Lar escrita por Lara


Capítulo 4
Quatro




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QUATRO

Sábado, 22 de julho de 2017 – 22h41min

 

A peça tinha acabado e as crianças não poderiam estar mais animadas. E por mais que eu não quisesse admitir, eu havia gostado bastante daquele passeio. Enquanto Manse e Daehan seguravam minhas mãos e Minguk a de SeokJin, os garotos comentavam sobre o que mais haviam gostado da peça do Peter Pan. Era realmente adorável a animação deles ao falar das fadas e a Terra do Nunca.

— Bom, meninos, se despeçam do tio NamJoon. Nós já vamos embora. – Pede SeokJin, assim que chegamos a calçada do lado de fora do teatro.

— Eu não quero ir embora. – Manse afirma, voltando a me abraçar.

Algo que eu havia notado nas poucas horas que passamos juntos era que os meninos possuíam personalidades bastante distintas. Como as pessoas ainda conseguiam confundir os três?

Manse, por ser o mais novo, era o mais mimado e protegido pelos irmãos, além de ser o mais carinhoso dos três. Ele parecia constantemente buscar por contato físico e adorava abraçar as pessoas.

Daehan era o mais tagarela dos três. Inteligente e bastante observador, ele estava sempre questionando detalhes que eu jamais teria prestado atenção se ele não tivesse comentado.

Minguk já era o mais calado e reservado dos três. Sua personalidade parecia ser a mais parecida com a de SeokJin e era o único que ainda não tinha confiança o suficiente para se aproximar de mim. Provavelmente, por ser o mais velho dos três, ele sentia a obrigação de ser mais cauteloso e desconfiado. No entanto, SeokJin, ou Jin, como havia me pedido para chamá-lo, afirmou que assim que alguém ganha a confiança de Minguk, o garoto se torna a perfeita fusão das personalidades dos irmãos mais novos.

— Vocês estão de carro? – Pergunto, afagando a cabeça de Manse. Daehan apertava a minha mão com força e parecia implorar para que eu não os deixasse ir embora.

— Infelizmente não. Meu carro está na oficina desde a semana passada. Mas, não se preocupe. Eu chamo um táxi. – Afirma SeokJin, sorrindo gentil.

— Deixa que eu levo vocês. Eu estou de carro. – As três crianças se animam com a minha proposta e encaram o pai com expectativa.

— Não precisa. Você já fez muito por nós hoje. – Agradece o moreno, pegando Minguk no colo.

— Deixa gente ir com o tio NamJoon, papai! Por favor! – Implora Daehan, abraçando minhas pernas tão intensamente quanto seu irmão. – Eu não quero que ele vá embora. A gente pode brincar com o tio NamJoon lá em casa. A gente tem um monte de brinquedos legais, tio.

— É mesmo? – Questiono, rindo da euforia de Daehan ao descrever seus planos. – Eu realmente estou louco para ver os brinquedos de vocês.

SeokJin ri e suspira, dando-se por vencido. Ao notar que seu pai havia concordado com a minha oferta de carona, Daehan e Manse fazem um high-five e Minguk sorri animado, abraçando o pescoço do pai. Não consigo evitar não ri diante daquelas adoráveis crianças.

Não demoramos muito a seguir para meu carro que estava próximo do teatro. SeokJin me passa seu endereço e, após adicioná-lo ao GPS, seguimos viagem. As crianças continuavam a conversa animada entre elas, enquanto SeokJin e eu apenas observávamos as ruas movimentadas da cidade. Sentados, lado a lado, com três garotos no banco de trás, nós realmente parecíamos uma família. E surpreendentemente, esse pensamento não me assusta.

De repente, ouço uma risada discreta vinda de SeokJin. Desvio minha atenção do trânsito para encará-lo momentaneamente. Ele estava relaxado e me observava com um sorriso divertido em seus lábios.

— O que foi? – Pergunto, curioso e sorrindo, contagiado pelo alto astral do mais velho.

— Você realmente deve gostar de peças teatrais e crianças. Você ficou tão concentrado na peça quanto os meninos. – Comenta SeokJin, rindo. – Não é qualquer um que aguenta duas horas e meia de peça cercado por centenas de crianças, além dos pais e delas mesmas.

— É que eu nunca havia assistido Peter Pan. – Confesso, rindo envergonhado. – Foi realmente divertido assistir pela primeira vez com Minguk, Daehan e Manse.

— O quê? Você nunca assistiu? – Pergunta surpreso. Balanço a cabeça, concordando e ele ri, descrente. – Meu Deus, Kim NamJoon, você não teve infância. Parece que eu já fiz a boa ação da noite.

— Muito obrigado, Kim SeokJin. – Agradeço, entrando na brincadeira.  Rimos e voltamos a ficar calados, apenas ouvindo o ressonar de Manse, Daehan e Minguk que dormiam no banco de trás do carro.

“– E a mãe das crianças? E se ele for casado, NamJoon? O que você vai fazer?”

As palavras de Jimin voltam a minha mente e levantam uma dúvida que me incomodava. Em momento algum de nosso passeio, os garotos citaram a mãe e nem mesmo SeokJin havia comentado nada. Por quê? Por que eles não haviam falado nada? Pela minha experiência com crianças – que se resume a aturar os dois filhos pestinhas do meu chefe -, elas sempre estão à procura da mãe.

— Jin, eu posso te fazer uma pergunta pessoal? – Questiono, quebrando o silêncio confortável que havia entre nós.

— Claro. – Concorda SeokJin, dando de ombros.

— Me desculpa se estou passando dos limites, mas e a mãe dos meninos? Onde ela está? Eu percebi que eles não falaram em nenhum momento nela. – Comento, atento as ações de SeokJin. Ele fica inexpressível no mesmo instante. – Você já foi casado? É hétero?

— Se eu fosse hétero, jamais teria aceitado sair com você. – Brinca o rapaz, rindo sem animação. – Na verdade, a história é um pouco complicada e envolve bastante drama. Mas, resumindo, eles não são meus filhos. São meus irmãos mais novos.

— O quê? Como assim? – Pergunto, surpreso. Eu estava preparado até mesmo para ouvir que as crianças eram adotadas, mas irmãos? Isso nunca tinha se passado pela minha cabeça.

— Minha mãe me teve quando era muito nova e teve muitas complicações no parto. Após isso, ela desenvolveu uma doença no útero que a impedia de engravida, então, depois de vinte e dois anos tentando, ela acabou desistindo de ter mais filhos. Bem, depois de ter desistido, ela engravidou novamente e de trigêmeos. – Conta, sorrindo levemente. Seus olhos brilhavam nostalgicamente, ao lembrar de seu passado. – Nós levamos um grande susto, mas estávamos felizes. Finalmente conseguimos aumentar nossa família, sabe?

— Eu imagino. – Digo, voltando a olhar para a estrada, enquanto ouço com atenção a sua narração.

— Por estar grávida de trigêmeos e já ter tido complicações em sua última gestação, mesmo tendo apenas trinta e sete anos, minha mãe teve uma gravidez de alto risco. Meu pai e eu ajudamos um máximo que conseguimos. Quando eles nasceram, eu me senti tão aliviado e feliz. Meu pai e eu comemoramos por muitas noites. Eles ficaram internados com a minha mãe por uma semana e finalmente chegou o dia deles deixarem o hospital. – Continua SeokJin, assumindo uma postura mais tensa. – Sendo trigêmeos, imagina a quantidade de coisas que tínhamos que levar para casa. Por isso, decidimos voltar em dois carros. Meu pai e minha mãe foram no carro deles com as coisas dos bebês, enquanto eu fui com as crianças nas cadeirinhas.

SeokJin para de falar e suspira. Havia dor e tristeza em seus olhos. Ele mexia nos próprios dedos, inquieto, incomodado com a situação em que estava. Penso se devo ou não interferir em sua narrativa, mas parecia determinado a contar o que aconteceu.

— Enquanto fazia uma curva perigosa, um caminhão entrou na contramão para salvar uma criança que correu para a rua e acabou atingindo o carro dos meus pais. Tanto o motorista do caminhão quanto meus pais acabaram morrendo na hora. – Revela de uma vez, suspirando novamente. SeokJin finalmente me encara e força um sorriso. – Foi bem doloroso vê-los morrer na minha frente.

Mas de qualquer forma, por ser o parente mais próximo e maior de idade dos meninos, eu acabei ganhando a guarda deles. Como fui eu que os criei e eduquei sozinho, Manse, Daehan e Minguk sempre me chamaram de pai. Seis anos se passaram desde aquele dia, mas eu ainda me pergunto se estou fazendo um bom trabalho, se meus pais ficariam orgulhosos de mim. Não é nada fácil criar uma criança, agora multiplique isso por três. – SeokJin ri e olha para trás, encarando os meninos. – Esses pestinhas são a minha única família e a minha maior razão de viver. Tudo que faço é pensando em seus futuros. Trabalho como chefe de cozinha no restaurante de comida tradicional de meu melhor amigo no centro da cidade para pagar as contas e sou muito feliz com eles. Mas, confesso que às vezes eu quero ser Jin, o jovem solteiro e sem preocupações, e não o pai solteiro que vive pelos três filhos de seis anos.

O GPS sinaliza que havíamos chegado ao prédio de SeokJin. Estaciono o carro em frente ao edifício e encaro o mais velho. Minha mente ainda processava todas as informações dadas por ele. Muita coisa havia acontecido na vida de SeokJin desde a morte de seus pais. Com certeza não devia ter sido fácil ter que lidar com tudo sozinho.

— Chegamos. – Ele anuncia, dando um lindo sorriso.

Após tirar o cinto, SeokJin sai do carro e abre a porta de trás para tirar as crianças. Prontifico-me a pegar Minguk, enquanto SeokJin levava Daehan e Manse em seus braços. Era incrível sua habilidade para levar as duas crianças ao mesmo tempo e ainda conseguir pegar a chave do portão, comprovando assim que ele já havia repetido aquele processo diversas vezes. Travo o carro e o acompanho.

  - Boa noite, Jin. – Cumprimenta o porteiro, assim que chegamos a entrada do prédio.

— Boa noite, SongIn. Poderia pegar Minguk para mim para que eu possa libertar o NamJoon? – Brinca SeokJin, arrancando uma risada discreta do senhor de meia idade.

— Claro. – SongIn se aproxima de mim e no momento em que tenta tirar Minguk de meus braços, o garoto se prende ainda mais a mim. – Parece que alguém não quer te libertar.

— Vamos, filho, colabora comigo. – Pede Jin, aproximando-se de Minguk.

O mais velho dos trigêmeos ignora o pai e aperta mais o meu pescoço, enquanto se aconchega em meu colo. Chegava a ser engraçado que aquele mesmo garoto desconfiado de antes, agora, não queria me deixar ir embora. Sorrio e acaricio suas costas.

— Pode deixar. Eu o levo até o seu apartamento. – Afirmo, ajeitando Minguk para que ficasse em uma posição mais confortável.

— Sinto muito por isso. – Lamenta SeokJin, envergonhado.

— Não se preocupe. Eu não me importo. – Digo com sinceridade.

— Obrigado pela ajuda SongIn. – Agradece o mais velho, despedindo-se do porteiro.

Entramos no elevador e SeokJin aperta o botão do sétimo andar. Eu continuava atordoado com a história, pensando em como eu reagiria se estivesse em sua situação. Meus pais e eu sempre nos demos bem e meu irmão mais novo é o meu melhor amigo. Será que eu conseguiria lidar com a perda de um deles como SeokJin foi capaz?

A porta do elevador se abre assim que chegamos no andar desejado. SeokJin é o primeiro a sair, guiando-me até o apartamento 705. Agilmente, o moreno abre a porta de madeira branca e dá espaço para que eu entrasse. Apesar de pequeno, o lugar era bem organizado e agradável, lembrando a personalidade de SeokJin.

Assim que chegamos ao quarto das crianças, coloco Minguk na cama com o nome dele e pego Daehan do colo de SeokJin para repetir o processo. Cubro as duas crianças com seus respectivos cobertores e observo os três dormirem. Por motivos desconhecidos, meu coração se aquece ao ter a imagem amável de Manse, Minguk e Daehan dormindo como anjinhos.

— Vamos? – Sussurra SeokJin, entrelaçando suas mãos na minha, conduzindo-me para o lado de fora do quarto. – Acho incrível o fato que você já consegue os reconhecer. – Comenta, assim que chegamos ao corredor. – Geralmente, as pessoas erram os nomes deles com frequência e isso deixa os garotos bem chateados.

— Eles possuem muitos detalhes diferentes entre eles. Além disso, as personalidades são bem distintas. Não é tão difícil assim diferenciá-los. – Afirmo, fazendo SeokJin balançar a cabeça, concordando.

Chegamos na sala de estar e o silêncio volta a ser nossa companhia. Eu não sabia bem o que fazer naquele momento. Como eu deveria me despedir dele? Eu já nem pensava mais em transar com SeokJin. Não que eu não o desejasse mais. Pelo contrário, eu queria tanto tê-lo para mim, que meu membro vibrava só de me imaginar com ele. Mas, eu já não sabia bem se queria me despedir definitivamente de SeokJin.

— Bom, eu já vou indo. – Digo, após pigarrear um pouco. – Obrigado pelo convite. A noite foi realmente divertida e muito agradável.

Nossos olhos se encontram por um momento. Aquele homem continuava sendo um completo mistério para mim e, pela primeira vez em minha vida, eu não gostava desse fato. Eu queria descobrir mais sobre Kim SeokJin. Queria saber o que se passava em sua mente, entender mais sobre seus sentimentos, queria ter SeokJin por completo e isso era assustador.

Obrigo-me a quebrar nosso contato visual. Se continuássemos assim, eu poderia não ser capaz de ir embora. Faço uma breve reverência e me viro. Com passos lentos, aproximo da porta e pego em sua maçaneta, mas antes que eu tivesse a chance de abrir, sinto algo puxar a manga de minha jaqueta com hesitação.

— NamJoon. – Chama SeokJin, cauteloso. Volto a encará-lo e vejo que ele parecia nervoso e pensativo. Seus olhos tremiam levemente e ele olhava para o chão. SeokJin respira fundo e me encara. – Você se esqueceu de algo.

— Esqueci? – Pergunto confuso, vasculhando meus bolsos. A chave do carro, minha carteira e meu celular estavam comigo. O que eu havia esquecido, afinal?

— Sim. Você esqueceu sua recompensa por hoje. – E então SeokJin me beija.

Meus olhos se arregalam e meu coração parece querer sair de meu peito. Os lábios fartos de SeokJin se encaixam perfeitamente sobre os meus e era como se seu corpo tivesse sido feito sob medida para ficar em meus braços. SeokJin leva suas mãos para minha nuca e aumenta a intensidade de nosso beijo.

Um suspiro de prazer escapa de meus lábios assim que sua língua toca a minha. Uma dança sensual e envolvente se inicia em nossas bocas, causando arrepios em nossas peles. Era tudo tão intenso e deliciosamente prazeroso. Minhas mãos apertavam com força a cintura de SeokJin, e meu corpo inteiro parecia em chamas.

A medida em que nossos instintos começavam a assumir controles de nossas mentes, mais excitado eu ficava. Como alguém pode me deixar assim somente com um beijo? De repente, o corpo de SeokJin se aproxima o suficiente para que nossos membros se chocassem. Não conseguimos evitar que um gemido escapasse mais uma vez de nossos lábios.

Eu estava duro. Sentimentos confusos. Emoções a flor da pele. O desejo latejando em meu interior. Eu queria sentir ainda mais de SeokJin. Queria experimentar o calor de seu corpo, sentir o sabor de sua pele. No entanto, um estalo em minha mente me faz despertar momentaneamente.

Afasto SeokJin de uma vez, surpreendendo-o. Ele me encara confuso, a espera de alguma explicação. Estava nítido que, assim como eu, ele queria ir mais fundo.

“Puta merda!”

 Ele não poderia estar mais gostoso do que naquele momento. Os lábios inchados, rosto vermelho, cabelos bagunçados, o suor descendo pela testa e o membro excitado se destacando em sua calça de couro.

— O que houve? – Pergunta SeokJin, ofegante.

— As crianças. – Digo com a respiração tão pesada quanto a dele.

— O que tem os meninos? – Questiona o outro, confuso.

— E se eles acordarem? – Indago, preocupado. SeokJin parece surpreso com a minha atitude e logo começa a ri, sem acreditar. Nem mesmo eu estava acreditando que eu estava interrompendo provavelmente a melhor transa da minha vida, apenas porque estava preocupado com as crianças que dormiam do outro lado da casa ouvirem.

SeokJin suspira e com um olhar malicioso, aproxima-se de mim. Encostando sua boca em minha orelha. Ele dá uma mordiscada que me faz arrepiar por completo e meu membro latejar. Em seguida, SeokJin leva as duas mãos a minha bunda e aperta com firmeza, o que faz com que nossos corpos se choquem e nossos membros duros se friccionem novamente.

— Se você fizer silêncio, eles não vão ouvir. – Sussurra, com a voz carregada de ousadia e luxuria.

Oh, Deus, você é a prova viva de que eu tentei! Eu juro que tentei não me entregar ao mau caminho que é Kim SeokJin, mas isso já é demais! – Exclamo, olhando para cima, fazendo SeokJin ri divertido. Assim como ele havia feito, aperto suas nádegas e cheiro seu pescoço, embriagando-me com seu aroma. Jin arfa e puxa os fios de minha nuca.

Completamente entregues, seguimos para o quarto de SeokJin. Guiados pelo puro desejo, ignoramos qualquer irracionalidade de nossas ações. Não nos importávamos com o que o amanhã. Apenas queríamos nos entregar ao sentimento confuso e intenso que sentíamos e ao prazer que nossos corpos clamavam. A noite estava apenas começando, mas eu sentia que ela não terminaria tão cedo.


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