Lily batia o pé ansiosa quando Jason veio correndo em sua direção. Ela estava perto dos controles, digitando alguns comandos.

─Anda logo, Jason. ─Gritou. ─Não quero o John pensando que armei pra ele e a Martha de novo.

Jason abraçou sua cintura ao chegar perto dela.

─E não está?

─Não desta vez...

─Sei. ─Ele riu, conhecendo a namorada que tinha.

Do outro lado da torre, Shayera ainda tinha Flash prensado contra ela. Enchendo-se de força, conseguiu empurrá-lo um pouco. Era bom, mas já durava tempo demais. Ela não podia continuar. Não queria que ele pensasse que aquilo significava algo.

─Alguém pode ver a gente.

─E qual o problema, Shay? Não está gostando?

─Digamos que não quero que me vejam atracada com você.

Flash a fitou decepcionado. Assentiu, e se afastou um pouco.

Já Honey, Kira e J’onn consertavam algumas máquinas na torre de controle.

─Me passa essa chave, por favor.

Kira obedeceu. Ela gostava de ajudar Honey, e gostava mais ainda da companhia de seu pai ajudando-as. Era bom, sentia-se quase em casa.

Estavam todos entretidos, até os alarmes dispararem. Alerta vermelho. Eles correram para os monitores. J’onn digitou alguns comandos e a informação apareceu na tela, assim como no traje de Honey.

─Alguma interferência sobre Gotham. ─Checou melhor, cruzando com as informações de Honey. ─Outra anomalia temporal.

─Gotham? ─Lily e Jason estavam com eles. ─John e Martha estão lá.

─Vou avisar o Batman. ─Disse J’onn. ─Acho que ele se encontra na cidade.

─O que está acontecendo?

Eles se viraram para Shayera, que chegava seguida pelo Flash.

─Tem alguma coisa acontecendo em Gotham, e John e Martha estão lá.

─Estou entrando em contato com eles.

*****

Martha tocou o braço de John, forçando-o a olhar para cima. Ele então viu o que deixou a amiga tão preocupada. Uma grande rachadura nos céus. Como uma enorme cicatriz, brilhava aberta em uma longa faixa, talvez se estendesse por alguns quilômetros. Dela, surgiram mais aviões, vindo na direção deles.

John reconhecia aqueles aviões. Eram antigos, e estavam longe, mas ele reconheceria um caça em qualquer lugar. E ele conseguia ver as metralhadoras apontadas.

─Droga, eles vão atirar.

Martha o encarou por um segundo, assustada e confusa. Então as palavras de John fizeram sentido. Os adolescentes correram para a multidão.

─Todo mundo saindo. ─Gritou. ─Escondam-se.

A ordem veio pouco antes dos tiros. Pessoas assustadas corriam para todos os lados, sem saber o que fazer.

─Tio J’onn. ─A voz de Martha veio pelo comunicador. ─Ajuda a gente!

─Estou indo. ─Shayera disse, mas J’onn segurou seu braço.

─Seu filho está lá, o que a torna emocionalmente envolvida.

Shayera estava prestes a argumentar, o que os levaria em um embate. Aquelas pessoas precisavam de ajuda, então...

─Então eu vou. ─Disse Kira.

─E nós. ─John Stewart apareceu, seguido por Rex. Ambos em seus uniformes de Lanterna verde.

*****

John improvisou um escudo, enquanto mantinha duas garotas debaixo dele. Martha ajudava um casal a se levantar.

─John! ─Ela gritou, ajudando o casal a se esconder. ─Me dá cobertura.

─Deixa que eu vou. ─Retrucou.

─Sem a armadura você seria um alvo fácil.

Relutante, ele assentiu. Martha tirou a jaqueta rasgada, exibindo os braceletes das amazonas. Tinha que funcionar até a ajuda chegar. Lançando um ultimo olhar a John, voou em direção aos aviões.

Um dos pilotos viu assustado a garota vindo em sua direção, contudo se recuperou logo e atirou. Os tiros acertaram os braceletes de Martha, que desviavam as balas. Ela usou o reflexo do sol para cegá-lo. Agarrou a cauda do avião, e o arrancou. O avião descia então em queda livre, para o chão.

Martha observou o caça por um instante, mas outro atirava em sua direção. Ela se defendia das balas como podia, até que de repente um dos caças explodiu na sua frente. Martha piscou algumas vezes e sorriu ao perceber a nave de seu pai, ajudando-a contra o inimigo. Kira também estava lá, a seu lado.

Os destroços do avião caiam para a terra, no entanto um raio verde cobriu o lugar, como um escudo, ao mesmo tempo em que outro raio verde dividia o último dos caças. Martha respirou fundo, agradecida pela ajuda. John usou suas asas para se juntar a ela, no céu, assim como Kira. Os dois Lanternas logo estavam a seu lado também, e a nave de Batman pairava no ar.

─Já acabou?

─Acho que não. Olhe.

John apontou a rachadura no céu. Mais alguns caças vinham na direção deles.

─De onde essas coisas estão vindo? ─Rex estava ao lado deles.

─Primeira guerra. ─Eles fitaram John. ─É um Fokker D VII. Caças alemães de 1918.

─Seja o que for, atravessaram a anomalia no céu. ─A voz do Batman veio pelo comunicador. ─Precisamos destruí-la. Martha e Kira cuidem dos caças. Os outros vêm comigo.

Os grupos se separaram. Martha e Kira voaram, levando os aviões para longe dos rapazes. John demorou um segundo olhando para Martha, como se quisesse dizer algo, mas desistiu e se juntou aos outros.

Pela rachadura eles conseguiam ver uma outra realidade. Um mundo em guerra pelo domínio do ar. Não era Gotham, como aviões ingleses e alemães duelavam nos céus. John estendeu a mão para tocar a rachadura, porém um raio verde se formou como uma algema em seu pulso. Rex estava a seu lado.

─Sei que você é um otário, mas ainda não quero que vá parar em outro tempo. Outra vez.

John assentiu, silencioso, estranhando o comportamento do companheiro de equipe. Será que Rex o perdoava? Ou talvez a viagem temporal possa tê-lo mudado. Ele não sabia responder.

─Alguma idéia, tio Bruce?

Mais alguns aviões vinham na direção deles. O Lanterna verde John Stewart não esperou uma resposta, como lançou uma carga de seu anel contra a abertura. Rex seguiu o exemplo do pai, e Batman também atirou. Eles esperaram e nada.

Os segundos foram passando, e de repente o brilho em torno da rachadura se intensificou. Não era possível ver do outro lado, e eles ouviram um estrondo. Eles tentaram fugir, mas a onda os acertou em cheio.

John acordou pouco depois, flutuando em uma bolha verde. John Stewart e Rex estavam com ele. Ele viu Batman desacordado. Olhou ao redor. A rachadura ainda estava lá, porém menor, como se fechasse aos poucos. Kira não estava. Nem Martha. Lembrou-se da explosão.

Mais que depressa saiu da proteção verde e se voou de volta para a terra. Avistou Kira em meio aos destroços dos aviões, em meio à fumaça. Desceu até ela. Logo percebeu que não estava sozinha. A menina marciana tocava o ombro de Martha, caída de bruços.

─Martha. ─Ela chamou. E mais alto. ─Martha!

─Como vocês estão?

Kira olhou para John. Os pensamentos dele vinham fortes em sua direção. Preocupado com Martha. Não era segredo que ele gostava dela. John se agachou perante elas. Checou os sinais de Martha, estavam estáveis.

─Eu não sei direito. Com a luz, Martha me segurou e nós caímos. Ela me protegeu.

─Tio Bruce também não me parece legal. ─Disse. ─Vamos pegá-la e sair daqui.

─Viajamos no tempo outra vez? ─Questionou.

─Eu espero que não.

Eles ouviram um gemido, e Martha começou a se mexer. Kira e John tentaram impedi-la de se mover, mas ela se colocou sentada. Martha estava coberta de poeira, mas viva. Seu corpo doía com o impacto. Seu estado era deplorável, mas John não se importava. Martha sorriu para ele, mas então sentiu as mãos dele em seu pescoço. Não era um simples abraço.

Como na primeira vez, ele estava com medo de perdê-la. O único momento em que deixava seus sentimentos falarem mais alto. Assim, Martha sabia que John a amava de volta, embora não fosse admitir. Afastou-o um pouco, mas sorria diante do olhar de preocupação que recebia.

─Não há como me perder agora, John. ─Ela disse. ─Você pode me soltar se quiser...

─Eu não quero te soltar, Martha. Esse é o problema.

Então os lábios dele estavam sobre os seus. Martha envolveu as mãos ao redor do pescoço dele, se perdendo na tentação que era John. Como ela pode agüentar tanto tempo sem ele?

Pareciam alheios às pessoas ao redor. Não se importavam com a destruição, as pessoas feridas, ou os olhares que recebiam. Eram apenas Martha Wayne e John West no momento. Era tudo que eles precisavam.

Kira desviou o olhar da cena, embora os garotos fossem alheios a ela. John Stewart e Rex apareceram em seguida, carregando Batman, ainda desacordado. Não era bom.

─Está tudo bem? ─A voz de J’onn soou pelo comunicador.

─O Batman precisa de apoio médico, e os garotos têm ferimentos leves. ─John Stewart respondeu. ─Eu não tenho idéia do que aconteceu aqui, J’onn.

─Estou trazendo vocês. E enviando uma equipe para limpeza. ─Disse, resignado. Por alguma razão, achava que aquilo era apenas o começo. Algo mais estava vindo, era certo. Ele só não sabia o que.