Nada.

Isso é o que me lembro do período em que estive morto. 

Nada.

Não que eu tenha perdido a memória sobre o tempo que fiquei... seja lá onde eu estive. Eu lembro da luta contra o Monstro que Lex Luthor criou. Lembro do calor causado pelas explosões e da chuva que caía. Lembro de olhar pra Lois uma última vez e de todo o amor que vi me encarar de volta. Lembro de como me senti pleno como nunca antes na vida. Lembro da surpresa que senti quando vi a certeza em seus olhos diante ao que nós dois sabíamos que ia acontecer. 

Ainda escuto o barulho distante das sirenes, e os não tão distantes sons da respiração cansada de Bruce e do coração pulsante de Diana. Consigo me lembrar de me prender a cada pequeno ruido naquele último instante. Desde que minha mãe ensinou a um menino assustado a controlar seus poderes que não me abria assim aos sons, ao mundo, a vida ao meu redor. 

E então, cada detalhe se forma em minha mente quando fecho os olhos. E relembro da minha mão tremendo para tentar manter firme a kriptonita que me forçava a segurar. A dor que irradiava a partir da mão e parecia querer destruir cada célula do meu corpo. Minha respiração ofegante me fazendo relembrar mais uma vez minha infância e minha mãe que ficava horas sentada ao meu lado esperando que meu pequeno pulmão se acostumasse a uma atmosfera estrangeira. E meu coração. Que parecia querer bater todos os batimentos que lhe era capaz naqueles segundos.

Ah, claro, havia também o suor. Engraçado como o suor foi o que mais me surpreendeu naquele momento. Um indício do todo meu esforço. Uma prova de como forçava meu corpo ao seu próprio limite. Não estou exatamente acostumado a suar e essa pequena resposta dele foi uma surpresa. Uma última surpresa, que fez eu me sentir tão comum, tão normal, tão... humano.

E então, voando em direção a Besta, empunhado uma lança de kriptonita - Deus, nunca achei que fosse pronunciar essas palavras, nessa ordem na minha vida! - eu o atingi no coração, ou pelo menos no órgão pulsante que consegui esquadrinhar com minha visão de raio-x, e pronto pra receber a maior dor que jamais senti na vida, uma explosão de luz me cegou e... Nada.

Sem barulhos, sons ou ruídos distantes que só eu podia ouvir. Sem cheiros e odores que incomodavam mesmo sendo muito sutis. Sem imagens ampliadas, detalhes de coisas que o olho humano não via, ou camadas sobrepostas de imagens em objetos comuns. Sem aquela sensação, aquele formigamento constante na minha pele tão consciente do calor do sol, da roupa ou do toque inadvertido de um desconhecido. Apenas silêncio. Paz. Apenas... Nada. 

Até que Tudo me invadiu novamente....