Sentimentos que Transcendem o Tempo escrita por Lightside


Capítulo 1
Juntos em todas essas lembranças


Notas iniciais do capítulo

Hey, como vão? Espero que estejam bem :3

Não importa quantas vezes eu assista Moon Lovers, vou sempre me apaixonar por esse dorama como se fosse a primeira vez. ♥

Primeiramente quero esclarecer algumas coisinhas. A one shot foi baseada no último capítulo do dorama e a narração está em primeira pessoa, ou seja, no ponto de vista da Ha Jin. Sugiro que leiam ao som de Epik High ft Lee Hi - Can You Hear My Heart. E por fim, quero agradecer a NAT KING por betar esse texto chuchuzinho ♥

Sem mais delongas, boa leitura! :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/752478/chapter/1

C A P Í T U L O  Ú N I C O :


J u n t o s   e m   t o d a s   e s s a s   l e m b r a n ç a s


E se a vida fosse um sonho? E sonhos fossem reais?
 

 

—  Autor Desconhecido


Esta é a terceira vez que acordo numa madrugada chuvosa de junho. O edredom estava num emaranhado, o travesseiro ao chão; minha face estava mergulhada em lágrimas e o peito doía tanto que tornava-se difícil de respirar. 

Sem a minha permissão, você não pode me deixar — dissera um homem, e a mágoa e a raiva em suas palavras fizeram com que baixasse os olhos. — E nem morrer!


Levantei apavorada com os cabelos desgrenhados, a testa suada, tentando a todo custo acalmar meu coração que estava a ponto de saltar para fora. Abri a janela e inspirei fundo, absorvendo o máximo de oxigênio que pude para meus pulmões.


Desde quando acordei do coma há um ano, tenho tido pesadelos recorrentes envolvendo a dinastia Goryeo sob o reinado do imperador Taejo. Não me lembrava como era viver sem ter de acordar durante a noite com o peso do mundo em minhas costas e a vida de inocentes sendo descartadas como se fossem sacos de batatas.


Perdi as contas de quantos psiquiatras visitei e era sempre a mesma resposta: não há nada de errado. 
Sinceramente, esperava por uma resposta convincente de que dissessem que eu sofro de estresse pós-trauma, ou algo do tipo. 


Não conseguia compreender o motivo toda a vez que sonho com ele sempre acabo chorando… 


Pela primeira vez na minha vida, eu chamei o rei de pai — comentara, sorrindo com satisfação. — Fazia 15 anos desde que ele me olhou apropriadamente. 


Levei alguns segundos até absorver o que ele me dizia. Estava dividida entre prestar atenção em suas palavras, ou deixar-me ser dominada pelo medo que sentia daquele homem que apesar dos pesares, tinha tudo para se transformar no temível rei Gwangjong.


Ele me disse para ser mais confiante. — Sua voz soou baixa e rouca em meus ouvidos. — Depois que ouvi essas palavras, toda a dor que eu sentia desapareceu.


O que mais doía em meu peito era ver o desespero do homem com uma cicatriz do lado direito do rosto o qual usava uma máscara para escondê-la. Seus olhos castanhos, que pareciam uma verdadeira tormenta, transbordavam remorso, injustiças e uma dor latente que lhe rasgava o coração.


Ninguém diz que sou assustador ou me chamam de monstro. — Nos encaramos por alguns instantes, até ele aproximar-se e dessa vez eu não me sentia forte o suficiente para afastá-lo. — É engraçado… Acho que estou começando a gostar de mim. E a pessoa que me fez sentir assim foi você, Hae Soo.


Eu queria a todo o custo aplacar sua dor mas não era por mim que ele chamava, mas sim, por uma tal de Hae Soo.


Quem era ela? Porque estou tendo essas lembranças?
Olhei o crucifixo budista que ganhei da vizinha ao lado e peguei-o como se minha vida dependesse daquele objeto.


Será que sou a reencarnação dessa Hae Soo? Foi com esse pensamento que fechei a janela já mais calma e voltei para cama.

 
— Ha Jin.  


Virei-me apenas para receber o abraço apertado da dona da voz, a qual conhecia muito bem.

 
— Chae Ryun.  

 
— Olha é você mesma?  — falou eufórica ao misto de espanto, não acreditando que estava realmente ali.  — Você tem comido direito? Acha que é uma boa ideia voltar a trabalhar?


Sempre tão cuidadosa e prestativa, Chae parecia realmente preocupada e apenas sorri para com todo aquele zelo que a mesma tinha comigo desde…


Senhorita, você estava doente antes, está melhor agora? — dissera gentilmente uma Chae com os cabelos presos em um coque alto com vestes antigas. Ela estava ajoelhada em frente a uma pilha de pedras com as mãos juntas parecendo rezar por algo ou alguém. — Queria lhe fazer se sentir melhor.


 — Ha Jin? 


Novamente sorri a fim de convencê-la, mas a bela morena de olhos cor de terra não parecia se convencer.

 
— Eu estou bem, não se preocupe.


Respirei fundo… Definitivamente acho que esse acidente me deixou esquizofrênica.

 
— Hoje vamos para o Museu Nacional.

 
— Museu?  — questionei enrugando o nariz.  — E o trabalho?

 
— Você tem uma sorte. Hoje vamos apresentar a mais nova linha de cosméticos e maquiagens inspiradas em Goryeo.


 — Goryeo?  — repeti incrédula. Parecendo um acaso do destino.


 — Sim.  — Chae sorriu animada e explicou:  — Goryeo foi a dinastia estabelecida em 918 pelo imperador Taejo, o qual unificou os três últimos reinos em 936.


Algo dentro de mim dizia que as respostas estavam por lá... Acaso ou não, uma coisa era certa: tinha que ir ao Museu de qualquer maneira!

 *** 


Algumas horas depois trabalhando, pude distrair minha mente esquecendo-me daquelas visões estranhas…


 — Goryeo foi influenciada pelo Budismo.  — Ouvi uma voz masculina dizer a alguns metros de distância.  — Nessa época os cosméticos começaram a ser desenvolvidos. 


Minha atenção foi tomada pela explicação do professor que palestrava para seus alunos. Ao observá-lo, notei que sua face parecia-me familiar… Mas de onde o conhecia?


— O cheiro de rosas não me era estranho…  — disse para mim, torcendo o nariz tentando a todo custo recordar de onde e como tinha usado aquela fragrância rara e cara.


Então, sem ser convidado, o homem mascarado tomou posse dos meus pensamentos.


Não me diga que pertenço à você de novo — o repreendi arqueando as sobrancelhas. 


Ao fitá-lo, aquele maldito sorriso debochado de lado em conjunto com aquele par de olhos tão cheio de si. O tratante soltou uma risadinha como que lendo meus pensamentos.


Então…  — disse num tom enigmático, e algo me dizia que aquilo não era apenas uma brincadeira de mal gosto do qual estava acostumada por parte dele. Não, dessa vez ele parecia sério.  — Devo dizer que você é a minha pessoa? 


Respirei fundo. Novamente flashes estranhos da vida de Hae Soo invadiram minha mente.


Boba — ele murmurara, puxando-me para perto de si. Todo o meu corpo, principalmente o coração, parecia gritar devido a corrente elétrica que percorria por mim, mas apenas respirei fundo mantendo a compostura. — Eu disse que não beijaria sem a sua permissão. 


O modo como ele me olhava era de uma intensidade que não deixava dúvidas sobre seus sentimentos em relação a mim.


Distraída, não notei o momento em que o atrevido tocou meus lábios num selinho.


Menti — dissera com um sorriso zombeteiro, pegando da minha mão o enfeite de cabelo o qual havia me dado de presente. — Vou levar isso para ter boa sorte.


Aqueles olhos castanhos olhavam para Hae Soo com uma devoção e enxergavam o fundo do seu coração, tão profundamente que conseguiam ler o quanto ela ou eu o amava.


Balancei a cabeça furiosamente a fim de espantar tais pensamentos, mas parecia uma tarefa impossível.


— Não consigo para de pensar nele… — resmunguei.


Uma outra colega de trabalho olhou-me confusa.


— Não paro de sonhar com um homem com uma cicatriz no rosto, bem aqui — apontei para minha face indicando onde a marca se encontrava e expliquei para ela o quanto aquelas visões estavam me atormentando. — Ele usa uma máscara para tapar o olho. Suas vestes e o modo como fala parecem ser bem antigos.


— Ah, isso é porque você saiu de um coma profundo — respondeu ela, ajeitando os produtos em cima do balcão. — Você quase morreu afogada e só acordou um ano depois.


— Estou completamente bem agora — disse-lhe com um sorriso, voltando a atenção para o professor e sua explicação.


— Eles iam até ao mercado de Byukrando para comprar especiarias, óleos e afins vindos da Bulgária. — O homem olhava para cada um dos seus alunos, percebendo que todos estavam lhe dando um feedback positivo. Satisfeito, continuou com sua explicação: — É fantástico como eles eram capazes de criar maquiagem a partir de uma flor.


Chae Ryun apareceu para me tirar do transe. Ela perguntou se estava tudo bem e apenas balancei a cabeça confirmando.


— Ha Jin, me ajude com esses cartazes. 


Peguei um cartaz pequeno de sérum e voltei ao balcão na entrada. Estava a ajeitá-lo quando uma sombra tampou a luz natural. Voltei confusa para o lado direito sendo surpreendida pelo professor.


— Boa tarde, senhor — saldei-o de forma respeitosa.


Ele parecia alguém que aparentava ter meia idade, seus olhos castanhos eram ocultos pelos óculos quadrados e suas vestes tão formais não me surpreendiam, pois era o esperado de um professor universitário.


O homem ficou por um tempo observando-me em silêncio e aquilo de alguma forma criava um clima de desconforto para mim. Tentei sorrir, mas sem sucesso não consegui quebrar o gelo da situação formada. Era como se ele estivesse à espera de algo com um passe de mágica… exatamente como eu esperava…


— O seu último nome é Go? — inquiriu ele, finalmente desfazendo o silêncio. 


Olhei meio aturdida perguntando-me como ele sabia… Então a razão me trouxe para a realidade e lembrei que estava com crachá preso no uniforme.


— Sim, sim. Meu nome é Go, Ha Jin — confirmei com leve sorriso entre os lábios pintados com batom rosa bebê.


— Sabia que na era Goryeo, Go era Hae? — disse ele retribuindo o sorriso.


Senti meu estômago revirar e a sensação do desconhecido me apavorava.


— É mesmo? — respondi totalmente sem graça. — Que coincidência engraçada! Estamos justamente a vender produtos de beleza inspirados nos tratamentos da época — tentei desviar do assunto, mas não obtive sucesso.


— Não existe tal coisa — respondeu. — As coisas apenas voltaram ao seu lugar original. 


— O quê? — questionei perplexa, era como se fosse um Déjà vu.


— Cheira a rosas, aqui — o professor desviou o assunto voltando-se para o balcão cheio de produtos.


— É porque os nossos produtos têm muitos óleos com essência de rosas, como esse sérum aqui. — Peguei o frasco pequeno. — É feito com óleo de rosas e extratos de… — parei de falar sentindo-me do nada puxada para dentro de outro universo. 


Feliz Aniversário! 


Obrigada Baek Ah — agradeci ao rapaz bonito com as vestes em azul que sentava-se ao meu lado direito.


Eu vi isso em Byukra e achei que seria perfeito para você — comentara, parecendo bastante feliz com a escolha do presente. — Um comerciante Persa que trouxe…


Tonta, senti o chão tremer diante dos meus pés.


— Está tudo bem? — perguntou o homem. Ele realmente não parecia preocupado, na verdade, parecia prever minhas reações.


Brevemente desviei meus olhos do estranho para o chão em busca de uma ajuda interna. Queria calar as vozes, os gritos e o cheiro de sangue que crescia em meu interior.


— Eh? Oh… não é nada — balancei a cabeça. — Este sérum é apenas eficiente se o usar todos os dias… — peguei outro frasco. — Sabia que existia BB Cream durante a era de Goryeo? Homens usam com frequência este tipo de…


Um novo flashback do homem que era a causa das minhas noites mal dormidas invadiu minha mente, confundindo o que era “real” para mim.  


No momento em que você tocou meu rosto, eu decidi que nunca a deixaria ir — ele declarara. Minhas mãos mexiam com gentileza em sua face, com a base tampei com maestria a marca que arruinava seu belo rosto.


Cambaleei para trás, deixando os frascos escorregarem de meus dedos. O homem a minha frente rapidamente apertou meus pulsos, não os deixando cair no chão.


— Ha Jin! — gritou Woo Hee, minha outra amiga de trabalho vindo me socorrer. — Vá pra casa!


Você se lembra de quando nos encontramos a primeira vez? — ela confessara para mim, sua voz estava embargada. Tudo o que eu podia fazer era ficar ali e abraçá-la. — Nós nos tornamos próximas porque passamos pelos mesmos problemas.


A dor oscilava em minha cabeça. Eu olhava para amiga ao meu lado, mas tudo o que eu via era a outra Woo Hee; aquela que tentara matar o rei Taejo, vivera um romance com Baek-ah, o décimo terceiro príncipe e morrera pela liberdade de seu povo.


Pisquei várias vezes, tentando distinguir o que era realidade e lembrança.


— Woo Hee… 


— Eu continuo por aqui — afirmou ela, levando-me em direção ao vestiário.


Ao pegar meus pertences minha atenção foi chamada por um banner com os dizeres: raras pinturas do dia-dia na era Goryeo. Não perdi tempo e corri pelos corredores em busca da nova exposição.

O museu estava movimentado, uma multidão se formava devido a exposição sobre o reinado de Gwangjong. 


Eu caminhava apressadamente pelos corredores e um falatório se fazia presente e tentava a todo custo proteger minha cabeça que estavam prestes a explodir.


Depois de uma hora e meia na fila, finalmente chegou minha vez de apreciar a exposição. 


Tive a impressão que o chão sumia dos meus pés quando fixei meus olhos na tela. Era como se as obras falassem comigo. O primeiro que avistei foi um quadro vermelho cheio de guerreiros ensanguentados. Sem controlar as lágrimas, permiti-me chorar. Engoli em seco, tentando desfazer o nó que se tinha formado em minha garganta.


Perturbada, continuei a caminhar pela galeria enquanto era assombrada pelas vozes das pessoas, as quais, um dia existiram, pelas suas vivências e hábitos. Estranhamente conhecia melhor do que os livros de história.


A cada obra observada, mais flashes invadiam minha psique. 

Eu conseguia recordar claramente de tudo… Dos laços de irmandade que fiz com os príncipes, da bondade do Príncipe Wook que fora corrompida pelo poder, do modo como uma vida precisa ser descartada apenas para se manter as aparências de um reino podre como foi o caso da Senhorita Oh, e as injustiças que foram feitas sobre o povo de Woo Hee que, para libertá-los da escravidão, se sacrificou. E não poderia esquecer Chae Ryun e tantos outros que nasceram escravos e a única coisa que puderam fazer era permanecer num mundo onde sobrevivência é a lei… 


E… Meu coração parou por um instante.
 
Não podia ser! Foi no quadro com a moldura preta que encontrei o belo e enorme desenho no papiro creme pintado a tinta óleo a gravura do homem dos olhos castanhos… Aquele que tanto me atormenta...
 
Então fechei os olhos deixando ser consumida pelas lembranças que envolvia Wang So.


Nem estamos casados e você está falando da minha saúde para termos bebês


Podemos nos casar — ele dissera com humor ao endireitar-se. — Quando deveríamos? Vamos nos casar quando você quiser. 


Não — resmunguei em resposta, cruzando os braços. — Eu não quero.


Não quer? — So questionou arqueando a sobrancelha fitando-me seriamente ao misto de diversão.


Você precisa fazer um pedido melhor.  — Desmanchei a carranca apenas para lhe sorrir.


Ao analisar o retrato do homem à minha frente, inusitadamente senti um aperto no peito; uma saudade avassaladora atingiu meu interior como se ele tivesse deixado um enorme vazio em minha vida. 


Meus dedos automaticamente foram contornando a imagem na qual recordava perfeitamente. Ao lado havia uma pedra de mármore esculpida com letras em dourado com um breve resumo sobre o período do tempo de sua existência.


Gwangjong foi um sábio e bom rei para com seus subordinados e povo. O mesmo ficou conhecido por emancipar os escravos da guerra. Seu nome verdadeiro é Wang So.


Agora, você não será mais lembrado na história como um rei sanguinário já que eu o ajudarei — Recordei da minha promessa ao observar o próximo quadro contendo a imagem de So em frente ao palácio. Não tinha irmãos ao lado, mulher ou filhos. Apenas ele e um vazio sem fim.


Mais lembranças doces e agradáveis invadiram minha mente.


Você sabe a razão de ter nascido? Quanto tempo tem que viver num mundo como esse? — o Príncipe Lobo me questionara e lançara um sorriso indecifrável antes de prosseguir com a voz serena. — Já tentou descobrir o porquê? 


Tenho pensado nisso ultimamente — respondi de modo pensativo saindo do barco que era tão estimado por ele.


É mesmo? 


Mas… não há resposta — confessei tentando explicar o que sentia. — Mas uma coisa é certa: sou eu quem determino como vou viver.


Houve tantos sorrisos…


Aquela coisa quadrada lá em cima é chamada de Pegasus — o informei apontando em direção ao céu.


Peg… O quê?  — ele gaguejou não conseguindo pronunciar.


Pe - GA - SUS.  — com beicinho aproximei meu rosto do dele e soletrei num tom brincalhão.


Pe…sus.


— Não foi um sonho… — soprei as palavras com olhos marejados, transformando a imagem do retrato daquele que tanto amei em um borrão devido as lágrimas que pareciam formar uma névoa.


Novamente fechei os olhos com mais força, as lembranças vieram para me confortar.


Você enxergou quem eu realmente era — dissera firmemente e não precisava ser mais claro para saber que eu compreendia seus sentimentos. — Não houve necessidade de explicações ou desculpas.  


Pisquei algumas vezes para absorver as palavras dele.


Você diz que tem medo de mim? Eu não acredito, afinal, você é a única pessoa do meu lado — admitiu com um sorriso singelo. — Então, não me arrependo de nada. Nem de te beijar, muito menos de trazê-la aqui.


Houve tantos motivos para desistir...


Quando eu olhar para você me lembrarei do que aconteceu devido a sua falta de confiança em mim — disse entre dentes, suas palavras pingavam raiva, amargura e decepção, mas não foram a elas que me apeguei. — Eun morreu por sua causa!


Suspirei baixinho.


Lembrarei como tive que matá-lo para poder te salvar. — O brilho e a clara confusão em seus olhos me fizeram engolir em seco, estremecendo com o arrepio do medo de como isso terminaria. — Eu me tornei o cachorro do rei e meus sentimentos por você permaneceram os mesmos… 


Meu corpo tornou mais rígido do que já estava e por um momento prendi a respiração. 


Mas agora eles mudaram… — So respondera lentamente.


Mentira!  — gritei de repente, despertando do transe do qual aquelas palavras soaram como uma estaca em meu peito. — Você está mentindo.


Nós prometemos que não mentiríamos um para o outro — respondera com a mais pura honestidade da qual eu o detestei e me odiei por ser a única a causar a decepção em nós dois.


Houve tantos motivos para amá-lo.


Mesmo que eu não possa casar com você… — dissera com a voz esganiçada e sorri tristemente, baixando os olhos para depois encará-lo novamente. — Você não pode me deixar. Não lhe deixarei ir. Você tem que ser minha…


Arregalei os olhos, surpresa com suas palavras sempre firmes ao mesmo tempo gentis.


Lentamente So aproximou seu rosto, a respiração dele batendo em meu rosto fez com que estremecesse, mas foi quando ele gentilmente tocou minha bochecha com a mão quente que não pude segurar as lágrimas. Ele sorria melancólico, levemente enxugando uma lágrima com o polegar enquanto eu o abraçava fortemente, como se aquele fosse nosso adeus.


Você é minha única rainha — So sussurrara, a voz saindo sufocada pelo nó em sua garganta enquanto lutava contra as lágrimas assim como eu fazia. Então nos abraçamos.


Resfoleguei de surpresa e então senti derreter contra ele quando seus lábios tocaram os meus. Foi doce, um simples toque apenas, mas também triste. Era um beijo com sabor de despedida, e quando nos afastamos pisquei com os olhos cheios de lágrimas.


So — o chamei involuntariamente, meu coração estava prestes a explodir quando abri os olhos apenas para assistir por meio das gravuras nosso amor através do tempo. 


No dia que pegamos o barco, você tinha algo importante a me dizer… — a pergunta escapou antes que pudesse frear a língua. — Você não esqueceu, né?


So assentira com a cabeça.


O que era? — indaguei.


Aquele lugar especial que poucos conseguem ter, que é conquistado através das borboletas no estômago, do coração acelerado, do fôlego sumindo e da utopia criada em cima do amor recíproco, aquele que se evapora feito gás volátil — assim de uma hora pra outra.


Eu… te amo — ele sussurrou docilmente para mim e por alguns segundos, saboreei aquela confissão.


Não se esqueça da próxima vez  — respondi com melhor sorriso que poderia oferecê-lo.

 
O homem pelo qual havia me apaixonado perdidamente era a pessoa mais forte que tinha conhecido. Que inspirava força.


Você… Não se incomoda de ver esse rosto horrível? — o Príncipe perguntara, puxando minha mão direita fazendo com que colidisse com seu peito; o modo como ele me encarava parecia que faria um buraco em minha alma de tão intenso. 


Um turbilhão de sentimentos invadiu minha cabeça. Precisava respondê-lo… Eu queria que ele soubesse que não sinto pena dele. Muito pelo contrário…


Ficamos em silêncio por breves segundos, até o momento em que respondi de forma clara e precisa:


Se você tem uma cicatriz ou não... — disse com sinceridade, olhando em seus olhos. — Não importa como as pessoas o vejam. O fato de você ser uma boa pessoa é mais importante para mim.


Aquele homem era um alguém que, independentemente da distância ou do rumo que nossas vidas tomassem, teria para sempre um papel de destaque em minha memória.


Sempre que eu venho até você meus problemas parecem se tornar mais leves — dissera olhando-me com um sorriso. — Então, como eu posso viver sem te ver? 


Não respondi, limitei apenas a encará-lo nos olhos. Aqueles olhos castanhos sugavam minha vitalidade e sentia nua sob eles.


Fungando, meu corpo tremia; sentia que teria um descontrole mental a qualquer instante a cada memória que surgia tão efêmera.


A vida é momentânea, essas foram as últimas palavras do falecido rei Taejo. — So começou de modo filosófico enquanto caminhávamos lado a lado nos jardins do palácio. — Ela é curta e em vão. 


Apenas prestei atenção no que dizia, não iria interrompê-lo.


Mas eu acho que ele estava errado… — disse como se fosse algo óbvio. Pensando bem, era. — Nós dois juntos aqui, como isso pode ser algo em vão? 


Paramos em frente ao lago em que costumávamos ter nos encontros as escondidas e observamos a estonteante paisagem natural. Minha face estava lívida e sem emoções.


Fico nervoso sempre que vejo essa expressão no seu rosto — confessara de forma receosa. — É como se fosse me deixar e ir para bem longe.


Ouvia claramente seus anseios, mas minha mente estava submersa a qualquer no tempo... Como se a minha realidade estivesse me chamando de volta.


Do que você tem medo?


Eu fico nervosa a cada dia que vivo aqui — confessei focando nas águas límpidas do lago. — A cada passo que dou, sinto que devo ser cuidadosa. É como se estivesse caminhando em um gelo fino.


Suspirei.


Às vezes, sinto que não consigo respirar.


Mesmo comigo ao seu lado? — So questionara. — Ainda assim se sente dessa forma?


Então virei-me em sua direção e lhe dirigi um sorriso.


Se tivéssemos nos encontrado em outro mundo, em outra época, eu não temeria a nada — respondi observando o quão lindo eram suas íris, e o quanto desejava mergulhar neles. — Poderia amá-lo livremente, do jeito que eu quisesse.


O vento soprou algumas pétalas de rosa em minha direção e a imagem a frente começou a se desmanchar. Meu desejo de tê-lo foi tão grande que minha mente havia o tornado So real para essa realidade.


Ele estava exatamente com as vestes pretas como de costume, o cabelo comprido amarrado em um enorme rabo de cavalo alto (como eu sempre gostei), nos lábios sustentava um sorriso lindo, me oferendo a mão. Ao tocá-lo, meu coração quase fugiu do peito.

A minha frente estava aquele que foi o causador de todo o amor que um dia despertou em mim. Não há maior beleza nesse mundo do que aqueles olhos castanhos! Lindos e exatamente iguais como da última vez em que eu os vira, me encarando a poucos milímetros do rosto. Ao mesmo tempo em que eu achava que tudo não passava de uma peça do destino, ou um acaso dos deuses ou algo que equivalha, o abraço foi inevitável, cheio de saudade, talvez, mais da minha parte, enfim... Mas ao mesmo tempo sincero, nostálgico, de uma inocência há muito perdida, ferida, sumida. 


Era impressionante como o cheiro ainda continuava o mesmo, a textura da pele, a forma como nossos rostos se cruzaram, a posição do abraço. O ar não cabia em meus pulmões, havia espaço para tudo, exceto para ele!


Estava ali, grudando em mim, o mundo que eu idealizei um dia e que me pertenceu, mas que hoje, é substrato do passado. Que estava perto e longe anos luz, ao mesmo tempo. Procurei sentir profundamente aquele cheiro que ainda era o mesmo.


Por um instante, naquela ânsia da saudade, nos permitimos trocar um carinho mais íntimo, como se só por aquele momento, o mundo houvesse congelado e então ainda nos pertencêssemos.


Beijei sua face por várias vezes e quando nossos rostos ficaram próximos, com olhar firme tão misterioso e cheio de tudo, So pediu permissão para beijar-me que logo concedi sem pensar. Nossas línguas bailavam numa sincronia perfeita. Por um momento, talvez poucos minutos, revivi no meu âmago um sentimento que havia dormido, algo que consegui provar por apenas uma vez e que foi deixado em algum lugar remoto de mim. 


Foi difícil articular qualquer palavra, a emoção me engasgava. O toque das mãos grandes que circulavam na minha cintura, o olhar desafiador me desarmava por completo, realmente fiquei sem reação — resquícios de um amor mal curado. 


Cai por terra, arrastando uma avalanche de sentimentos; a imagem começou a desfazer como pó. Ao abrir os olhos, as lágrimas vieram sem meu consentimento e transbordavam pela minha face avermelhada. 


Me desculpa… — disse por entre os soluços. Respirar tinha se tornado difícil. Batia com o punho cerrado no peito, tentando voltar a ganhar os sentidos. — Sinto muito por deixá-lo sozinho. 


Limpei as lágrimas com a palma da mão, mas elas continuavam a cair.


— Perdoe-me So.


Ao fitar novamente a imagem do meu amado, só pude pensar em palavras aleatórias para representar o buraco negro que havia se formado em meu coração.


Amor. Tempo. Realidade. Encontro desfeito. Saudade.


Continuei suplicar por desculpas numa galeria vazia.


— Você está bem? — disse uma voz masculina a qual reconheceria em anos luz, estendendo uma mão com um pequeno lenço azul.


Levantei a cabeça e no momento pensei que todo o ar em meus pulmões fossem sumir… 


— Finalmente te encontrei minha Soo.

 

 

 

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom gente estou aberta a críticas, elogios e qualquer outro tipo de comentário que vocês queiram fazer! :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sentimentos que Transcendem o Tempo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.