Entrelinhas escrita por Robson Moura
Entrelinhas
Quando você está sentado em sua cama, olhando através da janela do quarto, você descobre que a parte mais difícil é sentir que deixou as coisas passarem. Coisas que foram embora, tentativas que não deram certo, e que agora já não vão voltar. Como da vez em que ele o salvou das chamas malditas. Você agarrou forte o peito dele com a respiração descompassada, e sentindo a mistura de medo e morte. E no fim da batalha, ao vê-lo, soube que havia palavras pra serem ditas... Mas você não disse, tentou através do olhar agradecê-lo, e ele entendeu, pois sorriu. Um sorriso sincero que fez você corar e ter vontade de deixar todas as diferenças de lado.
Ele se aproximou.
Você ficou estático.
Ele estendeu a mão.
Você ficou inseguro. Não soube o que fazer. Há anos esperava por isso... Pelo aperto de mão que não aconteceu.
Ele continuou com a mão estendida.
Você o analisou mais uns segundos e o cumprimentou.
Ele sorriu mais uma vez. Você também sorriu e não prolongou o cumprimento com medo de cometer algum vacilo. Essas e outras cenas passam e repassam na sua cabeça, enquanto você está sentado, olhando através da janela do quarto.
Percebendo que algo deve ser feito, você avalia todos os riscos e vantagens de uma aproximação. Ele nunca demonstrou suas verdadeiras intenções, mas você também não. Passasse dias, meses. E você descobre que existem coisas entre vocês dois que são comuns. E percebe também que quando você está distraído no trabalho, ele o analisa.
Ele é complexo o bastante.
Bonito o bastante.
Bom o bastante, para se tornar ao menos por um instante o amante do amante, que outros não chegaram a ser.
Vocês são dois meninos, eram dois inimigos. “Por Deus, pro inferno tudo isso!”.
Mais dias passam, e vocês têm uma oportunidade. Na sacada da casa do ministro, não sabiam explicar o que havia acontecido. Suas camisas estavam amassadas, suas respirações estavam aceleradas e em seus lábios o gosto da bebida. Aquilo era uma conseqüência de olhares e gestos mantidos em segredo há anos.
Ele arrumou os óculos, a gravata e o encarou. Você pôde notar seus olhos verdes brilhantes pela bebida. O silêncio tornou-se incomodo, mas logo foi quebrado pelo barulho dos fogos de artifícios. Aquele seria um ano-novo difícil de esquecer.
Então começa um relacionamento discreto. E isso já é uma coisa boa. E você já teve o passado dele e passa a ter também o agora e o depois. Sentados no banco da praça iluminada, você o encara. O rosto dele está vermelho por causa do frio. Num gesto natural ele coloca o braço ao redor do seu ombro. Ele sorri. E isso já basta, porque você sabe que só o amanhã é importante.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Hum, ficlet postada. Espero que gostem. Abraços e epero suas reviews.