Entrelinhas escrita por Robson Moura


Capítulo 1
Capítulo 1




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Entrelinhas

 

Quando você está sentado em sua cama, olhando através da janela do quarto, você descobre que a parte mais difícil é sentir que deixou as coisas passarem. Coisas que foram embora, tentativas que não deram certo, e que agora já não vão voltar.  Como da vez em que ele o salvou das chamas malditas. Você agarrou forte o peito dele com a respiração descompassada, e sentindo a mistura de medo e morte. E no fim da batalha, ao vê-lo, soube que havia palavras pra serem ditas... Mas você não disse, tentou através do olhar agradecê-lo, e ele entendeu, pois sorriu. Um sorriso sincero que fez você corar e ter vontade de deixar todas as diferenças de lado. 

 

Ele se aproximou.

Você ficou estático.

Ele estendeu a mão.

Você ficou inseguro.  Não soube o que fazer. Há anos esperava por isso... Pelo aperto de mão que não aconteceu.

Ele continuou com a mão estendida.

Você o analisou mais uns segundos e o cumprimentou.  

 

Ele sorriu mais uma vez. Você também sorriu e não prolongou o cumprimento com medo de cometer algum vacilo. Essas e outras cenas passam e repassam na sua cabeça, enquanto você está sentado, olhando através da janela do quarto.

 

Percebendo que algo deve ser feito, você avalia todos os riscos e vantagens de uma aproximação. Ele nunca demonstrou suas verdadeiras intenções, mas você também não.  Passasse dias, meses. E você descobre que existem coisas entre vocês dois que são comuns. E percebe também que quando você está distraído no trabalho, ele o analisa.

 

Ele é complexo o bastante.

Bonito o bastante.

Bom o bastante, para se tornar ao menos por um instante o amante do amante, que outros não chegaram a ser.


Vocês são dois meninos, eram dois inimigos.  “Por Deus, pro inferno tudo isso!”. 

 

Mais dias passam, e vocês têm uma oportunidade. Na sacada da casa do ministro, não sabiam explicar o que havia acontecido. Suas camisas estavam amassadas, suas respirações estavam aceleradas e em seus lábios o gosto da bebida. Aquilo era uma conseqüência de olhares e gestos mantidos em segredo há anos.


Ele arrumou os óculos, a gravata e o encarou. Você pôde notar seus olhos verdes brilhantes pela bebida.  O silêncio tornou-se incomodo, mas logo foi quebrado pelo barulho dos fogos de artifícios. Aquele seria um ano-novo difícil de esquecer.


Então começa um relacionamento discreto.  E isso já é uma coisa boa. E você já teve o passado dele e passa a ter também o agora e o depois.  Sentados no banco da praça iluminada, você o encara. O rosto dele está vermelho por causa do frio. Num gesto natural ele coloca o braço ao redor do seu ombro.  Ele sorri. E isso já basta, porque você sabe que só o amanhã é importante.


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Notas finais do capítulo

Hum, ficlet postada. Espero que gostem. Abraços e epero suas reviews.