Pov. Ramona Gibbler

Nosso castigo finalmente acabou, e por mais que ter meu celular por perto seja um alívio, sinto saudade das tardes vendo filmes com o Jackson. Na última semana vimos mais longas do que posso contar, cada um de um jeito diferente, teve filme preto e branco, drama, ação, mas mesmo eu tendo amado cada um deles, confesso que o mais legal de tudo era a empolgação que o Jackson mostrava a cada obra. Nunca pensei que ele amasse tanto o cinema.  

Ver os filmes de mãos dadas virou um dos nossos hábitos, me sentia segura com ele por perto e só queria que isso não terminasse. Era como se a cada filme nós tornássemos mais e mais íntimos. Impulsivamente, pensando nesses momentos, mandei uma mensagem para o Jackson:

Ramona: Alguma chance da nossa sessão de cinema rolar hoje de novo?

Ramona: Você me prometeu que me apresentaria o melhor filme do Brad Pitt, lembra?

Assim que enviei o sentimento de nervosismo me tomou. O que você está fazendo, Ramona?

Era a única frase que vinha na minha cabeça. Posso tentar mentir para a mim mesma, fingindo que realmente quero ver esse filme, mas não duraria muito. Brad Pitt que me desculpe, porque eu até quero ver o filme, porém,  seria uma mentira se eu falasse que é só por isso. A verdade é que eu poderia ver a qualquer hora, com qualquer outra pessoa, contudo é o Jackson quem eu quero, não o Brad Pitt.

Não consigo parar de pensar em segurar a mão dele novamente, e confesso beijá-lo, sonhei com isso algumas vezes essa semana e agora não consigo evitar de pensar nisso, de como deve ser. Se já não bastasse toda a situação com a minha mãe, arrumei um amor platônico para me fazer sofrer um pouco mais. Amor-próprio: o coisa em falta nesse coração!

Jackson tem a Rocki, uma garota maravilhosa, e que ele realmente gosta muito, nem em sonho ele a trocaria por mim. Para ele sou só uma amiga, talvez uma irmã. Por mais que eu odeie essa palavra é a realidade, D.J. é minha mãe honorária desde sempre, o que meio que transforma ele em meu irmão também.

Toda essa reflexão me dá certeza que enviar essa mensagem foi um erro, a melhor coisa que eu deveria ter feito era fingir que essa semana nunca aconteceu e simplesmente esquecê-lo. Todos esses sentimentos não vão dar em boa coisa.

Pego meu celular para apagar a mensagem, mas infelizmente, ou felizmente, ele já tinha respondido.

J-Money: Putssss...Vamos ter que deixar para outro dia. Eu e Rocki temos um encontro...

J-Money: Vamos ao cinema. Quer ir com a gente?

Ele me convidou para ir ao cinema com eles? É sério, Produção?

Olho para a mensagem por um tempo antes de conseguir responder. Queria muito aceitar, seria bom sair de casa e estar com ele, mas só de pensar de vê-lo segurando a mão da Rocki ao invés da minha já tenho náuseas. E vamos lá quem é que convida uma vela para o seu encontro?

Tá, talvez a pergunta melhor seja quem aceita? Claramente ele não me vê como mais que uma amiga, nunca me chamaria se não fosse o caso, seria despeitoso demais com a Rocki e Jackson não seria tão baixo.

Ramona: Obrigada, mas não to muito a fim de sair de casa hoje não. Vou aproveitar e maratonar umas séries.

Ramona: Carpe Diem!

Após respondê-lo largo o celular no canto e vou fazer o que disse que faria. Maratono toda a última temporada de New Girl tentando não pensar em todo o resto do mundo, o que não adianta muito. Apesar de Jess e Nick me distraírem um pouco o relacionamento deles me lembra mais do Jackson, do que eu gostaria de admitir, e irritada comigo mesma decido sair de casa.

Pego uma mochila e coloco o essencial dentro: um livro, um caderno, meu celular e meus fones de ouvido. Não me preocupo em deixar um bilhete, minhas três mães saíram para uma consulta e os pequenos estão na casa do Steve. Ninguém vai sentir minha falta por algumas horas.

Num ônibus vou até o Píer 39, por lá desço e fico vagando por cerca de meia hora enquanto penso na vida ouvindo músicas.  Amo esse lugar mesmo não frequentando com frequência, aqui todos parecem felizes o tempo todo. Não está tão movimentado como estaria num final de semana ou feriado, mas ainda assim é possível ver muitas crianças correndo com seus pais e adolescentes em encontros.  Apesar de tudo sorrio, já fui uma dessas crianças e honestamente só queria poder voltar no tempo para quando tudo era mais simples. Continuo caminhando tentando perceber só as coisas boas para variar, e, é assim que eu acabo parando no píer, admirando a vista do pôr do sol, que é simplesmente magnífica...

—  Posso saber o que tanto você olha? — Diz um garoto que nunca vi na minha vida, mas que era bem bonitinho.

—  O sol... é lindo. — Respondo sorrindo e um pouco sem graça. Sei que vai soar idiota, mas honestamente se eu não ficar feliz pelas pequenas coisas com o que mais eu vou ficar.

 — Grande constatação. — Fala o garoto, que não parecia ser muito mais velho que eu, apesar de estar fumando um cigarro. Devo ter encarado o seu cigarro, porque ele logo se livrou dele.

—  Ryan Hart, a seu dispor. Posso saber seu nome? — Diz ele com um sorriso tão encantador que me fez agradecer internamente por ter saído de casa hoje. New Girl que me desculpe, mas esse programa é bem melhor!

— Ramona.

— E essa Ramona tem sobrenome?

— Ramona Gibbler. — Ele tirou o celular do bolso e começou a procurar meu perfil no facebook. Tá, tá talvez isso esteja ficando um pouco assustador...

— Desculpa, sei que deve parecer meio creepy, mas fiquei com medo de esquecer seu sobrenome depois, não é qualquer dia que se acha uma garota com um sorriso tão bonito.

— Obrigada. — Agradeci mais vermelha que um tomate.

— Isso vai soar ainda mais louco, mas você aceitaria sair comigo? Tipo agora?

— Já está tarde...— Inventei uma desculpa, apesar de não parecer comecei a ter medo dele ser sei lá um psicopata em busca de novas vítimas. Tá, eu provavelmente tô exagerando...

— É logo ali e eles têm o melhor hambúrguer que eu já comi na minha vida. Juro que você não vai se arrepender. — Mesmo com um pouco de medo o acompanhei e me surpreendi o resto da tarde maravilhosa que eu tive.

O hambúrguer era sim um dos melhores que eu já tinha provado e Ryan era no mínimo divertido. Por horas gargalhei das suas imitações e histórias de vida, ele cresceu em Chino na Califórnia e veio para San Francisco tem menos de um mês. Seus pais faleceram num acidente de carro, que ele sobreviveu por milagre, atualmente Ryan mora com uma tia, que ele nem conhece direito. Apesar de todas as fatalidades ele é uma das pessoas mais felizes que eu já conheci. Quando eu vi já tinha contado grande parte da minha vida para ele, que deu boas risadas da minha enorme e peculiar família.

O maior destaque da noite foi o modo como ele segurou minha mão. Ele foi gentil e suave, mas o que mais me marcou foi poder segurar a mão de alguém por cima da mesa, sem medo de alguém ver e tirar suas próprias conclusões. Horas depois, pagamos a conta e com nossas mãos dadas peguei meu celular para verificar a hora. Já passavam das nove horas, meu telefone tinha mais de 50 chamadas perdidas, como é que o tempo passou tão rápido?

Comecei a pensar em como faria para a voltar para a casa e Ryan notando meu desespero se ofereceu para me acompanhar no ônibus. Segundo a ele, muito provavelmente a tia nem tinha dado falta dele ainda, aceitei a oferta e atendi o telefone, que já estava tocando de novo.

— Graças a Deus, Ramona! Onde você está? Estamos te ligando a horas, ficamos tão preocupados. — Grita Stephanie no telefone claramente desesperada. Não sei o que dizer estou nervosa, não quero contar tudo, soaria irresponsável e idiota. Não que minhas atitudes estejam sendo muito diferentes disso.

— Eu perdi a noção da hora... Desculpa... eu... — Antes que eu pudesse completar a frase Ryan puxa o telefone das minhas mãos...

— Você não me conhece, mas meu nome é Ryan e a Ramona perdeu a noção do tempo por minha causa. Bem, nós estávamos num encontro e eu não parei de falar um segundo, tenho certeza que ela pensava que chegaria em casa mais cedo. Desculpa mesmo, já estamos a caminho de casa.

— Prazer, Ryan, é a Stephanie, tia da Ramona, pode passar o telefone de volta pra ela?

— How Rude... — pude ouvir as risadas da Tia Steph do outro lado da linha.— Claro, claro... Ela quer falar com você. — Diz ele sorrindo com uma cara de pelo menos tentou.  Sorrio para ele em agradecimento, esse garoto pode ser louco, mas certamente está me conquistando.

— Quem era esse?

— Ryan.

— Isso eu sei, ele se apresentou, mas desde quando você está saindo com garotos escondido?  De onde vocês se conhecem?

— Vocês não estavam em casa, não pensei que fosse demorar muito. Erro meu na próxima vez aviso. Desculpa mesmo não vai mais acontecer.

— Onde você estava?

— Numa lanchonete no Píer 39, já estou no ônibus voltando para a casa. Ryan está comigo.

— Conversamos melhor quando você chegar. — Falou Tia Steph mais calma, porém ainda brava.

Pelo resto da viagem conversamos sobre banalidades, gargalhando e sorrindo o tempo todo, com ele era como se toda a confusão da minha família e com o Jackson não existisse. No meu ponto meio que por impulso dei um beijo na sua bochecha e desci.

— Não esquece de me aceitar no facebook! — Gritou ele quando eu já estava na rua.

— Pode deixar! — Respondi antes de ver a escolta formada no ponto: Tia Steph, D.J. e meu pai me esperavam com uma cara de poucos amigos. Como era de se esperar levei uma bronca de todos os membros da família. Estou de castigo de novo, agora por duas semanas, ao que parece sair sem avisar é pior que mentir.

— Agora que a bronca já foi dada vai à pergunta que todos queremos fazer... Quem é Ryan? De onde é? Como vive? Veja hoje na Fuller House... — Disse Tia Steph risonha, era bom vê-la tão feliz... Peraí será que algo de novo aconteceu?

— É impressão minha ou você está mais feliz que o normal. Alguma novidade que eu não estou sabendo? — Pergunto desconversando.

— Já tá fugindo das perguntas, Ramona? Queremos saber de tudo! — Responde Stephanie.

— Acho que ela merece saber da novidade, Steph, conta pra ela de uma vez. —  Fala D.J.  Todos os outros olham sorridentes para ela, como se dissessem através dos seus olhos para ela falar logo.

— São duas notícias, na verdade, não sei dizer o que é melhor, acho que às duas juntas. Além de estar tudo bem com a sua mãe, descobrimos hoje que é uma menina.

— Uma menina? Sério? Que maravilhoso!!— Digo enquanto faço uma dancinha da vitória em cima do sofá.

— Jackson vai ter que me pagar meus dez dólares, eu sabia que era uma menina!

— Vocês andaram apostando o sexo do bebê, é isso mesmo? — Fala Steph parecendo brava.

— Sim... é...

— A gente também...— Confessa a loira rindo.

— E... para completar tudo seu Tio Jimmy me pediu em casamento. Vamos nos casar!!! — Falou ela enquanto se juntava a mim na dancinha. A abracei sorridente, não é que hoje está sendo um ótimo dia mesmo!

— Mas agora que nossas novidades já foram contadas acho mais do que justo saber desse Ryan. Para de fazer mistério, até parece que nossa vida é uma série, que precisa de história para próximos episódios.

— Eu conheci ele tem pouco tempo, — tá, isso é relativamente verdade.— na última vez que fui no Pier 39 com algumas amigas, ele me viu e começamos a conversar. Ele é muito legal, engraçado e bonito. — Não tão legal quanto o Jackson, pensei, mas decidi deixar quieto ninguém sabe dos meus sentimentos por ele e não precisavam ficar sabendo agora e de preferência nunca.

 — Engraçado ele realmente é. Bonito só vou poder dizer depois que eu averiguar. Estou esperando, hein! Agora acho melhor você ir lá falar com o Jackson, ele voltou do cinema correndo preocupado com você, não acho que a Rocki tenha gostado muito.

— Vou falar com ele.

Antes mesmo de entrar no quarto fui recebida por um abraço apertado do Jackson, que me lembrou de tudo que eu tinha esquecido durante o dia. Por que é que ficar perto dele me faz sentir tão bem?

— Onde você estava? Você disse que ficaria em casa e quando minha mãe me ligou me perguntando de você, eu saí correndo desesperado da sala do cinema. Não terminei de ver o filme, o que você estava fazendo que não podia atender um telefone, garota???

— Eu me distraí, conheci um garoto. — Disse um pouco constrangida certamente não queria falar sobre a minha vida amorosa com ele.

— É só isso que você tem para dizer? Você percebe, que eu não faço ideia se o Thanos conseguiu ou não as seis joías do infinito? Não to sabendo lidar e Rocki tá tão irritada comigo, por ter deixado ela lá, que tá se negando a me dar spoiler. Isso é sério, Ramona, é de Vingadores que estamos falando.

— Você saiu no meio do filme? — Perguntei impressionada. Tento esconder a felicidade dessa notícia, mas não consigo.Sou mais importante que Vingadores para ele, isso é muito muito surpreendente. Não sei se eu sairia num meio do filme atrás de alguém.

— Quem dera fosse no meio, o filme mal tinha começado.

— Desculpa mesmo, eu realmente perdi a noção do tempo. Obrigada por se preocupar. — Falo sem saber o que dizer, um manual para como agir perto de caras atraentes viria a ser útil.

— Tudo bem, eu só não pensei que você fosse me trocar tão rápido. — Eu ouvi isso mesmo?

— Oi? — Questiono já certa que provavelmente meu ouvido tá precisando de uma limpeza.

— Quero dizer... passamos todas aquelas tarde juntos, não achei que você fosse encontrar um substituto logo hoje.

— É, eu também não. Boa sorte com a Rocki! — Disse meio sem jeito não sei se tinha resposta certa para essa conversa.

 — Boa sorte com seu substituto.— Isso é ciúmes na voz dele? Com certeza é coisa da sua cabeça, Ramona, ele gosta da Rocki, todo mundo sabe disso. Já estava indo para o meu quarto quando ele me chamou de novo:

— Ramona?

— Sim?

— Não faz isso de novo, ok? Eu pensei que você pudesse ter feito uma besteira, fiquei realmente preocupado. Com quem mais eu assistiria Clube da Luta?

— Espero que com mais ninguém. — Sorrio e entro no meu quarto. É impressão minha ou tem uma vibe realmente rolando entre a gente?