Enquanto voltava da padaria, Pedro pensava em como o mundo estava cada vez mais frio. Cada vez mais ausente de amor. Isso podia ser percebido desde os namoros, cada vez mais curtos, até os relacionamentos cada vez mais distantes entre pais e filhos. O menino ainda pensava nisso, quando viu um claro exemplo da falta de amor. Um mendigo já de idade avançada pedia esmola na calçada. Muitos ignoraram, mas um garoto atirou uma pedra no mendigo e saiu correndo  esbarrando nas pessoas.

Ao ver a cena Pedro correu na direção do homem e perguntou se ele estava machucado. O homem disse que não. Um silêncio se colocou entre eles. O mundo estava ficando sem amor, mas no coração de Pedro ainda havia muito. Ele queria fazer a diferença no mundo. Por isso disse:

— O senhor deve ter fome.

O mendigo nada disse, mas Pedro sabia que ele estava com fome. Por isso pegou a sacola de pão que segurava e lhe entregou.

Foi quando viu Lara pela primeira vez. Ela lhe olhou longamente enquanto ajudava o mendigo, mas quando reparou que seus olhares iriam se cruzar baixou os olhos e seguiu a passos rápidos para longe deles.

Na segunda vez que viu Lara achou que aquilo não era apenas coincidência, principalmente porque ele a viu em um dos balanços da praça. Pedro amava aquela praça. Principalmente os balanços. Quando ele embalava bem alto sentia como se pudesse alcançar as estrelas e pegar uma somente para ele. Balanços lhe lembravam alegria, mas não naquele momento. A menina parecia tão triste. Estava parada no balanço. Tão parada como a lágrima que estava no olho dela. Sentiu que tinha que se aproximar dela.

O outono estava chegando, por isso seus passos logo foram ouvidos por ela. A cada passo algumas folhas secas estalavam embaixo de seus pés. Lara lhe olhou de forma vazia e logo desviou os olhos marejados para as árvores que naquela estação estavam belas, mesmo que não notasse.

—Olá, se lembra de mim?

—Porque lembraria?-falou a menina, mas depois percebendo como foi grossa mudou o tom. Sabia que ninguém se cura ferindo o outro, ainda mais quem não tinha culpa de nada- Desculpe, você não tem culpa de nada... Mas pode ir embora, por favor.

—Não.-disse Pedro se sentando no balanço ao lado dela.

—Porque não? Nem lhe conheço direito...

—Porque sinto que você precisa de um amigo.