fever dream escrita por sandsphinx


Capítulo 1
(fever dream)


Notas iniciais do capítulo

Hello!! Faz tempo que não posto nada p.a., não é?
Espero de coração que gostem, embora não seja a oneshot de ano novo mais comum.
Boa leitura!



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(fever dream)

X

O céu está claro e estrelado, a noite fria. Ele tem olhos muito verdes, cabelos muito escuros, e faz seu caminho pela praia lotada como se fosse o único ali. Há algo estranho sobre seu andar; uma instabilidade não como a de quem bebeu mais do que deveria, mas como a do vem e vai das ondas, constante, presente, natural. Você pende a cabeça para o lado, curioso, e o segue.

O segue por entre garotas de shorts jeans e blusas brancas de mangas compridas, por entre casais se beijando, por entre jovens bebendo de garrafas de champanhe. Ele anda com os pés descalços sempre na água, as ondas se quebrando ao redor de suas canelas, de seus joelhos. Tem as mãos nos bolsos de bermudas escuras e se protege da brisa com uma malha azul, os olhos pensativos voltados para o chão.

Você tenta, mas não consegue identificar sua idade. Não é que seu rosto não seja jovem ou idoso. É um rosto antigo, você de alguma forma sabe, eintocado pelo tempo.

 

IX

Ela usa um vestido branco e longo que se move com o vento. Os longos cabelos loiros são como fios de ouro na luz da lua, os olhos cinzentos como o céu antes de uma tempestade, os lábios cheios e a pele clara. Você não a vê, distraído como está, mas ela o percebeu de imediato.

Suas sandálias baixas não emitem som algum ao tocar a areia macia, e ela te segue como um predador a sua presa; calma, precisa, discreta. Ela não se aproxima, o observando através da multidão, mas você sente sua presença, e seu coração bate mais rápido.

 

VIII

Ele ainda caminha, se afastando das pessoas e se aproximando do limiar da praia, da ponta escura onde a única luz é o brilho perolado da lua e das estrelas, onde o mar se recolhe mais selvagem. Os cabelos escuros parecem mais compridos agora, o vento mais forte, mais frio.

Você engole em seco, sentindo que está invadindo algo a que não pertence e nunca poderia pertencer. Ele se vira, a malha azul uma vez tão nova já fina, em pontos furada, e seus olhos verdes brilham selvagens ao devolver seu olhar.

 

VII

Você tem os olhos fixos à frente e seu coração bate forte em seu peito, mas sabe que ela se aproxima. Seu vestido branco toca sua pele quando ela o passa, leve e quase imperceptível, suave como um sopro de vento, gentil como o primeiro toque de lábios.

O vento emaranha seus cabelos longos, e as linhas de seu corpo são afiadas como uma lâmina pronta para a batalha. Ela te dá atenção, mas você sabe que está de frente a algo poderoso, inteligente, frio. Algo não totalmente desconhecido, e certamente nada familiar.

 

VI

Os olhos verdes são mais suaves ao olhar para ela, e talvez muito mais perigosos. Têm menos da solidão com que olharam para você, menos do desespero, e se abrem em reconhecimento. Ele ergue o queixo em um cumprimento, em um desafio.

 

V

Ela sorri um sorriso que poderia ser dirigido a um antigo amigo ou a seu pior inimigo. Os olhos cinzentos o estudam de cima a baixo, atentos às ondas que se quebram contra ele e que ele mal parece perceber. Ela tem os lábios cheios pressionados talvez em desagrado, talvez em determinação.

Você sente que os reconhece, ou que os deveria reconhecer.

 

IV

Ele sorri de volta, erguendo um canto dos lábios, o brilho de seus olhos verdes agora descrente, resignado. Ele lhe diz algo, uma única palavra, antiga e poderosa, estranha e conhecida. Uma palavra que explica tudo o que você sabe e tudo o que você não sabe, que se estende ao início dos tempos e que durará para sempre.

 

III

Ela responde, e o som que deixa seus lábios é aquele das ondas, das tempestades, de navios afundando.

Você os conhece.

 

II

É como você nem mesmo estivesse lá. Os olhos verdes dele veem apenas os olhos cinzentos dela, e ele lhe oferece sua mão.

 

I

Em algum lugar atrás de você, uma multidão começa a gritar em conjunto, contando os segundos para algo que você já considerou muito importante. Não mais.

Vê-la se aproximar dele é como observar a colisão de estrelas, o início do universo, o fim dos tempos. Ela permite que as ondas molhem seus pés, e por um instante você também sente a água contra sua pele.

Quando suas mãos se tocam, o mundo explode em luz.

 

{...}

Fogos de artifício iluminam o céu, e você não está em meio às pessoas, a seus amigos, a sua família. Está sozinho em um canto deserto da praia, olhando para um ponto vazio no mar. Sente que presenciou algo monumental, algo que se esvai como um sonho numa manhã de inverno.

Algo que você deixou escapar por entre seus dedos.

Algo tão próximo quanto o segundo anterior.

Algo que, quando você aceita o novo ano, desaparece por completo.


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Notas finais do capítulo

E um feliz ano novo!!! *pisca*
beijinhos meus amores ♥



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