A Ameaça Desconhecida




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ALÉM DO HORIZONTE

 

— Capítulo 4 —

A Ameaça Desconhecida

 

Fechei o livro que lia e peguei o próximo da pilha ao meu lado. Não estava prestando atenção na história em si, uma vez que já tínhamos lido todas as antologias para a edição do ano passado. Quer dizer, pelo menos eu já sabia a maior parte dos livros decorada. A sala estava quieta demais. Eu podia até escutar os passos dos integrantes do clube de beisebol lá embaixo. Então quando a porta do clube abriu, virei meu rosto por puro reflexo.

Meiling surgiu pela porta, caminhando elegantemente com seu nariz empinado. Era a presidente do clube e é certo que agia como tal. Ela puxou a cadeira para se sentar à minha frente, pôs a bolsa de lado e colocou uma mecha atrás do ouvido.

— Onde está Eriol? — Meiling indagou com a voz monótona. Não me olhava, seus olhos vermelhos observavam a antologia a sua frente, folheando as páginas exatamente como eu estava fazendo há alguns minutos.

— Eu o vi mais cedo no ginásio, mas não sei se ele vai vir hoje.

— Entendo.

Inspirei fundo.

— Eu andei pensando se poderíamos fazer apenas uma exposição sobre as lendas históricas — sugeri, enquanto anotava as informações do livro em um caderno.

Meiling me encarou. Oh oh. Se não manter minha postura estarei com problemas.

— Então, você acha que devemos desistir do período Sengoku? Quer dizer que todo o nosso tempo não serviu de nada Syaoran.

— Não, não! Existem lendas do período Sengoku, nós só iríamos usá-las.

Esperei. Meiling ainda não parecia muito contente em ouvir isso, mas eu tive que lançar uma estratégia já que sabia que no final acabaria fazendo quase todo o trabalho sozinho por causa dessa infestação de feiticeiros em Tomoeda.

Seu olhar se amenizou e me permiti suspirar em alívio. Estava pronto para escrever a mudança no relatório, só precisava esperar por uma confirmação mais direta.

— Então você conseguiu?

— Ahm? Consegui o quê?

— Pensar em como vai fazer para se declarar para mim, é claro.

Estreitei meus olhos em sua direção.

— Porque diabos eu faria isso?

Meiling franziu as sobrancelhas parecendo estar confusa e apontou em minha direção. Oh. Era a antologia que eu estava segurando. Eu lembrava da história, mas posso resumir que é exatamente o que ela tinha acabado de falar. Ela estava brincando comigo mais uma vez. Que mania mais irritante!

— Eu iria ler isso de qualquer forma!

— É mesmo? Então você realmente admite, Syaoran?

Tive que manter minha boca fechada quase que a força para não despejar o que estava pensando sobre sua mania incômoda de me importunar. Inspirei fundo evitando olhar para a sua cara de deboche e consegui retrucar:

— Pense o que você quiser.

Meiling apoiou a mão no rosto e seus lábios desenharam um sorriso desdenhoso, assim como a forma que ela falava.

— Aaaah Syaoran — entoou melodiosa — Você podia ter ganhado se não desistisse tão fácil.

— Eu não me importo com isso.

Um breve silencio ficou entre nós. Sabia que Meiling estava considerando a proposta que eu havia oferecido. Isso é um bom sinal. Só espero que a tortura dirigida a Eriol não estrague todo o meu plano. Talvez pelo inconveniente da última vez, acabei sem querer olhando a porta pelo canto do olho, esperando que ele passasse por ali a qualquer momento.

— Parece bom. Isso deve chamar a atenção de outros feiticeiros além dos humanos.

Suspirei aliviado e finalmente voltei minha atenção a Meiling. Precisava lhe perguntar algumas coisas enquanto Eriol não estivesse por perto. Para ser mais específico, havia algo que não saia da minha mente de forma nenhuma.

— Meiling, esse clube sempre foi apenas de feiticeiros, certo?

— Pelo que eu sei, sim — Meiling retrucou dando de ombros.

— Então a “Noite de Sonhos” é sobre yumemis?

— Você está perguntando isso por causa do nome — Meiling retrucou ignorando minha pergunta e dizendo o que eu já sabia. Bom, mas é realmente estranho uma coletânea dentro de um clube de feiticeiros falar sobre sonhos tão especificamente como essa, fora dos livros de magia.

— É claro que sim.

— Vai precisar ser mais específico do que isso, Syaoran — Meiling se queixou deixando a antologia de lado. Examinei a porta mais uma vez. Entendi o que devia fazer.

— A “Noite de Sonhos” foi escrita sobre os sonhos?

— É o que está no título, baka.

— Não é disso que eu estou falando! — Droga! Me sentia frustrado, por acaso ela ainda está tentando me irritar? Suspirei antes de continuar: — Não estou falando sonhos normais, mas sonhos psíquicos.

— O que você quer saber sobre sonhos, Syaoran? — Meiling ralhou irritada desistindo por completo de ler a antologia, mas fugiu da minha pergunta. Eu a imitei e inspirei fundo, afinal ela tinha ido direto ao ponto.

— Certo, certo. Um sonho pode mesmo se tornar real? Quero dizer, se ele é psíquico não tem como ele ser real…

Meiling pareceu confusa com o meu pensamento.

— Isso não é tão simples assim — retrucou jogando parte do longo cabelo negro atrás dos ombros revelando um pouco da pele do colo. Pisquei saindo o seu transe — aliás, você já não sabe disso?

— Na verdade, não — dei de ombros — não pareceu algo que pudesse ser interessante para alguém como eu.

Meiling repassou o resto das antologias para o meu lado. Mas antes que eu pudesse protestar ela me interrompeu.

— Então isso é mais útil para você do que para o clube agora.

Receio que mesmo que não possa chamar nossa relação de algo como amizade ou até familiar por conta do nosso parentesco, sempre tivemos um pouco de companheirismo. Não é como se eu também não pudesse confiar em Meiling, mas ela estava do lado dos Li e eu não podia confiar em qualquer um que estivesse do seu lado.

— Mesmo assim, não é justo que eu acabe fazendo tudo!

Então Meiling abriu um sorriso diabólico. Oh oh. Isso é ruim. Eu podia sentir que caía em algum tipo de armadilha.

— Eu aceito sua ideia, mas você vai ficar completamente responsável pelo “Noite de Sonhos”.

Droga.

Ok, não posso dizer que isso é de todo ruim. Pelo menos pude sair com algo que seria útil para entender melhor sonhos mágicos, eu acho. É claro, se aquelas antologias realmente falassem sobre eles. Avaliei minha situação e isso não tinha como melhorar, então eu desisti e aceitei a oferta. Trouxe a pilha para o meu lado, controlando a minha raiva interior.

A porta se abriu mais uma vez e Eriol entrou, passando por trás da cadeira que eu estava e se sentou em sua cadeira habitual. Na mesma hora, senti como se a sala diminuísse e o ar fosse muito pouco para respirar.

— O que você está fazendo Eriol? — Meiling exigiu cruzando os braços. Com isso pude confirmar o que Eriol tinha acabado de fazer. Uma kekkai.

— Não se preocupe com isso, é apenas coisa de rotina.

Observei o semblante de Meiling se fechar, então pareceu que o clima na sala tinha de repente se tornado hostil, porém a postura de Eriol era a habitual, relaxada e confiante. Senti um arrepio involuntário. Armar uma kekkai só podia significar três coisas.

Primeiro, uma conversa particular; como a que tive com Eriol na tarde passada. Segundo, proteger alguma existência de outra; como na loja de Yuuko que só aparece para feiticeiros e entidades mágicas. Terceiro, para uma armadilha ou defesa.

— Criar uma kekkai na escola é rotina desde quando?

O sorriso de Eriol se abriu como se ele tivesse um grande trunfo nas mãos. Me limitei a observar o diálogo entre os dois como se congelasse o ar da sala ao poucos.

— Desde hoje, mas não se preocupe. É apenas uma medida preventiva.

— Se é uma medida preventiva, porque os Li não estão sabendo?

— Porque essa é uma informação muito importante. Não posso dizer a qualquer um.

— Você está dizendo que sou qualquer um?

Meu pressentimento dizia que algo estava errado ali. Se os Li e os Hiiragizawa estavam trabalhando juntos por causa do seu acordo, não deveria haver segredo entre eles. Principalmente da parte dos Hiiragizawa que mais se beneficiaram com isso. Isso quer dizer que eles deviam ter alguma suspeita em relação ao clã Li ou tinham algum tipo de informação privilegiada que os Li não tinham a ponto de poder confrontá-los.

Será que isso quer dizer que Eriol já estava agindo? Mas não digo que é algo inteligente enfrentar um Li ou colocar um dentro de uma kekkai do nada. A não ser que não seja essa a estratégia.

— Estou dizendo que isso está além do que você precisa saber.

— Você sabe o que a diretoria diria a uma atitude como essa?

— Meiling, eu estou na comissão da diretoria, e digo que isso é mais que necessário.

Eu nunca tinha visto Eriol ser tão frio com uma garota. Ainda mais com Meiling. Mesmo que sua relação não fosse exatamente às mil maravilhas, eles eram amigos e, claro, brigaram algumas vezes. Porém, essa foi a primeira vez em que os dois se enfrentavam com tanta frieza. Me vi obrigado a intervir na conversa dos dois, ou as coisas só iriam piorar dali em diante.

— Espere, eu sei que a diretoria tem assuntos importantes para lidar, mas isso não significa que agir dessa maneira não seja imprudente Eriol.

Eriol suspirou.

— Sim, você está certo. Eu sinto muito, Meiling, mas isso é necessário.

Eu sabia que Meiling ainda não estava contente com aquilo. Ela manteve sua postura irredutível e ficou em silêncio. Senti a necessidade de perguntar o que significava aquilo.

— Que tipo de medida preventiva é essa Eriol?

— Contra os grupos anti-Li que estão aqui.

— Nós já estamos fazendo isso — Meiling disse em um tom entediado e acusador — Você não vai mesmo dizer?

Eriol sorriu.

— Eu já disse que não precisa de preocupar com isso. É apenas a minha armadilha.

Então, ele realmente tem uma estratégia. Minha intuição diz que algo ruim vai acontecer a qualquer momento. Mesmo dentro da kekkai é possível sentir a presença de outros feiticeiros do lado de fora, isso não acontece para quem está fora dela e mesmo assim a presença de quem está dentro dela não se extingue.

— Uma armadilha na escola? — Meiling perguntou confusa.

— É meu dever proteger a escola de qualquer forma.

— Não é isso que eu estou dizendo.

— Tudo bem, tudo bem — Eriol retrucou se endireitando na cadeira — Mas por enquanto eu tenho uma hipótese que preciso confirmar.

— Você está dizendo que existe um suspeito na escola?

— Sim. Você sabe quem é Meiling.

Meiling arqueou as sobrancelhas como se ainda não estivesse entendendo o que estava acontecendo. Foi quando a porta do clube abriu e Kinomoto apareceu atrás dela ficando imóvel no mesmo instante que viu Meiling e Eriol sentados. Todos estavam olhando para ela, imóvel atrás da porta. Seu rosto ficou pálido e eu sabia que ela estava prestes a fugir. Algo tinha trazido Kinomoto para a sala outra vez, e eu precisava aproveitar a oportunidade, então me levantei e fui até ela tentando ser o mais simpático que pude.

— Bom, pessoal, essa é Kinomoto Sakura e ela vai se juntar ao clube.

Kinomoto parecia estar em transe o suficiente para não concordar nem discordar, porém, foi a reação de Meiling e Eriol que eu examinei. Nenhum dos dois parecia estar convencido que eu tinha falado. Abri mais a porta e coloquei minha mão nas costas de Kinomoto a obrigando silenciosamente a entrar na sala. Hesitante, ela acabou entrando, ainda olhando os rostos dos dois. Talvez essa seja a primeira vez que ela estava consciente de sua própria presença.

— Meiling, você disse que precisávamos de mais pessoas no clube.

O olhar de Meiling se desviou de Kinomoto e me encarou em silêncio. Dessa vez me virei para Eriol que fitava Kinomoto com o olhar estreito e curioso. Esperei que ele falasse algo e até me preparei para expor meus argumentos, mas Meiling me interrompeu.

— Tudo bem. Mas como disse, ela é sua responsabilidade, entendeu?

Então Kinomoto despertou.

— Hoe? M-mas e-eu não…

— Kinomoto-san, você veio ontem para isso não?

Kinomoto me fitou com um olhar confuso. Já é ruim o suficiente Eriol desconfiar dela, isso é o mínimo que eu podia fazer para ajudá-la. Só preciso que essa tonta não faça nada desnecessário.

— Na verdade não — Kinomoto disse olhando para o chão hesitante — tem um livro…

— Você precisa de um livro daqui?

Kinomoto assentiu. Apesar da presença de Eriol e Meiling, ela andou em direção a mesma estante que tinha ido ontem e pegou um livro vermelho da mesma forma como eu tratava uma escultura antiga, com muito cuidado. Era um livro mágico que falava sobre a história de Clow Reed.

— Você se interessa por Clow? — Eriol perguntou e Kinomoto se encolheu um pouco.

— Não é nada demais…

— Bom, é uma pena. Todos os livros do clube foram doados por integrantes mais velhos, então não podemos emprestar nenhum dos livros se você não for um sócio do clube.

— Eu entro!

Kinomoto falou com uma convicção que eu só tinha presenciado nas vezes que ela tinha me seguido para me atacar. Me questionei porque estava interessada em Clow Reed, mas isso não era algo que eu podia perguntar agora.

— Muito bem Kinomoto-san, esses são os nossos membros atuais. Li Meiling e Hiiragizawa Eriol. Os outros membros não estão presentes hoje, então depois eu os apresento.

Kinomoto se curvou muito formalmente para Meiling e Eriol.

— Eu sou Kinomoto Sakura, é um prazer me deixar trabalhar com vocês.

— Então você é a aluna nova? — Eriol perguntou e Kinomoto assentiu — Entendo. “Sakura” é realmente um nome muito bonito que significa “flor de cerejeira”, não é?

Kinomoto corou.

— Tudo bem se eu te chamar de “Sakura-chan”? Você pode me chamar de Eriol-senpai se quiser.

Precisei me controlar para não revirar os olhos. Eriol nunca perdia uma oportunidade de jogar seu charme de Don juan em cima de qualquer que fosse. De qualquer forma, isso era bem melhor do que a atmosfera estranha de alguns minutos atrás. Mesmo assim Kinomoto parecia um pouco assustada com toda a atenção para si, ainda mais a essa ação direta de Eriol.

— Tudo bem mesmo? — Kinomoto perguntou ainda encolhida.

— Sim.

O que diabos ele pretende com isso!? Eu juro que tentei me reprimir, mas dessa vez as palavras saíram mais rápido pela minha boca do que eu tinha imaginado.

— Se eu fosse você, Kinomoto-san, tomava cuidado com ele.

Eriol sorriu aparentemente simpático.

— Eu só estou tentando fazer com que Sakura-chan se sinta o mais confortável nesse clube, não é o que você quer também Syao-chan?

Não é isso o que você quer, se ainda desconfia dela! Francamente, mesmo que eu tenha me sentido desconfortável em ouvir isso vir logo de alguém como Eriol —  não necessariamente por ele e sim por Sakura que encarava a cena confusa —  o droga desse maldito apelido foi o bastante para me colocar no limite.

— Você pode estar fazendo qualquer coisa menos isso!

Meiling suspirou entediada e se voltou para Sakura sorrindo amigável.

— Não se preocupe com eles. Na maior parte do tempo, agem como crianças — disse revirando os olhos e continuou a falar sobre o clube de onde eu tinha parado — Nós estamos pesquisando sobre o período Sengoku para decidir a próxima exposição para o festival cultural. Infelizmente Syaoran é seu responsável, então você fará a parte do trabalho com a dele.

— Pelo menos eu faço o meu trabalho direito — retruquei ainda encarando Eriol que ignorou por completo a minha alfinetada.

— Isso é o esperado de quem leva uma vida patética — Meiling rebateu jogando o cabelo para trás e abriu um sorriso maquiavélico em minha direção — É claro que mostra que você também não pretende desistir do seu objetivo.

— Eu já disse que não me importo com isso!

— É verdade, Meiling-chan — Eriol concordou zombeteiro, mas tudo o que eu queria era que ele sumisse daqui agora. Ele continuou a falar, alheio ao meu olhar de ódio em sua direção — um menino como Syao-chan deve ter energia o suficiente para algo assim.

— Você não pode negar algo que estava fazendo ainda há pouco, Syaoran. — Meiling lembrou sobre o maldito que eu lia antes — Eu poderia pensar que você só está jogando comigo. Não é, Eriol?

— Sim, é verdade. Mas, não se preocupe, eu não vou deixar que Syao-chan faça você chorar, tenho certeza que ele sabe que você estaria muito melhor com alguém como eu.

— É mesmo não é, Eriol-kun.

Não, não, droga! Não se aliem agora! Nem parece que há poucos minutos estavam praticamente atirando farpas contra o outro. Maldição! Virei o rosto desesperado, pensando em buscar ajuda em Kinomoto, mas sabia que ela estava tão perdida e nervosa ali dentro quanto eu. Eriol seguiu o meu olhar e se virou para Kinomoto curioso.

— O que você acha Sakura-chan? — Eriol tentou encorajá-la a participar.

Argh. Por favor, não a envolva em seus jogos maldosos, Eriol.

Kinomoto não sabia o que fazer e eu não a culpo. Era muito para entender em tão pouco tempo e ela não estava acostumada a esse tipo de situação. Tinha permanecido de pé como uma estátua e não largou o livro nem sequer uma vez todo esse tempo. Meiling e Eriol a encararam em silêncio esperando por uma resposta.

— Ah, er… E-eu…

Ah cara, isso é muita pressão para Kinomoto. Eu me senti mal por ela, até porque fui eu quem a fez entrar no clube, então tentei mudar de assunto para deixá-la menos desconfortável.

— Você não precisa responder a eles Kinomoto.

Kinomoto assentiu e colocou o livro de volta na estante. Eriol se levantou galante da cadeira em que estava sentado e sorriu para ela. O que diabos ele pretende fazer agora? Eu não queria que ele a assustasse, Kinomoto já parecia aterrorizada o suficiente.

— Por favor, Sakura-chan, sente-se aqui.

O semblante de Kinomoto ainda parecia um pouco assustado, mas ela não recuou. Pelo contrário, sentou na cadeira ao meu lado, onde geralmente Eriol ficava. Ele empurrou gentilmente como um cavalheiro, ou era o que queria que Kinomoto pensasse.

— M-muito obrigada, Eriol-senpai — Kinomoto balbuciou sem graça.

Eriol-senpai? Essa tonta realmente tinha caído no jogo deste duas caras descarado? O que eu acabei de falar para ela tomar cuidado? Eriol abriu ainda mais aquele sorriso ridículo quando sentou do outro lado da mesa. Não sei o que ele está tramando, mas não tenho nenhuma sensação boa quanto a isso.

Foi quando eu percebi que Kinomoto estava olhando para mim com seus grandes olhos verdes brilhantes intrigada com o meu silêncio.

— Está tudo bem Li-kun?

— Não se preocupe Sakura-chan, ele só está com inveja — Eriol respondeu com o ar risonho.

Inveja? Eu não estou com inveja. Será que não? Minha consciência questionou. Cale-se! Não preciso de mais coisas para me preocupar agora, até porque eu não estou com inveja. Sentia raiva dessa tonta ter caído tão facilmente na lábia de Eriol. Ela não sabia o risco que corria. Retornei ao assunto principal. Eu a expliquei como estávamos fazendo a triagem, e lhe mostrei alguns exemplos para que ela compreendesse como fazer. Kinomoto ainda parecia intrigada, mas concordou. Sua mão se precipitou para pegar uma antologia quando Eriol voltou a falar.

— Em qual escola você estudava Sakura-chan?

— Oh — Kinomoto hesitou — Eu vim de outro estado...

— É mesmo? De qual?

— Osaka — Kinomoto retrucou sem pestanejar.

Osaka? Não consegui evitar meu espanto.

Isso não faz o menor sentido. Deixe-me explicar o porquê. Em Osaka o clima é quente, ensolarado e tem uma brisa refrescante, enquanto Tomoeda a temperatura era fria na maior parte do tempo, exceto, é claro, no verão. É estranho Kinomoto dizer que veio de lá, onde a maioria da pessoas tinham um pouco mais de cor, enquanto e a pele dela era tão branca, quase chegando a transparência. Ela não tinha nem mesmo o sotaque estranho de quem vive em Osaka.

— Entendo. Você veio para cá por algum motivo?

Kinomoto baixou os olhos. Sua postura estava diferente, por isso, não digo que parecia mais assustada ou atordoada, apesar de que eu achava que essas perguntas aparentemente casuais iriam surtir esse efeito nela.

— Há algo muito importante que eu preciso fazer aqui.

Sua voz soou distante mesmo que estivesse firme. Questionei e me questionei onde Eriol pretendia ir com aquela aparente conversa casual. Então lembrei com assombro da kekkai. O espanto nos olhos de Kinomoto demonstrou que ela não sabia que haviam outras pessoas ali. Em outras palavras, ela não tinha sentido a nossa presença, ou pelo menos a de Eriol e Meiling. Isso quer dizer que ela tinha passado pela kekkai? Se sim, como?

Por esse motivo, eu não pude observar a conversa dos dois se estenderem, ou Kinomoto poderia estar em sérios problemas. Então decidi fazer uma pergunta com dois objetivos claros em mente. Um, para ver como Eriol e Meiling reagiriam. O outro, para ver como Kinomoto reagiria na frente dos dois.

— Você está aqui por causa do “Além do Horizonte”, não é?

Parecia não ter ar o suficiente para respirar na sala. Os olhos de Kinomoto continuaram baixos e sua boca se comprimiu. Fiquei de olho nos atos de Meiling e Eriol. Nenhum dos dois agiu de forma exatamente suspeita, mas eu pude notar que Eriol estava um pouco tenso.

— Porque você acha isso?

Antes que eu pudesse explicar, Eriol explodiu direto ao ponto — parecia ansioso em conseguir uma resposta de Kinomoto. Consegui entender o que ele estava pensando. Eu, entretanto, apenas fiquei ali olhando para os dois.

— Se você tem um desejo que quer realizar, essa é a única maneira de fazê-lo. Eu espero que isso termine sem problemas, então quero que você responda minhas perguntas honestamente, Sakura-chan.

Isso era uma ameaça clara. Eu não podia ficar calmo em um momento assim. E, ainda assim, também não podia fazer nada. Depois de um tempo, ela respondeu, como se para diminuir a tensão no ar.

— Sim. É por causa do “Além do Horizonte”.

Kinomoto não parecia nem um pouco assustada. Ela tinha ficado inerte quando eu abri a porta para que ela entrasse. E se não fosse o número de pessoas que a surpreendera? Talvez ela já soubesse onde estava se metendo.

— Sim… Há pessoas más lá fora, não é? — Eriol murmurou dizendo mais ou menos o que Yuuko tinha me dito.

Ele cruzou os braços. Falava consigo mesmo, mas não era motivo para ignorá-lo. Ainda mais quando Kinomoto parecia desconfortável.

— O que isso significa? — eu perguntei, e voltamos a discussão do início.

Naturalmente, Meiling e Kinomoto não tiraram os olhos de Eriol.

— Escolha suas palavras com cuidado ou essa aliança pode ser quebrada para sempre.

O ar pareceu se comprimir ainda mais e não era por causa da kekkai. Os lábios de Kinomoto tremiam apesar de seus olhos estarem impassíveis.

— Você tem certeza que quer me ameaçar? Os Li são os únicos aqui que estão guardando segredos.

Meiling franziu as sobrancelhas, confusa. Ela não parecia fingir não entender o que ele estava insinuando.

— Que tipo de segredo você acha que estamos guardando, Eriol? Você é o único que está escondendo as coisas aqui.

Eriol se arrependeu da acusação.

— Eu sei, bom também não ficaria surpreso se o clã escondesse esse tipo de informação de você Meiling.

— Assim como você está fazendo exatamente agora — Meiling rebateu, fria. Isso deve ter incomodado um pouco ele, sem dúvida. Meiling não sabia porque ele estava agindo dessa forma. Isso não era nem um pouco justo com ela.

— Sim. Eu não acho que podemos continuar essa aliança se esses segredos persistirem. Então eu quero que me responda uma coisa, você sabe porque Kinomoto Sakura não está entre os feiticeiros que estamos vigiando?

Os olhos e boca de Kinomoto se abriram em três círculos. Ela pareceu querer perguntar algo, mas decidiu continuar calada olhando os dois. Meiling suspirou alto.

— Kinomoto-san veio antes dessa infestação de feiticeiros em Tomoeda, e nós ficamos responsáveis pelas mudanças dentro do considerado “normal”, você sabe muito bem disso Eriol.

Ele sorriu diabolicamente. Havia uma sombra negra sobre o semblante de Eriol, como se ele estivesse zombando do quanto Meiling ainda era como uma menininha tola e boba.

— “Além do Horizonte” é um sonho raro que os feiticeiros perseguem. Mas como sonhos são psíquicos apenas alguns podem encontrá-lo. É preciso ter uma habilidade muito peculiar e poderes mágicos fortes para conseguir esse feito.

— Sim, mas não há nenhum Yumemi entre os feiticeiros que estamos vigiando.

De algum modo, eu entendi onde ele queria chegar desde o começo. Tive uma sensação de mal estar e minha boca secou. Aquela armadilha era para Kinomoto. Eriol voltou seus olhos para ela no mesmo instante.

— Você é uma Yumemi, não é Sakura-chan?

O silêncio que se seguiu confirmou as suspeitas de Eriol.

— Eu sabia que algo estava errado quando descobri que Sakura-chan era a única que estava sendo observada pelos Li. E ela ainda confirmou que está aqui por causa do “Além do Horizonte”. Se ela veio aqui a mando dos Li, é porque eles estão atrás do sonho ou talvez já estivessem a rastreando para descobrir a localização. Se ela veio sem saber que haviam outros feiticeiros por aqui, isso quer dizer que…

— Eriol!

Eu o cortei. Ele estava agindo muito friamente. Mesmo que isso fosse verdade, não era motivo para dizê-lo em voz alta. Kinomoto estava imóvel, pálida. Eu não sei se ela tinha sido traída ou estava sendo usada, seja pelos Li ou por qualquer outro feiticeiro. De qualquer maneira, as coisas iriam acabar terrivelmente para ela. Disso eu tinha certeza.

Como eu disse antes, a suposição de Eriol era lógica e tudo se encaixa perfeitamente. Usar alguém amaldiçoado e que tem o poder de ver através de sonhos para conseguir obter um sonho era uma ideia tão distante assim? Não. Nisto eu preciso concordar com ele. Mas Kinomoto é tão tonta para espalhar uma informação valiosa como essa dessa forma?

Eu certamente não penso assim.

Então aconteceu.

A janela da sala quebrou, fazendo um tremendo barulho. Nós quarto focamos nossa atenção para ela — por puro reflexo, um erro já que era apenas uma distração. Eu senti a presença se aproximar de forma assustadora, mas vinda do lado oposto. A presença era igual que tinha me atacado da primeira vez quando eu estava com Kinomoto.

Algo fez a porta se abrir e deslizou para dentro. Meiling estava mais perto da porta. Eriol estava do outro lado da mesa da sala com o seu báculo á mão, mas estava longe demais dela. A figura vestida com uma túnica longa negra e frouxa não carregava nada. Eu não tinha certeza absoluta se ela era algo humano ou demoníaco. Atirou-se em direção a Meiling. Ela parecia prestes a gritar.

Eu não tive tempo de pensar no porquê disso estar acontecendo. Apenas agi por instinto. Tentei ficar entre ele e Meiling e tentar agir como um escudo humano já que não tive tempo para materializar minha espada. Antes que algo afiado pudesse nos alcançar, uma parede invisível se estendeu a minha frente impedindo seu ataque. Não pude saber quem a tinha conjurado. Ele se preparou para um segundo ataque de imediato, mas foi tempo o suficiente para materializar minha espada e Meiling seu leque mágico. No entanto, Eriol puxou Meiling para longe deixando seu braço desprotegido. As garras do inimigo tentaram alcançá-lo, mas consegui jogá-lo para longe de Eriol. Ele bateu na parede ao lado de Kinomoto que segurava a espada dourada fina e afiada, atenta ao momento certo para atacar.

Naturalmente, percebi quem era o atacante. Era um corpo humano com garras nas mãos, afiadas como facas e sem rosto. Mas com certeza o mais intrigante era o símbolo que ele tinha nos braços. Um círculo redondo vermelho como sangue com o desenho similar a um morcego negro dentro na parte inferior fazendo a parte superior lembrar uma rosa.

Mesmo que tivéssemos feito uma emboscada, ainda estávamos em estado de desordem. Não importa que fossemos quarto e ele um, que teve o fator surpresa como vantagem. Isso quer dizer que, o próximo passo dele foi fugir. Kinomoto também percebeu a mesma coisa, e, quase instantaneamente, começou a persegui-lo. Eu estava prestes a fazer o mesmo quando ouvi a voz de Eriol:

— Esperem vocês dois! Só fechem a porta por enquanto.

Kinomoto hesitou, mas virou o corpo e desfez a espada mágica. Fechei a porta a contragosto e o encarei.

— Ainda tem muitas pessoas na escola agora, não podemos nos arriscar assim.

— Mas você deixou ele fugir.

— Eu já disse para não se preocupar, está tudo sob controle. A área está coberta pela kekkai, ninguém pode sair ou entrar. Há algumas exceções, é claro, isso não importa. Parece que caíram na minha armadilha.

Ele falava calmamente, mas sua postura estava inquieta. Meiling o observava aflita. Levou apenas um instante para que a sala do clube se tornasse um campo de batalha. Não é surpresa que um feiticeiro que trabalha no lado administrativo fique chocado com isso. Em contraste, Kinomoto, endurecida pela batalha, estava completamente calma.

— Um feiticeiro fez isso? — murmurou Kinomoto, como que para si mesma.

Ela continuou a observar a porta fechada como se pudesse ver a ameaça por trás dela.

— Só existem dois clãs que podem fazer algo assim, os dois apenas famosos — acrescentou — Se facções estão agindo por conta própria, podem haver muito mais.

— Oh, você tem um bom olho para isso. Só levou um segundo para perceber que estava sendo controlado, hein?

Eriol estava impressionado.

— Todos somos como pássaros — ela respondeu, diretamente — Tenho certeza de que foi isso.

— Feiticeiros contra feiticeiros, hein. Eu me pergunto o que aconteceu para agirem assim de repente contra nós. Todos sabem que essa área é monitorada pelos Li.

— Você fez alguma coisa para despertar a ira deles? —  indagou Meiling.

Eriol balançou a cabeça.

— Mesmo assim, é arriscado demais enfrentar a autoridade dos Li dessa forma. E porque só fariam algo assim agora? Já faz um mês que estamos os monitorando.

A conversa era leve, mas ele tinha um olhar sério no rosto. Isso era claro para mim de que ainda estávamos em uma situação perigosa.

— Há muitas pessoas que querem o fim dos Li.

— É verdade, mas…

— Temos coisas mais importantes para nos preocupar agora — disse Meiling, cortando a nossa conversa. Ela claramente não estava confortável com aquele assunto.

— Você está escondendo algo, Eriol. Você deve explicar agora ou a família Hiiragizawa irá sofrer as consequências. Eu não sei sobre vocês, mas nós nunca fizemos nada que motivasse outros feiticeiros a nos atacar. Além do mais, estamos na escola.

Meiling enfatizou a palavra “escola”. Sim, isso também estava me incomodando. Por enquanto, vamos deixar de lado quem atacou — o problema era que estávamos dentro da escola. Eriol tinha colocado uma kekkai para protegê-la, então pessoas comuns não são afetados por ela. Porém se a kekkai se desfizesse por causa de algum feiticeiro, quem tinha a conjurado saberia no mesmo instante do intruso.

Foi somente graças ao poder de conjurar barreiras impenetráveis e feitiços especiais dentro delas que os Hiiragizawa tinham conseguido manter o domínio nessa área, então a aliança com os Li era algo que não poderia ser evitado, e ainda assim, era algo que beneficiava aos dois. Com essa lógica, a escola protegida pela kekkai de Eriol deve ser absolutamente segura. Talvez um feiticeiro ou um youkai muito poderoso pudesse derrubá-la. Mas esse feiticeiro era tão fraco que estava sendo controlado por outro mais forte.

Aí é que está o problema.

Algo deu errado. Esse feiticeiro mais fraco passou pela kekkai sem que percebêssemos sua presença. O que estava realmente me incomodando era a presença dele. Que motivos algum feiticeiro teria para atacar os Li e Hiiragizawa? Enfraquecer sua defesa? E Kinomoto estava ali, apesar de tudo. Não, isso não faz o menor sentido. Tudo bem, vamos pensar do começo.

Uma sugestão. Uma indicação de que isto estava para acontecer. Algo que Eriol disse no começo me veio à mente.

Mas por enquanto eu tenho uma hipótese que preciso confirmar.

— Eriol, você os atraiu de propósito?

Seu rosto era intrigante. Ele sorriu.

— Então você entendeu, não é, Syao-chan?

— Porque você trouxe inimigos para a escola, Eriol? — Meiling exigiu claramente irritada.

— Calma, eu nem falei nada ainda!

Meiling ficou quieta a seu lado, pronta para agir caso Eriol mudasse de idéia. Acho que isso deve ter sido o suficiente para ele ir direto ao ponto.

— Tudo bem. Olha, já faz um tempo que está acontecendo alguns eventos estranhos em Tomoeda desde que esses grupos chegaram aqui.

Ele não poupou suas palavras. Ah sim — era isso que o estava me incomodando nos últimos dias, fico contente por não ser o único a ter percebido. Eriol manteve sua postura habitual, e continuou.

— Esses eventos estavam passando despercebidos por nós, porque estávamos apenas monitorando os feiticeiros que podem ser uma ameaça ao “Além do Horizonte”.

— De que tipo de eventos estamos falando?

— Desaparecimentos.

Kinomoto tinha o olhar fixo para o chão, pálida como quando Eriol a tinha acusado. Isso me fez sentir um pouco desconfortável, mas eu não podia fazer nada além de continuar escutando.

— Então, você quer dizer que os feiticeiros que estamos monitorando que estão causando isso?

— Eu também achei isso no começo, pensei que eles tinham que ser muito burros para fazer algo assim. Afinal, logo isso chamaria atenção, principalmente nos noticiários. Mas para a minha surpresa, seus movimentos foram assustadoramente bem planejados.

— Por isso você acha que os Li estão por trás disso.

Meiling parecia calma, mas eu posso dizer por seus olhos que ela estava irritada. Um sorriso amargo cruzou seu rosto. Eriol entretanto estava tranquilo como se a pequena batalha não tivesse acontecido por um instante.

— Ao que parece não — ele retrucou sorrindo — ele atacou você, não é?

Kinomoto fez as coisas se mexerem de novo. Eu olhei para ela. Meiling e Eriol fizeram o mesmo.

— Alguém está causando esses desaparecimentos, então para descobrir quem é, você o atraiu e o prendeu dissipando a kekkai, seu plano teve sucesso e o inimigo caiu na sua armadilha.

— Isso parece bom para mim, você não acha? — Eu perguntei.

Kinomoto olhou para mim.

— Esse ataque foi um pouco… Previsível. Se estivessem o tempo todo procurando por uma abertura, acho que algo assim já teria acontecido. Mas se… talvez precisarem cumprir um objetivo, acho que ficará claro quem é o inimigo.

Havia algo incrível na forma de como ela falava quando estava em modo de feiticeira. Ela estava tão tranquila e confiante em sua capacidade de um combate próximo que não estava nervosa mesmo nessa situação de perigo.

— Bem, não há porque se preocupar com isso. Nós já sabemos quem é.

Olhei Eriol de relance. Meiling e Kinomoto fizeram o mesmo, porém com surpresa.

— Como você sabe quem é?

Eriol fixou seu olhar em Kinomoto como se falasse apenas com ela. Ela sustentou o olhar com imponência.

— Só um pessoa pode fazer algo assim. Clow Reed.

 

Continua...

 


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Notas finais do capítulo

Estou de volta pessoal! Tudo bem com vocês?

Agora sim as coisas estão começando a se mexer! Vamos ter um pouco de ação até chegarmos no dilema da nossa Sakura primeiro! Quase não consigo tempo pra postar por conta da faculdade, mas consegui de alguma forma haha. O que acharam do capítulo?

Muito obrigada ao Sparkguy (seja bem vindo!) e Suzzane pelos comentários no capítulo passado!

Por hoje é só, até o próximo capitulo pessoal!



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