Darkpath escrita por Lyra Roth, João Pedro


Capítulo 6
♤05 -O temido som das folhas mortas♤


Notas iniciais do capítulo

Outro capítulo do Matt. Mds como esse maluco sofre kk



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⌘ Matthew D. Coleman

Programação é uma droga. 

Pelo menos na primeira meia hora foi. Minha professora ficava falando sobre o quão fascinante era aquele mundo, as oportunidades no mercado de trabalho, áreas em que a programação poderia ser aplicada, a imortalidade da rede... E nada de jogos. 

Ela nos dissera que analisaríamos obras primas no mercado do entretenimento, mas até o momento eu não ouvi ninguém dizer "God of War".

Eu quase dormi diversas vezes, e isso não podia acontecer no primeiro dia! Eu quase tive um enfarto pensando que ia me atrasar e, quando eu cheguei, a professora ainda não havia chegado.

Até que eu entendia a srta. Dodds, carregar toda aquela tralha escada acima devia ser cansativo. Ela era baixinha, não chegava a um metro e sessenta e acho que até a Nathalie era maior. Tentei imaginar a menina que conheci no dia anterior usando enormes óculos de grau e falhei, aquele tapa olho não podia ser substituído por nada.

Imaginei como estava sendo o primeiro dia da Milla. Será que ela havia se dado bem? Encontrado algum amigo ou amiga menos escandalosa que a Yasmin? Eu esperava que sim, aí pelo menos alguém teria algo para contar no horário do almoço. 

Eu não conseguia entender o que ela falava quando a aula estava pela metade. Decidi usar meu tempo para procurar algumas coisas. Quando pesquisei "enfermeira zumbi ruiva bizarra" no Google, só encontrei um monstro de Silent Hills e uma assistente de palco do Alice Cooper. Minhas buscas por "menina estranha de tapa olho" resultaram em um desenho chamado "Another". Parecia bem legal, mas não ajudava muito. Aparentemente, Nathalie existia porque não demorei nem dez minutos para encontrar o facebook dela. Suspirei. Me sentia muito mal por ter achado que ela era algum tipo de ilusão monstruosa também. 

— É a sua namorada? - Alguém perguntou. Um homem grande e branco, que deveria estar em algum clube esportivo e não na carreira atrás de mim. 

— Não, ela não é. - Respondi.

— Já desconfiava, você tem cara de viadinho.

Começou no primeiro dia, novo recorde.

— Tudo bem. - Tentei agir como se não me importasse com suas palavras, e eu não me importava, não havia nenhum problema em parecer com homossexual, pelo menos não era parecido com ele.

— Eu só estou brincando. - Ele disse. - Deveria tentar rir mais. Então, o que você quer com a Nathalie?

— Conhece ela?

— A vadiazinha? Quem não conhece?

Odiei ouvir chamando-a assim. Eu não conhecia direito, mas ela não parecia ser uma pessoa ruim, tirando a parte dos "assassinatos" claro. 

— Cala a boca. - Fechei a página e olhei para a professora lá na frente, tentando conseguir atenção. A maioria dos alunos de outros países encontraram seus conterrâneos e agora conversavam em sua língua materna. Não pareciam muito interessados na aula... eu não os culpava. 

E então a professora sugeriu um trabalho em grupo. Adivinha quem ficou no meu?

— Viadinho, chega mais, você é meu parceiro agora! - Ele riu. Não entendi qual a dele. - Prazer, Malcon Gajeel. Me chama de Malcom. 

— Matthew D. Coleman. - Apertei a mão dele. - Prazer em conhecê-lo, Mr. Gajeel. 

Mr. Gajeel não era uma boa dupla. Ele estava mais interessado na minha vida, especialmente na minha colega de quarto. Ele se referia à Milla como "Garota do Bracil", com seu sotaque franco-canadense. Ele perguntou se ela tinha namorado, perguntou se eu era o namorado dela, o que ela gostava de comer, fazer e algumas outras perguntas beeem indiscretas sobre o corpo dela.

O resumo das minhas respostas foram: "Não sei, não,  não sei, por que não para ela?"

E acabei fazendo todo o trabalho sozinho. Era bem simples na verdade, então não me importei muito. 

— Você não quer me irritar, Matthew, ah não quer. - Ele me ameaçou baixinho enquanto eu tentava enviar o arquivo para o e-mail da Srta. Dodds. 

— Precisa de ajuda? - Perguntei para a Srta. Dodds quando me levantei. No momento éramos só nós dois na sala e ela parecia bastante cansada enquanto tentava colar um pôster enorme na frente da lousa. Aparentemente a gente ia trabalhar apenas com os computadores e ela explicaria a matéria por lá. Isso tornava a lousa inútil e abria bastante espaço para pôsteres enormes sobre uma menina da era Vitoriana chamada Ada Lovelace. 

— O que achou da minha aula? - Ela perguntou, com um sorriso divertido. A Srta. Dodds era bem jovem para ser professora, deveria estar na faixa dos 25, por aí... 

— Foi interessante. - Menti. 

— Pelo menos alguém na sala gostou. - Ela sentou-se na cadeira e me deixou fazendo todo o trabalho. Acho que devia me acostumar. 

— É o seu primeiro dia também? - Perguntei. 

— Deixei muito óbvio? - Ela começou a rabiscar alguma coisa no caderno. - Desculpe-me, me formei ano passado e vim direto para cá. Achei que seria mais fácil. 

O desenho dela, aparentemente um "X" oval com um ponto dentro, não me disse nada.

— Você está se saindo bem. - Menti novamente. 

— Obrigada, Sr. Coleman. Está dispensado. 

Graças aos céus! Milla já devia estar na nossa mesa, que falta de modos Matt!

Apressei-me escada abaixo, quase caindo no processo. Por sorte, apenas Yasmin estava na mesa e nós não tínhamos marcado uma hora. Milla, como sempre, estava atrasada. 

— Oi. - Eu disse quando cheguei. - Desculpe o atraso, posso sentar-me?

E ela começou a rir, deixando um Matt com cara de idiota sem entender nada.

 

                              ~^-^~

Milla aceitou a trabalhar como garconete no meu... na minha... céus, eu realmente precisava de um nome para aquele lugar.

Eu não queria admitir, mas cuidar daquilo sozinho estava me dando nos nervos, ainda mais após o início dos cursos. Pode parecer estranho, mas várias pessoas iam para lá para trabalhar em seus projetos. Um lugar cheio de distrações e tentações... quem diria.

O tempo que eu passei com Milla nesse apartamento fez com que ela se tornasse uma parte essencial dos meus dias, mesmo com aquele jeito de "Brasileira inabalável". Passar mais tempo com ela ajudaria a suportar melhor esse novo estilo de vida. 

Quando aconteceu de novo, eu tive certeza que ela era de grande importância para a minha sanidade. 

Era por volta das duas horas e eu estava com sono, mas por alguma razão eu não conseguia dormir. 

"Milla". Chamei diversas vezes, mas ela só respondeu uma vez com "Matt vai dormir... temos aula amanhã". 

Eu não queria incomodá-la. Longe disso, mas depois da coisa zumbi, eu não queria ficar

sozinho.

Tic tac. Duas horas e dez minutos. Tic Tac. Duas e vinte. Tic tac. Tic tac. Infinitos "Tic tac". E então, eu dormi. Ou pelo menos foi o que pareceu. Tic tac, tic tac... alguma coisa roçava meu pescoço, impedindo totalmente qualquer chance de eu dormir e acordar na hora certa na manhã seguinte.

Abri os olhos bruscamente. Eu estava de pijamas deitado à sombra de grandes árvores que dividiam a luz da lua em raios bastante uniformes. Tenho certeza que estava no centro de um estranho desenho formado por raios lunares. 

Levantei-me e olhei para os lados, mas apenas a brisa fria me recebeu. O que diabos estava acontecendo? O babaca que eu conheci durante a aula deve ter entrado em meu quarto e me trazido aqui para ensinar uma lição ou sei lá... me afastar da Milla. Ah, quando eu visse o maldito novamente, ele ia pagar por isso. Literalmente, eu ia processá-lo pelo crime de ser um tremendo cuzão. 

Eu tinha que encontrar um jeito de voltar para o campus, então vaguei a esmo pela floresta escura tentando não acordar nenhuma cobra. Eu odiava cobras.

A medida em que eu andava, o espaço parecia se fechar cada vez mais, coml se não quisesse me deixar sair. O brilho fraco da lua podia ser visto apenas ao longe. Caminhei por entre as árvores sentindo meus pés descalços se cortarem. Depois dessa ia começar a dormir de sapato!

Quando finalmente parei para descansar, percebi que havia algo incrivelmente errado naquele lugar. Além do farfalhar das folhas em contato com a leve brisa, não havia mais nenhum som. Nenhum pio, nenhum gafanhoto cantando e nenhum louva-deus louvando. Nada, era como se eu ainda estivesse no silêncio do meu quarto. Imaginar minha colega afastadora de zumbis dormindo ali, bem pertinho, fez com que eu me aliviasse. 

"É só um sonho Matt, deixe de ser estúpido." A voz do Matt na minha cabeça afirmou. 

Eu não acreditava nele. Se era só um sonho, por que doía tanto? Porque estava tão frio e, acima de tudo, porque eu sonharia com um livro no meio da floresta?

Era como um daqueles grimórios antigos, um livro bem grosso com uma capa feita com couro. Ele estava parado, inerte. Bem ali, onde os raios da lua o iluminava. 

Tudo bem Matt da minha cabeça, se é apenas um sonho, não faz mal espiar uma óbvia isca. E também, se era um sonho, não teria nenhum problema em levar algo comigo, então peguei uma folha imaginaria da árvore mais próxima.

Tentei não fazer barulho enquanto dirigia-me na direção do tal livro, mas às vezes peguei-me assustando com meus próprios passos. 

O entalhe em baixo relevo na capa chamou minha atenção. Retratava uma espécie de homens claramente rezando para algum tipo de santo com várias mãos. Não me lembro bem de suas formas e feições, nem quero lembrar-me, pois senti vontade de vomitar quando as vi. Espécie de homens... A criatura mais próxima dessas coisas que já vi, foi a minha professora do fundamental, a ""srta"" Linda Harley. Pensando bem, ela se encaixaria perfeitamente ali, ao lado dos grotescos seres. 

Cansado de admirar a capa, tentei abrir o livro, mas parecia um pedaço de concreto!

Enquanto tentava, eu o vi. O demônio de várias mãos.

Uma leve agitação por entre as árvores, a coisa surgiu deslizando pela floresta escura. Imensa como a mais altas das arvores, a criatura me olhava com suas feições indistinguíveis. Paralisei enquanto duvidava da minha própria sanidade. Um monstro de pesadelos disparou em direção ao livro e arremessou seus braços em torno de nós. Braços moles e pegajosos, como dezenas de cobras. Eu tentei gritar, mas não conseguia, simplesmente não! Era como se estivesse hipnotizado. Desprovido de reação, permiti que o demônio me levantasse em direção à sua face abominável.

Pude ver agora o desenho que os raois de luz formavam: Um perfeito "x" oval, como o desenho da Srta. Dodds. Aquela imagem fez com os todos os pelos do meu corpo se arrepiassem. 

Faltava uma coisa, um ponto ali no meio. Eu esperava estar errado, esperava que os braços em formato de cobra mantivessem-me no ar, mordessem minha carne com seus dedos gelados, abraçem meu corpo de forma bem apertada e me estrangulassem. Qualquer coisa seria mais aceitável, mas os braços não se importavam. 

Durante minha queda, os sons começaram. Irritantes zumbidos insistiam em aumentar! Cada vez mais e mais altos enquanto aproximava-me do chão. A sensação de estar caindo durou uma eternidade e, a cada segundo, eu podia ver a face sem feições la no alto, de algum jeito, olhando diretamente em meus olhos. 

 

Doom!

 

Quando meus olhos se abriram novamente, eu estava em meu quarto, de onde eu nunca deveria ter saído. Havia despencado da cama e estava no chão agora.

Minha cômoda, o espelho... tudo parecia normal, como se nunca houvessem saído dali. Aquela presença, eu ainda podia sentí-la, como se a face sem olhos estivesse me observando. 

Quando percebi que podia falar, a primeira coisa que eu disse foi "Milla". Ela estava lá em um momento, acariciando meus cabelos e me abraçando, dizendo que ia ficar tudo bem e que tinha sido só um sonho, assim como Matt da minha cabeça disse. 

Não consegui conter as lágrimas enquanto encarava meu rosto derrotado no espelho do outro lado. O espelho também refletia a porta a alguns centímetros atrás de Milla. Eu não podia parar de imaginar centenas de braços molengas como cobras passando por ali, um corpo escorregadio pensando contra minha janela... MEU DEUS A JANELA, A JANELA!

— Acalme-se Matt, foi outro daqueles sonhos... - Milla disse. Dessa vez sua voz estava fina, como uma criancinha amedrontada. 

— Não... - Consegui dizer enquanto procurava por algo dentro da minha roupa. Algo que não deveria estar lá. A folha fez com que eu tivesse certeza, não foi um sonho. 

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Conte aí nos comentários ^-^ E sempre que tiverem um pesadelo, tente agarrar algo e não soltar até que acorde, talvez seu pesadelo acorde junto com você.
Té mais ^-^/



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