Faíscas coloridas explodiam no céu. Cada boom de cores fazia o seu coração saltar num susto e então Marcos respirava fundo. Precisava se acalmar. Não pensou no dinheiro extra dado ao taxista, não olhou para o cadeirante auxiliado por um enfermeiro bonito, não olhou para a bunda do enfermeiro bonito que empurrava a cadeira de rodas. Apressado, debruçou-se na recepção, arfando:

— Ana Maria Cardoso – Informou a paciente. Tinha o sobrenome idêntico ao seu.

Quarto 507. Cinco andares o separavam da melhor coisa que havia feito na vida. Tomou o elevador e sentiu os espasmos da inquietação no corpo. Pensou na casa e todas as garrafas de vodca armazenadas para a comemoração do primeiro dia do ano. Pensou na solidão que o ano de 2017 impregnara em sua alma. Marcos de repente se via sem ninguém. Sem marido, sem família, esvaziado de todo e qualquer sentimento.

Quinto andar, meia noite e doze. Diminuiu a velocidade dos passos, sentindo o suor pingar na testa. Os fogos de artifício no céu eram tão fortes como as próprias batidas do coração. Feito uma pedra, firme, abriu a porta do quarto 507...

Para derreter-se em tremores e lágrimas. Aquele era o quarto de seu filho.