Os Cuecas e as Chiquititas escrita por SnowShy


Capítulo 35
Encontros


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente! Aqui estou eu com mais um capítulo maiorzinho pra vcs hehe
Espero que gostem, tem muitas revelações hj!



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Clipe musical: "Matemática" por Joaquim.

***

Depois da visita ao abrigo, Davi e os Cuecas passaram um tempinho falando sobre o que haviam sentido e pensado quando estavam lá. Apesar de algumas lembranças ruins dos meninos, todos concordaram que foi bom terem ido e que queriam continuar ajudando aquelas crianças. Téo teve a ideia de doar brinquedos na próxima vez, podiam até falar com as pessoas da escola pra isso.

Na semana seguinte, Davi trabalhou, mas os Cuecas e as Chiquititas não tiveram ensaio na gravadora, pois haviam trabalhado muito naquele mês, além disso, as provas bimestrais de sua escola estavam chegando, então precisavam de mais tempo para estudar. Porém Joaquim não estava muito preocupado com as provas (como sempre...), seu objetivo era conseguir sair com a menina mais bonita da sala. Ele chegou a dizer que ia pedir ajuda pra ela nos estudos, mas na verdade só queria tomar sorvete com ela. Bel era muito boazinha e, como já havia estudado para a prova de matemática na segunda (a prova seria na quinta), aceitou sair com Joaquim na terça.

Joaquim era muito engraçado, então não foi difícil Bel se divertir com ele no "encontro", o que causou no menino a ilusão de que estava tudo saindo bem do jeito que ele planejara; porém, para a sua surpresa, quando estavam quase terminando o sorvete, Bel lhe disse uma coisa:

— Jaoquim... você não queria que isso fosse um encontro, né?

— O quê? Claro que não... a não ser que você queira que seja!

— Não! É que... você é muito legal e tal, mas...

— Mas...?

— Eu gosto de outro garoto.

— Quem?!

— Eu não vou te dizer quem é! Só achei que não seria justo eu ficar com você se eu gosto dele... Você entende, né?

— Ele gosta de você, pelo menos?

— Eu não sei... Mas eu gosto dele e não acho justo... Você não tá de boa, né? Tá bom, acho melhor eu pagar o meu próprio sorvete...

— Não, deixa que eu pago, fui eu que te convidei — Joaquim disse, cabisbaixo.

— Obrigada, você é um cavalheiro! A gente ainda pode ser amigo se você quiser...

Joaquim não tava com muita cara de que queria ficar na friendzone, não...

— Ah, e também tem outra coisa — Bel continuou —, eu acho que a Sandy gosta de você, então também não seria justo com ela...

Ao ouvir aquilo, Joaquim começou a sentir umas coisas estranhas, não sabia se pelo fora que havia levado, pelo dinheiro que havia gastado à toa ou por ouvir de uma pessoa que não era nem seus irmãos nem seu pai que Sandy podia gostar dele. Talvez fosse por tudo isso...

Bel agradeceu de novo, deu um "tchau" meio tímido e saiu da sorveteria. Se sentia uma pessoa horrível pelo que acabara de fazer, mas era melhor do que ficar iludindo garoto, né? Ela realmente não estava interessada nele...

Joaquim ficou com raiva? Sim. Se sentiu humilhado? Um pouco. Mas sabia que Bel não era o tipo de menina que espalharia aquilo para a escola inteira, o que o deixava um pouco aliviado. Porém, ele não queria aceitar que Bel não gostava dele. Na verdade, achava impossível que qualquer menina resistisse a ele, portanto, estava decidido a conquistá-la. Tão decidido que esqueceu completamente de estudar para a prova de matemática...

Ao invés disso, ficou interrompendo os estudos de seus irmãos para falar sobre sua vida. Samuca perdeu a paciência e disse que se Joaquim não parasse de dizer o quanto era legal e irresistível, Bel nunca iria gostar dele, e que se ele continuasse no quarto ia pedir para o Davi "desadotá-lo". Tá bom, ele pegou pesado, mas é que às vezes Joaquim conseguia tirá-lo do sério!

Com Téo foi um pouco diferente, ele estava fazendo um intervalo nos estudos, então decidiu ajudar:

— Eu não concordo com isso, já que sei que você gosta da Sandy, mas vou tentar... Talvez você não seja o tipo da Bel.

— Como assim? Como eu poderia não ser o tipo de alguém?

— Talvez porque você se acha demais... deve ter ficado o tempo todo falando de você no encontro!

— Só um pouco...

— A Bel não é assim, ela é muito legal. Teve um dia que ela me emprestou uma caneta e eu esqueci de devolver, aí ela falou que eu podia ficar com a caneta. Você podia ser mais assim...

— Você quer que eu dê uma caneta pra ela? Espera... não, isso é impossível!

— Dar uma caneta pra ela?

— Não, é que... hahaha. Eu acabei de pensar numa coisa muito engraçada: que você podia ser o menino que ela gosta, já que ela foi tão legal assim com você, mas isso é impossível! Hahahahahahaha!

— Não entendi qual é a graça! Isso não me magoa, já que eu não gosto dela nem nada, mas foi muito grosseiro! Não vou mais te ajudar! Eu vou estudar e você também devia!

Mas Joaquim não foi estudar. E a prova chegou.

***

O encontro de Davi e Clarinha estava marcado para o sábado à noite, mas eles se falaram outra vez por telefone ao longo da semana e Davi disse que tinha um assunto importante para falar pessoalmente com ela. Clarinha havia ficado muito curiosa e não sabia ao certo o que esperar. O encontro (que Davi na verdade não sabia se era um encontro, ainda ia descobrir) era num restaurante que tinha uma comida muito boa e não muito cara.

Enquanto esperavam a comida chegar depois de terem feito os pedidos, os dois apenas conversaram sobre como havia sido a semana. Acontece que Davi não sabia direito como começar a falar sobre o assunto importante, até que Clara disse:

— Então...? A coisa importante que você tinha pra me contar era que os meninos querem doar brinquedos pras crianças do orfanato ou que o Joaquim foi mal na prova?

Davi riu e respondeu:

— Não... Eu queria... falar sobre o passado. Ou melhor, sobre a parte ruim do passado...

Clarinha ficou um pouco séria. Então a comida chegou. Após colocarem em seus pratos, a mulher disse:

— Eu não acho que seja uma má ideia... Quer dizer, eu não gosto de me lembrar dessas coisas, mas também não sei se é bom fingir que nada aconteceu, né?

— Isso! Foi exatamente o que pensei...

Apesar de terem colocado a comida nos pratos, nenhum dos dois havia começado a comer ainda.

— Por que foi que a gente brigou, mesmo, hein? — Perguntou a mulher.

— Eu não me lembro direito... Só sei que foi por alguma coisa bem idiota!

— Eu acho que era alguma coisa com a lição de casa...

— Ah, era isso mesmo! Você queria que eu copiasse a sua lição!

— Ah, é! Porque você não tinha feito a tempo, mas você disse que era porque eu te achava burro, então a gente terminou...

— É. Mas não foi exatamente por isso que a gente terminou...

— Não... Foi porque você queria ir embora. E você foi. Sem avisar quando nem pra onde, só saiu assim, de repente...

— Eu tinha dito que queria ir pra São Paulo, mas...

— Mas você foi do nada e não manteve contato com ninguém.

— Eu sei... Desculpa! Eu realmente me arrependo disso e parece que não falar a respeito só piorava tudo... Eu nunca devia ter feito uma coisa dessas com você!

— Eu já te perdoei. Mas não sou a única pessoa a quem você magoou... Toda vez que eu vou no Vilarejo dos Sonhos os seus pais perguntam sobre você. Eu acho que eles não têm noção de como São Paulo é grande, então devem achar que eu vivo te encontrando aqui... Mas infelizmente eu sempre tenho que responder que não sei como você está, que nunca mais te vi...

— Eu me arrependo por causa deles também...

Davi ficou um tempo em silêncio. Não sabia mais o que falar a respeito dos pais, então voltou a falar de Clara: 

— Quando foi que você veio morar aqui em São Paulo? Eu não esperava que você viesse, talvez tivesse feito as coisas de um jeito diferente se eu soubesse...

— Bom, você sabe que eu sempre quis ser professora e não tem faculdade lá no Vilarejo dos Sonhos, então eu passei um tempo trabalhando com os meus pais e depois fiz vestibular pra USP. Eu até pensava em voltar pro Vilarejo, mas consegui empregos bons aqui e acabei ficando.

Como a conversa estava ficando mais tranquila, eles finalmente estavam começado a comer.

— Tudo bem, se eu tivesse pensado um pouco mais — disse Davi —, podia ter deduzido que você ia querer fazer uma boa faculdade na cidade grande. Na verdade eu acho até que já sabia disso... Mas na época em que eu fui embora, eu tava tão preocupado com o meu futuro, que acabei esquecendo de pensar no presente e no futuro das pessoas próximas a mim...

— Você foi bastante impulsivo!

— Sim. Eu era jovem, impulsivo, rebelde...

— Mas você terminou a escola?

— Não naquele ano, mas, sim. — Disse Davi, um pouco envergonhado. Ele não se orgulhava de já ter largado a escola uma vez (os meninos nem faziam ideia disso) e não se sentia à vontade falando sobre isso com uma professora. Mesmo assim, continuou: — Eu tive que trabalhar logo que vim pra São Paulo, senão não ia poder pagar o aluguel da kitnet onde eu fui morar... Mas depois eu vi que a melhor opção era terminar o ensino médio pra conseguir empregos que dessem mais dinheiro, então me matriculei numa escola pública e, depois que terminei, fiz um curso técnico e consegui empregos melhores.

Ao contrário do que Davi pensava, Clarinha não estava julgando ou reprovando suas escolhas de vida. Na verdade, ela estava gostando de saber que ele havia voltado a estudar depois de ter saído do Vilarejo.

— Um curso técnico de quê? — Ela perguntou.

— Administração.

— Logo você, que odiava matemática! Hahaha.

— Pois é... Se eu soubesse que ia ter que passar por tudo isso antes de ser músico, teria ficado mais tempo lá no Vilarejo, mesmo... Se bem que eu acho que se não tivesse saído de lá, meus pais nunca iam me deixar seguir a carreira que eu queria e eu ia ter que ficar trabalhando na fazenda pro resto da vida...

— Ou talvez você tivesse conseguido fazê-los entender que esse era o seu sonho... Ei, Davi, eu tive uma ideia! Eu vou visitar o Vilarejo nas férias de julho, por que você não vem comigo? Aí você pode fazer as pazes com os seus pais.

Davi ficou um tanto apavorado com a ideia. Definitivamente não estava pronto pra isso (mesmo depois de anos):

— E se você só disser pra eles que eu tô bem quando eles te perguntarem?

— Davi! Eu sei que já passou muito tempo, mas eu te conheço... Você não queria falar sobre essas coisas do passado só por causa do nosso término, era por causa dos seus pais também.

Ela estava certa.

— Você pode ir se preparando psicologicamente até julho... — Continuou.

Clarinha tentou convencê-lo, mas viu que não tinha jeito, não ia obrigá-lo a fazer algo que não queria. Mas desejava muito que ele mudasse de ideia. Bom, parece que os assuntos inacabados já estavam resolvidos, mas a mulher achava que ainda faltava alguma coisa... Ah, sim, tinha lembrado o que era:

— Só pra você saber, Davi, eu nunca te achei burro.

O homem a olhou com um ar de incredulidade, mas ela continuou:

— É sério! Tudo bem que você não era muito bom nas matérias de Exatas, mas se fosse um pouco menos preguiçoso, tenho certeza que se daria bem em todas. Além disso, você aprendeu a tocar praticamente todos os instrumentos sozinho e ainda cantava! Eu podia ter facilidade nas matérias do colégio, mas a única coisa que eu sei tocar é campainha e só aprendi a cantar porque você me ensinou... Ah, e você também escrevia muito bem! As suas redações sempre estavam entre as melhores da sala.

Davi sorriu e disse:

— Só perdiam pras suas, né?

— Nem sempre... Enfim, eu acho que inteligência é mais do que tirar boas notas e também que existem vários tipos de inteligência.

— Valeu. Você com certeza é uma ótima professora!

— Bom, eu não sei, mas espero que sim! Hahaha.

Agora a conversa estava bem mais tranquila e eles se divertiram muito com a companhia um do outro durante o resto do jantar. O único problema (além de ter ficado com um pé atrás a respeito da proposta de ir ao Vilarejo dos Sonhos nas férias) era que Davi ainda não sabia se aquilo era um encontro. Clarinha não tinha usado a palavra em nenhum momento, mas e se estivesse subentendido?

No final da noite, Davi disse que além daquela "coisa importante que tinha pra dizer" tinha um outro motivo para tê-la chamado pra sair: queria continuar a vê-la. Clarinha, então, concordou e disse que haviam se perdido um do outro por muito tempo e que deviam recomeçar.

No momento, Davi ficou muito feliz em ouvir aquilo, mas depois, quando os meninos perguntaram se o encontro havia mesmo sido um encontro, ele não sabia o que dizer... O que ela quis dizer com "recomeçar?" Recomeçar o namoro? Recomeçar apenas como amigos? Recomeçar como amigos para depois terem um relacionamento?... A única coisa que Davi sabia era que estava parecendo um adolescente com essas dúvidas.

***

Havia sido uma semana difícil para Janete e Eleanora. Provavelmente para Sandy também, elas só não sabiam ao certo o porquê. Acontece que Sandy andava muito chata nos últimos dias, estava sempre gritando por qualquer coisa. E não era só isso: ela estava comendo mais do que Eleanora e chorando mais do que Janete. Obviamente, tinha alguma coisa errada! As irmãs mais novas, então, mesmo chateadas, começaram a pensar no que poderia ter deixado a mais velha daquele jeito. 

A verdade é que podiam ser várias coisas: o impacto da visita ao abrigo, a ausência da tia Flora, a síndica que não parava de pegar no pé delas, o segredo que tinham que esconder de todo mundo, a falta dos pais, o fato de Joaquim ter saído com uma menina que não era ela, o início das provas bimestrais... Até que era normal surtar de vez em quando, né? Janete e Eleanora só não estavam muito felizes por Sandy estar descontando sua raiva nelas... Ainda bem que, pelo menos, não havia tido ensaio na gravadora naquela semana, senão a Chiquitita teria mais um motivo pra se estressar e mais gente pra incomodar!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! O que acharam do passado do Davi? E dos "encontros"? Não aconteceu muita coisa com as Chiquititas, mas têm algum palpite pras consequências do mau humor da Sandy?



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