As Crônicas da Rainha Susana escrita por SnowShy


Capítulo 2
O sonho


Notas iniciais do capítulo

Oi! Apesar de não ter muita gente lendo, aqui está o segundo capítulo p vcs. Espero que gostem! :)



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Mais tarde eu soube que Lúcia não havia saído sozinha, ela estava com o Eustáquio, a Jill, o Professor Kirke e a Srta. Plummer indo a Londres, coincidentemente, no mesmo trem que nossos pais, que estavam a caminho de Bristol. Era um pouco estranho como meus irmãos estavam tão próximos àqueles quatro nesta última semana. Primeiro, foi  só aquela reunião entre amigos, mas depois, eles passaram a semana inteira de segredinhos. Confesso que fiquei curiosa, mas nada disso importa depois do que aconteceu.

Aquele acidente me deixou muito mal. Foi tão de repente! Eu não conseguia pensar em mais nada. Não estava triste apenas pela minha família, mas também pelos outros três. Não tenho uma memória tão boa quanto a que os meus irmãos tinham, mas consegui me lembrar de tantos momentos! As lembranças mais antigas — como a época em que eu e meus irmãos ficamos na casa do professor quando a II Guerra Mundial começou ou os (vários) momentos em que Eustáquio nos irritava quando era pequeno — eram um pouco distorcidas, mas as mais recentes — como algumas conversas com meus irmãos — vinham com clareza à minha mente...

— Você lembra, Susana?

— Não, Lúcia, eu nunca toquei trompa na banda do colégio...

— Não estou falando do colégio, falo da sua trompa mágica.

— Ah, claro. Faz muito sentido...

— Não adianta, Lu. — Edmundo interveio. — A Susana não lembra de Nárnia de jeito nenhum!

— Como vocês conseguem lembrar tão bem das nossas brincadeiras bobas, hein? Hahaha.

Espera um pouco! Há uma semana o Pedro disse alguma coisa assim...

— Vamos falar sobre Nárnia.

— Esse nome não me é estranho... é de algum filósofo moderno?

— Nárnia não é um filósofo, é um lugar...

Por que os meus irmãos, o Professor Kirke, a Srta. Plummer, o Eustáquio e a Jill Pole se encontrariam para falar de um lugar imaginário??? Não, deve ser coisa da minha cabeça, talvez eu esteja embaralhando as minhas lembranças... Pelo jeito, elas não vieram com tanta clareza assim...

~~

Tive um sonho estranho na noite anterior ao dia do velório. Pensei que teria pesadelos com o acidente de trem, mas não.

Estava com Pedro, Edmundo e um anão de barba ruiva, subindo uma colina. Nós estávamos seguindo Lúcia, que, por sua vez, seguia um leão. Usávamos armaduras (menos o leão). Eu estava triste, sentia culpa, vergonha e arrependimento.

— Lúcia! — chamei minha irmã, baixinho.

— Que é?

— Agora estou vendo Aslam. Desculpe-me.

— Não tem importância.

— Mas eu sou muito pior do que você pensa. Acreditei que era ele... acreditei ontem mesmo... quando ele não queria que fôssemos pelo pinhal. E acreditei também hoje, quando você nos acordou. Quer dizer... no fundo acreditei... Ou podia ter acreditado, se quisesse... Mas estava com tanta pressa de sair da floresta... e... não sei como vou explicar. O que vou dizer a ele agora?

— Talvez não precise dizer mais nada.

Chegamos a um monte, quando o leão parou diante de nós. Eu e o anão recuamos. Após falar com Pedro e Edmundo, o leão voltou-se para mim. Meus olhos encheram-se de lágrimas.

— Susana! — ele disse com uma voz grave. Não respondi. — Você deixou que o medo a dominasse. Venha, deixe que sopre você. Esqueça seus receios. Está melhor agora?

— Um pouco, Aslam.

E o sonho terminou.

~~

O culto de sepultamento foi o mesmo para os nove finados, já que eram todos amigos. A igreja estava lotada! Geralmente, eu fico à vontade com tanta gente ao meu redor. Mas, naquele dia, era diferente. É impossível se sentir bem no velório da sua família e com uma pessoa por segundo vindo lhe dar os pêsames. Nem o fato de alguns amigos meus estarem presentes aliviava a minha situação.

Sentei-me perto de tio Arnaldo e tia Alberta durante a cerimônia. Por mais que eu tentasse, não conseguia prestar atenção. Eu só pensava nos meus pais, nos meus irmãos, em como eu andava distante deles antes do ocorrido... Vocês lembram do que eu pensei, né? Que eles tinham que crescer e não sei o quê... Ai, eu me arrependia tanto por ter pensado aquelas coisas! Acho que o pior de tudo, era que eu sentia que não tinha demonstrado o quanto amava minha família. Outra coisa que não saía da minha cabeça era aquele sonho. Era estranho o fato de que, mesmo com um leão falante, parecesse tão real...

Como eu disse, estava na maior parte do culto perdida em meus pensamentos. Porém houve um momento em que algo que o pastor falou prendeu completamente a minha atenção: ele disse que nossos nove amigos eram pessoas boas e que com certeza estavam em um lugar melhor.

— Aslam... — eu sussurrei.

— O que disse, Susana? — perguntou tia Alberta.

— Nada...

Era o nome do leão do meu sonho! Mas por que eu falei o nome dele quando o padre disse aquilo? Será que estava ficando maluca? Não bastava eu ter sonhado com um leão falante, agora tinha que dizer o nome dele durante um velório... Por mais que meu lado racional fizesse todas aquelas perguntas, eu me sentia incrivelmente bem quando pensava naquele nome.

Após o pastor, alguns parentes dos finados fizeram seus discursos. Obviamente, eu fui um dos parentes. Falei praticamente tudo o que havia pensado desde o acidente (meu sonho não estava incluído, claro) e nem me envergonhei de chorar na frente de todo mundo.

~~

Ao longo do dia, duas palavras não paravam de se repetir na minha cabeça: Aslam Nárnia.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Eu adorei reescrever aquela cena de "O Príncipe Caspian" no ponto de vista da Susana. É a cena que eu mais gosto da personagem nos livros ❤