The Pillow escrita por Teruque


Capítulo 1
Capítulo Único




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Mais uma noite sem dormir...
— Maldita insônia. - resmunguei enquanto caminhava em meio a noite. - Com hoje completo uma semana sem dormir... Sinto sono durante todo o dia e a noite não consigo pregar os olhos.

Como não estou no humor para apresentações detalhadas, serei o mais breve possível.

Chamo-me Byou, tenho vinte sete anos. Por conta de meu trabalho é comum ter problemas para dormir algumas vezes. Afinal ninguém nunca disse que vida de professor era fácil. Apesar de que essa última semana tem se mostrado a pior. Cortei qualquer tipo de bebida com cafeína, pesquisado mil e uma maneiras de aliviar o estresse e ter uma boa noite de sono. Claro que nada disso funcionou. E óbvio que até meus alunos perceberam minha alteração de humor.

No fundo sinto pena deles... Até perguntas e dúvidas deixaram de fazer por medo.

— Preciso resolver esse problema antes que isso venha a me custar o emprego... – não custa nada me dispensarem das aulas caso o desempenho dos alunos caia.

Já era tarde e eu ainda não havia voltado para casa. Em vez disso ficava andando por uma rua de lojas noturnas. Quase que uma “feira da madrugada” ou um “Festival”. Até então não sabia da existência desse lugar e nem havia passado por essas ruas. Afinal... É um lugar completamente fora de minhas rotas normais.

Chegar até aqui foi quase que um acaso. Tinha me dito que vagaria até finalmente encontrar algo que resolvesse meu problema de insônia.

O movimento não era tão grande. Também parecia ser um lugar frequentado apenas por um grupo específico. E eu de gaiato aqui...

— Novo modelo de Travesseiros para abraçar. – li um dos banners dispostos ali.

— Interessado? – assustei com a aproximação inesperada. – Primeira vez que vem aqui, não? – nem tive tempo de responder. – Talvez queira saber mais sobre nosso travesseiro. – entregando-me um folheto.

— “Dispersa o cansaço e alivia a tensão do dia-a-dia, garantindo uma perfeita noite de sono.” Ao menos a propaganda é atraente... – comecei a ler o anúncio. - “Satisfação total”.

— Sinta-se a vontade para conhecer nossa amostra grátis.

— Bom... Dar uma olhada não faz mal... – já estou perdido por aqui mesmo.

Atrás das cortinas da exposição havia uma porta que levava para um pequeno cômodo. As únicas coisas presentes ali era uma simplória cama e algo que jamais chamaria de travesseiro...

— Seja bem-vindo. – porque havia uma criança de pijama em cima da cama? – Sou Kazuki, seu travesseiro.

Criança... Não dava mais que doze anos. Então é sim uma criança.

— Devo ter caído em alguma brincadeira. – já estava disposto a sair daquele cômodo.

— Não! Espera... Eu sou um bom travesseiro. – o garoto se agarrou em braço em um ato desesperado para que eu não fosse embora. – Não agrado o senhor?

— O que? Não é isso. Você... Você é uma criança.

— Ah... Então é isso. Não gosta de travesseiros com aparência infantil. – ele pareceu desapontado.

— Garoto?

— O senhor deve achar que sou humano, não é? – acabou desapontado. – Por isso está assustado? Bom... Eu sou um travesseiro. Fui criado assim. Tenho essa aparência para agradar meu futuro mestre.

— Hã?! Tipo um Persocon? – associar com animes... Por que não? – Um robô?

— Não exatamente. Sou um travesseiro. Fui criado para garantir uma boa soneca para meu mestre, não fazer trabalhos domésticos. – mas não deixa de ser uma espécie de robô.

— Entendo... – acabei suspirando em meio ao nervoso. Já cai uma vez em um site que vende esses tipos de coisas. Chega a ser até meio... “Prático”. E caros... Nunca tinha visto um fora de fotos na internet. Realmente são “humanos” demais. Alguém realmente usaria algo assim?

Quer dizer... Olha quantos detalhes. Se não me dissessem que é uma máquina continuaria acreditando que tinha me envolvido com tráfico e vendas de pessoas. No fundo ainda estou imaginando isso...

É um travesseiro, certo? Então tem nada demais essa minha curiosidade e vontade de abraçá-lo, certo? O quão macio seria?

... Estou começando a me deixar levar.

— Senhor?

— Bo... Boa sorte com... O que esteja fazendo. – já fiquei muito tempo aqui.

— Não vá! – antes que eu me movesse o garoto voltou a me abraçar pela cintura. – Me teste uma vez pelo menos. Assim saberá que sou bom.

— Me solta! – como é persistente. – Já disse que não quero.

— Por favor. – isso tudo é desespero para alguém te levar logo?

Enquanto eu tentava me livrar do garoto era possível escutar o vendedor que me instruiu a conhecer esse travesseiro conversando com outra pessoa do lado de fora do cômodo. Alguém que acabei deduzindo ser um cliente assíduo, pois dizia coisas como “rever meu pequeno travesseiro” e não querer esperar até que eu saísse. Ou seja, só um cliente por vez.

— Hey. Tem mais gente para te ver.

— Eu não quero. – ele parecia um pouco apreensivo e ainda se recusava me soltar. – Odeio pessoas como ele... – agora ele também escolhe o tipo que lhe convém? - Vem todas as vezes e se demora comigo. Sou apenas um travesseiro, mas ele me usa para coisas estranhas... Não quero que alguém assim me compre.

— ... – e quer que eu faça o que? Entendo sua situação e está certo por desgostar desse tipo, mas aqui você é uma mercadoria. Leva quem pode pagar...

— Desculpe. – o vendedor chamou minha atenção ao abrir a porta. – Mas já terminou? Sabe... Há uma fila esperando... – só ouvi uma pessoa reclamando, mas entendo.

— Ah... Tudo bem. – agora o garoto teria que me soltar mesmo contra a vontade. - Não estou realmente intere...

— Sério? Então saia logo daqui. – fui interrompido por um velho que praticamente me empurrou para chegar até o travesseiro.

Um velho e pervertido e uma criança... Travesseiro. Por que sempre algo tão clichê?

O problema que acabei me irritando pela forma porca daquele homem. Um animal no cio teria mais classe. E o garoto estava visivelmente assustado e encolhido na cama com aquela aproximação.

— Hey. – naquele momento só queria afastar aquele cara do garoto.

— O que foi? Não tem mais nada a tratar aqui. Então vá se perder em outro lugar.  – bem que tentei me controlar para não ser grosso, mas depois dessa atitude foda-se a cortesia.

— A questão é que ele me pertence. Acabo de comprá-lo. – na hora nem pensei muito na besteira que estava fazendo, apenas puxei o garoto para mim.

Claro que o pequeno ficou surpreso, foi algo simplesmente repentino. O velho sem ação e o vendedor feliz demais com meu pronunciado.

— Muito obrigado pela sua compra. – o vendedor já se aproximou empurrando aquele velho para fora antes que pudesse reclamar de algo. – Acaba de adquirir uma de nossas novas almofadas. O total é de 892,500 ienes¹.

Agir sem pensar acaba custando caro...

~-~-~

— Isso quebrou com minhas economias...  – já em casa e com o tal travesseiro foi quando parei realmente para pensar na besteira feita. – Pior de tudo foi que comprei por impulso.

— Muito obrigado por me comprar, mestre Byou. Por favor, cuide bem de mim a partir de agora. – eu livrei esse garoto de um velho pervertido, nada mais justo que ficar feliz por vê-lo tão agradecido. Ainda assim foi muito dinheiro... – Prometo compensar o senhor com meus serviços. Então, por favor, use-me várias vezes. – te usar? Não me importa que seja um travesseiro, não consigo vê-lo dessa forma.

— Não há a menor chance de isso acontecer. – acabei dando voz aos meus pensamentos. – Você é uma criança. Acha que eu conseguiria dormir abraçado com uma criança? – nem adianta fazer essa cara de magoado. – E pare de me chamar de “mestre” todo o tempo. – desde que paguei por ele, a primeira coisa que fez foi perguntar meu nome e começar com essa história de “mestre”.

— Não quero.

— Como?

— Byou é meu mestre, então o chamarei assim. E eu sou uma almofada! Não confunda as coisas, por favor.

— Mas você... – antes que eu prosseguisse, ele apenas se levantou.

— Estarei no quarto. Quando desejar me usar basta dizer.

Depois de dizer isso não saiu mais do quarto e eu tampouco adentrei o cômodo. Dormindo no sofá, ou tentado pelo menos.

~-~-~

— Ele não atende ao telefone. – mais uma semana começava e com ela minhas aulas seguiam com um silêncio mortal e alunos com medo de fazerem qualquer pergunta, pois já estavam ciente de meu mau humor. E isso era negativo para mim. Se não fizer algo para melhorar logo e todos irem mal na prova que se aproxima, quem será  dispensado sou eu. Algo que não pode ocorrer de jeito nenhum, principalmente por causa da recente dívida que arrumei.

Mau humor que só piorou, pois agora além de não dormir fico preocupado com aquela droga de almofada. Impossível que passe o tempo todo trancado no quarto. E tudo bem se não comer nada?

... Maldita almofada para abraçar. Preocupando-me desse jeito.

O dia pareceu demorar mais que o normal para passar e o caminho de volta para casa nunca pareceu tão longo.

— Estou em casa. – aquela poderia ser a melhor sensação se não estranhasse o silencio e a escuridão do apartamento. – Ele não pode ter passado o dia todo no quarto. – já pensava no pior quando corri até o quarto. – Hey. – mas lá estava ele encolhido e quieto na cama.

— Ah! Bem vindo.

— Não diga isso! O que faz aqui com as luzes todas apagada? – e me preocupando a toa. – E já comeu alguma coisa?

— Eu não como e também não deixo o quarto... – e eu não vou acostumar com o fato de ser “só um travesseiro” com essa aparência.

— Deveria sair um pouco do quarto pelo menos.

— Estou aqui apenas para seu uso. Apesar de tudo só me resta esperar...

— Então pensa em ficar no quarto para sempre? Não pensa que isso possa ser estranho. Só nós dois nessa casa.

— Eu sou só um travesseiro e gosto de ficar aqui. Quando quiser me usar apenas diga, mestre. Até lá seguirei esperando. – apenas não sei como lidar com ele... – Sei que me comprou por impulso, mas estou feliz que tenha sido alguém como o mestre. – simplesmente me abraçou enquanto falava. – Se não quiser me usar pode simplesmente me jogar fora. Mas eu queria ser útil pelo menos uma vez.

— Hey... Quem vai jogá-lo fora? Eu não disse nada disso. – tentei acalmá-lo e tirar aquela ideia da cabeça. Se eu o comprei era óbvio que cuidaria dele.

— Então... Mesmo que seja uma única vez, por favor, me use! Por favor!

Parece que não tem outro jeito...

— Se te usar só uma vez nada impede que continue a dizer coisas tristes ou achar que não te quero... – vou acabar cedendo. – Então... A partir de hoje começarei a usá-lo.

— Sério?!

— Então pare de fazer essa cara de choro.

— Sim mestre! – finalmente o vi sorrir e eu me senti mais tranquilo.

Aquela noite iria testar o travesseiro...

~-~-~

A manhã seguinte, de certa forma, diferente. Após tantas noites sem descanso, posso dizer que acordei disposto. Nem toda aquela claridade que invadia o quarto me incomodava, nem o fato de estar quase atrasado para minha primeira aula do dia. Sem nenhuma tensão ou estresse. Parecia até mágica.

— Bom dia, mestre. – o garoto acabou despertando também quando ameacei levantar da cama. Ainda visivelmente sonolento. – Como se sente? – indagou abraçando meu braço. Nem se nota que ele adota abraços... O nome faz sentido.

— Bem... Muito bem. Há tempos não durmo tão bem na verdade... Agora entendo o porquê de custar tão caro. Também nunca dormi tão rápido como quando te abracei.

— Eu disse que era bom. – sorriu cheio de si.

— É... É realmente impressionante... – por algum motivo não consigo encará-lo.

Pensando agora... É bom que ele seja bom para me fazer dormir... Assim nunca estarei realmente acordado para fazer qualquer outra coisa mais... Indecente...

— Algum problema, Mestre? – indagou ao notar como eu evitava encará-lo.

— Hã? Não, está tudo bem. Preciso trabalhar... Nos vemos a noite. – busquei disfarçar levantando logo da cama.

— Tenha um bom dia mestre. – sorriu de forma tão inocente que precisei me controlar para não voltar para cama e abraçá-lo.

Isso parece ser o início de um novo tipo de tortura... Um teste muito cruel.


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Notas finais do capítulo

¹892,500 ienes = R$22.734,77
É muito dinheirinho e.e



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