As Redfield: O Leão, A Feiticeira e O Guarda-Roupa escrita por LadyAristana


Capítulo 2
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Notas iniciais do capítulo

Olá narnianos! Esse capítulo enorme é muitíssimo especial! Ele é dedicado à minha amiga querida Elvish Song, que hoje... Ops! Ontem! Já passou de meia noite afinal! Enfim, ontem completou mais um aninho de vida!
Minha flor, você é a Clare da minha Sofs, eu te amo pra sempre!
Quanto ao capítulo, uma ótima leitura para vocês!



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Sofia acordou no dia seguinte com a chuva batendo em sua janela. Abriu os olhos lentamente e afastou as cobertas, encolhendo-se um pouco pelo friozinho da manhã. Descalça, caminhou até a janela e afastou a cortina.

A chuva pesada escorria pela vidraça, embaçando a visão dos campos lá fora. Pousou a mão no vidro frio com um sorriso leve. Gostava da chuva. Gostava da languidez dos dias chuvosos, e gostava de como tudo parecia renovado e limpo quando a precipitação cessava.

Então lembrou-se que prometera a Lúcia que iriam passear nos campos, e o sorriso deu lugar a um leve muxoxo. Deu de ombros, afinal a chuva era algo além de seu controle. Quem sabe o temporal passasse mais tarde e pudessem sair um pouquinho para chapinhar as galochas na grama molhada.

Encarou o relógio, que marcava 8:30hs. Uma boa hora para se levantar. Vestiu seu robe vermelho, pegou toalhas, uma muda de roupa e a escova de cabelo, dirigindo-se ao banheiro no fim do corredor.

Tomou um banho rápido, escovou os dentes, vestiu-se e escovou os cabelos molhados com esmero, usando a escova para fazer leves cachos nas melenas castanho-douradas.

Uma vez que já eram nove horas, foi acordar Clarissa, que acordou resmungona como sempre.

Tomaram café da manhã junto dos Pevensie, todos levemente apreensivos diante da expressão tristonha de Lúcia.

Isso sem mencionar a careta de desgosto de D. Marta, que não parecia nada feliz em ter as crianças dentro de casa o dia todo. Não demorou a confiná-los na biblioteca.

Clarissa distraía-se jogando xadrez com Sofia. Lúcia olhava pela janela com pura expressão de tédio. Edmundo mexia em algo sob uma poltrona. Susana tinha um dicionário no colo e jogava com Pedro um divertidíssimo jogo que chamaram “É Latim?”.

— Xeque. – declarou Clarissa movendo sua rainha.

— Onde? – exclamou Sofia franzindo a testa para o tabuleiro.

— Xeque-mate em três movimentos. – a voz de Edmundo veio da cadeira em que mexia, que estava bem ao lado de Clarissa.

— Mas onde isso? – exclamou Sofia confusa. Clarissa sempre fora muito melhor que ela no xadrez.

— Seu rei está na linha do meu cavalo. – falou Clarissa.

A mais velha encarou o tabuleiro e bufou indignada, movendo seu rei para a esquerda.

— Xeque. – falou Edmundo.

— Xeque-mate, na verdade. – corrigiu Clarissa derrubando o rei de Sofia com sua torre.

— Gastrovascular. – leu Susana com alguma dificuldade.

Foi ignorada. Pedro observava a forma como Sofia parecia adoravelmente confusa, recalculando todos os movimentos do tabuleiro de xadrez.

— Anda Pedro! Gastrovascular! – chamou Susana.

— É latim? – perguntou Pedro com voz cansada e enfadada.

— É. – respondeu Susana irritadiça.

— “É Latim?” ou o pior jogo já inventado? – ironizou Edmundo levantando-se e encarando os irmãos.

— Sou obrigada a concordar. – falou Clarissa enquanto Sofia reorganizava o tabuleiro.

— Não é como se tivéssemos alguma opção melhor, Clare. – suspirou a mais velha.

Susana fechou o dicionário emburrada e Lúcia se aproximou.

— Vamos brincar de pique-esconde? – pediu a menor se dirigindo a Pedro.

— Mas já estamos nos divertindo a beça aqui. – alfinetou Pedro olhando para Susana.

A Pevensie franziu o cenho em reprovação.

— Vamos brincar! – insistiu Lúcia sacudindo o braço do irmão, e então fez uma carinha irresistível. – Por favorzinho?

— Um, dois, três, quatro... – começou Pedro arrancando um sorriso da irmãzinha.

— O quê? – protestou Edmundo.

Susana revirou os olhos mas no fim sorriu, saindo da biblioteca.

— Vamos! – Clarissa puxou Lúcia consigo para fora da biblioteca, enquanto Sofia ia atrás sorrindo.

Enquanto Clarissa e Lúcia iam em uma direção de mãos dadas rindo, Sofia foi em outra e acabou por esconder-se sob a mesa do escritório.

Susana achou um baú vazio e escondeu-se dentro dele.

Edmundo passou na frente de Clarissa e Lúcia e colocou-se atrás de uma cortina para onde as duas iam.

— Eu cheguei primeiro! – falou.

Lúcia bufou e Clarissa lhe mostrou a língua. Então se dirigiram para um corredor cheio de portas.

Tentaram abrir a primeira sem sucesso, pularam a segunda e foram direto para a terceira, que se abriu facilmente e revelou para as meninas um cômodo vazio que continha algo coberto por um grande pano branco.

Como que hipnotizadas, ambas as meninas entraram na sala, fechando a porta atrás de si.

Uma mosca zumbiu e caiu morta no beiral da janela, e então não havia nada além do som da chuva contra a janela e dos passos das meninas. Ambas pararam diante do pano branco e olharam de baixo. Trocaram um olhar e quase inconscientemente puxaram o pano, revelando o mais belo guarda-roupas que já foi visto.

A madeira era escura e avermelhada, entalhada num padrão que imitava uma árvore.

— O que será que tem dentro? – Clarissa murmurou muito baixo, com medo de quebrar aquele silêncio, como se o momento fosse sagrado.

Lúcia não disse nada, apenas estendeu a mão e abriu a porta do móvel. Podiam ouvir o eco da contagem de Pedro, mas não deram atenção. Três bolinhas de naftalina caíram do armário, e tanto Clarissa quanto Lúcia espreitaram dentro do mesmo.

— É um bom esconderijo! – exclamou Lúcia olhando as belas peles dos casacos pendurados nos cabides.

— Vamos entrar! – concordou Clarissa.

Trocaram um sorriso cúmplice como fossem velhas amigas e apressaram-se para dentro do guarda-roupas. Por dentro da porta havia um puxador, como se quem quer que construíra o móvel soubesse que um dia duas meninas curiosas haveriam de se esconder dentro dele.

Puxaram a porta até estar quase fechada, porém deixaram uma fresta aberta. Ambas sabiam que era grande estupidez fechar-se dentro de um guarda-roupas.

Com as mãos estendidas para trás a fim de sentir o fundo do móvel quando o alcançassem e sorrisos no rosto, Lúcia e Clarissa foram retrocedendo, sentindo as peles macias roçarem em seus rostos.

Retrocederam mais e mais, e estranharam que ainda não houvessem dado com o fundo do guarda-roupas.

Lúcia encostou a mão em algo pontudo e recolheu a mão com uma exclamação de surpresa. Ela e Clarissa se encararam e então se voltaram para trás lentamente para dar de cara com a última coisa que esperavam ver dentro de um guarda-roupas.

Olharam em direção a porta do armário e notaram que continuava semiaberta, um raio da luz da sala vazia entrando pela fresta.

Sem se preocupar muito com o que viram ao olhar para a porta do guarda-roupas, a decisão silenciosa de ver melhor o que encontraram foi unânime.

— Não pode ser! – exclamou Clarissa impressionada.

— Estamos sonhando? – perguntou-se Lúcia.

Neve cobria o chão em que pisavam, e tudo ao seu redor. Desvencilharam-se dos ramos de pinheiro que impediam sua passagem e olharam maravilhadas a bela floresta nevada que se descortinava a sua frente.

Lúcia olhou por um momento a mão que espetara numa agulha de pinheiro, mas não deu muita atenção a isso. A paisagem a sua frente era muito mais interessante.

Flocos de neve desciam suavemente como bailarinas em direção ao chão, o cobrindo num belíssimo manto branco. O céu era branco como o chão, e pela iluminação, não devia ser mais de meio dia na bela floresta com que a Pevensie e a Redfield se depararam.

Piscaram alguns flocos de neve para longe, e sorriram admiradas com a beleza ao seu redor. Palavras eram desnecessárias. Na verdade, parecia desrespeitoso para Lúcia e Clarissa quebrar com palavras o silêncio musical daquele momento tão mágico.

Viraram-se uma última vez, e conferindo que o guarda-roupas continuava lá, seguiram seu passeio pela floresta, pararam apenas quando viram outra coisa tão bizarra quanto uma floresta dentro de um guarda-roupas.

Brotando do meio da floresta, tal qual fosse uma árvore, talvez sem motivo algum de existir, a luz de um lampião a gás brilhava em plena luz do dia.

— Ora, mas que engraçado! Quem acende um lampião de dia? – perguntou Lúcia.

— Há uma floresta dentro de um guarda-roupas na casa do professor e você estranha que se acenda um lampião de dia? – perguntou Clarissa arqueando uma das sobrancelhas.

As meninas compartilharam uma risada, mas logo silenciaram ao ouvir um barulho. Olharam ao redor assustadas e em alerta. O estalo virou passos chiando na neve.

Foi quando viram alguma criatura que gritou quando as viu, e as fez gritar, abraçando uma a outra e escondendo-se atrás do lampião.

Espreitaram por trás do lampião a criatura, que tinha um longo cachecol vermelho e derrubara uma série de pacotes embrulhados em papel pardo.

Porém, mais do que eram prudentes, Clarissa e Lúcia eram curiosas, e não demoraram a sair de trás do lampião, andando passos cuidadosos até a árvore atrás da qual a criatura se escondia. A criatura, que além de cachecol vermelho tinha nariz achatado, barbicha e cabelos encaracolados, espreitava as meninas com um misto de curiosidade e espanto.

Mais amigável do que Clarissa era, Lúcia se abaixou e apanhou um dos pacotes espalhados pela neve.

— Ah... – a criatura falou com voz grave, saindo de trás da árvore com sombrinha na mão. – N-não... Isso... Espera... É...

A criatura gaguejava e tremia, e quando Lúcia chegou mais perto, se afastou um passo, temeroso, o que chamou a atenção das meninas para suas pernas. Pernas de bode.

Clarissa franziu o cenho. Lembrava de ter visto o desenho de uma criatura parecida num dos livros de história que Sofia costumava ler. Não deu importância ao fato, no entanto, ao ouvir a amiga perguntar:

— Estava com medo de nós?

A criatura apanhou o pacote das mãos de Lúcia, e ainda encarando ambas as meninas foi recolhendo os outros pacotes com movimentos estranhamente graciosos para alguém com corpo de homem e pernas de bode.

— Não. – ele afirmou, os olhos azuis ainda desconfiados. – E-e-eu não... Não... Não eu só ia só... Eu... Eu só ia só... Eu... Eu não quis assustar vocês.

Lúcia soltou uma risadinha, enquanto a Redfield encarou a criatura com curiosidade.

— Será que posso perguntar... O que você é? – perguntou Clarissa.

— Eu sou... – a criatura começou estranhando a pergunta. – Eu sou um fauno. M-mas e vocês? Vocês devem ser anões sem barba, se não me engano?

Clarissa abriu a boca em um “o” perfeito, embasbacada com tamanha falta de tato.

— Não somos anões coisa nenhuma! – exclamou a loira ofendida.

— Somos meninas! – informou Lúcia, mais docemente que a outra, e apanhou outro pacote, o entregando para o fauno. – Na verdade, eu sou a mais alta da minha turma.

— Q-quer dizer que vocês... Que vocês são Filhas de Eva? – perguntou o fauno se abaixando um pouco para ficar mais perto da altura das crianças.

— Não. Minha mãe se chama Helena. – falou Lúcia sem entender a pergunta.

— A minha se chamava Valerie. – continuou Clarissa, a cara de estranhamento semelhante à da amiga.

— É... Mas vocês são, de fato, humanas? – perguntou o fauno, como quisesse ter certeza absoluta daquilo.

— Evidente que somos humanas! – respondeu Clarissa.

— O que fazem aqui? – perguntou o fauno.

— Bom, fomos nos esconder no guarda-roupas da sala vazia e... – começou Lúcia após tomar um longo fôlego.

— Espera! – pediu o fauno. – “Salavazia”? Fica em Nárnia?

— Nárnia? – perguntou Lúcia.

— O que é isso? – inquiriu Clarissa.

— Ora essa! É onde vocês estão! – respondeu o fauno. – Tudinho, desde o lampião até o castelo Cair Paravel nos Mares Orientais, cada árvore e pedra que veem, cada pingente de gelo... É Nárnia!

As meninas encararam a imensidão branca diante de si maravilhadas.

— Que guarda-roupa enorme. – murmurou Clarissa.

— “Guardarroupa”? – riu-se o fauno. – É, me desculpem. Permitam que eu me apresente. Meu nome é Tumnus.

— Muito prazer, Sr. Tumnus! Sou Lúcia Pevensie! – apresentou-se Lúcia estendendo a mão.

— E eu Clarissa Redfield! – falou a loira imitando o gesto da castanha.

Tumnus olhou curioso as mãos estendidas das meninas, e Lúcia pareceu se dar conta de que talvez aquele não fosse um gesto comum em Nárnia.

— Oh, aperte! – instruiu a Pevensie.

— Por quê? – inquiriu Tumnus cerrando os olhos com certo divertimento.

— Eu... Eu não sei o motivo. – falou Lúcia após refletir um momento. – As pessoas fazem isso quando se conhecem!

Tumnus riu, tomou ambas as mãos das meninas na sua e apertou desajeitadamente, da forma errada e usando a mão errada, arrancando sorrisos das pequenas. No final, os três novos amigos tiveram uma pequena crise de riso.

— Então, Lúcia Pevensie e Clarissa Redfield, da bela cidade de Guardarroupa, da incrível terra de Salavazia... – falou Tumnus com voz pomposa que fez as crianças sorrirem enquanto o fauno abria sua sombrinha. – O que acham de ir ao meu abrigo e tomarem chá comigo?

— Ora, muito obrigada, mas... – a animação de Lúcia esmoreceu ao olhar na direção onde deveria estar o guarda-roupa. – Acho melhor voltarmos para casa.

— Sofia deve estar preocupada. – concordou Clarissa olhando para a amiga. – Pedro, Susana e Edmundo também.

— Sim, mas fica tão pertinho! – insistiu Tumnus. – E vai ter uma lareira quentinha com torradas, e chá, e bolos e eu talvez abra uma lata de sardinhas.

— Não sei... – hesitou Lúcia.

— É tentador, mas... – Clarissa balançou a cabeça agitando os cabelos loiros na altura da clavícula.

— Venham! – pediu Tumnus com um muxoxo. – Não é todo dia que faço novas amigas!

Aquelas palavras conquistaram a ternura das meninas, que trocaram sorrisos.

— Tá, acho que podemos ficar um pouquinho. – falou Lúcia recolhendo outro pacote do chão.

— Se você diz que tem comida. – riu Clarissa apanhando outro embrulho enquanto ambas se enroscavam cada uma num braço do fauno.

— Tenho muita pra vocês. – riu Tumnus conduzindo as meninas pela floresta.


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Notas finais do capítulo

Tchan-tchan-tchaaaaaaaaaaaaan! Alguém pra apostar nos casais dessa fic? (Você não vale, Elvish! Você já sabe!)
Comentem, recomendem, favoritem!
Amo vocês meus narnianinhos!



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