Deuses e Monstros escrita por Sparkle


Capítulo 4
Morcego Esquizofrênico




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/752124/chapter/4

Lisa havia fugido de novo, o hotel ficou triste, pois ela dava ânimo a todos. Era engraçada a Lisa! Impossivel não pensar nela sem sorrir.

O pior é que ela sempre voltava, toda suja, com um olhar insano de quem enxergou a liberdade. Ela amaldiçoava a todos quando voltava, e nem os mais velhos  conseguiam conter o riso diante os xingamentos que ela inventava.

—Boceta de bacalhau!

Ou então outro dos seus favoritos:

—Seu morcego esquizofrênico!

Geralmente ela voltava no fim do dia. A pé e sem dinheiro ela não conseguia ir muito longe. Dessa vez, porém, parecia ter dado sorte, já fazia uma semana.

Reconhecer Lisa não era difícil, ela raramente comia e nunca dormia, de forma que era magra e amarelada, como costumam ser as pessoas que não comem, e tinha bolsas sob os olhos, suas unhas eram as mais longas que alguém já havia visto.

Quando Lisa voltou, estava com as unhas muito curtas e sem o cinto que adorava usar, e que usava na ultima vez que Misty a havia visto, pertencera ao seu único parente da qual as pessoas sabiam existir, um irmão da qual ela não tinha mais contato. A mãe e o pai não queriam uma filha sociopata, pelo menos era isso que ela dizia, e era esse seu diagnostico.

Alguém julgou suas unhas perigosas o cinto poderia ser usado para que ela se enforcasse, coisa que Lisa nunca faria.

Ninguém sabia para onde ia nessas fugas silenciosas, ela recuperou seu cinto e suas unhas, mas ela própria não voltou.

Lisa nunca fora de assistir a tv. Para as que assistiam ela mostrava desprezo. “É tudo uma bosta”, berrava, enfiando a cabeça pelos quartos. “Vocês parecem robôs. Desse jeito vão piorar.” As vezes desligava a tv ou se plantava diante dela, desafiando alguém a ligar de novo.

As pessoas eram todas depressivas e incapazes de se mexer. Passados cinco minutos, mais ou menos o tempo que ela conseguia ficar parada, ela saia para fazer outra coisa. A noite Lisa era mais calma.

Um dia Misty perguntou:

—Lisa, como é que você não fica andando de um lado para o outro, nem grita a noite?

—Também preciso desncar – ela respondeu – só porque não durmo, não quer dizer que não descanse.

Lisa sempre sabia o que lhe fazia falta.

—Preciso tirar férias deste lugar – dizia as vezes, e então fugia. Toda vez voltava, e então Misty lhe perguntava como estava o mundo lá fora.

—É um mundo ruim... lá fora não tem ninguém para se preocupar com a gente.

Agora não dizia uma palavra. Ficava  o tempo todo na frente da tv. Assistia programas religiosos, olhava até as barras coloridas que aparecem na tv antes de o canal entrar no ar, passava horas vendo entrevistas e noticiários.

E assim passam algumas semanas, com Lisa vendo tv, e escrevendo algumas coisas,  Lana agora raramente era vista no hotel já que estava constantemente ocupada e,  Misty trabalhava muito.

Com a chegada do verão, Lisa começou a passar mais tempo fora da sala de tv. No banheiro, o que não deixava de ser uma mudança.

—O que ela fica fazendo no banheiro? – perguntou Lana

—Eu lá tenho obrigação de ficar abrindo a porta dos banheiros? - disse Misty

Misty fez o que era acostumada a fazer com novatas:

—Qualquer hora dessas alguém se enforca lá dentro! Onde é que você pensa que está, afinal de contas? Em um colégio interno?

Depois encarando-a bem de perto, ela não gostou de contato físico.

Misty reparou que Lisa entrava cada hora em um banheiro diferente, e ela percorria todos diariamente. Seu aspecto não era nada bom. Seu cinto estava frouxo e ela estava mais amarela que o normal.

—Vai ver ela esta com desinteria – Misty disse, mas Lana achava que ela estava dopada.

Certa manhã, enquanto Misty e Lana tomavam o café no saguão, como costumavam fazer quando Lana estava bem o suficiente para se vestir e descer. Lisa sorriu para elas.

—Esperem só para ver... – disse

Ouviu-se um corre-corre de passos e vozes que diziam coisas como “Mas que droga” ou “Como é que pode?” Então a dona do hotel entrou na cozinha.

—Foi você quem fez isso?

Lisa tinha embrulhado todos os móveis, assim como tv e com papel higiênico, metros e metros de papel esvoaçando pendurados embolados e enrolados em toda parte.

—Não estava dopada – Lana disse – Estava só conspirando.

...

“Querido diário;

Uma vez li sobre uma garota que havia ateado fogo em si mesma.

Será que ela não havia experimentado telhados, revolveres e aspirinas? Ou aquilo teria sido só uma inspiração?

Uma vez tive uma inspiração dessas. Acordei pela manhã sabendo que naquele dia tinha que engolir cinquenta aspirinas. Era minha tarefa, minha incumbência para aquele dia. Enfileirei-as sobre uma mesa, engoli uma por uma e fui contando. Isso, porém, não é igual ao que ela fez. Eu poderia ter parado na décima, na trigésima. Como poderia ter feito o que de fato fiz, ou seja, ter ido para a rua e desmaiado. Cinquenta aspirinas são um bocado de aspirinas, mas ir pra rua e desmaiar é a mesma coisa que guardar o revolver de volta na gaveta.

Ela riscou o fosforo.

Onde? Na garagem de sua casa, para não atear fogo em outras coisas? No meio de um descampado? Na quadra da escola? Em uma piscina vazia?

Alguém a encontrou, mas isso demorou um pouco. Quem beijaria uma pessoa como aquela, uma pessoa sem pele?

Lana”

...

Lisa estava tomando os últimos raios de sol na praia, antes de anoitecer. O céu já assumia aquela cor alaranjada como se fosse uma bebida.

Estava sozinha para por sua cabeça no lugar, e tinha em mente planos para se realizar. Pretendia ser uma cantora? Talvez, mas cantava para aliviar aquela carga existente dentro de si.

Estava sozinha? Talvez. Ninguém a conhecia como de fato era? Isso não.

Jim estava dentro do mar, ela pulou também, e tentou ir o mais fundo que pode, só por insanidade. Chapada na praia com Jim.

Eles se beijaram, profundamente, seus cabelos longos e loiros grudavam agora nas suas costas, seus lábios eram grandes e ela tinha algumas tatuagens pelo corpo uma delas era um símbolo estranho, quase todas só podiam ser vistas agora porque ela estava seminua.

Jim era forte, isso explicava a força de seus braços, ele era alto, e seu cabelo estava baixo, o que ainda assim, não lhe tiravam aquele charme meio James Dean.

—Eu só quero ser seu.

—Você é perigoso. Eu gosto disso.

Suas mãos passavam por seu pescoço, até seus dedos atingirem os lábios dela, ele era um gangster nato.

Se viam sempre, desde que se conheceram, ao acaso, pois vez ou outra ela estava nos ambientes da qual ele frequentava.

“Em uma terra de deuses e monstros eu era um anjo, vivendo no jardim do mal, estragada, assustada. Fazendo o que eu precisasse, brilhando como um farol ardente” ela havia escrito esse verso pensando em como era estar com ele, era uma música.

—Você tem aquele remédio que eu preciso – ela disse a ele – a fama, o licor, o amor.

Ele a colocou em seu carro.

—Me dê isto devagar... – ele envolveu suas mãos na cintura dela suavemente .

Indo passar um fim de semana louco no motel regado a bebedeiras.

—Que se foda, me de isso. Isso é o paraíso, o que eu realmente quero... minha inocência está perdida

Como uma fã anônima posando no quarto para ele.

—Você tem aquele remédio que eu preciso. A droga, injete-a. Bem direto no coração, por favor. Eu não quero saber o que é bom para mim, Deus está morto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Deuses e Monstros" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.