Pecados - Interativa escrita por vivian darkbloom


Capítulo 2
Capítulo I - Tempestade.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, pessoal!



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Rosamée Grengrass.

21 de agosto de 1969.

Ao Norte da Inglaterra, protegido pelas magias mais complexas já desenvolvidas pelo governo da Grã-Bretanha, havia um bairro que se destacaria sobre qualquer outro da região. O motivo era, nada mais, seus habitantes. Cada família daquele lugar era composta por bruxos do país, em sua maioria que dominavam as conhecidas artes das trevas.

Eram, talvez, os mais famosos, e duas famílias faziam parte do Diretório Puro-Sangue, composto por bruxos de sangue-puro, que preservavam as antigas tradições.

Aparentemente assustador, admito, mas muito comum para aqueles que possuíam as belas casas, pintadas em tons escuros e sempre com cortinas fechadas. Vez ou outra, os mais ricos do local organizavam festas, de custos tão altos que poderiam prover o sustento de todo um orfanato por anos, onde feiticeiros de todo o país se reuniam.

Em uma dessas casas, havia uma família conhecida entre o meio dos magos de elite, tanto pela sua tradição, quanto por sua extensa fama de inteligentes bruxos durante os séculos. Eram os Grengrass.

Ainda que devessem se chamar Rosier, pois era dessa família que o patriarca da casa, Edward, descendia, eles haviam escolhido preservar nas filhas o sobrenome da esposa, Elladora, já que a relação dele com os irmãos nunca havia sido das melhores, tampouco se via próximo de seus parentes.

E por tal gesto inusitado, a fama deles só aumentou.

E já era sabido e dito entre sussurros pelo mundo todo, que as pessoas mais populares escondem os piores e mais assombrosos segredos.

No porão dos Grengrass, duas pessoas se reuniam. Havia uma no chão, com a respiração acelerada, era uma jovem que aparentava não ter mais do que 16 anos. Outra se erguia altiva sobre ela. Era uma mulher, que poderia ser considerada bonita e de traços delicados.

A garota deitada, mordeu o lábio inferior para conter um grito desesperado, quando a mesma apontou a varinha para seu corpo já dolorido, recitando em voz baixa o feitiço tão conhecido.

— Crucio.

A palavra levou uma nova e intensificada onda de dor até a jovem, fazendo-a se contorcer em espasmos pelo chão, as unhas se ferindo ao arranharem o concreto em uma tentativa desesperada de alivio.

Era uma cena grotesca para qualquer um que a visse naquele estado. Porém, a outra se mantinha calma e serena, como se realizassem a atividade de tortura com frequência. E, na realidade, realmente a faziam.

A dor é psicológica, você pode controla-la.  Sussurrava a própria voz em algum canto esquecido de sua mente, como um mantra em que ela se agarrava, em uma tentativa de manter sua sanidade.

 A dor é psicológica. Mas também era insuportável.

Seu corpo inteiro queimava, para o deleite daquela que a observava. Queria gritar, implorar, chorar para que parassem com aquilo. Em nome de Merlin, seu único desejo no mundo era que aquilo parasse!

Porém, nenhuma palavra escapou de sua boca. Nem sequer um gemido de protesto. Se isso ocorresse, ela ganhava e isso não era permitido, pois dessa forma sofreria mais, muito mais.

Você pode controla-la. Podia ainda não controlar a dor, mas havia dominado todas as suas reações a ela.

A mulher abaixou a varinha, finalmente cessando aquilo. Porém, o alivio não chegou. Cada músculo, órgão e osso do seu corpo parecia trucidado. Não haviam forças em seu corpo para que se levantasse, muito menos a vontade para tal coisa. Existia, apenas e somente, os ecos daquele sofrimento insuportável que ainda traziam espasmos.

Cega pela sua dor, Rosamée por um instante ouviu a voz de sua falecida irmã, incentivando sua torturadora como sempre costumava fazer quando ainda era viva.

— Não pare, mamãe — teria protestado Delphine, satisfeita por ver a jovem naquele estado. Se pudesse, teria balançado a cabeça para afastar esses pensamentos mórbidos que a tortura lhe trazia.

Delphi estava morta, graças a Merlin, ela bem sabia.

A mulher se abaixou, apoiando uma das mãos no joelho e, com a outra, afastando o cabelo ruivo da garota do rosto suado.

Ela possuía uma face graciosa de se olhar, mesmo em tal situação a beleza não deixava seu corpo. Contudo, eram evidentes a palidez anormal e as olheiras profundas que lhe dominavam. Até mesmo um pouco assustador o olhar que ela lançava, tão atormentada por feitiços que jamais deveriam ser pronunciados.

— Você sabe, porque faço isso — Elladora disse, olhando-a sem um pingo de remorso ou compaixão. — Você precisa ser castigada por tamanha rebeldia, seu pai lhe protege demais. Entende isso?

Rosamée fechou os olhos, lembrando-se de como tudo havia começado. Sua mãe tinha lhe flagrado no Beco Diagonal, conversando com Lillían Evans, quem ela sabia ser nascida-trouxa. Era o que bastava como desculpa para uma tortura.

— Eu... eu só a tinha cumprimentado... — Ela tentou se explicar em sussurros, mas a mãe tampou sua boca com a mão, fazendo um sinal negativo com a cabeça. A lição ainda não havia sido aprendida.

Novamente, ergueu a varinha impiedosamente em sua direção, dizendo:

— Crucio.

Ela esperava um grito, esperava lágrimas, qualquer coisa que demonstrasse fraqueza, esse pequeno sentimento submisso que tanto odiava. Porém, nada era demonstrado. Sorrisos de satisfação, visualmente sádicos e doentios, escaparam de seus lábios. Era horrível como nem sequer vacilava antes de executar o feitiço.

Seu corpo se contorcia, pois isso fugia de seu tão trabalhoso controle. Controle esse, que ela sentia esvair aos poucos. Sabia que não aguentaria manter aquilo por muito tempo. Entretanto, não haviam escolhas. Seria muito pior expressar algo. Da última vez que chorou, havia sido trancada lá em baixo sem comida ou água por um dia inteiro. Não havia luz, não havia companhia além dos ratos que tentavam, vez ou outra, subir por sua perna.

Era o inferno piorado e resumido em um extenso cômodo escuro, comandado por uma figura sádica.

E só havia cessado quando seu pai chegou de viagem e obrigou Elladora a tira-la de lá. Agora, demoraria dias até Edward voltar.

A varinha foi abaixada.

Dessa vez, tudo ocorreu mais rápido ou talvez ela já estivesse à beira da insanidade, perdendo a mínima noção do tempo. Não era possível afirmar.

— Nunca mais direcione a palavra a seres tão nojentos — disse, em um tom mais baixo e cortante. Sabia que não deveria ignora-la, mas suas cordas vocais pareciam inexistentes. Desfiguradas em tamanha tortura.

Com muito custo, a moça inspirou uma grande quantia de ar que encheu seus pulmões doloridos, levando lágrimas aos olhos. Lentamente, expirou. Repetiu o processo mais uma vez. E então, novamente. Até que seu corpo começou a respirar normalmente.

Com uma força que nem ela sabia possuir ainda, ergueu o rosto do chão, e somente ele, encarando olhos tão azuis quanto os seus. Seu corpo parecia ser uma massa disforme que não lhe pertencia e recusava-se a mover-se um centímetro sequer.

— Eu entendi, mamãe. — Rosamée disse, sufocando a vontade de protestar, de brigar, a voz fraca escapando pelos lábios rachados e a boca seca. Precisava de água, sol e cama. Mas, principalmente, de descanso.

Elladora sorriu novamente, acenando com a cabeça em aprovação. A menina havia aprendido a lição. E ainda que jamais pudesse ser o ideal de uma filha, pelo menos poderia evitar ser uma desgraça.

— Você está livre para sair quando quiser — disse ele, era o tom rígido e controlado, considerado gélido e sem emoção por qualquer outro ser humano com empatia o suficiente para se chocar a cena ocorrida.

Rosamée se limitou a deitar a cabeça novamente, esperando seu corpo se recuperar. Ouviu o som de passos se afastando em direção a escada e, somente então, permitiu que lágrimas escorressem pelo seu rosto.

Se perguntou se era humanamente possível odiar tanto alguém, quanto ela odiava sua mãe naqueles momentos em que era deixava sozinha no escuro, somente com a esperança de retornar para a paz de sua escola, onde seus amigos jamais deixariam algum mal lhe atingir.

Narcissa Black.

23 de agosto de 1969.

Uma grande tempestade assolava a bela Londres naquela noite. As nuvens escuras rodearam a cidade durante as primeiras horas do dia, antes de se esparramarem quase como um dilúvio, encharcando pedestres despreocupados e assustando crianças.

Porém, nada daquilo parecia fazer diferença para a tão conhecida família Black. Fosse chuva ou o mais caloroso sol, seus humores não eram alterados pelo imprevisível tempo, embora todo o resto pudesse mexer com os nervos de tão instáveis pessoas.

Para Narcissa Black, toda aquela chuva significa apenas um delicioso chocolate-quente, com uma pitada de canela, acompanhado de um bom livro. Assim ela se encontrava, com a xícara flutuando ao lado da confortável e antiga poltrona de seu pai, posicionada ao lado da lareira, com um cobertor jogado em suas pernas. Seus longos cabelos loiros aliados aos profundos e brilhantes olhos azuis, lhe davam a aparência de um anjo para quem visse a cena.

Paz, para tão agitada mente que a caçula da família possuía. Aquela tranquilidade que apenas os que possuem as melhores vidas podem usufruir.

Contudo, isso era apenas intenção, pois na verdade a jovem estava sendo atormentada por pensamentos conflituosos. Parte deles resumidos em um simples papel enfiado no meio de suas roupas. Era uma carta amassada de sua prima, Alexandra Rosier. Uma curta resposta ao desespero enviado há dias atrás.

Em linhas de uma caligrafia invejável, Alexandra havia tentado lhe acalmar sobre tão perturbadoras questões que tiravam o sono da jovem Narcissa. Porém, ela duvidava que qualquer palavra, mesmo a mais sábia utilizada pela prima, poderia acalmar seu coração.

Entretanto, lá estava ela. Em sua sala de leitura, tentando ignorar os pensamentos inquietos. Era ainda mais difícil, sendo que o pergaminho parecia ultrapassar as camas de tecido e queimar sua pele, embora ela tentasse esconde-lo e ignora-lo.

Talvez pudesse esquecer o papel por alguns minutos se conseguisse concentrar na leitura, mas o mundo parecia desfavorável a ela naquela noite, pois não demorou muito para sua irmã mais velha, Bellatrix, entrar pela porta com uma expressão nada feliz e as mãos fechadas em punhos.

Havia algo muito errado acontecendo, a jovem loira tremeu em imaginar o que a irmã poderia ter descoberto.

— O que aconteceu? — perguntou, tentando não soar muito curiosa, quando a morena se aproximou, quase jogando sua xícara no chão.

Bellatrix andava compulsivamente de um lado para o outro, como se desejasse abrir um buraco no carpete e se jogar dentro, nunca mais saindo.

— O pior aconteceu! Novamente! Papai... ele... em nome de Merlin, eu deveria ter quebrado o escritório inteiro dele! — ela parecia prestes a socar algo, sua respiração estava tão acelerada que os laços em seu corpete se apertavam ainda mais.

— O que papai fez, Bella? — perguntou novamente, dessa vez mais calma ao notar que toda aquela confusão, em nada tinham haver com suas delicadas preocupações e sim coisas além de seus dramas pessoais.

Lentamente, ela tomou mais um gole de seu chá, enquanto a outra jovem lhe explicava a situação.

— Ele me culpa, Narcissa, me culpa por não ter nascido com um pau entre as pernas — a caçula fez uma cara de desagrado para o linguajar — Eu vejo a raiva contida em cada olhar quando eu levanto a voz, em cada bronca quando eu faço algo indevido, a decepção quando rejeitei pretendentes atrás de pretendentes. Ele me odeia.

Evitando um suspiro, a loira fechou o livro calmamente. Aquela situação já era tão comum em sua casa, que nem lhe trazia espanto.

— Bellatrix, isso não é verdade, papai não te...

— É verdade! — ela interrompeu, histérica. Narcissa pode notar lágrimas se formando em seus olhos — e agora ele quer me forçar a isso... e eu não quero, não quero...

— Não quer o que? — Cissa estava começando a se preocupar de verdade, ao notar a raiva crepitando de cada poro de sua irmã. Ela era uma coisa assustadora quando levada ao limite e, definitivamente, não queria estar perto caso isso ocorresse.

— Me casar! Ele me prometeu a Rodolphus Lestrange!

Narcissa já conhecia aquela velha história e conteve um revirar de olhos. Ano após ano o pai tentava conseguir um noivado para a filha mais velha que, toda vez, arrumava um jeito de espantar cada homem prometido, seja de forma discreta ou não.

— Bem, livre-se dele também — deu de ombros, como se a questão não fosse nada demais. Nem entendia porque a irmã parecia tão furiosa dessa vez. Se preparou para voltar a leitura e deixar a mais velha se descabelando sozinha.

— Se eu romper esse noivado, papai vai me expulsar da família – disse, em tom categórico, onde parecia até mesmo assustada.

E então, como um tapa, Narcissa entendeu a gravidade da situação em que sua irmã havia sido jogada. Era incabível a ideia de que Bella, sempre tão orgulhosa e arrogante, pudesse ser jogada na lama.

Mas de seu pai, nada duvidava.

Assustada, ela não conseguia desviar os seus olhos azuis do castanho escuro. Não soube de qual dos dois sentia mais pena, mas uma coisa era certa:  Bellatrix não facilitaria em nada aquela união.

A tempestade continuou caindo enquanto ambas se encaravam. Surpresas, assustadas, incrédulas. Desejaram que a chuva pudesse afoga-las.


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